Fundação Gulbenkian
1 a 11 Agosto
Música para que tudo não fique na mesma.
Para que a mudança aconteça.
Para que a mudança aconteça.
16 concertos sob o signo da resistência e do grito coletivo clamando por um mundo mais justo.
O jazz sempre teve na sua raiz a semente da contestação e da mudança, enquanto música movida pelo contexto social à sua volta e capaz de apontar o foco para todo o tipo de arbitrariedades que são frequentemente incómodas e que os olhares preferem tantas vezes ignorar.
E em diversas ocasiões, o jazz enquanto expressão humana e humanista, soube canalizar e potenciar a contestação e a revolta de uma forma impossível de silenciar.
Se Strange Fruit, a inesquecível canção de Billie Holiday, é considerada como o possível nascimento da contestação sob a forma de uma canção popular, pelo autor e jornalista inglês Dorian Lynskey, em
33 Revolutions per Minute, não é por ter sido "a primeira canção de protesto, de todo, mas era a primeira a carregar uma mensagem política explícita para a arena do entretenimento”, mas tornando evidente que uma canção tinha em si o condão de agitar as águas e promover a transformação.
Nesse sentido, também o guitarrista Marc Ribot defende que todos os movimentos impulsionadores de mudanças sociais e de resistência têm a sua banda sonora. E foi por isso que o músico, colaborador habitual de nomes fundamentais da criação do nosso tempo como Tom Waits e John Zorn, arregaçou as suas mangas revolucionárias e reuniu um cancioneiro que batizou como Songs of Resistance, em resposta ao turbulento contexto social e político vivido atualmente nos Estados Unidos.
É a Marc Ribot e ao seu insubmisso projeto que cabe o concerto de abertura do 36º Jazz em Agosto, dando o mote, como escreve o Diretor Artístico Rui Neves, para uma edição sob o signo da resistência e do grito coletivo clamando por um mundo mais justo.
A esse grito que juntam-se os Heroes Are Gang Leaders, Burning Ghosts, Nicole Mitchell ou Ambrose Akinmusire. Mas a revolução apregoada neste Jazz em Agosto estende-se igualmente para lá da sua dimensão mais política, relembrando quão revolucionária é também a vanguarda musical que se pode descobrir em Ingrid Laubrock e Tom Rainey, Théo Ceccaldi, Julien Desprez, Mary Halvorson, Tomas Fujiwara, Zeena Parkins, Han-earl Park ou no quarteto Toscano, Pinheiro, Mira e Ferrandini.
@ Márcia Lessa / FCG
Programação
1 Agosto | 21h30
Anfiteatro ao ar livre
Marc Ribot — Songs of Resistance
Marc Ribot — Songs of Resistance
Marc Ribot, Guitarra elétrica / Voz
Jay Rodriguez, Saxofone tenor / Flauta
Brad Jones, Contrabaixo
Ches Smith, Bateria
Reinaldo de Jesus, Percussão
Convencido de que todos os movimentos sociais que operaram mudanças de vulto tiveram sempre uma banda sonora à altura, Marc Ribot criou o projecto Songs of Resistance, cúmulo de uma série de investidas conformes ao seu perfil ativista. E muniu-se de temas históricos de combate, colhidos quer nos movimentos pelos direitos civis norte-americanos quer nos cancioneiros de resistência europeus do período da II Guerra Mundial ou nas baladas populares mexicanas. A todas estas inspirações, Ribot junta temas da sua safra, forjados segundo o mesmo espírito revolucionário, assumindo agora por inteiro (em disco conta com vários vocalistas convidados) o grito de revolta.
2 Agosto | 18h30
Auditório 2
Maja S. K. Ratkje
Maja S. K. Ratkje
Maja S. K. Ratkje, Eletrónica
Inspirada por compositores como Stockhausen e Messiaen, a norueguesa Maja S. K. Ratkje estabeleceu-se com a edição de Voice (2002) como uma das mais originais criadoras na área da eletrónica experimental, ao explorar com uma imaginação sem limites a impressão da sua voz nas peças que cria.
Segundo o Financial Times, "Ratkje traz um desrespeito selvagem pelas formas convencionais, combinada com uma imaginação extravagante."
