A 12ª edição do OUT.FEST – Festival Internacional de Música Exploratória do Barreiro cumpre-se numa tónica de celebração e de um sempre renovado espírito aventureiro.
PROGRAMA COMPLETO DO OUT.FEST 2015
O percussionista britânico Eddie Prévost, que acolheremos para o concerto dos AMM, formação da qual faz parte há exactamente 50 anos, é um daqueles músicos que se confunde com a própria história da música improvisada. Toda a prática, teoria e possibilidades de uma abordagem que seja verdadeiramente comunitária e comunal, no que que toca à criação e ao papel da parte no todo, foram já visitadas por este senhor na sua “London Workshop”, espaço semanal que há anos e anos promove enquanto lugar de encontro por onde passaram já vários dos grandes improvisadores europeus. Teremos, assim, e a juntar à efeméride que será um concerto dos AMM, a oportunidade de, um dia antes deste, escutar e aprender sobre a improvisação musical com um dos seus grandes mestres. 8 OUTUBRO BE JAZZ CAFE / ESCOLA DE JAZZ DO BARREIRO. 21h30
Duo editado em 2013 pela editora portuguesa Mbari, que publicou a sua estreia em disco, ‘Iruman’, o duo de Sakata e Domenico é um curiosíssimo encontro de gerações e escolas. Sakata é um pluralista nato no saxofone e clarinete, tendo passado as últimas quatro décadas a trabalhar entre o free jazz, a improvisação, e a forma como estes domínios estéticos e discursivos podem jogar com vários tipos de orquestração (pop, lounge, jazz de lobby de hotel), trabalhando também, claro, numa dimensão eminentemente jazz. É dessa maneira que se posiciona para o encontro com Di Domenico, que é um pianista claramente pós-Cageiano, lidando com brilho e intuição com as boas regras da aleatoriedade e do caos que Cage desenvolveu (através das ordens infinitas do universo). Tanto se ouvem traços de Charles Ives e David Tudor no seu piano, como o tipo de calor melódico e harmónico dos trabalhos de colectivos de câmara modernistas da segunda metade do século passado, caso da Penguin Cafe Orchestra ou dos Aksak Maboul. Em ‘Iruman’ a sensibilidade melódica e elegância frásica de Sakata florescem (percebe-se porque o visionário Jim O’Rourke o tem em tão alta estima), libertadas e libertando as estruturas tonais de Domenico.
Matana Roberts é uma reputada compositora, líder de banda, saxofonista e experimentalista sonora, trabalhando internacionalmente em diversos contextos e campos artísticos incluindo a improvisação, dança, poesia e teatro. Nascida em Chicago mas a residir em Nova Iorque há vários anos, considera-se uma compositora mutidisciplinar auto-didacta de raiz, tendo avolumado nomeações e atribuições de prémios de mérito artístico e convites para ensinar, participar em debates, conduzir workshops e abraçar residências artísticas em inúmeras paragens, com diferenciadas tipologias e condições. A terceira parte do seu projecto Coin Coin foi publicada na Constellation Records em Fevereiro deste ano, sendo que tem um acordo com o selo canadiano para editar os 12 longa durações que planeou desde o primeiro volume em 2011. Esta série criticamente aclamada e que a tornou mais conhecida junto do público melómano é um trabalho de tapeçaria sonora panorâmica, que almeja revelar as raízes místicas e canalizar as tradições intuitivas, de elevação espiritual e de expressão criativa, especificamente Americanas, aliado a um substantivo compromisso com noções de narrativa, história, e expressão política e de comunidade(s), no âmbito de estruturas musicais não estandardizadas.
