Temporada de Concertos Antena 2
Ciclo PortugalSom
em parceria com a Direção Geral das Artes e a ESML
9 dezembro | 19h00
Auditório Vianna da Motta da
Escola Superior de Música de Lisboa | PortugalSom
Entrada gratuita
José Maria Bessone / Filipe Gaio Pereira
José Maria Bessone, piano
Filipe Gaio Pereira, piano
José Maria Bessone
Programa
Johann Sebastian Bach (1685-1750) – Partita nº 2 em Dó menor
Tristan Murail (n. 1947) – Impression Soleil Levant
Filipe Gaio Pereira
Programa
Fernando Lopes-Graça (1906-1994) – 3 Epitáfios
Maurice Ravel (1875-1937)
– Pavane pour une enfant défunte
– Jeaux d’eau
António Fragoso (1897-1918) – Nocturno em Ré bemol maior
Notas de Programa
Uma grandiloquente Sinfonia em três partes inaugura a Partita em Dó menor de Bach (1726), obra representativa do século XVIII, imbuída da ambiência solene e do tom exortativo característicos do compositor, que se expressa aqui na total plenitude do seu génio. O Grave inicial de acordes maciços em estilo de Abertura de Ópera Francesa dá lugar a um Andante de elegante coloratura sobre baixo contínuo, desaguando por sua vez no Allegro – uma Fuga a duas vozes cujo tema enfatiza um vertiginoso intervalo de nona.
Segue-se uma sequência de danças de corte estilizadas: Uma Allemande composta por linhas sinuosas de semicolcheias, algo oboística; uma Courante, também de estílo francês, rítmica e recortada, após a qual mudamos de ambiente para uma Sarabande introvertida e despojada. O Rondeau vivo e concertante desagua no ambicioso Capriccio final da Partita, de textura altamente contrapontística e virtuosística, um andamento que desafia a destreza do intérprete como poucos outros, em nome de algo tão poderoso que será inútil o exercício de o adjetivar: convida-se antes o ouvinte a entregar-se sem reserva à fruição da sua energia. Ou à estarrecida contemplação da sua fúria.
Escutamos em seguida Impression, Soleil Levant de Tristan Murail (2022). Publicada há apenas dois anos, a obra inspirada no quadro homónimo de Monet insere-se dentro da estética espectral que associamos ao compositor. Contudo, por mais metódico, matemático e com recurso a ferramentas informáticas que o processo de composição tenha hipoteticamente sido, o efeito sonoro desta peça resulta-nos neo-impressionista.
Encontramos nela uma atitude para com a música que se caracteriza pelo lastro do gesto e pela exploração livre das possibilidades tímbricas do piano, o instrumento, o auditório e o próprio som têm aqui espaço para recuperar o folego enchendo os pulmões de ar fresco e salgado. A cadência dos acontecimentos é, com efeito, tão evocativa do porto de Le Havre ao Sol nascente, que lhe serve de cenário, quanto das próprias pinceladas e gradações de cor sobre a tela.
Importa referir as palavras que o compositor escreve por baixo das primeiras notas: Gaivotas Prateadas. É este grasnado das gaivotas o elemento motívico que unifica a peça.
Três Epitáfios (1930) trata-se de uma obra tripartida. Cada uma das suas partes é dedicada a uma entidade representativa: para um céptico, para uma donzela, para o autor. Nesta obra, um muito jovem Fernando Lopes-Graça revela já surpreendente maturidade na sua técnica de composição, utilizando recursos modernos para captar ambientes soturnos e expressivos. O segundo epitáfio (para uma donzela) é um dos vários momentos em que Lopes-Graça cita Chopin na sua obra, compositor que admirava bastante. Lopes-Graça é um dos compositores presentes no catálogo da PortugalSom.