2 Agosto | 21h30
Anfiteatro ao ar livre
Anfiteatro ao ar livre
Heroes Are Gang Leaders — The Amiri Baraka Sessions
Thomas Sayers Ellis, Spoken word
James Brandon Lewis, Saxofone tenor
Melanie Dyer, Viola
Luke Stewart, Baixo elétrico
Jenna Camille, Piano / voz
Randall Horton, Spoken word
Nettie Chickering, Voz
Bonita Penn, Spoken word
Heru Shabaka-Ra, Trompete
Devin Brahja Waldman, Saxofone alto / Teclados
Warren Trae Crudup III, Bateria
Brandon Moses, Guitarra elétrica
Nascidos do encontro entre o saxofonista James Brandon Lewis e o poeta e fotógrafo Thomas Sayers Ellis, os Heroes Are Gang Leaders formaram-se na sequência da morte do poeta e ativista Amiri Baraka (que atuou no Jazz em Agosto em 2000 e 2001). A Baraka, firme crente na capacidade de as palavras e a arte produzirem uma real transformação no mundo, Lewis e Ellis foram buscar a insubmissão, criando uma música em que jazz, hip-hop e spoken word são as armas apontadas à mudança. À frente de um coletivo de dez músicos e cantores, os dois líderes dirigem, em palco, verdadeiras sessões de celebração da cultura negra e de permanente questionamento dos desequilíbrios sociais das nossas sociedades.
3 Agosto | 18h30
Auditório 2
Ingrid Laubrock & Tom Rainey
Auditório 2
Ingrid Laubrock & Tom Rainey
Ingrid Laubrock, Saxofones soprano e tenor
Tom Rainey, Bateria
Tom Rainey, Bateria
Casados fora do palco, Ingrid Laubrock e Tom Rainey fabricam em duo uma música que vive, precisamente, dessa intimidade e dessa cumplicidade. O terreno é o da improvisação livre, mas jogado no equilíbrio raro e difícil que é o entendimento seguro do discurso do outro e a capacidade de integrar a surpresa nessa relação. Saxofone e bateria numa eterna revelação de puro deleite auditivo.
3 Agosto | 21h30
Anfiteatro ao ar livre
Burning Ghosts
Daniel Rosenboom, Trompete / Corneta
Jake Vossler, Guitarra elétrica
Richard Giddens, Contrabaixo
Aaron McLendon, Bateria
Praticantes de uma endiabrada fusão entre jazz e metal, os Burning Ghosts de Daniel Rosenboom são um verdadeiro espelho virado na direção das desigualdades sociais norte-americanas. A comparação frequente com a banda rock Rage Against the Machine tem acentuado a veia e o posicionamento políticos e reivindicativos de um coletivo que, nos últimos anos, tem incendiado a cena underground de Los Angeles. A urgência desta música, em constante resposta ao presente, sente-se em cada segundo de Reclamation – álbum editado, em 2017, pela Tzadik de John Zorn. Música de rastilho curto, sempre no fio da navalha.
© Eron Rauch
4 Agosto | 17h00
Sala Polivalente
Abdul Moimême
Abdul Moimême
Abdul Moimême, Guitarras elétricas / Objetos
Há muito que a vida de explorador musical de Rui Horta Santos responde pelo nome Abdul Moimême. Centrando a sua ação na guitarra ou no saxofone, Abdul é alguém que pensa o instrumento em todas as suas possibilidades expressivas, atrevendo-se, através de um cuidado processo de desconstrução, a mergulhar em paisagens desconhecidas – encontrando nestas uma fonte constante de invenção e de beleza, sempre pautada pelo mistério da descoberta.
4 Agosto | 18h30
Auditório 2
Toscano — Pinheiro — Mira — Ferrandini
Auditório 2
Toscano — Pinheiro — Mira — Ferrandini
Ricardo Toscano, Saxofone alto
Rodrigo Pinheiro, Piano
Miguel Mira, Violoncelo
Gabriel Ferrandini, Bateria
Um dos mais estimulantes encontros no jazz português dos últimos anos. Ricardo Toscano, prodigioso saxofonista que se revelou com mestria na linguagem do hard-bop, conhecedor profundo da História do jazz, junta-se a três dos mais destacados e inventivos intérpretes da música improvisada nacional (provenientes do Red Trio e do Motion Trio), Rodrigo Pinheiro, Miguel Mira e Gabriel Ferrandini.
Um concerto de desfecho imprevisível.