Trio que começou trabalho regular ao longo do último ano, e reúne três gerações de intervenientes de altíssima actividade e impacto na comunidade de música em Lisboa. Miguel Mira é um violoncelista completíssimo, que está num pico de forma e criatividade nos últimos tempos, através de uma das mais desafiantes e heterogéneas agendas de concertos em Portugal, e o seu trabalho regular com uma das formações-chave do jazz contemporâneo nacional, o Motion Trio de Rodrigo Amado. Trabalhando tanto com arco como com pizzicato, e sempre procurando levar a música para um sítio mais limpo e progressista, está aqui ladeado por Afonso Simões, improvisador com mais de dez anos de trabalho público, e nos últimos anos principalmente activo com a banda polidiscursista Gala Drop. Desse trabalho pode escutar-se em continuidade o seu interesse pelas possibilidades da polirritmia, e pelo cuidado com as colorações timbrais dos tambores e pratos, que perfazem um forma de tocar pulsante, muito invulgar e vívida no contexto da improvisação actual. Pedro Sousa é saxofonista tenor e barítono, que tem crescido galopantemente nos últimos anos, em colaborações com meia cidade ligada ao jazz, ao rock, ao noise e à experimentação mais desafiante. Ouve-se-lhe um pulmão fortíssimo, um timbre extremamente evoluído para a sua idade, e uma noção cada vez mais matutada de um fraseado punk, que carrega essa energia e descarga para o discurso jazzístico. 9 OUTUBRO OFICINAS ADDAC SYSTEM (LISBOA). 15H00
Workshop dirigido por Russell Haswell, que actuará também dia 10 de Outubro no OUT.FEST, em parceria com a lisboeta ADDAC System, de André Gonçalves, e que vai concentrar-se em vários temas à volta do seu eixo central – a síntese modular.
Abordar-se-ão as possibilidades musicais e tecnológicas da síntese modular, a sua história, o seu lugar na era digital, a sua utilização em processos composicionais e de performance, bem como na criação de patches. Ocasião raríssima para todos os que por cá se interessam já pelo tema, pela electrónica DIY ou pelo próprio fabrico independente deste tipo de dispositivos.
A ADDAC System – Instruments for Sonic Expression é uma das mais prestigiadas criadoras de módulos de sintetizador Eurorack, tendo uma lista impressionante de clientes por todo o mundo. André Gonçalves é também músico e artista visual com trabalhos ligados à electrónica e ao seu trabalho de invenção de aparelhos há mais de uma década, com currículo vasto e trabalho apresentado por vários pontos da Europa, tendo em tempos mais recentes actuado ao vivo com Sei Miguel ou Dirty Beaches/Alex Zhang Hungtai. 9 OUTUBRO MUSEU INDUSTRIAL DA BAÍA DO TEJO. 21H30
O produtor e músico finlandês nascido Sasu Ripatti em 1976 foi construindo a sua carreira instituindo diferentes heterónimos como Vladislav Delay, Uusitalo, Luomo, Conoco e Sistol, para sob cada qual ir experimentando várias linguagens como o ambient, glitch, dub techno ou house vocal iridescente que para muitos se tornou a sua assinatura, acabando por moldar e parametrizar as valências que constituem tais formas musicais contemporâneas. Ao longo das últimas duas décadas, foi também colaborando com e trabalhando para um alargado espectro de artistas, dos Massive Attack a AGF, Moritz Von Oswald Trio a Ryuchi Sakamoto, assim contribuindo com remisturas e encetando projectos paralelos de duração variável que enriqueceram invariavelmente o seu desenvolvimento e maturação artística. Originalmente um baterista, arrebatado na adolescência pelo death metal e grindcore dos Carcass ou Napalm Death que ainda hoje evoca como influências, gravitou mais tarde para o universo do jazz, escola de vida e música que marcou estruturalmente o modo de pensar o seu trabalho. É conhecido o seu comprometimento com uma ideia de integridade na sua área que o leva a problematizar com consequência o papel de ‘músico electrónico’, como é usualmente encarado e qualificado, nos nossos dias, desde o estádio da composição musical, marcada pelas questões de intuição e intenção humana face à sofisticação da programação electrónica actual, ao momento da sua apresentação em concerto, tendo em conta as tecnologias ao dispor e abordagens que melhor servirão à interpretação pública da obra. Regressou aos discos enquanto Vladislav Delay com “Visa”, lançado na sua editora Ripatti no final do ano passado, nova vigorada e translúcida proposta no campo da música ambient como já não publicava há mais de uma década, desde o tempo da sua série imaculada na Mille Plateaux, e é neste âmbito que se substanciará a sua estreia no OUT.FEST.
AMM, porventura mais que um grupo, tem vindo a ser – em 2015 precisamente, 50 anos depois do início deste percurso – uma ideia, vasta, do que podem ser os limites da música, da improvisação, da notação e da ausência dela, da expressão musical, da descoberta sonora, do socialismo em música.
