Temporada Gulbenkian
17 Novembro 19h00
Grande Auditório
da Fundação Gulbenkian
O Pássaro de Fogo
Paulo Lourenço, Maestro do Coro Gulbenkian
Programa
Claude Debussy(1862-1918) – Noturnos
Matthias Pintscher (1971) – Mar’eh, para violino e orquestra (Estreia em Portugal)
Igor Stravinsky (1882-1971) – O pássaro de fogo (versão integral do bailado)
Realização e apresentação: João Almeida
Produção: Alexandra Louro de AlmeidaEste concerto integra os “Concertos Premium” da UER.
Composição: 1897-1899
Estreia: Paris, 27 de outubro de 1901
Duração: c. 25 min.
A influência de elementos extramusicais, sobretudo da poesia e da pintura, é uma constante na obra de Claude Debussy. No caso de Noturnos, a inspiração surgiu dos quadros pintados na década de 1870 pelo americano James McNeill Whistler, os quais retratam paisagens noturnas. Assim, a ligação de Debussy a movimentos pictóricos como o Impressionismo parece óbvia. Contudo, as coisas não são assim tão simples. A associação do compositor a poetas simbolistas e parnasianos, o interesse pela mitologia clássica e uma relação complexa com o Realismo ajudam a matizar essa associação.
Matthias Pintscher (Marl, 29 de janeiro de 1971)
Composição: 2010-2011
Estreia: Lucerna 11 de setembro de 2011
Duração: c. 23 min.
Uma estratégia de comunicação recorrentemente usada pelos compositores contemporâneos é a escrita de peças para intérpretes reconhecidos. Assim, um músico de carreira internacional dá visibilidade a novas obras e novos compositores, normalmente associados a nichos de público. O formato concertante envolvendo violino e orquestra tem apresentado algumas das peças mais interessantes do final do século XX e início do XXI. Compositores como Schnittke ou Pintscher escreveram obras para violino e dedicaram-nas a intérpretes específicos. Mar’eh foi dedicada à destacada violinista Julia Fischer, que estreou a obra no Festival de Lucerna a 11 de setembro de 2011. A peça resultou de uma encomenda conjunta do festival, da Alte Oper Frankfurt e da London Philharmonic Orchestra.
Composição: 1910
Estreia: Paris, 25 de Junho de 1910
Duração: c. 45 min.
O empresário russo Sergei Diaghilev (1872-1929) foi uma das pessoas mais importantes da primeira fase do Modernismo. Sob a sua direção, o bailado, a música, a cenografia e os figurinos foram integrados num espetáculo inovador. Antes de criar a companhia de bailado Ballets russes, Diaghilev destacou-se como divulgador musical em Paris, organizando concertos de música russa a partir de 1907. Em 1909, fundou os Ballets russes que, na fase inicial, incluía importantes bailarinos, coreógrafos, artistas plásticos e compositores russos. Assim, contribuiu para o lançamento da carreira internacional de personalidades como Mikhail Fokine, Vaslav Nijisnky, Leon Bakst ou Igor Stravinsky, que se fixaram em Paris, centro do Modernismo cosmopolita. Nesse contexto, os Ballets russes apresentavam música considerada exótica, vinda de uma tradição periférica, conjugando-a com o sólido métier do bailado imperial russo. Em simultâneo, serviram de espaço de experimentação modernista nas diversas artes, cujos traços foram rapidamente incorporados na vida quotidiana. Por exemplo, os figurinos de Bakst inspiraram a moda da época, em especial através do costureiro Paul Poiret. Posteriormente, a companhia contou com a colaboração de músicos como Debussy, Falla, Satie ou Ravel. Um aspeto central na primeira fase dos Ballets russes foi a colaboração assídua com Stravinsky. O jovem Stravinsky foi descoberto num concerto em São Petersburgo por Diaghilev, que lhe encomendou um bailado. Essa ligação foi de tal forma importante que as primeiras obras do compositor a obter notoriedade internacional foram encomendas dos bailados O Pássaro de Fogo (1910), Petrushka (1911), e A Sagração da Primavera (1913).
