Temporada da Orquestra Gulbenkian
Transmissão direta
18 Novembro 19h00
Grande Auditório da
Mozart & Mahler
Benjamin Shwartz, maestro
Sunhae Im, soprano
Varvara, piano
Orquestra Gulbenkian @ Hugo Glendinning
Benjamin Shwartz
Sunhae Im
Varvara Nepomnyashchaya
Programa
Wolfgang Amadeus Mozart
(1756-1791) – Concerto para Piano e Orquestra nº 20, em Ré menor, K. 466
Gustav Mahler (1860-1911) – Sinfonia nº 4, em Sol maior
No seguimento da sua estreia em 2015, o maestro Benjamin Shwartz regressa à Gulbenkian Música num período de conquista de um lugar sólido no circuito internacional. Conhecido por ser um sério dinamizador e entusiasta da interpretação de novas obras, tendo até hoje dirigido várias estreias absolutas, Shwartz procura também parcerias mais inesperadas, nomeadamente com artistas visuais.
Neste programa partilhará as atenções com a pianist Varvara, pela primeira vez no Grande Auditório, e com a soprano Sunhae Im, que se estreou na Gulbenkian sob a direção de René Jacobs.
Transmissão direta
Apresentação e realização: João Almeida
Produção: Alexandra Louro de Almeida
Apresentação e realização: João Almeida
Produção: Alexandra Louro de Almeida
Notas ao repertório
O Concerto para Piano n.º 20, em Ré menor, K. 466, é fruto do labor de W. A. Mozart em meados da década de 1780, após um período de adaptação à vida musical de Viena. Em muitos aspetos, é uma das obras que se distancia do restante grupo de concertos de Mozart, seja pelo uso de tonalidades-base menores, seja pelo dramatismo intenso de algumas passagens, seja ainda pela interação acrescida entre as diversas partes orquestrais e o instrumento solista. Certos naipes da orquestra assumem, por vezes, a condução do discurso, como acontece, desde logo, na veemente introdução orquestral do Concerto. Sob a influência do Sturm und Drang coevo, Mozart conduziu a sua pena com firmeza em busca de sentimentos interiores, enevoados por inquietações e angústias que tomam forma à medida que explora cada progressão temática e harmónica. O primeiro tema emerge em gesto ascendente, pausado, qual interrogação existencial talhada não apenas pela incerteza ante as contrariedades, mas também pela esperança na resolução dos problemas e conflitos. Desta dialética dão conta os densos ritornelos orquestrais, com acentuações incisivas dos sopros. O título do segundo andamento, Romance, em Si bemol maior, anuncia o universo musical do século XIX, revelando uma constante atitude perscrutadora das emoções humanas. Mais tarde, as implicações “românticas”, avant la lettre, da música de Mozart, vieram a ser postas em relevo pelo compositor e crítico E. T. A. Hoffmann (1776-1822). Com delicadeza, o piano vai debruando um tema de grande enlevo melódico, sempre acompanhado pelos comentários das cordas. Este refrão alterna com episódios intermédios, num contínuo que não deixa de fazer sentir, a dado momento, as brumas inquietantes do primeiro andamento. É contudo o tema apaziguador do solista que prevalece nos últimos compassos. Seguindo o mesmo princípio formal, o Rondo final impõe um renovado impulso à textura, envolvendo solista e orquestra num crescendo de tensões para o qual concorrem não apenas as abundantes indicações de dinâmica, como também os acordes diminutos e de sexta aumentada, com a típica resolução para a dominante. Também no plano harmónico Mozart anunciou, nesta fase da vida, o despontar do Romantismo. (FCG, adapt.)
