Temporada de Concertos Antena 2
Ciclo Portugalsom
em parceria com a Direção Geral das Artes e a ESML
25 março | 19h00
Auditório Vianna da Motta da
Escola Superior de Música de Lisboa | PortugalSom
Entrada gratuita
Margarida Simões & Mariana Santos | Tiago Simas & Maria Catarino
Udite amanti
Margarida Simões, soprano
Mariana Santos, tiorba
Dueto Canto e Piano
Tiago Simas, tenor
Maria Catarino, piano
Programa
[Margarida Simões & Mariana Santos]
Udite amanti
Barbara Strozzi (1619-1677) – L’Eraclito amoroso
Henry Purcell (1659-1695) – Bess of Bedlam
Tarquinio Merula (1595-1665) – “Hor ch’è tempo di dormire” Canzonetta spirituale sopra alla nanna
Marcos Portugal (1762-1830) – Os mares, minha bela não se movem
[Tiago Simas & Maria Catarino]
Robert Schumann (1810-1856) – Dichterliebe
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- Im wunderschönen Monat Mai
- Aus meinen Tränen sprießen
- Die Rose, die Lilie, die Taube, die Sonne
- Wenn ich in deine Augen seh’
- Ich will meine Seele tauchen
- Im Rhein, im heiligen Strome
- Ich grolle nicht
- Und wüßten’s die Blumen, die kleinen
- Das ist ein Flöten und Geigen
- Hör ich das Liedchen klingen
- Ein Jüngling liebt ein Mädchen
- Am leuchtenden Sommermorgen
- Ich hab’ im Traum geweinet
- Allnächtlich im Traume
- Aus alten Märchen
- Die alten, bösen Lieder
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Notas ao programa
Udite Amanti (“Ouçam, amantes”) é um programa que nos leva a vivenciar as nuances do amor nas suas variadas facetas. As peças que o compõem lembram a êxtase da paixão, a desilusão amorosa, a loucura e o amor materno. Este programa convida todos os amantes a uma reflexão íntima sobre suas experiências amorosas, tendo como ponto de partida os diferentes cenários das obras apresentadas.
L’Eraclito amoroso de Barbara Strozzi leva-nos a uma jornada emocional, que oscila entre a dor, a tristeza, o prazer e a alegria. O eu lírico apela a que oiçam a razão pela qual chora (Udite amanti la cagione, oh Dio,/ch’a lagrimar mi porta; Ouçam, amantes, a razão, oh Deus,/que me leva a chorar): o seu belo e amado ídolo não lhe é fiel. A partir desta ideia, somos transportados para uma ambiência hipnótica onde a dor da desilusão amorosa e o deleite de viver um amor imperfeito dançam intimamente (Ogni martire aggradami,/ogni dolor dilettami,/i singulti mi sanano,/i sospir mi consolano; Cada martírio agrada-me,/cada dor deleita-me,/os soluços curam-me,/os suspiros consolam-me). Esta oscilação revela o desejo infinito da personagem em aprisionar-se num amor ferido até à morte. Há um contentamento em apenas vivê-lo nos seus pensamentos, anulando qualquer possibilidade de superar este desgosto.
Bess of Bedlam de Henry Purcell é uma peça que explora os desafios das paixões humanas e que nos transporta para um cenário sombrio e ao mesmo tempo cómico, evocando a angústia e a confusão mental de Bess, que se encontra num hospício. A morte do seu amado levou-a à loucura e agora faz por curar a sua melancolia amorosa. É notório o contraste das secções da peça que ora trazem momentos breves de tristeza lúcida ora momentos de efusividade, ou ainda de evasão à realidade. O uso de referências a figuras mitológicas ajudam a dar vida ao mundo paralelo que Bess construiu para superar a sua dor (Who is content/Does all sorrow prevent,/And Bess in her straw,/Whilst free from the law,/In her thoughts is as great as a King.; Quem está contente/Previne toda a tristeza,/E Bess nas suas palhas,/Enquanto livre da lei,/Nos seus pensamentos é tão grandiosa quanto um Rei).
