Libreto: Alban Berg, de Georg Büchner
Estreia: (Berlim) Ópera, 14 de Dezembro de 1925
PersonagensWozzeck
Marie, sua mulher
Filho de Marie
Capitão
Doutor
Tambor Mor
Andres, amigo de Wozzeck
Margret, vizinha de Marie
1º Aprendiz
2º Aprendiz
Louco
AntecedentesEm 1914 Alban Berg assistiu em Viena à estreia póstuma da peça "Wozzeck" de Georg Brüchner que o impressionou vivamente tendo de imediato decidido fazer dela uma ópera.
O nome original era "Woyzeck". Só que, por dificuldade na leitura do manuscrito, o y foi confundido com um z. Como o compositor se baseou no texto impresso, esse erro projectou-se também para a sua ópera.
Alban Berg trabalhou em "Wozzeck" ao longo de vários anos – um trabalho que foi sendo interrompido por outros compromissos, e pela guerra que avassalou a Europa entre 1914 e 1918.
No Verão de 1917 termina o libreto, 3 anos mais tarde termina a partitura, e a orquestração fica pronta em Abril de 1921.
Alban Berg dividiu esta sua primeira ópera uma em 3 actos com 5 cenas cada um dando-lhe uma estrutura musical verdadeiramente original, sendo o 1º acto formado por uma Suite, uma Rapsódia, uma Marcha Militar e um Acalento, uma Passacaglia e um Rondó. O 2º acto é uma verdadeira sinfonia em 5 andamentos com Allegro-de-Sonata, Fantasia e Fuga, Largo, Scherzo e Rondó. Para o 3º acto escolheu 5 Invensões.
A obra estava completa em 1921, mas iriam passar-se ainda 4 anos antes que algum teatro tivesse a coragem, ou as estruturas, para a apresentar.
Isso aconteceria em 1925 sob a direcção de Erich Kleiber. Depois de 137 ensaios, "Wozzeck" estreia na Ópera de Berlim no dia 14 de Dezembro.
1º Acto1ª Cena: No quarto do Capitão
O soldado Wozzeck barbeia o Capitão enquanto este o censura pela ligação ilegítima que mantém com Marie, de quem até já tem um filho. A esta impertinente lição de moral, Wozzeck responde que quando se é pobre não se pode ser virtuoso. O Capitão fica espantado e diz que Wozzeck é uma boa pessoa mas que pensa demais – o que lhe pode trazer dissabores.
2ª Cena: Local deserto no campo ao amanhecer.
Wozzeck e o seu camarada Andrés talham umas varinhas de salgueiro, quando Wozzeck é assaltado por alucinações, que partilha com o amigo. Andrés consegue acalmá-lo, e os dois regressam à cidade.
3ª Cena: No quarto de Marie
Marie está à janela com o filho. Ouve-se uma fanfarra militar que se aproxima com o Tambor Mor à frente. Marie saúda-o, e ele retribui a saudação. Margret, uma vizinha, que também está à janela, e que também admira o Tambor Mor, não gosta daquilo que vê, desencadeando uma briga com Marie, que acaba por fechar a janela, e ir embalar o filho. Chega Wozzeck ainda dominado pelos sinais agoirentos que julgou ver no horizonte. Depois olha o filho, e parte sem explicações para o quartel. Preocupada com sanidade mental do amante, Marie segue-o.
4ª Cena: No consultório do Doutor
Wozzeck consulta o Doutor, para quem o caso do pobre soldado serve apenas para se escutar a si próprio. O palavreado filosofante do médico é entrecortado por exclamações de Wozzeck que chama por Marie. O diagnóstico do Doutor indica que o soldado está pronto para entrar num manicómio.
5ª Cena: Em frente da casa de Marie
O acto termina com uma cena de sedução: Marie encontra o Tambor Mor que facilmente a seduz. Depois os dois entram em casa.
2º Acto1ª Cena: No quarto de Marie ao amanhecer
Marie observa ao espelho os brincos que o Tambor Mor lhe ofereceu quando Wozzeck entra e lhe pergunta onde é que arranjou aquelas jóias. Marie diz que os encontrou. Pouco convencido com a explicação Wozzeck entrega à mulher a sua solda e mais algumas moedas que o Capitão e o Doutor lhe deram, saindo em seguida. Marie tem um momentâneo rebate de consciência. Depois encolhe os ombros com a mais profunda indiferença por tudo e por todos.