Fundados em 1965 por Eddie Prévost (bateria, percussão), Keith Rowe (guitarra, electrónica) e Lou Gare (saxofone), por eles passou uma série de músicos-chave da história da música britânica do século XX. O compositor Cornelius Cardew foi membro durante 7 anos, Syd Barrett e os seus Pink Floyd andaram a partilhar órbita em concertos durante a swinging London mais psicadélica de 1966, Paul McCartney assistiu a uma gravação (saiu confuso), Evan Parker foi colaborador regular – tal como John Butcher, e um punhado selecto de outros.
A sua exploração sem tréguas das verdades (musicais, humanas, artísticas, políticas, cívicas, ideológicas), fez com que não só tenham revolucionado o que significa jazz, electro-acústica ou música contemporânea, como contribuiu para que as fronteiras destas áreas se tenham atomizado, abrindo, ao longo das últimas cinco décadas, inúmeras portas tanto para quem escuta, como para quem faz música, ao mesmo tempo criando inúmeras horas de música memorável, essenciais para o descodificar dos avanços nestes campos ao longo do último meio século. A vastidão é tanta quanto o tamanho da modernidade, e o que quer que se queira chamar à lucidez no meio da pós-modernidade; nem mais, nem menos.
John Tilbury, dos mais proeminentes homens e pianistas de pesquisa e também de interpretação da música contemporânea das últimas décadas, é membro desde 1980. De há cerca de dez anos para cá, depois da saída definitiva de Rowe, é no duo de Prévost, o único membro fundador do grupo, e Tilbury que todo o trabalho de contínua exploração expressiva dos AMM continua em curso. Tilbury para sempre envolto em análise e progressão nos clusters de Morton Feldman, Prévost para sempre senhor de todos os tempos, métricas e possibilidades de ordenamento. Da raríssima música que parece tudo saber sobre o mundo.
“Sombras Incendiadas” é o título do inspirado disco em duo de David Maranha e Helena Espvall lançado este ano no selo suíço three:four records; um volume composto por drones densos pontuados por luminosos harmónicos perscrutando as câmaras minimalistas que projectaram e arranjaram com uma mestria encantatória. David e Helena têm vindo a colaborar com frequência desde que violoncelista sueca participou em “Marches of the New World”, album marcante na discografia de David editado em 2007, sendo evidente que a parceria conheceu novos desenvolvimentos a partir do momento que Helena escolheu Lisboa para viver há cerca de um par de anos. Sediada durante largos anos na Costa Este dos Estados Unidos, Helena notabilizou-se como uma das vozes dos Espers, apostados há altura numa reactualização das formas folk anglo-saxónicas. Reconhecida como uma improvisadora altamente melódica, numa procura incessante pelas possibilidades da frase num âmbito pós-clássico e telúrico, entre trabalhos a solo regulares destacam-se dois discos em duo com o mítico Masaki Batoh, líder dos Ghost (ambos pela Drag City), e há ainda a ter em conta o seu contributo regular para artistas e bandas em digressão como foram os casos de Vashti Bunyan, Damon and Naomi ou Marissa Nadler. David Maranha é um explorador intrépido das potencialidades do som contínuo, do silêncio, do volume, do espaço, da acústica e da arquitectura sonora, quer nos Osso Exótico quer no seu percurso a solo, apresentado-se regularmente ao vivo com outros músicos que convida para o ajudarem a concretizar as suas composições abertas. Para além de músico, especialmente versado em orgão elétrico e violino amplificado, activo desde o final da década de 80 e com uma discografia profícua, tem nos últimos anos exposto em galerias comerciais e espaços independentes o seu trabalho em artes visuais, sobretudo através de objectos escultóricos e instalações. Ao OUT.FEST vêm acompanhados pelos excelentes Ricardo Jacinto e Norberto Lobo, dando sequência a uma actuação do início deste ano que abriu portas a um quarteto que reúne aquilo que de melhor e mais consequente se tem ouvido na música nacional. 10 OUTUBRO ADAO – ASSOCIAÇÃO DESENVOLVIMENTO ARTES OFÍCIOS. 21h30
Figura de enorme relevo nas evoluções da última década/década e meia, que juntam os espaços cruzados entre o noise, a experimentação electrónica e a música de dança (mais especificamente o techno), Russell Haswell tem sido responsável – mesmo quando indirectamente – pela aproximação destes vários vocabulários, cuja fusão se tem tornado cada vez mais paradigma global na criação musical.
