Estreia
13 de Janeiro de 1868
Antecedentes e resumoEm 1849 todos os estados que hoje constituem a Alemanha preparavam-se para comemorar os cem anos sobre o nascimento de Goethe. Todos os olhares estavam dirigidos para Weimar onde Franz Liszt acabara de ser nomeado director artístico da ópera. Tudo o que aí fosse apresentado pelas mãos de Liszt teria de certeza o seu impacto. Assim, no dia 29 de Agosto, o segundo dia das festividades, Liszt dirigia parte da obra hoje conhecida como As Cenas Fausto de Robert Schumann. Foi uma estreia tripla: o concerto era interpretado em Leipzig, Dresden e Weimar. O estrondoso sucesso da obra apanhou o seu compositor completamente desprevenido. Alarmado com o sucedido, talvez exagerando, prestou-se logo a rever a partitura, no entanto a surpresa não era totalmente desprovida de razão: Compositores como Spohr, Berlioz e Liszt já se tinham debruçado sobre a obra intemporal de Goethe, contudo Schumann centrara as suas atenções na segunda parte do Fausto, parte esta que até aquela data nunca tinha sido posta em música.
O primeiro esboço desta obra data de Agosto de 1844, ou seja, poucos meses depois de Schumann ter completado a sua oratória Das Paradis und Peri. No entanto, este esboço foi rapidamente posto de lado. Schumann só voltaria a pegar nesta obra graças ao aniversário de Goethe e ao empenho de Liszt na sua comemoração. Motivado pela efeméride, Schumann preparou-se para apresentar esta primeira versão de As Cenas de Fausto, basicamente aquilo que é a terceira parte da obra completa, durante as comemorações do centenário do Goethe.
O sucesso do verão de 1849 fez assim renascer em Schumann a vontade de completar esta obra. Imediatamente após as comemorações, Schumann finalizou a primeira parte, centrando-se sobretudo em Gretchen, ou Margarida, e a segunda parte, sobretudo centrada em Fausto: A parte dedicada a Gretchen ficou subdividida em três secções cada uma delas explorando respectivamente a temática do amor (a primeira), do remorso (a segunda) e do desespero (a terceira). Schumann apresenta-nos aqui um retrato geral desta trágica e jovem heroína; Por sua vez, a parte dedicada a Fausto ficou dividida numa primeira secção onde é explorado o interesse que o mundo natural suscita em Fausto, numa segunda, que trata da confrontação de Fausto com a necessidade, a falta, a solicitude e a angústia e por fim, numa terceira que trata da morte de Fausto e que Schumann aproveitou para transformar num clímax dramático. A obra prossegue então com a transfiguração de Fausto, mantida por Schumann tal como tinha sido apresentada na estreia tripla, com excepção da cena final, revista pelo compositor de modo a criar um desfecho mais místico.
Depois de tudo isto, tal como acontecera no início, o trabalho ficou esquecido por mais três anos. Era um sinal raro da parte de Schumann que revelava um certo desconforto com a magnitude do projecto, bem como com a percepção que este tinha do contraste estilístico entre a terceira parte, composta em primeiro lugar, e as duas primeiras partes, escritas cerca de cinco anos depois – a verdade é que se os primeiros esboços de As Cenas de Fausto, tiveram a sua génese em Leipzig, ainda sob a impressão deixada pela composição de Das Paradis und Peri, as ultimas páginas foram já compostas em Dresden, onde Schumann pouco pôde fazer para fugir à influencia das grandes linhas do director da Ópera da Corte: é que se a terceira parte é como uma continuação natural da sua oratória, as partes um e dois são bem mais operáticas na sua concepção e não escapam à influência da noção de melodia sem fim do Tannhäuser de Richard Wagner.
Foi só no final de 1853, bem perto do fim da sua carreira criativa, que Schumann finalmente compôs a abertura acabando por pôr um ponto final num processo de produção que já se arrastava à nove anos e que não era de todo comum na produção deste compositor. Dois meses depois, Robert Schumann tentava pôr termo à sua vida atirando-se ao Reno, perto de Dusseldörf, acabando por ser internado num asilo psiquiátrico. Era o fim da sua carreira como compositor.
A publicação da partitura completa deu-se já a título póstumo e a estreia da obra completa só ocorreu a 13 de Janeiro de 1868.