2ª Cena: Na rua
O Capitão e o Doutor conversam de forma rebuscada quando passa Wozzeck a quem então escolhem como motivo de sarcasmo. O Capitão refere Marie e o Tambor Mor, o que faz com que o soldado fuja desesperado. A conversa entre o Capitão e o Doutor continua: eles acham Wozzeck um tipo curioso.
3ª Cena: À porta da casa de Marie
Wozzeck aparece, dominado pelo ciúme, e trava um violento diálogo com Marie, que declara preferir levar uma facada a que ele bata. Depois entra em casa, deixando Wozzeck a remoer aquelas palavras.
4ª Cena: Festa popular no jardim da taberna
Operários, soldados e criados dançam, enquanto Adrés e dois aprendizes entoam uma canção brejeira. No auge da animação entram na sala. Marie dança com o Tambor Mor. Wozzeck chega e fica a observá-los, contendo a fúria. Andrés vem ter com ele, e pergunta o que é que ele tem, ao que Wozzeck responde com palavras que falam de morte. Andrés julga que o soldado também está embriagado, e afasta-se despreocupadamente. Um dos aprendizes faz um discurso filosófico, acompanhado por todos nas suas desiludidas conclusões. Depois a dança recomeça. Um Louco vem sentar-se ao lado de Wozzeck, diz que tudo aquilo é muito alegre, mas que cheira a sangue. "Sangue" – uma palavra que acaba por se tornar obsessiva para Wozzeck.
5ª Cena: Na caserna do quartel
Os soldados dormem. Wozzeck acorda sobressaltado, e confessa a Andrés andar obcecado com o baile, com Marie, com o Tambor Mor, com uma faca… Tenta afastar essas ideias funestas através da oração. Depois chega o Tambor Mor, bêbado, gabando-se em alta voz da conquista de Marie, e escarnecendo de Wozzeck… a quem convida a beber com ele. Wozzeck responde assobiando. O Tambor Mor irrita-se, e agride-o violentamente, sem que nenhum dos outros soldados ouse intervir. Wozzeck regressa à cama ensanguentado, e murmura: "Primeiro um, depois o outro".
3º Acto1ª Cena: No quarto de Marie à noite
À luz duma vela Marie lê uma passagem da Bíblia que fala da mulher pecadora. Fica perturbada, afasta o filho com maus modos. Depois embala-o e volta à leitura implorando a misericórdia divina.
2ª Cena: Um atalho na floresta
Wozzeck e Marie caminham por um atalho. A mulher pede que voltem para casa, mas Wozzeck responde falando do tempo feliz em que se conheceram. Depois beija-a, e diz que "gostaria de poder ainda beijá-la muitas outras vezes, só que isso é impossível". A Lua surge. "Vermelha" diz Maria – "como um ferro sangrento" diz Wozzeck no mesmo instante em que fere mortalmente a companheira com uma faca. Deixa-a estendida no chão, e retira-se cautelosamente.
3ª Cena: Na taberna à noite
Margret e outras raparigas dançam com os aprendizes enquanto Wozzeck bebe a uma mesa. Convida Margret a sentar-se, e fala coisas sem nexo, até que a rapariga repara que o soldado tem sangue nas mãos. Wozzeck fica perturbado, balbucia explicações confusas, mas todos gritam que cheira a sangue humano. Wozzeck foge aterrado.
4ª Cena: Um atalho na floresta
À luz do luar Wozzeck procura a faca que poderia comprometê-lo, e atira-a para umas escarpas que dão para um rio. Depois pensa que é perseguido, e que a Lua ensanguentada o irá denunciar, e decide seguir o mesmo caminho da faca. Aparecem então o Doutor e o Capitão, que diz ter ouvido um gemido. Mas o Doutor sossega-o dizendo que há muito tempo que ninguém se afoga naquele rio. O Capitão sai apressadamente seguido pelo Médico.
5ª Cena: Na esquina da casa de Marie
Crianças fazem uma roda cantarolando enquanto o filho de Marie cavalga um pau. Aproximam-se outras crianças que trazem a notícia de que o cadáver de Marie foi encontrado junto das escarpas que dão para o rio. Indiferente à notícia filho de Marie continua a galopar no seu cavalo imaginário.
Enredo resumido da autoria de Margarida Lisboa.