Em casa tanto na catedral do techno minimal, o clube berlinense Berghain, como em colaborações com Aphex Twin, Earth, Yasunao Tone ou Pita (cuja seminal editora Mego editou o seu primeiro LP), como em trabalho expositivo e galerístico, acrescenta-se a estas pluralidade dimensional a sua produção nas artes visuais.
Pesquisador e conhecedor intrépido quer das cambiantes digitais como das de síntese modular analógica no processo de criação de músical electrónica, o trabalho de Haswell ao vivo parece apontar sempre para a obliteração experiencial, existencial e estética, no sentido de encontrar – ou de regressar – ao nada. É sua uma secura de meios e um espaço fantasmático típico de várias das músicas das ilhas britânicas; uma cultura que tantas vezes olhou para a música de dança e para as vanguardas da exploração sonora como um todo indivisível, e cujo devir colectivo prossegue, ao lado de figuras como os Autechre ou William Bennett, nas mãos positivamente obsessivas de Haswell.
Colectivo musical e performativo de Glasgow devoto de festa e celebração ritualista, integrando desde um pulsar rocksteady alienígena a excursões techno hibridizadas com percussões ao vivo como alguma da matéria inovadora que preenche as suas tácticas estéticas, os Golden Teacher resistem com charme a categorizações estilísticas que pouco importam, mesmo ao bem-intencionado “psicadélico” só porque escolheram para si um nome de uma espécie de cogumelos mágicos. Considerando como ponto de partida a Glasgow Art School aonde todos chegaram para estudar, e depois tomado forma no contexto do influente Green Door Studios que possibilitava aulas de produção musical e acesso a diversas técnicas e equipamento de estúdio, o sexteto encompassa 2 vocalistas, a nativa Cassie Oji e o parisiense Charles Lavenac, e os multi-instrumentistas Richard McMaster, de New Jersey, o nova-iorquino Sam Bellacosa e os ingleses Laurie e Ollie Pitt de York. Tocaram extensivamente na sua cidade gerando um culto fervoroso, lançaram 2 entusiasmante EPs na Optimo Records e avançaram no resto da ilha a tocar em Londres ou Sheffield (relatos de nudez integral no público abundam) e algumas incursões na eurolândia continental. “Sometimes the best parties are the weirdest ones” disse McMaster numa entrevista, e isso é reflexo da própria praxis da banda, que ensaia o que grava e grava o que ensaia, pensando nos resultados que gostariam de obter e, ao falharem, atingirem novos campos de acção sónica inegavelmente prontos para vivência gregária ao vivo, o seu estilo de “party music”, no encalço em espírito de outras trupes rebeldes como os Sly & The Family Stone ou Happy Mondays. Chegam ao OUT.FEST com novíssimo e progressista EP “Sauchiehall Enthrall”, lançado em edição de autor, acabado de chegar às lojas.
Nenhuma expressão artística é transportável de uma época para a outra, mas pode haver intromissões de ideias musicais que façam com que os elementos de um ou mais velhos campos musicais sejam reactivados num outro novo. É a prática que constitui a continuidade entre o passado e o presente, ou por outro ainda, a maneira pelo qual o presente explica o passado. Os Gala Drop, brilhante banda de Lisboa formada há cerca de uma década, procuraram desde a sua origem escutar e perseguir, mais que uma identidade, a sua verdade, para assim progredirem destemidos rumo ao que os melhor satisfazia e validava na sua música e no seu trabalho, estética e eticamente. O mais recente album do grupo, ‘II’, foi lançado em finais do ano passado, em parceria com a editora nova-iorquina Golf Channel Recordings, dois anos depois do inebriante e aclamado ‘Broda’, disco colaborativo com o norte-americano Ben Chasny (Six Organs of Admittance). Tecedores de uma música original fascinante, inspirada pela inesgotável riqueza das áreas do rock e da música electrónica de dança, para além da transumância afectiva África – Jamaica celebrada desde o início no som da banda, todo o seu caminho até hoje parecia fadado a chegar a ‘II’, considerado pelos seus membros como o verdadeiro longa-duração sucessor do extraordinário álbum de estreia homónimo de 2008.
