Anna Mascolo (1930-2019)
Bailarina, coreógrafa e professora
No passado sábado, dia 30 de Março, faleceu Anna Mascolo, figura de proa da dança contemporânea, e cujo percurso artístico e pedagógico marca indelevelmente a história da dança em Portugal.
A Antena 2 homenageia-a, emitindo a entrevista de Anna Mascolo a João Almeida, em 2011, num especial Quinta Essência, hoje, 1 de Abril, às 19h00.
Pode escutar também aqui.
Anna Mascolo nasce em Nápoles, Itália, a 18 de dezembro de 1930. Fugida da 2ª Guerra Mundial, vem para Portugal, com a família, em 1940. É em Lisboa, onde encontram refúgio, que se matricula aos 13 anos na secção de dança do Conservatório Nacional, sem o conhecimento do pai pois este não aprova a sua carreira na Dança.
Em 1947, diploma-se no Conservatório, e, no ano seguinte, recebe o Prémio Nova Geração. Nesse pós-guerra, contacta com diversos bailarinos e coreógrafos que visitam e atuam em Portugal, nomeadamente com Serge Lifar e George Balanchine, colhendo dessas circunstâncias, importantes ensinamentos.
Parte para Paris e Nápoles, a conselho desses professores e bailarinos estrangeiros, e por lá permanece vários períodos de dois a três meses, com o intuito de aprimorar a sua formação junto de Olga Preobrajenska ou Bianca Gallizia, entre outros. Teve aulas no Teatro alla Scala, ao lado da grande intérprete clássica Carla Fracci, que dançou com bailarinos como Rudolf Nureyev, Erik Bruhn e Mikhail Baryshnikov.
Depois de participar nas temporadas de Ópera no Teatro Nacional de S. Carlos e nos Coliseus, onde alcança êxito assinalável, Anna Mascolo decide procurar uma carreira profissional internacional. Ingressa, em 1953, na companhia “Le Grand Ballet du Marquis de Cuevas”, tendo oportunidade de pisar diversos palcos internacionais, e foi considerada “uma bailarina versátil, de forte personalidade dramática, e grandes qualidades líricas” (Tomaz Ribas).
Em 1955, vai para a Escola de Dança do Teatro alla Scala, de Milão, dirigida por Esmée Bulnes, querendo conhecer e estudar a grande tradição do ensino integrado, na formação dos bailarinos profissionais. É neste contexto que a sua visão da Dança se amplifica, numa necessária sintonia entre o virtuosismo e a criatividade do bailarino, e uma atenção especial na área da pedagogia e da ciência do movimento.
Aos 28 anos, cria o seu estúdio-escola que manteve e onde lecionava até recentemente, e por onde passaram como alunos, e ao longo de mais de 50 anos, os principais bailarinos e bailarinas e coreógrafos portugueses. A importância histórica desta instituição de ensino artístico de Lisboa, foi em 2015 evocada numa exposição do Museu Nacional do Teatro e da Dança.
É aí que começa a sua carreira como pedagoga, mas depois também foi docente na Escola Superior de Dança de Lisboa, no Conservatório Nacional e na Universidade Técnica de Lisboa (Faculdade de Motricidade Humana), assim como na Academia de Música de Santa Cecília.
Foi também diretora artística do Grupo Experimental de Ballet, o núcleo que mais tarde daria origem ao já extinto Ballet Gulbenkian.
Além dos espetáculos de bailado e de ópera, trabalhou no teatro e na televisão, participou em conferências e escreveu diversos artigos sobre a área da dança.
Foi membro do Conseil International de la Danse (CIDD), organismo ligado à UNESCO que a convidou para formar o Conselho Português da Dança (CPDD), do qual foi presidente. Foi ainda membro do Consiglio Nazionale Italiano della Danza (CNID) e do Conselho Brasileiro da Dança (CBDD).
Em 2012, a Universidade Técnica de Lisboa, por proposta da Faculdade de Motricidade Humana, onde tinha sido docente, homenageou-a, atribuindo-lhe o primeiro Doutoramento honoris causa em Dança do país. Foi, por duas vezes, condecorada pela Presidência da República.