Hor ch’è tempo di dormire de Tarquinio Merula é a obra mais complexa e, possivelmente, a mais bela do programa, pois conduz-nos às profundezas da experiência materna e divina. Esta não é uma simples canção de embalar de uma mãe para o seu filho. Nossa Senhora embala o menino Jesus estando ciente das provações que este enfrentará no futuro (Chiudi, chiudi quei lumi divini/Come fan gl’altri bambini/Perchè tosto oscuro velo/Priverà di lume il cielo; Fecha, fecha essas luzes divinas/Como fazem as outras crianças/Pois em breve um véu escuro/Privará o céu da luz.). Logo no início, uma sonoridade hipnótica e desconcertante é-nos apresentada pela tiorba. Junta-se-lhe a melodia da voz que oscila entre a ternura do embalo e a sombra da dor e da aflição de Maria, não esquecendo a promessa de redenção futura e paz no paraíso. Maria embala e contempla Jesus enquanto se aflige com as penas que este viverá (Ah con quanto tuo dolore/Sola speme del mio core/Questo capo e questi crini/Passeran acuti spini; Ah, com quanta dor,/Minha esperança, meu coração,/Esta cabeça e estes cabelos/Passarão por espinhos agudos.). Esta poderia também ser uma canção de embalar a todos os filhos especiais, que venham a passar por provações.
Por fim, para terminar esta parte do concerto, e não podendo faltar a faceta leve, alegre e apaixonada do amor, propõe-se a modinha lusobrasileira, Os mares, minha bela não se movem de Marcos Portugal, uma obra presente no catálogo da PortugalSom. As suas características simples e populares tornam esta peça agradável de se ouvir, permitindo que se feche o programa lembrando que o Amor não é só feito de tristezas, dores e desgostos.
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A 6 de Outubro de 1843, o compositor Robert Schumann (1810-1856) entregou à editora C. F. Peters um conjunto de obras de sua autoria, no intuito de serem futuramente publicadas. Deste grupo, seria apenas aceite para este propósito um ciclo de vinte canções sobre poemas de Heinrich Heine (1797-1856) que, depois de reapropriado a um total de dezasseis, viria a ser publicado em Fevereiro de 1844 com o célebre título de Dichterliebe (Amor de Poeta), Op. 48. Após esta data, a popularidade dispersa e independente de alguns dos constituintes desta obra tornou-se, em pouco tempo, num notável reconhecimento da sua totalidade enquanto um dos mais elevados símbolos do lied alemão. Depois de ter convidado à sua interpretação músicos tão célebres como Johannes Brahms (1833-1897) ou Wilhelmine Schröder-Devrient (1804-1860), este ciclo de canções continua a aliciar ao mesmo tempo vários intérpretes da contemporaneidade.
As razões do grande interesse que Dichterliebe suscitou no ouvinte ao longo dos séculos distinguem-se nos diferentes aspetos da sua configuração, que o tornam inequivocamente singular no seu contexto musical. Em primeiro lugar, a mestria com que Schumann seleciona determinados textos da obra poética Lyrisches Intermezzo – recombinando-os num enredo simples, mas profundo e inevitavelmente comovente – permite ao compositor um discurso musical versátil e elaborado, que demonstra da sua parte um conhecimento industrioso da expressão artística e das necessidades da sua clareza. Assim, os sentimentos de amor do poeta central a este enredo, que ‘orescem e o levam consequentemente ao seu declínio’, ilustram-se nas eloquentes canções miniaturais deste ciclo, admiráveis no testemunho dos objetos expressivos e delicados do seu lirismo.
Acompanhando a deceção do poeta enamorado, Dichterliebe circunscreve ao seu discurso uma atmosfera progressivamente obscura, habilmente mediando o texto, a voz e o piano numa profunda simbiose. Um vínculo expressivo semelhante também se configura na obra de Franz Schubert (1797-1828) ou de Brahms, no entanto Schumann distingue-se na sua formalização ao alterar constantemente o seu foco principal entre a linha vocal e a parte do piano. Deste modo, a voz que ao longo destas dezasseis canções ocupa uma função condutora e comunicante com o afeto do piano, cede-lhe por inúmeras vezes esta mesma função, em suporte da qual passa a fazer-se principalmente valer das características do texto. É nesta abordagem inédita que o compositor deste ciclo abre ao ouvinte uma dimensão musical desconhecida e inovadora, na qual um discurso sentimental objetivo dialoga com um discurso emotivo abstrato.