A Sinfonia n.º 4, em Sol maior, de Gustav Mahler, foi concluída a 6 de agosto de 1900, na sua residência de verão na idílica localidade austríaca de Maiernigg, na margem sul do lago Wörthersee. Face às anteriores sinfonias de Mahler, a Sinfonia n.º 4 mostra uma vocação mais conservadora no modo de articulação da forma e da instrumentação, esta última com forte ligação aos modelos classicistas. Apesar da energia intrínseca e da originalidade dos componentes motívicos, o primeiro andamento apoia-se em princípios lineares de orquestração, os quais fazem alternar a percussão, os sopros e as cordas num fluxo musical homogéneo. O complexo temático da exposição encontra-se bem delimitado por três temas distintos: o primeiro com perfil angulado; o segundo mais poético, encetado pelo expressivo intervalo de sexta maior; o último de caráter dançante, na mesma tonalidade. No segundo andamento, em compasso 3/8, o compositor leva a efeito a representação musical de um dos temas favoritos da pintura germânica dos séculos XVII e XVIII: a tenebrosa “Dança da Morte”. Um violino solo, executado em scordatura, sugere o fiedel medieval, tal como aparece nas lendas germânicas, tocado pelo ancestral demónio Freund Hain. A atmosfera lamentosa do terceiro andamento, com a indicação “tranquilo”, é por vezes entrecortada por secções de lirismo inflamado. Duas secções distintas são reintroduzidas na textura com recurso à técnica da variação, após o que tem lugar a coda final. Em grande parte das sinfonias, o trabalho sinfónico de Mahler encontra-se diretamente relacionado com o universo do Lied, no qual também laborava, como se sabe, com resultados superlativos. À imagem de outras páginas das sinfonias n.os 2, 3, e 8, também o derradeiro andamento da Sinfonia n.º 4 foi recolher inspiração a um dos Lieder provindo do ciclo Des Knaben Wunderhorn (1892-1899), no qual uma criança descreve a sua visão do paraíso (Das himmlische Leben). As sonoridades amplas, que já tinham feito a sua aparição nos primeiros compassos do andamento introdutório, encontram aqui o seu verdadeiro habitat e auxiliam o soprano solista a desvelar, passo a passo, um quadro sonoro de incomparável beleza e serenidade. (FCG)
Notas biográficas
Benjamin Shwartz © Larry Garf
O maestro norte-americano Benjamin Shwartz nasceu em Los Angeles e estudou com Christoph Eschenbach no Curtis Institute of Music, em Filadélfia. Realizou também estudos de composição na Universidade da Pensilvânia com James Primosch, na Alemanha com Karlheinz Stockhausen, e no IRCAM, em Paris. Foi Maestro Residente da Sinfónica de São Francisco e, como Diretor Musical da Orquestra Sinfónica NFM de Wrocław teve um papel ativo na programação do evento Wrocław Capital Europeia da Cultura 2016. Tem sido regularmente convidado a dirigir orquestras como a Filarmónica de Los Angeles, a Sinfónica Real de Estocolmo, a Sinfónica Escocesa da BBC, a St. Paul Chamber Orchestra, a Orquestra Nacional de Lille ou as Sinfónicas da Islândia e de Tóquio. Em outubro de 2015, dirigiu a Orquestra Gulbenkian no Grande Auditório em substituição do maestro David Zinman. No domínio da ópera, dirigiu uma nova produção de Béatrice et Bénédict, de Berlioz, no Deutsches Nationaltheater und Staatskapelle Weimar, e O Morcego, de J. Strauss, na Ópera Real Sueca, bem como três novas produções de La sonnambula de Bellini, Il viaggio a Reims de Rossini, e Fausto de Gounod, no Curtis Institute of Music, em Filadélfia. Benjamin Shwartz tem dirigido também estreias mundiais de obras de compositores contemporâneos como Mason Bates, Nathaniel Stookey e Zhou Tian. É também o maestro do Mercury Soul, um novo projeto musical que cruza os domínios acústico e digital e que Shwartz tem vindo a desenvolver em parceria com o compositor Mason Bates e com a artista visual Anne Patterson. Benjamin Shwartz recebeu o prémio Presser Music e foi também premiado no Concurso Internacional de Direção de Orquestra Gustav Mahler da Sinfónica de Bamberg.