Peter Brötzmann, reincidente da edição de 2014 do Out.Fest, e figura seminal do jazz progressista europeu dos últimos cinquenta anos, regressa ao Barreiro com um dos seus colaboradores regulares mais recentes, o vibrafonista Jason Adasiewicz, ruidoso cidadão de Chicago ligado à improvisação e ao free jazz.
O duo tem vindo a colaborar ao vivo em disco, em trio com Steve Noble, e em quarteto com Noble e o contrabaixista britânico John Edwards. Contudo, do ponto de vista de decisão composicional e improvisacional harmónica e melódica, é neste emparelhamento sopros-vibrafone que reside o fulcro deste trabalho, que aqui regressa a palcos sem rede.
Sobre Brötzmann já muitíssimo se escreveu – como permanece um dos mais vivos, radicais e sábios sopradores do jazz mundial; como depura cada vez mais o timbre e a frase; como se transcende ferozmente enquanto músico, cidadão e agitador; não falando, outra vez, como foi parte fulcral de tudo o que se fez nestas últimas décadas na improvisação europeia, da qual é um dos seus líderes.
De Adasiewicz, que a nível discográfico se tem vindo a mostrar ao mundo em grande parte nas colaborações com Brötzmann, mais declaradamente nos duos ‘Going All Fancy’ e ‘Mollie’s In The Mood’ (ambos lançados pela BRÖ), destaca-se uma imaginação dinâmica e frásica, que torna claro o porquê de Brötz – normalmente distante de pianistas e demais instrumentação mandatoriamente cromática – ver nele bravura irmã e equivalente, para estas e outras conquistas futuras. Música tonal livre até ao infinito, canções novas a cada dia, canções intermináveis, com a fúria dos bravos.
Banda com mais de uma década de actividade intempestiva a fragmentar o rock naquilo que tem de mais essencial, marcada por períodos de silêncio e mudanças de alinhamento, os CAVEIRA regressam ao Out.fest numa formação renovada que deixou boas premissas aquando da sua estreia recente na ZDB. Após as passagens de André Abel e Manuel Mota, o binómio edificado pela bateria infinita de Gabriel Ferrandini e pela guitarra convulsa de Pedro Gomes conta agora com o sopro vital de Pedro Sousa e o baixo de Miguel Abras, a abrir novas perspectivas em continuidade com a torrente tumultuosa que conduzia a banda por terrenos inóspitos. Com o saxofone de Sousa a indiciar de modo mais claro a expansividade free que sempre os alimentou, estão agora cada vez mais vertiginosos nas tangentes electrificadas com que encaram o abismo, com o espírito libertário dos freak outs de grupo na linha da Celestrial Communication Orchestra a enformar o pathos punk com que dinamitam a(s) história(s) do rock mais livre.
Fundados em 2000 pelo compositor e saxofonista tenor Sam Hillmer, os Zs já foram desde um sexteto a um duo, sendo a sua formação consolidada actual constituída por Hillmer, Patrick Higgins na guitarra eléctrica (com currículo relevante como compositor para orquestras de câmara, quartetos de cordas, a ensembles de contemporânea, assim como autor de bandas sonoras para televisão, filmes e exposições em museus) e Greg Fox na bateria (também nos amados/odiados Liturgy, auto-proclamados originadores de ‘black metal transcendentalista’ sediados em Brooklyn). Vocacionados obstinadamente para testar os limites físicos e mentais dos próprios instrumentistas e dos ouvintes, a banda sempre lutou para além da linhagem tautológica de música experimental de Nova Iorque, e receberam validação crítica e afecto de pares pela sua radicalidade processual e intensidade individualista. Principalmente este trio que pensou, tocou e editou no início do ano o disco “Xe”, inspirado pela correria ao vivo nos EUA e na Europa nos anos mais recentes descolando-se da existência anterior mais instável, realiza um primado de música extrema rigorosa do mais antenado que se encontra hoje em dia com as capacidades humanas de imaginação e expressão que continuarão a surpreender quem continua curioso e cioso pela música não estandardizada.
Depois de dois discos na Príncipe – o 12’’ de estreia “Ouro Oeste” em 2013, e “Ímpar” este ano – e o duas caras “Falcão / Mustor” na londrina From The Depths no início do Verão, ficou clara a visão personalizada do trio Niagara para uma música de dança electrónica biótica e de fibra emocional luminosa, também efectiva em actuações ao vivo onde são inequívocos os seus atributos de máquina apurada de ritmo, balanço e melodia.
