Temporada de Concertos Antena 2
13 março | 19h00
Palácio Marquês da Fronteira
Entrada gratuita
mediante reserva em loja.fronteira-alorna.pt
Vera Morais, Maxim Doujak & Margarida Prates
Concerto para Trio de flauta, piano e violoncelo
Vera Morais, flauta
Maxim Doujak, violoncelo
Margarida Prates, piano
Programa
Philippe Gauber (1879-1941) – Pièce Romantique para piano, flauta e violoncelo
Claude Debussy (1862-1918) – Trio para piano, violino e violoncelo em sol menor
1. Andantino con moto allegro
2. Scherzo: Intermezzo (moderato con allegro)
3. Andante espressivo
4. Finale: Appassionato
Carl Maria von Weber (1786-1826) – Trio para flauta, ioloncelo e piano em sol menor
1. Allegro moderato
2. Scherzo: Allegro vivace
3. Schafers Klage (Lamento do Pastor): Andante expressivo
4. Finale: Allegro
Neste concerto ouvimos uma formação de música de câmara original e inesperada, um Trio para piano, flauta e violoncelo.
Esta é efetivamente uma formação pouco comum, embora já fosse usada pontualmente durante o Classicismo e o Romantismo em arranjos de trios de câmara. Foi, porém, somente no século XIX que os compositores começaram a escrever diretamente para essa formação, reconhecendo o seu potencial tímbrico. Obras como o Trio para flauta, violoncelo e piano de Carl Maria von Weber e o Trio de Bohuslav Martinů destacam-se neste contexto. Embora o trio tradicional para piano, violino e violoncelo tenha sido a formação que mereceu mais atenção pela parte dos compositores ao longo da História da Música, a versão com flauta conquistou o seu espaço e viu nascer um repertório próprio, como poderemos constatar neste concerto. A substituição do violino pela flauta no tradicional trio para piano, violino e violoncelo atinge uma sonoridade inesperada, mas de grande sucesso tímbrico. A leveza da flauta, combinada com a profundidade sonora do violoncelo e a riqueza harmónica do piano, provoca uma sonoridade muito original e de grande prazer auditivo.
O concerto abre com uma obra de Philippe Gaubert, a Pièce Romantique para piano, flauta e violoncelo, uma obra de câmara que reflete a elegância da tradição francesa do início do século XX. Gaubert, que foi um dos principais flautistas da sua época e também um compositor e maestro respeitado, trouxe para esta peça um estilo que se caracteriza por melodias fluidas, harmonias ricas e uma escrita instrumental que favorece a expressividade. A peça exibe uma atmosfera delicada e evocativa, combinando o brilho da flauta com o calor do violoncelo e a riqueza harmónica do piano. A sua estrutura segue um caráter impressionista, com um fluxo melódico contínuo e uma harmonia sofisticada que lembra as influências de Debussy e Fauré, compositores que Gaubert admirava.
O concerto prossegue com o Trio para piano, violino e violoncelo em sol menor de Claude Debussy, uma obra da sua juventude, composta em 1880, quando o compositor tinha apenas 18 anos. O Trio foi escrito durante o tempo em que Debussy trabalhava como pianista acompanhador para Nadezhda von Meck, a patrona de Tchaikovsky, e reflete influências do romantismo tardio, em particular de compositores franceses como César Franck, Massenet e Saint-Saëns.
O trio possui uma estrutura tradicional em quatro andamentos:
1. Andantino con moto allegro – Um movimento inicial lírico e expressivo, com uma escrita melódica fluida e harmonias elegantes.
2. Scherzo: Intermezzo (Moderato con allegro) – Um movimento leve e gracioso, que antecipa algumas das cores impressionistas que Debussy desenvolveria mais tarde.
3. Andante espressivo – O momento mais introspectivo da obra, com uma melodia profundamente sentimental no violoncelo e um acompanhamento delicado no piano.
4. Finale: Appassionato – Um encerramento enérgico e apaixonado, onde a influência do romantismo francês se faz sentir com maior intensidade.
Curiosamente, o trio permaneceu esquecido durante décadas, até ser redescoberto e publicado em meados do século XX. Embora ainda revele um Debussy em formação, sem o estilo impressionista que viria a definir a sua maturidade, a obra já demonstra o seu talento.
O concerto termina com o Trio para flauta, violoncelo e piano em sol menor, Op. 63, de Carl Maria von Weber, composto em 1818-1819. Este trio é uma das suas obras de câmara mais importantes. É uma peça fascinante que combina a leveza e o brilho da flauta com a profundidade do violoncelo e a riqueza harmónica do piano. Embora Weber seja frequentemente associado ao repertório operístico, esta obra mostra o seu domínio da escrita instrumental e a sua capacidade de criar diálogos cativantes entre os instrumentos.
Aqui também observamos a estrutura clássica em quatro andamentos:
1. Allegro moderato – Um primeiro andamento cheio de contrastes, muito virtuoso e dramático, cheio de diálogo entre os instrumentos.
2. Scherzo: Allegro vivace – Um movimento animado e rítmico, muito leve, que traz momentos de virtuosismo, especialmente para a flauta.
3. Schäfers Klage (Lamento do Pastor): Andante espressivo – O coração emocional da obra, com uma melodia lírica e nostálgica inspirada numa canção popular alemã. O violoncelo assume um papel particularmente expressivo aqui.
4. Finale: Allegro – Um encerramento enérgico e brilhante, com passagens virtuosísticas e uma atmosfera vibrante e cheia de espírito.
Transmissão direta
Apresentação: Pedro Ramos
Produção: Anabela Luís, Zulmira Holstein

