Libreto Jules Barbier e Michel Carré
Estreia Theatre Lyrique, Paris em 27 de abril de 1867
AntecedentesQuando Charles Gounod era um estudante no Conservatório de Paris, ouviu um ensaio da Sinfonia Dramática de Berlioz, "Romeu e Julieta". Gounod ficou impressionado com a beleza da música e cativado pelo tema. Quase 30 anos mais tarde, começou a compor a sua versão da peça de Shakespeare.
Durante o processo de composição desta ópera, Gounod isolou-se numa pequena vivenda perto do mar na Provença. À medida que a sua obra progredia, Gounod ficou completamente preso às personagens de Romeu e Julieta.
Depois de ter completado um dos duetos de amor, o compositor comentou: "Consigo vê-los tão bem! Sinto-me perto deles… Mas será que os vi com atenção? Se ao menos eles me pudessem responder e dar-me um sinal de aprovação! (…) Li este dueto vezes sem conta, e ouvi-o com toda a minha alma. Está tudo ali, na música: Julieta estreitando o seu amor; a ansiedade de Romeu; e os seus beijos de delírio."
Gounod levou um ano para entregar a partitura completa ao seu editor. No entanto, fez ainda umas tantas revisões da obra, uma delas para satisfazer a "prima-dona" que desempenhava o papel de Julieta. O soprano era Marie Caroline Carvalho, mulher do empresário do Theatre Lyrique, onde a ópera se estreou.
Acostumada a grandes ovações, a cantora tinha por hábito alterar as suas partes para mostrar os seus dotes vocais. Por isso, insistiu com Gounod para escrever uma ária na qual pudesse demonstrar a sua agilidade vocal. O resultado disto foi a peça mais famosa da ópera: "a valsa".Gounod teve uma influência duradoura na ópera francesa, não só devido ao seu estilo lírico, mas também pelo impulso que deu à carreira de jovens compositores como Bizet e Saint-Säens.
Com efeito, Gounod soube reconhecer o talento de Bizet desde o inicio. Encorajou-o, aconselhou-o e ajudou-o, contratando-o para diversos trabalhos. Gounod estava demasiado ocupado a reger, a ensaiar e a compor, e a ajuda do jovem Bizet permitiu-lhe cumprir com diversas obrigações. Bizet transcreveu obras orquestrais de Gounod e forneceu-lhe partituras vocais para as suas óperas.
Saint-Säes também desempenhou funções semelhantes. Este tinha apenas 17 anos e era já compositor e destacado pianista quando conheceu Gounod. O talento de Gounod como pianista era limitado, por isso, muitas vezes, era Saint-Säens que lhe tocava as partituras, permitindo que Gounod ouvisse exactamente o que tinha escrito. Os dois costumavam também trocar impressões sobre assuntos como a arte da orquestração.
Apesar da sua bondade, Gounod tinha um feitio difícil. Ele e Bizet chegaram a ter um desentendimento. Alguns anos mais tarde, Bizet escreveu uma carta a Gounod, dizendo: "Os laços que nos unem são tão fortes que não podem ser quebrados pela ausência ou pelo silêncio. Você marcou o princípio da minha vida artística. Você é a causa e eu a consequência. Agora posso dizer-lhe que, antigamente, temia ser absorvido pela sua personalidade. Hoje, sinto-me seguro da minha arte e reconheço o benefício da sua influência."
Gounod teve ainda outro "protegé", Edouard Lalo. Este lutava pelo reconhecimento e Gounod tentou despertar o interesse de vários empresários pelo seu trabalho. Quando Lalo adoeceu e se viu impossibilitado de acabar a orquestração de um bailado, Gounod (então o compositor mais respeitado em França) completou a orquestração por ele.
ResumoA ópera começa com um prólogo, no qual o coro narra a inimizade existente entre as duas famílias de Verona: Os Montéquios e os Capuletos, O I acto decorre num baile de máscaras em casa dos Capuletos, para celebrar o aniversário de Julieta.