Ao longo do seu caminho têm também complementado a sua discografia em vinil optimizada para a pista de dança com edições pensadas para fixarem as outras dimensões processuais do que vão criando no seu estúdio, em Pinheiro de Loures, onde passam horas a improvisar e experimentar ideias, a gravar, e posteriormente a editar e produzir a sua música. Desde o homónimo CDR na Dromos em 2010 ou o em edição de autor “506” do ano passado, até à mais recente cassete “Canas” acabada de lançar na britânica Videogamemusic, é volumosa e igualmente meritória de distinção crítica a sua produção em temas atmosféricos e explorações funk idiossincráticas que os identifica à distância. Entre traduções sónicas de torpor e não-lugares, a golfadas psicodinâmicas rumo a ficções nocturnas e ambíguas, é toda uma proposta do outro lado do espelho que enriquece a relação que mantêm com o cada vez mais alargado público que lhes dedica tempo de escuta.
Guitarrista português que nos últimos anos tem vindo a desenvolver trabalho a solo de real interesse, tanto em guitarra eléctrica, como em guitarra acústica electrificada.
Partindo cada vez mais de uma premissa escrita, e afastando-se um pouco da improvisação pura e dura, deslinda o ofício de tanto guitarrista e “tonalista” dedicado, que é o de reaprender e reconfigurar (parte d)a vida através do que é modal e pentatónico. Para isso, atira-se com rigor, concentração e cerimónia para novas maneiras de encarar esse labirinto melódico e harmónico infinito. Parte, mais do que de outra forma, do blues, passando por John Fahey, Neil Young, Keiji Haino, ou pela escola neozelandesa dos Dead C de Bruce Russell e Michael Morley. Padrões de fingerpicking, trabalho cirúrgico de suspensões de distorção em acorde e arpeio solista, saturação tímbrica mediada pelo seu carismático (e singular) amplificador de tempos recentes, a artilharia pesada para as novas paisagens humanas que prossegue desenhando regularmente em palco e em edições, tanto em Portugal como pela Europa.
Um dos muitos pseudónimos do experimentalista psicadélico francês High Wolf, activo há cerca de uma década no underground europeu, Black Zone Myth Chant dedica-se a uma electrónica de maquilhagem enigmática, entre estratégias de hip hop obsolescente e um jazz ficcionado primitivista. A Flur lembrou com a habitual pontaria o ““Brown Rice” de Don Cherry ou os momentos com mais percussão – ou sensação de – dos Popol Vuh, melhor, se os Popol Vuh convidassem Francis Bebey para umas sessões.” O mais recente fonograma “Mane Thecel Phares” acaba de ser lançado na editora Gravats do parceiro parisiense Low Jack.
Trio nascido em pleno OUT.FEST 2014, onde Raphael Soares (bateria; Sunflare) e Bernardo Álvares (contrabaixo) começaram a tocar juntos por ocasião do workshop realizado por Carla Bozulich, tendo pouco tempo depois decidirdo desenvolver o seu trabalho conjunto, passando para trio com o acrescento de Mestre André (electrónicas).
Os trabalhos que lhes conhecemos denotam um enfoque entre um minimalismo processual (hipnose é via sacra para chegar ao inaudito); uma propulsão rockeira proveniente do trabalho da bateria; vários arpejamentos vindos do contrabaixo; e as electrónicas de André a funcionar tanto quanto acrescento por cima e por entre a secção rítmica ritualista, como enquanto gatilho para outras sequências musical e narrativa menos lineares, destas aparentes improvisações de cariz neo-xamânico. Álbum de estreia para breve.
Segundo a própria, Bleiddwn “é um projecto musical sediado num computador, activo desde 2014”. Sem dúvidas é um dos mais prodigiosos valores revelados no último ano no lato e rico ecossistema da música electrónica de desenho futurista e cortês da pista de dança produzida em Portugal. No soundcloud da artista encontramos uma amostra copiosa dos caminhos que explora, da gravidade breakbeat com afecto pelo corte e queda footworkiano da chi-town a trap leigo introspectivo, intuindo-se uma personalidade autoral em construção a partir da (de)trituração estilística da música processada em software. Ao vivo em tempos recentes foi testemunhado uma jovem mulher em comando de uma música poderosa, parecendo estar como que no próprio tecido da mesma, convincentemente e sem esforço, rara condição. A música transmitida vai progressivamente materializando-se no espaço performativo – real, virtual – , conquistando a lume brando os sentidos e corpos do público em presença pela sua natureza sagaz admirável.
