Libreto: Francesco Maria Piave sobre "Le Roi s’Amuse" de Victor Hugo
Estreia: (Veneza) Teatro "La Fenice", 11 de Março de 1851
PersonagensRigoletto
Duque de Mântua
Gilda
Sparafucile
Giovanna, a Ama
Conde Monterone
Conde Ceprano
Condessa Ceprano
Marullo
Borsa
Intrigante da Corte
Pagem
Maddalena
AntecedentesEm Novembro de 1832 foi pela primeira vez a cena em Paris a peça "Le Roi S’amuse" de Victor Hugo – um drama recebido com risos pelo público e que as autoridades iriam proibir de voltar a ser apresentado por o considerarem imoral. Isto acontecia apesar da imensa popularidade de que o Escritor gozava bem como da existência duma lei que garantia a Liberdade de Expressão.
"Le Roi S’amuse" regressaria aos palcos parisienses apenas em 1882, passados 50 anos, e transformada numa ópera de enorme sucesso escrita por um dos mais conceituados compositores italianos daquele tempo.
Estamos a falar de "Rigoletto" de Verdi.
"Rigoletto" não fora a primeira ópera que Verdi escrevera sobre texto de Victor Hugo. Em 1844 fora levada a cena em Veneza "Ernani" com libreto de Francesco Maria Piave inspirada também numa obra do grande escritor francês. A ideia de escrever uma nova ópera com base em textos de Victor Hugo surgiu em meados de 1849 quando Verdi leu "Le Roi S’amuse", que o compositor considerou ter qualidades que a podiam transformar numa das maiores criações teatrais dos tempos modernos, e que põe em cena, segundo Verdi, uma das mais extraordinárias personagens de todos os tempos, um tal Triboulet. Ao pensar nesta sua nova ópera Verdi manifesta no entanto alguma preocupação quanto a conseguir obter autorização, por parte do poder constituído, para apresentar aquele texto. Esses seus temores iriam, de facto, confirmar-se já que a censura dos ocupantes austríacos iria opor-se de imediato. Foi apenas depois de sofrer diversas metamorfoses, de caracter essencialmente exterior, que "Le Roi S’amuse" irá conseguir autorização para ser apresentada. O título é alterado, primeiro para "La Maledizione", depois para "Il Duca de Vendôme" , e, finalmente, para "Rigoletto". Quanto à personagem do rei transformou-se num duque, e Triboulet acabria por passar a chamar-se Rigoletto. Mas Verdi teve ainda de enfrentar as reticências do Director do Teatro La Fenice quanto ao carácter das personagens que considerava fugirem aos padrões habituais, achando aliás que um herói corcunda e disforme iria afugentar o público. Só que, para Verdi, era precisamente essa diferença que dava força às personagens disformes e corcundas – não no plano físico mas no plano moral. E Verdi iria provar ter razão. "Rigoletto" estreou em Veneza em Março de 1851 no teatro La Fenice, o mesmo onde estreara "Ernani", com texto do mesmo libretista, Francesco Maria Piave, e obtendo um sucesso ainda maior do que aquela primeira ópera sobre texto de Victor Hugo.
