LibretoVittorio Amadeo Cigna-Santi
Estreia26 de Dezembro de 1770 no Teatro Regio Ducal de Milão
Antecedentes Depois de inúmeras desilusões e algumas frustrações que iriam marcar os anos da juventude de Wolfgang Amadeus Mozart, de 1767 a 1769, os Mozart, interrompiam as suas constantes viagens para passaram 11 meses em Salzburgo. Leopold já havia planeado para o seu filho um verdadeiro consolo com um triunfo na ópera italiana. O destino, agora, seria Milão e, mais uma vez os Mozart teriam o patrocínio do Arcebispo de Salzburgo. Este tinha a perfeita consciência do talento de Mozart e sabia que os seus triunfos resultariam mais tarde ou mais cedo no triunfo de Salzburgo e, como consequência, no seu próprio triunfo. O Arcebispo nomeava assim o jovem compositor para um cargo não remunerado de Terceiro Konzertmeister, sem dúvida uma maneira de dar um título e uma recomendação tão necessários à ambiciosa viagem e, a cima de tudo, de tornar Mozart mais ligado a Salzburgo, numa tentativa de impedi-lo de ceder à tentação de mudar-se para uma grande corte musical. Mozart e seu pai Leopold deixavam Anna Maria e Nannerl em casa e partiam a 13 de Dezembro de 1769.
Pai e filho chegavam a Verona no dia 27 de Dezembro. Nessa cidade Mozart dava o seu primeiro concerto público em Itália, na Accademia Filarmonica de Verona, no dia 5 de Janeiro de 1770 com imenso sucesso. Leopold narra, numa carta à sua esposa, as consequências do sucesso do filho quando poucos dias depois Mozart tocou numa igreja da cidade tendo-se formado um tumulto para vê-lo: A multidão era tão grande que tivemos de entrar pelo mosteiro onde repentinamente se juntaram tantas pessoas para nos ver que não teríamos entrado se os padres – que nos esperavam no portão – não nos protegessem formando um círculo à nossa volta. Quando o concerto terminou a confusão foi ainda maior, pois todos queriam ver o jovem organista. Assim que entrámos na carruagem, pedi ao cocheiro que seguisse imediatamente para casa onde me tranquei e comecei a escrever esta carta. Era mesmo necessário fugir, pois senão, ainda não teríamos chegado a casa.
Depois de saírem de Verona e passarem por Mântua, chegaram finalmente a Milão no dia 23 de Janeiro de 1770. Lá, encontraram um amigo influente, o Conde Karl Joseph Firmian, também natural de Salzburgo, protector dos Mozart em Itália e responsável indirecto pela encomenda da primeira ópera que Mozart comporia para Milão. Firmian escreveu diversas e importantes cartas de recomendação dos Mozart a importantes figuras de Bolonha, Parma, Florença e Roma, cidades que pai e filho visitariam a seguir. Na residência dele, Mozart deu concertos aos quais compareceram os melhores músicos e a nata da nobreza de Milão, dentre os quais, o Duque e a Princesa de Modena. Era assim que surgia a encomenda para Mozart compor a primeira ópera da temporada seguinte: Mitridate, rè di Ponto.
E com esta encomenda, pai e filho, punham-se outra vez à estrada. De Milão os Mozart seguiram para Parma, passaram por Bolonha, Florença e Roma onde assistiram aos festejos da Semana Santa. Um jornal divulgou a 2 de Maio de 1770 que "o filho do Kapellmeister de Salzburgo já está aqui há algum tempo e tem sido admirado por todos devido ao seu extraordinário e precoce talento musical." Na tarde desse mesmo dia, Wolfgang Amadeus Mozart ficaria para sempre ligado à história do Vaticano: tendo pai e filho ido à Capela Sistina para ouvir o Miserere de Allegri, Mozart, ao chegar ao albergue em que estavam hospedados, escreveu-o de memória. Pouco tempo depois, os Mozart passariam rapidamente por Nápoles e voltavam a Roma onde foram recebidos pelo Papa Clemente XIV que agraciou o jovem com a Ordem da Espora Dourada.
Dois dias depois, os Mozart deixavam Roma e seguiam para Bolonha, onde Wolfgang recebeu o libreto de Mitridate começando imediatamente a escrever os recitativos. A 13 de Outubro regressavam a Milão.
Leopold assumiu o papel de agente do jovem e tratou de lhe arranjar um contrato escrito que garantia um pagamento de 100 ducados pela ópera. Mesmo assim, durante os ensaios ocorreram muitas cabalas. Ainda ninguém tinha ouvido uma nota sequer e já circulava o rumor de que Mitridate se tratava de uma bárbara ópera alemã. Dizia-se também que o jovem compositor mão tinha conhecimento suficiente da língua italiana para conseguir a coerência necessária entre música e texto.
Apesar de todas as intrigas sofridas, Mitridate foi um sucesso, tendo sido estreado a 26 de Dezembro de 1770 no Teatro Regio Ducal de Milão e sendo representado por 22 vezes consecutivas.
ResumoMitridate conta a história do Rei Mitridate VI, o rei de Ponto que viveu entre 132 e 63 antes de Cristo, vencido pelos Romanos após uma resistência de mais de cinquenta anos de vitórias e conquistas. Tal como aconteceria anos mais tarde com Fígaro, o libreto de Mitridate, proporcionou a Mozart a vantagem de ter como ponto de partida uma grande peça, neste caso de Jean Racine. Esse aspecto proporcionou-lhe toda a tensão necessária para elevar o drama em música a um nível quase impossível para as tragédias comuns do século XVIII.