Rodrigo Cotrim é um músico escandalosamente jovem, que trabalha em vários meios primordialmente electrónicos mas também eléctricos, enquanto em paralelo desenvolve actividade no campo da expressão plástica, escrita, e da performance – numa actuação que lhe conhecemos, conseguiu harmonizar um baixo, amplificador, bolo de chocolate, televisão, biscoitos, VHS, laptop e giradisquismo num único contexto ultra-ambicioso, com o maior sucesso. Os seus trabalhos mais recentes em música pautam-se por um cruzamento extremamente invulgar entre techno e noise; cada som que escolhe utilizar, cada métrica rítmica ou melódica áspera sempre fresca e inesperada. Constrói peças em progressão constante, e cada segundo parece querer (e muitas vezes consegue) conter dezenas de ideias em simultâneo. Sendo um artista jovem com enorme potencial e bravura, já é um criativo de mérito e consequência, num muito auspicioso início de percurso autoral.
Como se tem tornado evidente, o que costumava ser qualificado como ‘música industrial’ pelos criadores e leais aficionados das margens radicais do pós-punk dos anos 80 tem estado a vir ao de cima e permear as progressões e perversões mais excitantes da esfera do techno e demais concotominações. O produtor francês Low Jack (Philippe Hallais) aborda a estética clássica industrial e conduz-la a novos patamares de significância trânsica, permutando noções de crueza, frequências agudizantes e aspereza minimalista. Low Jack tem portanto trilhado o seu percurso referencialista coerentemente coalescido, apanágio destes tempos de músico enquanto curador da sua produção sonora, com um pé na cultura da música de dança e outro na experimentação abstracta, com música editada em casas como a L.I.E.S., The Trilogy Tapes ou no seu selo Editions Gravats. Por cada traço evocativo do período dourado do ácido-industrial da Bunker Records há contrapontos de groove esotérico à la George Issakadis, de chicotadas sinusodais dignas dos Pan Sonic a apropriações de shamanismos étnicos apanhados ou representados para fita, não se escondendo da evidência de que conhece bem o catálogo da Dancemania e a travessia do ghetto house. Uma viagem trepidante a não perder no OUT.FEST deste ano.
Duo de potentíssima e jovem criatividade, junta dois dos mais interessantes músicos a surgirem no panorama lisboeta ligado à nova música.
O inacreditavelmente titulado Rabu Mazda é heterónimo para Leonardo Bindilatti, diabólico e mercurial baterista dos terroristas glam-punk-meta Putas Bêbadas, guitarrista dos hibernados Kimo Ameba, produtor e backing vocals de Iguanas, e parte integrante do duo Kridinhux; para além de estar a produzir muita da música boa que vai surgindo pela capital e de lhe serem conhecidos dos mais eficazes e positivamente globalistas dj sets.
Van Ayres, Rafael Ayres, exclusão feita a esta colaboração regular, tem-se dedicado a solo em fazer uma pop do futuro, por vezes instrumental e vocal, outras estritamente organizadas e executadas como verdadeiras esculturas neo-mutantes, entre a pop, a desmontagem e reinvenção de música de dança plástica e um new age psico-futuro-trópico.