Na festa encontram-se Paris, com quem supostamente Julieta se deverá casar, e Tebaldo, primo de Julieta. Ambos falam da sua beleza.
Depois de Capuleto apresentar a sua filha aos convidados, este dá inicio ao baile. Mas, quando todos se dirigem para o salão, entram alguns jovens de máscara. Entre eles, contam-se Romeu e Mercúcio, membros da família dos Montéquios.
Romeu mostra-se pouco à vontade e revela a Mercúcio que teve um sonho terrível, presságio de uma desgraça, a que Mercúcio responde ser obra da Rainha Mab, fada da fantasia.
De repente, Romeu vê Julieta e deixa-se cativar pela sua beleza. A jovem canta a célebre valsa "Je Veux Vivre", na qual revela à sua dama de companhia, Gertrudes, que precisa de tempo para sonhar e para viver, antes de casar.
Gertrudes sai e Romeu retira a máscara aproximando-se de Julieta. O rapaz chama-lhe "anjo adorável", as palavras iniciais do primeiro dueto de amor entre os dois.
Entretanto Tebaldo vem dizer a Julieta que ela deveria estar na outra sala com o resto dos convidados. Ao ouvir isto, Romeu compreende que se apaixonou por uma Capuleto e sai da sala precipitadamente.
Porém, Tebaldo reconheceu Romeu e informa Julieta que ela tem estado a falar com um Montéquio. Em seguida vai ter com Páris e pede-lhe para que este o ajude a expulsar o intruso. Capuleto é forçado a intervir para evitar um confronto.
Com isto, Tebaldo jura vingar-se de Romeu ao mesmo tempo que Capuleto pede aos convidados que retomem as festividades.
O II acto de "Romeu e Julieta" começa com outra das cenas mais conhecidas desta ópera: A cena da varanda.
É noite e Romeu deixou a companhia dos outros Montéquios para ir até ao jardim dos Capuletos. Os seus amigos chamam-no, mas o jovem permanece escondido nas sombras. Enquanto espera que Julieta apareça, Romeu evoca-a na ária: "Ah, leve-toi, soleil" – ária plena de admiração e desejo.
Julieta vem à varanda, angustiada por se ter apaixonado por um inimigo da família. Mas ao ver Romeu aproximar-se, esquece todos os seus problemas. Os dois jovens declaram o seu amor mútuo.
Depois de uma breve interrupção que se deve à chegada de um grupo de empregados encabeçados por Gregório, os dois amantes combinam casarem-se às escondidas no dia seguinte. No final do acto ouvem a voz de Gertrudes que chama por Julieta, e despedem-se ternamente. Julieta regressa ao quarto e Romeu fica a contemplar a varanda.
Na manhã após o encontro dos dois amantes, Frei Lourenço está atarefado na sua cela monástica. Carrega um cesto com plantas e flores que utiliza para fazer porções secretas. Romeu entra. Está ansioso por falar com ele. Perspicaz, o frade compreende imediatamente tratarem-se de problemas de amor. No entanto, quando Romeu lhe fala de Julieta, Frei Lourenço fica estupefacto.
Entretanto chega Julieta acompanhada por Gertrudes. Os dois jovens comunicam ao frade que se amam e pedem-lhe que celebre o seu casamento. Este acede ao desejo deles, não apenas por acreditar naquele amor, mas também porque espera que aquele casamento ponha fim ao ódio entre as duas famílias. Realiza uma breve cerimónia nupcial. Gertrudes e os dois jovens juntam as suas orações às do Frei Lourenço, que pede a Deus a bênção para os recém-.casados.
Ainda nessa manhã, o pagem de Romeu, Stephano, troça dos Capuletos e é desafiado por Gregório. Mercúcio intervém para defender Stephano, mas é confrontado com Tebaldo. Dessa discussão, e após a intervenção de Romeu, resulta primeiro a morte de Mercúcio e depois a morte de Tebaldo, este fatalmente ferido por Romeu.
Capuleto clama vingança e o Duque de Verona acusa as duas famílias pela sua contenda infindável e resolve banir Romeu da cidade de Verona.