Libreto Jules-Henri Vernoy de Saint-Georges (perdido)
AntecedentesCom o sucesso, não imediato, de "A Filha do Regimento", Crosnier, o empresário do Théatre de L’Opéra-Comique de Paris, convidou Donizetti a continuar a sua parceria com o libertista Jules-Henri Vernoy de Saint-Georges.
Assim a 30 de Setembro de 1842 era assinado um contrato com Crosnier para mais uma ópera de Donizetti. No entanto, cinco meses depois, Donizetti ainda não tinha sequer uma nota escrita. Na realidade ainda nem o título se sabia. Donizetti estava muito ocupado nesse período. Dos seus planos constavam "Maria di Rohan" para a ópera de Viena, "Ruy Blas" para Nápoles e "Dom Sébastien" para Paris.
Através de uma carta escrita ao seu cunhado, sabemos que Donizetti aguardava ansiosamente um libretto de Saint-Georges sobre uma história flamenga. Saint-George atrasava-se na entrega do libreto e Donizetti revelava impaciência tendo imposto o dia 1 de Maio como data limite para a entrega integral do texto.
A verdade é que o libretto só chegou a Donizetti, já este estava em Viena ocupado com a produção de Maria di Rohan.
Sabe-se que Donizetti chegou a completar sete números para esta ópera, no entanto, com o passar de tanto tempo ambos, o compositor e o empresário deixaram o contrato expirar.
O facto de Donizetti não ter completado esta ópera continua, contudo, a ser um mistério. É certo que depois da estreia de Dom Sébastien, a saúde de Donizetti começava a deteriorar-se e que este facto pode ter sido o suficiente para que tal acontecesse. No entanto, o atraso de Saint-Georges foi também decisivo no que diz respeito a este ponto.
Dos sete números escritos por Donizetti, só nos chegaram aos dias de hoje cinco: o romance e a balada de Henriette, ambos pensados para o primeiro acto; o final do segundo acto que consiste num dueto entre Henriette e Franz, o vilão desta história; e do terceiro acto, o romance de André e o dueto deste com Henriette.
Como também não chegaram aos nossos dias nem a história nem o libreto completo, o que importa fazer sobressair destes números é a qualidade da música de Donizetti e o perfeito entrosamento deste com a música francesa, quer no que diz respeito à melodia, mais condicente com os gostos do público da Opéra-Comique, quer no que diz respeito à estrutura pensada por Donizetti para esta Ópera.
Se atendermos por exemplo à balada de Henriette "Heinach disait", percebe-se bem que estamos perante uma típica balada/história – estrutura bem característica na ópera-comique daquele tempo. Também o romance de André é bem demonstrativo de algo decididamente francês, bem diferente das cavatinas italianas a que Donizetti nos habituou nos seus anos passados em Nápoles.