É também nestes vocabulários que atravessa o trabalho mais recente do duo, desenhando em concertos torrentes aparentemente infinitas de novas ideias e estruturas musicais, viajando por quaisquer vocabulários que fazem disparar a sua voraz curiosidade criativa – tudo o que interessa e estimula parece ser ferramenta preciosa. Por agora, e em antecipação, a referência permanece ‘Acacia’, disco de 2014 com selo Cafetra, que documenta o luminoso primeiro encontro das almas em questão. 11 OUTUBRO YOGA SPOT BARREIRO. 11h00
Uma sessão de yoga matinal, em parceria com o Yoga Spot Barreiro e conduzida pelo músico Laraaji, em antecipação do seu concerto na mesma tarde. Não são necessários quaisquer conhecimentos prévios de yoga ou experiência da sua prática. O músico pede apenas que vistam roupa larga e confortável. 11 OUTUBRO ESCOLA CONDE DE FERREIRA. 18h
Laraaji é criador de uma música panegírica do cosmos e um convicto praticante e promotor da meditação transcendental através do riso, baseado em Nova Iorque. Começou a tocar música nas ruas na década de 70, improvisando temas hipnóticos na sua ‘zither’ personalizada que processa com efeitos electrónicos, motivado pela sua pesquisa pessoal e entendimento de culturas místicas orientais. Brian Eno viu-o a tocar num parque público e convidou o músico a gravar um álbum para a sua série ‘Ambient’ (‘Ambient 3: Day of Radiance’, editado em 1980). Desde então Laraaji publicou profusamente muita da sua música gravada em casa, vendendo-a em formato cassette durante as suas actuações no circuito norte-americano de centros de meditação e yoga, um paradigma de sustentabilidade militante de comunidades em rede paralelo ao negócio rentável do que se tornou o mainstream mais caricaturável da New Age. A proposta de Laraaji é de guiar os seus pupilos da ocasião por uma viagem de canto resultante de chamada e resposta, linguagem exploratória, espreguiçar suave e posturas de respiração e riso para aprendizagem da postura de meditação sonora conhecida como Savasana. Após uma sessão matinal mais directamente ligada à prática do yoga, teremos da parte da tarde uma extensiva e imersiva performance musical, onde a ‘zihter’ electrónica, mbire, gongo, espanta espíritos e voz se combinam para conduzir os presentes para uma jornada interior rumo a sítios de profundo desprendimento, descanso e harmonia.INFORMAÇÕES ÚTEIS: BILHETES:
Dia 8 e 9: 10€ cada
Dia 10: 15€
Passe global: 25€
Dia 11 (tarde): Entrada livre
Descontos:
50% para menores de 18 anos e maiores de 65 (obrigatória identificação na bilheteira)
Todos os espectáculos: m/3
LOCAIS DE VENDA:
www.bol.pt e lojas associadas
Posto de Turismo do Barreiro (Mercado 1º de Maio)
Fórum Barreiro (Balcão de informações)
O Pial (Barreiro)
Flur (Lisboa)
ESPAÇOS:
BE JAZZ CAFE: Rua Salvador Correia de Sá, nº6
ESCOLA DE JAZZ DO BARREIRO: Rua Eusébio Leão, nº11, 1º
MUSEU INDUSTRIAL DA BAÍA DO TEJO: Parque Empresarial da Baía do Tejo, Rua 44
ADAO – ASSOCIAÇÃO DESENVOLVIMENTO ARTES E OFÍCIOS: Rua da Recosta, nº1
ESCOLA CONDE DE FERREIRA: Rua do Conselheiro Joaquim António de Aguiar, nº
OUTRAS ACTIVIDADES:
Workshop Eddie Prévost @ ESCOLA CONDE DE FERREIRA
Dia 8, das 15h às 20h
Entrada livre mediante inscrição prévia para: workshops@outra.pt
Workshop Russel Haswell @ ADDAC SYSTEM (Lisboa)
Dia 9, das 15h às 20h
Valor: 10€. Inscrições e informações: workshops@outra.pt
Sessão de Yoga com Laraaji @ YOGA SPOT BARREIRO
Dia 11, das 11h às 13h
Entrada Livre mediante inscrição prévia para workshops@outra.pt
ALOJAMENTO
Parceria com:
Lisbon Lounge Hostel e Living Lounge Hostel (Lisboa – Baixa). Ver condições em http://www.outfest.pt/pt/info/
e com:
Residencial Príncipe (Barreiro). Ver condições em http://residencialprincipe.pt/pt
MOBILIDADE
Viagens gratuitas nas carreiras regulares dos TCB a partir das 15h do dia dos espectáculos, para portadores de bilhete para o OUT.FEST
Shuttle Barreiro – Lisboa (Restauradores) no final dos concertos nos dias 9 e 10.
Custo do bilhete: 2€ (disponível na discoteca Flur – Santa Apolónia) e por reserva prévia para outfest@outra.pt
CONTACTOS:
GERAL: outfest@outra.pt