Composta em 1899, Pavane pour une infante défunte é uma peça que pretende evocar uma outra época. Ainda que o título sugira a imagem de uma infanta morta, M. Ravel pretende essencialmente evidenciar que é retratado algo que não é de “agora”, mais até do que provocar algum tipo de caráter lamentoso ou fúnebre. Esta obra foi escrita também na juventude do autor, no entanto já revelando uma palete de cores única.
Jeux d’eau (1901) marca um momento de transição na escrita para piano (não só de M. Ravel, mas também, por consequência, de um modo geral na história da música). Ravel toma inspiração em Jeu d’eau à la Villa d’Este, de F. Liszt e tenta musicar o movimento da água, captando as ondulações, partículas e reflexos da mesma. Ravel coloca uma citação de Henri de Régnier na sua partitura: «Dieu fluvial riant de l’eau qui le chatouille».
A vida de António Fragoso foi muito curta, no entanto deixou-nos uma obra que ainda é celebrada mais de 100 anos após a sua morte. O Nocturno em Ré b é uma obra que nos demonstra o extraordinário lirismo deste compositor, bem como torna muito claras as fortes influências de compositores ultrarromânticos e impressionistas. Ainda que lhe tenha sido roubada a oportunidade de amadurecer pela gripe espanhola, Fragoso revela-nos a sua capacidade de escrever obras com unidade e personalidade própria.
Transmissão direta
Apresentação: Pedro Ramos
Produção: Anabela Luís, Reinaldo Francisco
José Maria Bessone | Iniciou os estudos musicais na Figueira da Foz com Luís Rodrigues, destacando-se em vários concursos de piano. Prosseguiu os estudos com Catarina Peixinho no Conservatório de Coimbra, onde também desenvolveu interesse pela composição. Concluiu recentemente a Licenciatura em Música da Escola Superior de Música de Lisboa, estudando piano com Artur Pizarro e Paulo Pacheco, cravo e baixo contínuo com Elizabeth Joyé e Improvisação ao Órgão com António Esteireiro.
Participou em masterclasses com artistas renomados nestas várias áreas, no país e no estrangeiro, e integrou diversas formações de música de câmara. Tem-se apresentado em concerto em várias salas e contextos, bem como em atuações transmitidas ao vivo pela rádio. Frequentou nos últimos dois anos a classe de Direção de Orquestra do Maestro Jean-Marc Burfin, procurando transpor o interesse pela música sinfónica para a sua abordagem do piano, também complementada pelo seu interesse pela literatura.
Filipe Gaio Pereira | Pianista português diplomado pela Escola Superior de Música de Lisboa, onde terminou a sua Licenciatura e Mestrado, ambos com distinção, sob orientação de Miguel Henriques. Frequenta atualmente o Mestrado em Interpretação de Música Clássica e Contemporânea, na Escola Superior de Música da Catalunha – em Barcelona – guiado por Denis Lossev. Iniciou os seus estudos na Escola de Artes do Norte Alentejano – em Portalegre – e desde então frequentou outras instituições, trabalhando com vários professores entre os quais, Nataly Klatev, Conceição Fryxell, Nuno Batoca, Jan Wierzba e Philippe Marques.
Tem-se apresentando regularmente tanto a solo – destacando-se a interpretação do Concerto nº 23 de Mozart com a Orquestra Sinfónica da ESML, sob a direção do maestro Vasco Pearce de Azevedo -, como em recitais de música de câmara, tendo oportunidade de ter aulas e masterclasses com algumas figuras de relevo tais como: Jorge Moyano, Inês Andrade, Jeffrey Swann, Elisabeth Joyé (cravo), Henri Sigfridsson, Eldar Nebolsin e Milana Chernyavska.
No ramo da música de câmara, integrou a classe de Paulo Pacheco (ESML). Tem-se apresentado regularmente em diversos concertos e programas – sobretudo para canto e piano -, entre outros, um recital com transmissão em direto para a Antena 2, com uma estreia absoluta de Nicholas McNair.