@ Jorge Carmona / Antena 2
04 Agosto | 21h30
Grande Auditório
Nicole Mitchell — Mandorla Awakening II: Emerging Worlds
Nicole Mitchell — Mandorla Awakening II: Emerging Worlds
Nicole Mitchell, Composição / Flauta / Eletrónica
Avery R. Young, Voz
Tomeka Reid, Violoncelo / Banjo
Mazz Swift, Violino
Kojiro Umezaki, Shakuhachi
Alex Wing, Guitarra elétrica / Oud / Teremim
Tatsu Aoki, Contrabaixo / Shamisen / Taiko
Jovia Armstrong, Percussão
Mandorla Awakening é o projeto em que a visionária flautista norte-americana Nicole Mitchell imagina como seria 2um mundo verdadeiramente igualitário em que uma tecnologia avançada estivesse sintonizada com a natureza". Essa proposta utópica desemboca numa música desafiadora, seguidora do afrofuturismo, em que jazz, funk, música clássica, spoken word e orientalidade (graças à presença de músicos japoneses) formam uma única massa sonora tão inquietante quanto deslumbrante. Inspirada pelo legado da AACM, Mitchell interroga as relações presentes em torno da tecnologia, da espiritualidade, da raça e do género, a partir de uma proposta sonora que desmonta fronteiras e se reclama universal.
8 Agosto | 18h30
Auditório 2
ABACAXI
Auditório 2
ABACAXI
Julien Desprez, Composição / Guitarra elétrica / Eletrónica / Luzes
Jean François Riffaud, Baixo elétrico / Luzes
Max Andrzejewski, Bateria / Sintetizador / Luzes
Dois anos após a última visita ao Jazz em Agosto, o guitarrista francês Julien Desprez regressa com o trio ABACAXI, a partir de uma formação clássica de rock completada pelo baterista Max Andrzejewski e pelo baixista Jean François Riffaud. Se a formação é clássica, a música que os três assinam parte da visão ilimitada que Desprez aplica à guitarra, alimentando-se tanto da energia primeva do rock quanto do seu caráter indomado, pelo meio de ruído e rebentações.
8 Agosto | 21h30
Anfiteatro ao ar livre
Théo Ceccaldi — Freaks
Théo Ceccaldi, Violino / Teclados / Voz
Mathieu Metzger, Saxofones alto e barítono
Quentin Biardeau, Saxofone tenor / Teclados / Voz
Giani Caserotto, Guitarra elétrica / Teclados
Valentin Ceccaldi, Violoncelo
Etienne Ziemniak, Bateria
Descrito como um “jazz punk psicadélico, radioativo e contrastado”, tão próximo do sonho quanto do pesadelo, o novo grupo montado pelo arrebatado violinista francês Théo Ceccaldi, baptizado como FREAKS, é feito de um imenso caldeirão de referências, vindas dos mais diversos mundos.
A Frank Zappa e a John Zorn vão buscar a busca pela implosão de géneros e pelo desrespeito das estruturas, do cinema de animação herdam o prazer pela exploração lúdica da música, e ao ponto imaginário de interseção entre Stravinsky e o trash metal dizem dever a sua intensidade. Um festim musical de temas que são caóticos na aparência mas rigorosos no seu apaixonante delírio.
© Jean-Pascal Retel
9 Agosto | 18h30
Auditório 2
Joey Baron & Robin Schulkowsky
Auditório 2
Joey Baron & Robin Schulkowsky
Joey Baron, Bateria / Percussão
Robin Schulkowsky, Bateria / Percussão
Surpreendente parceria criativa entre dois nomes fundamentais da percussão no jazz de vanguarda e na música contemporânea. Enquanto Joey Baron é um dos mais próximos colaboradores de John Zorn, tendo integrado os seminais Naked City e Masada, Robyn Schulkowsky é uma destacada percussionista que trabalhou com os compositores Stockhausen, Feldman ou Xenakis. O segundo álbum em duo, Now You Hear Me, confirmou em 2018 quão especial é o som que resulta deste duo.
