Libreto: Bartosova e Janacek
Estreia: (Brno) Rádio, 13 de Março de 1934
Personagens
Mila Válková
Zivný
Matka Mílina
Doutor Suda
Hrázda
Lhottský
Konecný
Senhora Stuhlá
Mulher do Presidente da Câmara
Fanca Pacovská
Mulher do Concelheiro
Doubek, o filho
Verva
AntecedentesJanácek começou a escrever a sua quarta ópera depois duma visita às termas de Luhacovice, na Morávia, em Agosto de 1903. Aí conheceu a senhora Kamila Urválková que se queixou que Ludvík Celansky a retratara de forma pouco simpática na sua ópera "Kamila", e que cabia agora a Janácek limpar o seu nome com uma nova ópera. Esse intenção inicial ficou um tanto obscura na génese que acabou por ganhar um aspecto mais autobiográfico.
Entre Outubro e Dezembro Janácek escreveu as linhas gerais do enredo que enviou a Fedora Bartosová, uma professora primária amiga da sua filha Olga, para que criasse o libreto. Fedora terminou esse trabalho pelo Natal, e as correcções finais feitas sob a supervisão do compositor estavam concluídas em Abril do ano seguinte. A ópera ficou completa, música e texto, no dia 12 de Junho de 1905. Seguiu-se uma longa saga de revisões do trabalho por Janácek, e de conversações entre o compositor, o Teatro de Brno e o Teatro Vinohrady de Praga. Ambos os Teatro estavam interessados na ópera, e ambos assinaram contratos com Janácek. Só que, diversos motivos alheios à vontade de todos, incluindo o eclodir da primeira guerra mundial, adiaram indefinidamente a apresentação da ópera. Curiosamente a sua estreia aconteceria via rádio, em Brno, no dia 18 de Setembro de 1934, datando a sua estreia em cena de 1958, já depois da segunda guerra mundial, e mesmo assim numa adaptação de Václav Nosek que inseriu os dois primeiros actos no terceiro, em forma de recordações.
A versão que hoje vamos apresentar é, no entanto, a versão original, tal como tem sido apresentada desde 1984.
1.º ActoA ópera inicia-se de manhãzinha nos jardins das termas de Luhacovice onde os termalistas gozam os prazeres idílicos do lugar. Entre eles vemos o Doutor Suda, o pintor Lhotsky, Míla Válková e o compositor Zivny.
Eles apresentam-se uns aos outros, mas, ao ficarem sós, Míla e o compositor dão a entender já se conhecerem. A conversa entre ambos é interrompida pela chegada da Senhora Sthulá, uma professora que pretende organizar um encontro de professoras termalistas, o que parece divertir os presentes.
Míla e Zivny voltam a ficar sós, e as suspeitas confirmam-se: eles foram amantes, e o seu romance foi contrariado pela mãe de Míla que pretendia encontrar um casamento mais conveniente para a filha. O acto termina já ao anoitecer com o regresso dos outros termalistas quando Míla e Zivny decidem fugir – para grande apreensão da mãe de Míla, que chegou tarde demais para os impedir.
2.º ActoO 2º acto passa-se no apartamento de Zivny no Inverno. Passaram-se já quatro anos. O compositor e Míla estão casados, e vivem com o filho, nascido antes do casamento, e com a mãe de Míla, que enlouqueceu e que está entregue à guarda dos criados. A sua voz ouve-se ao longe, de vez em quando, interrompendo a conversa do casal – conversa que é igualmente interrompida pelo compositor que rumina acerca da ópera que escreveu sobre o seu romance com Míla. Num acesso de remorso, Zivny começa a rasgar o manuscrito onde retratara o comportamento vergonhoso de Míla, no que é interrompido pelo aparecimento do filho que lhe pergunta o que é o amor – pergunta a que a própria criança dá uma resposta. A mãe de Míla entra finalmente na sala, cantando em tom de escárnio uma ária da ópera de Zivny, enquanto exibe a sua caixa de jóias. Subitamente corre para a varanda. Míla tenta impedi-la, e as duas acabam por encontrar a morte na queda. O acto termina com o desespero de Zivny reafirmando que o Destino está contra ele.
3.º ActoO último acto passa-se 11 anos mais tarde. No salão do Conservatório os estudantes tentam decifrar uma passagem da ópera do professor Zivny. É um trecho que retrata uma tempestade, e que parece diverti-los bastante. Entra Verva, um outro estudante, que acrescenta mais algumas informações acerca da obra. Diz ser autobiográfica e estar inacabada. Mesmo assim… não é para ter último acto. Trauteia então um outro trecho, precisamente aquele em que o filho pergunta e responde o que é o amor. Doubek, o filho Zivny, está presente, e fica embaraçado ao ouvir-se cantado duma forma que o ridiculariza. O compositor aparece inesperadamente provocando um súbito silêncio. Depois os estudantes pedem-lhe que lhes fale sobre a sua ópera. Zivny fala então de Lensky, uma das personagens principais, descrevendo a intensidade da sua paixão. As memórias abatam-se sobre o compositor que julga escutar os suspiros Míla, quando escuta de facto os sons duma tempestade que se avizinha. A emoção é tão grande que acaba por cair sem sentidos. O final da ópera é igualmente desconcertante: em vez do esperado Médico, chamado para socorrer Zivny, aparece o Doutor Suda… um advogado.
RDP – Transmissões em "Noite de Ópera" desde 1996
2001 – 19 de Julho
Enredo resumido da autoria de Margarida Lisboa.