1.º ActoA acção de "Rigoletto" desenrola-se em Mântua no século XVII. No palácio o Duque fala dum recente plano para seduzir uma jovem que viu algumas vezes na igreja – uma jovem de quem não sabe o nome. Mas sabe onde mora, e sabe que recebe visitas diárias dum homem. A conversa é interrompida pelo aparecimento duma outra possível conquista mais próxima: a mulher do Conde Ceprano, um seu vassalo. Mas o Duque vê frustradas as suas intenções com o aparecimento marido. O bobo, Rigoletto, aconselha então do Duque a raptar a mulher, ou então a mandar o marido para o exílio, conselhos que são ouvidos pelo próprio Conde que se enfurece contra Rigoletto, e que convida os outros cortesãos a ajudarem-no na sua vingança raptando nessa mesma noite aquela que todos julgam ser a amante do bobo, uma jovem que ele visita furtivamente todos os dias. Nessa altura chega o Conde Monterone desesperado. Ele diz que o Duque desonrou a sua filha. Rigoletto troça do Conde e da sua dor, e Monterone, antes de partir, lança uma maldição sobre o bobo. À noite, ao regressar a casa, Rigoletto está ainda perturbado pela ameaça do Conde. É que também tem uma filha, uma jovem que esconde dos olhos de todos, precisamente a mesma jovem que os cortesão julgam ser a sua amante. No caminho Rigoletto é abordado por Sparafucile, um assassino profissional que lhe oferece os seus serviços. Rigoletto recusa-os, mas fica a pensar na semelhança que existe entre si e aquele homem: Sparafucile mata com a espada, Rigoletto mata com as palavras. O bobo entra em casa onde Gilda, a sua filha, o espera na companhia da ama, e repete com especial veemência os mesmos conselhos que sempre lhe dera: não sair de casa, manter-se afastada do olhar de estranhos. Gilda sossega-o dizendo que sempre seguiu esses conselhos, que sai apenas para ir à missa. Ouve-se um ruído na rua e Rigoletto sai preocupado. Então o Duque, disfarçado, aproveita a saída do bobo para entrar e esconder-se no pátio da casa. É desse esconderijo que ouve a jovem dizer que se sente culpada por ainda não ter falado ao pai dum jovem que tem visto na igreja, e por quem se confessa apaixonada. Esse jovem é o Duque que aparece e confessa também o seu amor combinando encontrar-se com Gilda mais tarde. Depois do Duque partir chegam alguns cortesãos que vêm cumprir o plano do Conde Ceprano de raptar a amante do bobo. Rigoletto encontra-se com eles e pergunta-lhes o que fazem ali àquelas horas. Eles respondem que estão a seguir os seus conselhos e que vão raptar a mulher do Conde. Rigoletto ri-se, divertido, e diz que quer participar no rapto. Os cortesãos então vendam-no e pedem-lhe para ficar a segurar na escada por onde sobem para o interior da casa do próprio Rigoletto para raptar a sua filha. Só depois deles partirem é que o bobo compreende aquilo que realmente aconteceu e fica desesperado.
2.º ActoO 2º acto passa-se no palácio onde o Duque se queixa de não ter encontrado a jovem Gilda quando a foi procurar como combinara. Mas os cortesão sossegam o Duque dizendo que Gilda o espera nos seus aposentos. Passados instantes chega Rigoletto em busca da filha sem nunca, no entanto, revelar o seu verdadeiro desespero, até ao instante em que os ouve dizer, por entre risos, "que o Duque não deve ser incomodado", o que vem confirmar aquilo que mais temia. Exige então ver Gilda, a sua filha, revelando o seu verdadeiro parentesco aos cortesãos que se afastam quando Gilda aparece. Nesse mesmo instante passa o Conde de Monterone que os guardas levam para o calabouço. É com essa imagem da maldição que sobre ele fora lançada, e por entre juras de vingança do bobo que o acto termina.
3.º ActoO 3º acto passa-se próximo duma estalagem situada junto dum rio. Essa estalagem pertence assassino Saparfucile e à sua irmã Maddalena. É aí que Rigoletto leva a filha para que ela compreenda quem é o homem por quem continua apaixonada. O Duque está na estalagem cantando e bebendo na companhia da estalajadeira, para raiva do bobo e desespero de Gilda. Então Rigoletto manda a filha regressar a casa e disfarçar-se com trajes masculinos para que possam deixar Mântua em segurança ainda essa noite. Depois combina com Sparafucile a morte do Duque dizendo que lhe deverá entregar o cadáver para que ele próprio o lance ao rio. Ao tomar conhecimento do plano Maddalena implora ao irmão que poupe o Duque. Sparafucile cede e decide entregar a Rigoletto o cadáver do primeiro forasteiro que aparecer. Gilda regressara disfarçada com trajes masculinos tendo a intenção de ver o Duque pela última vez. Ao escutar a conversa dos estalajadeiros decide sacrificar-se pelo seu amor e bate à porta. Sparafucile disfere-lhe um golpe mortal e entrega-a como morta ao pai dentro dum saco dizendo tratar-se do cadáver do Duque. Rigoletto arrasta o corpo até junto do rio mas, ao ouvir a voz do Duque cantar na estalagem, abre o saco e, para seu desespero, vê a filha moribunda. Gilda morre nos seus braços e Rigoletto recorda, horrorizado, a maldição do Conde.
RDP – Transmissões em "Noite de Ópera" desde 1996
1996 – 11 de Julho
2000 – 18 de Maio
2000 – 24 de Agosto
2001 – 31 de Maio
Enredo resumido da autoria de Margarida Lisboa.