Esta obra assenta, portanto, numa multiplicidade de relações expressivas que, independentemente da sua origem, proporcionam ao executante uma vasta e pessoal exploração das suas nuances. Dichterliebe concretiza assim uma narrativa de devoção, fidelidade e aceitação, que pela expressão deslumbrante da música de Schumann perdura, mas sempre renovando o seu valor.
Tiago Simas,15 de fevereiro de 2024
Transmissão direta
Apresentação: Pedro Ramos
Produção: Anabela Luís, Zulmira Holstein
Margarida Simões | Natural de Lisboa, iniciou os seus estudos musicais aos 5 anos, tendo estudado violino na Escola de Música da Orquestra Metropolitana. Em 2014, concluiu o curso de Canto da Escola de Música do Conservatório Nacional integrada na classe de Ana Paula Russo. Estudou ainda com a soprano Sandra Medeiros a nível particular. Em 2023 concluiu os seus estudos de canto da Licenciatura em Música com Armando Possante na Escola Superior de Música de Lisboa.
Frequentou ainda masterclasses com os artistas de renome Susan Waters, João Paulo Santos, Lucia Mazzaria, Siphiwe McKenzie, Elena Valdelomar, James Newby e Ana Quintans.
Das suas apresentações destacam-se os papéis de Venus da ópera Venus and Adonis de J. Blow, de Hänsel da ópera Hänsel und Gretel de E. Humperdinck, Rapaz de Bronze da ópera O Rapaz de Bronze de Nuno Côrte-Real, de Bastienne da ópera Bastien und Bastienne de Mozart. Outros trabalhos a solo incluem a cantata Tra le Fiamme de G.F. Handel, Parte Oh dio de Leonardo Leo, as Missas Brevis KV192 e KV194 de Mozart, o Gloria RV 589 de Vivaldi, o Te Deum e a Missa em Sib de Marcos Portugal, o Magnificat de Bach, o Stabat Mater de Pergolesi, o Te Deum de Dvořák e o Requiem de Mozart. Interpreta ainda modinhas luso-brasileiras como membro do grupo Cantos do Sabiá em diversos eventos de recriação histórica.
Em 2023 conquistou o 3º prémio do Concurso de Canto para Jovens Interpretes José Augusto Alegria (8ª edição), tendo-se apresentado no Teatro Garcia Resende (Évora) no respetivo Concerto dos Laureados.
Tem-se apresentado com vários grupos corais com os quais canta frequentemente a solo, mais notavelmente o Ensemble São Tomás de Aquino e, no passado, o Coro de Câmara de Lisboa, dirigido por Teresita Gutierrez Marques. Com estes grupos atuou em Portugal, França, Malásia, Singapura, Indonésia e China. O seu repertório abrange diversos períodos musicais: do Renascimento à atualidade. Em 2017, integrou o Festival ZêzereArts.
Leciona, desde 2023, Técnica Vocal na Paróquia São Tomás de Aquino. Paralelamente, exerce a profissão de Médica Dentista desde 2014.
Mariana Santos | Iniciou os seus estudos musicais aos 5 anos. Completou o 8ª grau em guitarra clássica na EAMCN com Júlio Guerreiro e a Licenciatura em alaúde na ESML com Guilherme Barroso, onde atualmente frequenta o Mestrado em Ensino de Música. Ao abrigo do programa Erasmus, estudou no Conservatório Real de Haia com Mike Fentross e Joachim Held.
Despertado o interesse neste ramo, participou em diversos cursos tais como XVI CIMA da ESMAE, IX CIMA da MAAC, XXX EIMCM da Fundação da Casa de Mateus, a Ton Koopman Academy 2021 no Conservatório Real de Haia, Academia Ludovice Ensemble 2022 no CMACG e Basel Lute Days na Schola Canstorum Basiliensis, onde teve masterclasses com Paul O’Dette, Julian Behr e Peter Croton.
Mariana apresentou-se nos Dias da Música no CCB com o projeto o colinho da rainha, como solista convidada em Concertos para Bebés®️, com o Ensemble 258 no projeto 7Colinas7Cantatas, com a Orquestra 1755 e com a Orquestra Barroca D’Aquém Mar. Na área da música de câmara é membro fundador de Altos do Bairro e do Duo d’outrora.