O Pássaro de Fogo foi o primeiro bailado de Stravinsky e a sua estreia teve lugar na Ópera de Paris a 25 de junho de 1910. A coreografia é da autoria de Fokine, que protagonizou a estreia, contracenando com Tamara Karsavina. O argumento é inspirado em contos tradicionais russos, com referências ao maravilhoso eslavo. O Príncipe Ivan Tsarevich perde-se enquanto caçava e penetra no jardim mágico de Katschei, o Imortal. Katschei é um vilão do imaginário eslavo associado ao rapto e à captura de diversas criaturas. Essa atmosfera sobrenatural é sublinhada por um ostinato angular nas cordas graves. No jardim de Katschei, o príncipe encontra o Pássaro de Fogo, um animal mágico, papel desempenhado pela protagonista feminina. Ivan apanha o pássaro e recebe uma pena deste após tê-lo libertado. Essa pena permitia ao príncipe invocar a criatura mágica se precisasse de auxílio. A perseguição é sublinhada pela vivacidade e leveza da escrita, que recorre a melodias ondeante e a trilos. Na madrugada seguinte, Ivan encontra um castelo do qual saíram treze princesas que dançam e brincam com maçãs douradas vindas de uma árvore do jardim. Nessa passagem pontifica uma atmosfera bucólica, traduzida no melodismo evocativo da canção tradicional. As princesas revelam que o castelo pertence a Katschei, que as tem presas com um encantamento, e que os cavaleiros que as tentaram salvar foram transformados em pedra e a sua alma guardada por Katschei. Durante uma dança de roda, Ivan e a princesa Vasilisa apaixonam-se. Entrado o príncipe no castelo, soa um carrilhão mágico e Katschei aparece. O príncipe invoca o Pássaro de Fogo com a pluma, e este lança um feitiço sobre Katschei e os seus servos, fazendo-os dançar até à exaustão. A complexidade rítmica e a intensidade da cena são contrapostas à simplicidade de uma canção de embalar para Katschei. O Pássaro conduz o príncipe até ao local onde a alma de Katschei está guardada. Ivan destrói o ovo, matando a criatura. O bailado termina com uma visão do mundo após a destruição de Katschei, com as princesas e os cavaleiros livres, numa apoteose de cor orquestral que mistura diversos elementos previamente expostos.
Quando iniciou a sua formação como diretor de orquestra, com o compositor e maestro húngaro Peter Eötvös, a composição era ainda o domínio principal da atividade artística de Matthias Pintscher. Mais tarde, o seu tempo passou a ser dividido igualmente entre a composição e a direção de orquestra, sobretudo ao longo do período em que trabalhou com Pierre Boulez. Cedo ascendeu a uma posição de destaque junto da crítica, tendo então assumido a direção de orquestra como a sua atividade principal.
A temporada 16/17 incluiu projetos com a Filarmónica de Berlim, a Filarmónica de Los Angeles, a Orquestra de Cleveland, a Sinfónica de Dallas, a Sinfónica de Cincinnati, a Sinfónica da Rádio da Baviera, a Orquestra do Teatro Mariinsky, a Sinfónica da Rádio de Viena e a Deutsche Kammerphilharmonie Bremen, bem como uma digressão na Ásia com o Ensemble Intercontemporain para assinalar o 40.º aniversário do agrupamento. Como maestro convidado, dirigiu a Sinfónica da Rádio Dinamarquesa, a Sinfónica de Sydney, a Filarmónica de Nova Ioque, a Sinfónica de Chicago, a Orquestra de Câmara Mahler e a Filarmónica e Helsínquia, entre outras orquestras. Na presente temporada dirige pela primeira vez a Orquestra Gulbenkian.
Matthias Pintscher é um prolífico compositor, sendo as suas obras interpretadas pelas principais orquestras e músicos em todo o mundo. Em 2016, Alisa Weilerstein e a Sinfónica de Boston estrearam o seu concerto para violoncelo Un Despertar. Em abril de 2017, teve lugar a estreia da obra Shirim, para barítono e orquestra, com Bo Skovhus e a NDR Elbphilharmonie Orchester, em Hamburgo. Matthias Pintscher é também professor na Julliard School desde 2014. A sua música é publicada pela Bärenreiter-Verlag.
Em 2011, Reanud Capuçon foi nomeado Chevalier dans l’Ordre National du Mérite pelo Governo Francês. É diretor musical do Festival de Páscoa de Aix-en-Provence, que fundou em 2013, e diretor do festival Les Sommets Musicaux, em Gstaad. É também professor de violino na Escola Superior de Música de Lausanne. Toca o violino Guarneri del Gesu “Panette”, de 1737, que pertenceu a Isaac Stern.