@ Inês Sioga / Antena 2
Vera Morais e Margarida Prates, ambas solistas da Orquestra de Câmara de Cascais e Oeiras, iniciaram aí o seu projeto como duo, tendo-se estreado em 2019, em plena pandemia, com um concerto transmitido em live streaming pela OCCO, dedicado ao compositor Astor Piazzolla. No seguimento dessa transmissão, a RTP/Antena 2 convida o duo para fazer um concerto transmitido em direto, seguindo-se posteriormente variados convites para outras apresentações em Portugal. Um convite para tocar na Alemanha em 2021 abre-lhes as portas no âmbito internacional e como consequência do sucesso obtido, o duo é convidado para outras apresentações nesse país, bem como para lecionar no curso internacional de verão de 2022 de Springiersbach/Bengel, aí realizando masterclasses de flauta e piano. Em 2023 apresentam-se de novo na Alemanha e no Luxemburgo, a convite do Instituto Camões e em 2024 o Duo Scherzo é convidado para dinamizar um ciclo interdisciplinar de concertos no Museu Nacional do Azulejo, conjugando as artes plásticas da cerâmica com a música. Desse projeto nasce o ciclo Pontes Artísticas, concertos comentados precedidos de visitas guiadas e ensaios abertos a escolas e grupos de intervenção social. O duo está presentemente a instaurar esse projeto intercultural noutros museus e monumentos nacionais.
O grande sucesso de público desta iniciativa muito deve à qualidade artística dos concertos, associada à mediação pedagógica e cativante feita durante os mesmos. (…) destacamos a mestria dos músicos aliada a performances em palco envolventes e marcantes (…) a competência, profissionalismo, versatilidade do Duo Scherzo e a dedicação no trabalho em equipa com o Museu consolidam o Duo como uma mais-valia e referência em projetos de mediação cultural que combinem a música, a Arte e a educação
João Pedro Monteiro, diretor do Museu Nacional do Azulejo, janeiro de 2025
Uma das preocupações fundamentais do Duo tem sido ajudar o público a aproximar-se da música erudita e a entender o que vai escutar. Assim, os seus concertos são sempre comentados e complementados por folhas de sala pormenorizadas, com detalhes importantes sobre os compositores e obras que são ouvidos. Esta dinâmica particular, iminentemente pedagógica, tem surtido um efeito muito entusiasmante e enriquecedor junto do público, que manifesta assim um grande potencial de fidelização à iniciativa.
No plano artístico, Margarida Prates e Vera Morais exploram novos repertórios com entusiasmo, na perspetiva de se tornarem um ensemble de referência em Portugal e no estrangeiro.

@ Hugo Moura
Maxim Doujak | Nasceu em Kiev (Ucrânia) em 1971 e reside em Portugal desde 1995. Iniciou a sua formação aos 5 anos na Escola Musical Especial de Kiev N.V. Lysenko. Prosseguiu os estudos no Colégio Musical Estatal Superior de R. M. Glier de Kiev e no Conservatório Estatal Superior de Kiev P. I. Tchaikovsky, na classe de Vadim Tchervov. Em 1995 terminou o curso com distinção e obteve o Diploma de Solista de Orquestra, Artista de Música de Câmara e Professor. Em 2011, concluiu o Mestrado em Violoncelo na Escola Superior de Música de Lisboa. Aperfeiçoou os seus estudos em Inglaterra, Alemanha, Suíça e Portugal, respetivamente com os membros do Britten Quartett, Yehudi Menuhin, Radu Aldulescu, Natalia Gutman, Márcio Carneiro e Natalia Shakhovskaya.
Na Ucrânia fez várias gravações para a Radiodifusão Nacional, Orquestra Nacional do Teatro de Ópera e Orquestra do Bailado Nacional e foi solista do Ensemble Camerata de Kiev.
Obteve vários prémios internacionais nas áreas de música de câmara e música contemporânea, destacando o 3º prémio e o Prémio para a melhor interpretação de música contemporânea, no concurso internacional N.V. Lyssenko, em 1992 e o 2º Prémio no Concurso Internacional de Música de Câmara Outumno de Ouro, em 1993.
Em Portugal fez várias gravações para a RTP (TV e Antena 2) e foi docente no Conservatório de Ponta Delgada, nos Açores até 2000. Colaborou regularmente com a Orquestra Gulbenkian, Orquestra Metropolitana de Lisboa e atualmente colabora com a Orquestra de Câmara de Cascais e Oeiras – OCCO, entre outras.
Atualmente é professor de Violoncelo no Conservatório Regional de Palmela.

@ DR