Pela primeira vez, a Fundação Calouste Gulbenkian associa-se ao Doclisboa, apresentando, a partir de 21 de outubro, um ciclo de filmes e uma instalação da autoria da cineasta Luciana Fina.
Fundação Calouste Gulbenkian / Doc Lisboa
21 Outubro a 23 Janeiro
Entrada livre (com levantamento de bilhete)
Museu Calouste Gulbenkian – Coleção Moderna (antigo CAM-JAP)
Luciana Fina
Terceiro Andar
díptico, 27 min, projeção contínua
Lisboa, Bairro das Colónias, terceiro andar. Transmitindo e traduzindo o cruzar sensível de diversos universos, Fatumata e Aissato dialogam sobre o amor e a construção da felicidade. Narrativas e línguas adquiridas em etapas da vida e lugares distintos foram determinando os seus sentimentos. Pelas 19 horas, do terceiro até ao meu quinto andar, ressoa pelo prédio um som regular, sempre igual, como o bater do coração. (Luciana Fina)
Composta por um díptico – duplo ecrã em projeção contínua -, a instalação Terceiro Andar reflete o trabalho de uma artista que tem vindo a transpor a sua obra das salas de cinema para as salas de exposição.
Trazendo o espectador para o espaço da palavra e do diálogo entre a mãe e a filha primogénita de uma família numerosa originária da Guiné-Bissau, e para o espaço sonoro e plástico de um prédio do Bairro das Colónias onde esta família e a cineasta habitam, é proposto com este trabalho uma reflexão alargada sobre várias questões, sobretudo afetivas, a partir do diálogo entre as duas mulheres.
Neste espaço sonoro e plástico de um terceiro andar, mãe e filha dialogam sobre o amor e a construção da felicidade. A filha traduz a língua da mãe e ao traduzir interpreta os seus discursos. No suceder-se de um poema, de um conto, de uma carta e uma reza, as palavras transitam de uma língua para a outra, de uma detentora para a outra, criando ligações. As narrativas e línguas adquiridas em várias etapas da vida, e em lugares distintos, determinam os sentimentos. O som sobe as escadas e os patamares, atravessa as paredes, as portas e os corredores, ocupa as casas e as varandas e percorre todo o prédio em toda a sua complexidade e permeabilidade.
Terceiro Andar funciona como um jogo entre movimento e ponto de vista, a partir de dois eixos: um horizontal que mostra a relação entre mãe e filha e que compõe espacialmente a atividade de traduzir – transportar, de um ecrã ao outro, as palavras, os olhares, as histórias; e um eixo vertical, dos movimentos de câmara, das escadas do edifício, das raízes das plantas que caem do último andar, aquele onde habita Luciana Fina. Como se a verticalidade introduzisse o tempo no espaço da instalação, o desejo de cinema no espaço do duplo ecrã, ao mesmo tempo que insinua e materializa a relação entre a artista e as duas mulheres, entre o olhar reflexivo, lento, e a vida quotidiana na sua máxima sensibilidade.
Uma série de palavras ditas, às vezes em off outras em on, vão complexificando e dando corpo ao jogo câmara/ponto de vista – o som das palavras que se escutam e o significado que se aprende a seguir; o som do sentido, o rosto que o transmite e o recebe. A tradução recupera o seu sentido mais profundo – uma atividade onde o afetivo e político são indissociáveis – e torna-se, ela mesma, em ponto de vista.
Com a dupla projeção de Terceiro Andar, migrando para o espaço expositivo, Luciana Fina ensaia mais um gesto cinematográfico que interroga as formas narrativas e a matéria do cinema
Um prédio no Bairro das Colónias em Lisboa, uma mãe e uma filha, as raízes aéreas de uma planta tropical que, do piso superior, atravessam o vão das escadas do edifício. As raízes são a malha vertical que, coadjuvada pela horizontalidade dos dois ecrãs de Luciana Fina, tece uma preciosa narrativa que conta de gerações, culturas, línguas, de relações e de afectos. Fatumata e Aissato são a mãe e a filha mais velha de uma família numerosa originária da Guiné-Bissau. Fatumata e Aissato falam, dialogam; a filha traduz a língua da mãe e ao traduzir, interpreta discursos de amor e felicidade. As raízes do quinto andar onde vive Luciana descem ao terceiro andar de Fatumata e Aissato, invadem o espaço de exposição e espalham-se como rizomas, encontrando correspondências e ligações que atravessam todo o festival. (Davide Oberto)
Ficha técnica
Uma instalação de Luciana Fina; com Fatumata Baldé e Aissato Baldé; Imagem: Helena Inverno, Rui Xavier; Som: Olivier Blanc, Miguel Cabral; Montagem: Luciana Fina; Desenho Maquinaria: Marcello Urgeghe; Colorista: Marco Amaral; Mistura de som: Tiago Matos; Assistente: Rui Silveira; Apoio à produção: BEST Patrícia Faria; Assessoria de gestão: Paula Varanda; Assistente de produção e gestão: Elsa Sertório; Produção: LAFstudio; Produtor associado: TERRATREME; Apoio: Fidelidade Property | Balleteatro; Apoio equipamentos: Ricochete Filmes | Screen Miguel Nabinho | Cineset; Projeto financiado por DGARTES Governo de Portugal | CML Câmara Municipal de Lisboa.
Agradecimentos: Manso Baldé e família Baldé, inquilinos e vizinhos do prédio, Ana Fontoura, Anil Jaintilal, Carla Bolito, Cristina Fina, Entre Imagem, Espaço Mira, Filipe Pereira, João Ribeiro, Karyna Gomes, Lidia Apa, Luísa Homem, Miguel Nabinho, Odete Semedo.
Uma instalação de Luciana Fina; com Fatumata Baldé e Aissato Baldé; Imagem: Helena Inverno, Rui Xavier; Som: Olivier Blanc, Miguel Cabral; Montagem: Luciana Fina; Desenho Maquinaria: Marcello Urgeghe; Colorista: Marco Amaral; Mistura de som: Tiago Matos; Assistente: Rui Silveira; Apoio à produção: BEST Patrícia Faria; Assessoria de gestão: Paula Varanda; Assistente de produção e gestão: Elsa Sertório; Produção: LAFstudio; Produtor associado: TERRATREME; Apoio: Fidelidade Property | Balleteatro; Apoio equipamentos: Ricochete Filmes | Screen Miguel Nabinho | Cineset; Projeto financiado por DGARTES Governo de Portugal | CML Câmara Municipal de Lisboa.
Agradecimentos: Manso Baldé e família Baldé, inquilinos e vizinhos do prédio, Ana Fontoura, Anil Jaintilal, Carla Bolito, Cristina Fina, Entre Imagem, Espaço Mira, Filipe Pereira, João Ribeiro, Karyna Gomes, Lidia Apa, Luísa Homem, Miguel Nabinho, Odete Semedo.
Luciana Fina nasceu em Itália e trabalha em Lisboa desde 1991. Após uma longa colaboração com a Cinemateca Portuguesa como programadora independente, estreia-se no cinema em 1998. Desde então, tem desenvolvido um trabalho que migra frequentemente da sala de cinema para o espaço de exposição, investigando as possibilidades do Cinema no campo das Artes. A partir de 2003, cria a série de retratos fílmicos reunidos no projeto “O Tempo de um Retrato”. Tem apresentado internacionalmente o seu trabalho em festivais e exposições. O seu mais recente documentário, “In Medias Res”, recebeu uma Menção Honrosa do Temps d’Images Film on Art Award e o Prémio Melhor Filme Nacional do Arquiteturas Film Festival.