Tiago Simas | Iniciou os seus estudos de música na Escola Luís António Maldonado Rodrigues, em Torres Vedras, onde estudou Canto com Susana Duarte. Concluiu o Curso Secundário de Canto Gregoriano no Instituto Gregoriano de Lisboa, na classe de Elsa Cortez. Iniciou em 2020 um percurso simultâneo como estudante de Canto e de Composição na Escola Superior de Música de Lisboa. Em 2023, licenciou-se em Canto nesta instituição enquanto aluno de Armando Possante e estudou com Noa Frenkel, em intercâmbio com o Real Conservatório de Haia.
No âmbito da Composição, estudou com João Madureira e Sérgio Azevedo. Atualmente, dá continuidade à Licenciatura neste ramo sob a orientação de Carlos Caires e, simultaneamente, frequenta o ramo de Canto do Mestrado em Ensino da Música. Também por se dedicar a estas duas áreas, contacta constantemente com música de variadas estéticas e períodos históricos, procurando muitas vezes nesta relação uma aproximação multidisciplinar.
O conhecimento dos diversos estilos e maneirismos musicais tem-lhe permitido interpretar, enquanto cantor solista, um repertório muito diversificado, que integra desde a música antiga à contemporânea. Enquanto compositor, procura um discurso expressivo claro, à base da exploração de objetos sonoros transversais a diversas linguagens, na consciência da ligação intrínseca entre a arte do passado e do presente enquanto aspirantes ao mesmo diálogo. Em 2024, é um dos convidados a integrar o programa Jovens Compositores nos Estúdios Victor Córdon.
Recentemente, tem trabalhado como intérprete com vários grupos que contribuem de forma ativa para o panorama musical português, como o Grupo Vocal Olissipo, o Ensemble 258 e o Officium Ensemble. Participou em várias estreias modernas de obras antigas recém-editadas, tal como em várias estreias mundiais de obras contemporâneas.
Maria Miguel Pinto Catarino | Natural de Lisboa, começou a estudar piano aos seis anos com Carolina Costa e entrou no Instituto Gregoriano de Lisboa em 2011, onde concluiu o Curso Secundário de Música, sob a orientação de Joana Correia Marques. Entre 2019 e 2022, teve aulas particulares com Artur Pizarro. Em 2021, ingressou na Escola Superior de Música de Lisboa, onde frequenta atualmente o terceiro ano da Licenciatura em Piano, na classe de Paulo Pacheco. É também sob a sua orientação que, no âmbito de Música de Câmara, tem integrado diversas formações instrumentais, como Trio com Clarinete e Violoncelo e Trio com Violino e Violoncelo. Nesta mesma instituição, estuda paralelamente Órgão e Improvisação com António Esteireiro e Baixo Contínuo com Joana Bagulho.
Entre os vários projetos nos quais tem participado, destaca-se a sua atividade no âmbito da música contemporânea, tendo já tomado parte na apresentação de várias obras de estreia. Participa no ClusterLAB – ensemble com alunos da Escola Superior de Música de Lisboa sob a regência e direção artística de Carlos Marecos, dedicado exclusivamente à divulgação de música contemporânea – com o qual já se apresentou em vários eventos e em espaços como o O’culto da Ajuda.
Tocou em masterclasses lecionadas por Fausto Neves, Ana Telles, Jorge Moyano, António Rosado, Ana Valente, Luísa Tender, Jill Lawson, Elen Corver, David Kuyken, Denys Proshayev e Frank van de Laar. Na área de Música de Câmara, participou em masterclasses com Andrew Watkinson e Evan Rothstein.
Foi premiada por vários concursos, nomeadamente, pelo Concurso Internacional da Cidade de Almada, o Concurso Nacional da Escola de Música de São Teotónio e o Concurso Ibérico do Alto Minho. Em 2023, recebeu o primeiro prémio do VI Concurso Nacional de Música Gilberta Paiva com o Trio Âmbar.
A PortugalSom é, há décadas, guardiã de uma parte fundamental da identidade musical portuguesa, constituindo um espólio sonoro inestimável. A sua missão foi sempre a divulgação da música de compositores e intérpretes portugueses, aproximando-a do grande público. Este Ciclo dá continuidade a essa missão, tornando vivo o património da PortugalSom e dando a conhecer novos intérpretes, novos compositores e novas obras.
Ouça o próximo andamento da PortugalSom.