Sunhae Im é natural da Coreia do Sul. Estudou na Escola de Música da Universidade de Seul e na Universidade de Música de Karlsruhe. Em 1997 venceu o Concurso da Sociedade Coreana Schubert e o Grande Prémio do Concurso Coreano Juventude e Música. Em 2000 foi finalista do Concurso de Canto Rainha Elisabeth, em Bruxelas, o que proporcionou um renovado impulso à sua carreira. Desde então, tem-se apresentado com grandes orquestras como a Filarmónica de Nova Iorque, a Sinfónica de Pittsburgh, a Sinfónica de Berlim, a Orchestre des Champs-Elysées, ou Filarmónica de Munique, sob a direção de maestros como P. Herreweghe, M. Honeck, W. Christie, F. Biondi, T. Hengelbrock, H. Blomstedt, F. Brüggen, I. Fischer, K. Nagano, R. Chailly, L. Zagrosek, S. Cambreling, Ton Koopman, ou M. Janowski. Colabora também regularmente com prestigiados agrupamentos de música antiga como Akademie für Alte Musik Berlin, B`Rock Orchestra, ou Ensemble Matheus. Como solista de concerto, o seu repertório inclui obras de Vivaldi a Mahler, tendo atuado no Musikverein e no Konzerthaus de Viena, na Cité de la musique e na Salle Pleyel, em Paris, no Auditório Nacional de Música de Madrid, na Philharmonie de Colónia, ou no Carnegie Hall de Nova Ioque. Em abril de 2016 realizou, com grande sucesso, uma digressão de recitais na Coreia do Sul com Helmut Deutsch. No domínio da ópera, Sunhae Im estreou-se em Frankfurt, em As bodas de Figaro (Barbarina) de Mozart. Durante três anos, foi membro da Ópera de Hanôver. Atuou também nos principais palcos de Berlim, Paris, Frankfurt ou Hamburgo, no Théâtre de la Monnaie, em Bruxelas, bem como em prestigiados festivais como os de Edimburgo, Nova Ioque (“Mostly Mozart”), Salzburgo, Innsbruck, Beaune e Verbier. Em 2010 atuou na Fundação Gulbenkian, em Così fan tutte (Despina), com a Freiburger Barockorchester e o Coro Gulbenkian, sob a direção de René Jacobs. Em 2015 foi lançado o seu primeiro CD em recital, intitulado Orfeo[s] (Harmonia Mundi), cantatas italianas e francesas de Rameau, Clérambault, Pergolesi e Scarlatti.
Varvara © Jordi Roca
Varvara Nepomnyashchaya nasceu em Moscovo. Formou-se na Escola de Música Gnessin e no Conservatório Tchaikovsky, onde foi aluna de Mikhail Voskressensky. Posteriormente estudou com Evgeni Koroliov em Hamburgo. Em 2006 foi premiada no Concurso Bach de Leipzig e em 2012 venceu o Concurso Géza Anda de Zurique. Varvara é uma pianista dotada de grande inteligência musical e trabalha com determinação, energia e sinceridade para que cada concerto ou recital se converta numa experiência artística única. O seu interesse interpretativo abarca todas as épocas e estilos, desde Bach e Händel a Stravinsky ou Pärt. Ao longo da sua ainda curta, mas intensa carreira, apresentou-se com a Orquesta do Teatro Mariinsky, a Orquestra de Câmara de Viena, a Orquestra do Tonhalle de Zurique, a Orquestra Sinfónica da Rádio de Viena e a Orquestra Sinfónica da Rádio de Estugarda, entre outras, sob a direção de maestros de renome como V. Gergiev, D. Zinman, C. Meister ou C. Schuldt. Na presente temporada, toca pela primeira vez com a Orquestra Gulbenkian no Grande Auditório. As suas atuações a solo incluem recitais em Lucerna, Madrid, Moscovo, Alicante, Lyon, São Petersburgo, Girona, Hamburgo, Valência, Lausanne, Zurique, ou Dormund. Na temporada passada interpretou o Concerto para Piano de Tchaikovsky (Sinfónica de Praga), Prometeo de Scriabin (Orquestra Nacional da Rádio da Polónia) e o Quinteto de Medtner, com o Quarteto Schumann. Apresentou-se em recital no Teatro Mariinsky de São Petersburgo, no Palau de la Música Catalana de Barcelona, no Teatro Principal de Vitoria, no Auditório Nacional de Música de Madrid, no Auditório Lingotto, em Turim, e no Conservatório Verdi de Milão. Foi recentemente disponibilizado pela DisCamera um novo álbum de Varvara, dedicado às suites de Händel.