9 Agosto | 21h30
Anfiteatro ao ar livre
Anfiteatro ao ar livre
Tomas Fujiwara — Triple Double
Tomas Fujiwara, Bateria
Gerald Cleaver, Bateria
Mary Halvorson, Guitarra elétrica
Brandon Seabrook, Guitarra elétrica
Ralph Alessi, Trompete
Taylor Ho Bynum, Corneta
Tomas Fujiwara lidera um ambicioso projeto cujo nome explica muito do que se passa numa música construída em torno de três duplas: duas baterias, duas guitarras elétricas, dois sopros. As três duplas, que juntam uma superbanda formada por Fujiwara, Gerald Cleaver, Mary Halvorson, Brandon Seabrook, Ralph Alessi e Taylor Ho Bynum, garantem à composição do baterista uma série de possibilidades e combinações que se desdobram numa música altamente sugestiva. Os temas podem organizar-se em torno de dois trios ou de um sexteto, e o resultado tanto coloca o foco sobre cada um dos músicos quanto sobre a qualidade da composição de Fujiwara.
© Nicki_Chavoya
10 Agosto | 18h30
Auditório 2
Zeena Parkins & Brian Chase
Zeena Parkins, Harpa elétrica
Brian Chase, Bateria / Percussão
A mais óbvia tangente entre os universos musicais da harpista Zeena Parkins e do baterista Brian Chase será a ligação de ambos ao espectro pop/rock: ela colaborou e gravou com a cantora Björk; ele foi membro do grupo indie rock Yeah Yeah Yeahs. Mas há muito mais a uni-los, uma vez que ambos têm reconhecida atividade na música experimental. Enquanto duo, aquilo que fazem é colocar toda essa intensidade ao serviço de temas desconcertantes, entre a música escrita e a improvisação.
10 Agosto | 21h30
Anfiteatro ao ar livre
Ambrose Akinmusire — Origami Harvest
Ambrose Akinmusire, Composição / Trompete / Teclados
Kokayi, Rap
Justin Brown, Bateria
Sam Harris, Piano / Teclados
Mivos Quartet
Olivia de Prato, Violino
Maya Bennardo, Violino
Victor Lowrie Tafoya, Viola
Tyler J. Borden, Violoncelo
Após uma meteórica afirmação como um dos músicos mais criativos e fascinantes do jazz contemporâneo norte-americano, o trompetista Ambrose Akinmusire lançou em 2018 o álbum Origami Harvest, uma nova investida em terrenos pouco visitados – e que inclui um nuclear quarteto de cordas e a eletrónica assegurada pelo teclista Sam Harris. De acordo com um propósito expressamente politico, de contestação ao racismo quotidiano que assola o seu país, Akinmusire dirige uma viagem musical que convoca o jazz mais arrojado, o funk, a spoken word, a soul ou o hip-hop. Toda uma súmula da grande música popular negra, transformada sob o olhar de um criador excecional numa espantosa e inventiva combustão sonora.
11 Agosto | 18h30
Auditório 2
ERIS 136199
Han-earl Park, Guitarra elétrica / Eletrónica
Catherine Sikora, Saxofone tenor
Nick Didkovsky, Guitarra elétrica
Han-earl Park é daqueles músicos guiados por uma insatisfação permanente. Cada novo projeto a que se dedica é uma nova oportunidade para testar, com um empenho quase científico, os limites da melodia, do noise e da noção ciber-futurista da música que leva para palco. Em ERIS 136199, o mistério começa desde logo na designação, alastrando depois à relação desafiante que a sua guitarra estabelece com o saxofone de Catherine Sikora e com a guitarra de Nick Didkovsky (fundador e líder do grupo Dr. Nerve, nome de referência da cena vanguardista da Downtown nova-iorquina).
© Steffen Schindler
11 Agosto | 21h30
Anfiteatro ao ar livre
Mary Halvorson — Code Girl
Mary Halvorson, Guitarra elétrica
Amirtha Kidambi, Voz
Maria Grand, Saxofone tenor / Voz
Adam O’Farrill, Trompete
Michael Formanek, Contrabaixo
Tomas Fujiwara, Bateria
Há muito que Mary Halvorson se vem destacando como uma das mais originais guitarristas na órbita do jazz. Com uma linguagem altamente pessoal e elástica, Halvorson tem afirmado de igual modo a sua distinta veia de compositora em várias formações. Desta vez, liderando a segunda vida de um coletivo que inclui Michael Formanek e Tomas Fujiwara, a guitarrista chama ainda para o grupo o encanto especial dado pela participação da voz de Amirtha Kidambi, cantora formada na tradição musical indiana. Se já não restavam dúvidas sobre a desarmante criatividade da guitarrista, este é um novo passo assente num conjunto de temas em que assina música e letras.
Mais informações, em Jazz em Agosto / Gulbenkian