Estreia
Opéra Comique, Paris, no dia 11 de Fevereiro de 1840
Libreto
Jules Henri Vernoy de Saint-Georges e Jean François Bayard
Antecedentes
Gaetano Donizetti, filho de uma costureira e de um penhoreiro, nasceu em Bergamo. Neste contexto nada diria que Gaetano viria a tornar-se num dos compositores mais prolíficos da sua geração. Era fundamentalmente um melodista, como os seus colegas Rossini e Bellini, no entanto, foi a urgência dramática com que tratou as suas obras, que viria a abrir caminho para oscompositores do futuro. Para além disso, o resultado da sua admiração pelos mestres clássicos, Haydn, Mozart, Cherubini, Cimarosa e Mayr, levou-o a desenvolver toda uma noção de orquestração – recatado, mas sensível – e para a formação dramática de peças com arranjo para diversas vozes e instrumentos, com um forte sentido para linhas sinfónicas.
Extraordinariamente prolífico, Donizetti normalmente exigia demais de si mesmo, tentando não deixar ficar mal as várias solicitações dos teatros líricos. Embora tenha composto um grande número de óperas, estimado em 70 obras, a constância e o vigor da sua inspiração lírica encobrem, de alguma maneira, o facto de muitas das suas criações terem sido feitas por encomenda. A construção das cenas de Donizetti baseia-se numa uma vida profunda e palpitante que, com frequência, torna as personagens do seu repertório credíveis.
Tal como muitos desses personagens, Donizetti morreu vítima da loucura.
Resumo
A caminho da Áustria, a amedrontada Marquesa de Berkenfield e o seu mordomo, Hortênsio, interrompem sua jornada por causa duma contenda. Quando a Marquesa ouve dizer que as tropas francesas bateram em retirada, ela critica a indelicadeza do povo francês. Então, o sargento do 21º regimento, Sulpice, assegura a todos que os seus homens restaurarão a paz e ordem. Ele vem acompanhado de Marie, a mascote ou "filha" do regimento, adoptada pelo sargento quando ainda era uma criança órfã. Quando Sulpice a questiona sobre um jovem com quem ela fora vista, Marie conta que ele é um tirolês que salvara a sua vida. Eis que as tropas do 21º regimento chegam com um prisioneiro: o mesmo Tônio que diz procurar Marie. È a vez de ela o salvar. Enquanto Tônio celebra as suas novas amizades, Marie canta o hino regimentar ("Chacun le sait"). Os soldados mandam Tônio segui-los, mas ele escapa para poder declarar seu amor a Marie. São surpreendidos por Sulpice e Marie vê-se obrigada a explicar a Tônio que só se pode casar com um soldado do 21º regimento.
Entretanto a marquesa de Berkenfield pede a Sulpice uma escolta para regressar ao seu castelo. Ao escutar o nome Berkenfield, Sulpice lembra-se de uma carta que encontrou próximo junto da então criança Marie. A Marquesa acaba por admitr ter conhecido o pai da jovem e diz que Marie é a filha, há muito desaparecida, da sua irmã. A criança foi deixada aos cuidados da Marquesa, mas foi perdida. Chocada com a falta de polidez da jovem, a Marquesa está determinada a dar uma educação apropriada à sua sobrinha e levá-la de volta para o castelo.
Entretanto Tônio alista-se no exército para poder casar com Marie (o famoso "Ah, mes amis"). Contudo, para que seja feita a vontade da marquesa Berkenfield, Marie deve deixar o regimento e o homem que ama.
SEGUNDO ATO – No castelo de Berkenfield.
Apercebendo-se da rudeza do comportamento de Marie a Marquesa de Berkenfield decidiu então afastá-la do regimento que a adoptou e com isso do homem que ama, o recém alistado Tônio. A Marquesa arranjou um casamento entre Marie e o Duque de Krakenthorp. Sulpice também está no castelo. Ele está a recuperar de um ferimento, e deveria estar a ajudar a Marquesa com seus planos. A Marquesa dá à Marie uma classe de canto, acompanhando-a ao piano. Encorajada por Sulpice, Marie enfia frases do hino regimentar e a Marquesa fica muito mal-humorada. Deixada a sós, Marie reflecte sobre a insignificância do dinheiro e posição social. Ela ouve os soldados a marcharem à distância e fica feliz uma vez que todo o regimento marcha salão adentro. Tônio, Marie e Sulpice reencontram-se. Tônio pede a mão de Marie. A Marquesa não se comove com a declaração do rapaz e diz que a sua sobrinha está comprometida com outro homem. A sós com Sulpice, a Marquesa confessa a verdade: Marie é a sua própria filha ilegítima, a qual ela abandonou temendo a desgraça social.
Então Hortênsio anuncia a chegada do cortejo de casamento, liderado pela mãe do noivo, a Duquesa de Krakenthorp (papel protagonizado por Montserrat Caballé). Marie nega-se a sair do seu quarto, levando Sulpice a revelar que a Marquesa é na realidade a sua mãe. Surpresa, Marie concorda que não pode ir contra os desejos de sua mãe e aceita casar-se com um homem que não ama. Contudo, quando está prestes a assinar o registo de casamento, os soldados do 21º regimento, liderados por Tônio, invadem o recinto para resgatarem a sua "filha". Os convidados ficam horrorizados ao descobrir a história de Marie, mas mudam de opinião quando ela lhes revela que nunca poderia pagar a dívida que tem com os soldados. A Marquesa fica tão enternecida pela pureza do coração da sua filha que lhe concede permissão para casar-se com Tônio. Todos juntos celebram cantando "Salut à la France".