Libreto: Andrea Leono Tottola sobre Prospère Delamarre
Estreia: (Nápoles) Teatro de San Sebastiano
Fevereiro de 1825
PersonagensSalvini
Nelly
Lord Adelson
Bonifacio
Fanny
Madama Rivers
Struley
Geronio
AntecedentesBellini escreveu "Adelson e Salvini" a convite do seu professor Zingarelli como prova final do curso de composição no Conservatório de Nápoles, sendo levada pela primeira vez a cena no pequeno teatro de San Sebastiano em Fevereiro de 1825, tinha o compositor 23 anos. Como curiosidade podemos referir que esta foi a única ópera cómica escrita por Bellini – já que as outras 10 são todas dramas ou tragédias.
"Adelson e Salvini" é uma comédia mas as suas raízes são uma história de terror escrita por François-Thomas de Baculard d’Arnaud incluída nas suas Épreuves du Sentiment, ou seja Provações do Sentimento, publicadas em Paris entre 1772 e 1781. Essa história de terror teve a sua primeira metamorfose numa adaptação feita por Prospère Delamare para o Théâtre Gaieté. Para conquistar audiências o escritor decidiu atribuir-lhe um final feliz. E o terror… afastou-se, ficando apenas algum drama. Foi nessa adaptação de Delamare que o libretista napolitano Andrea Leono Tottola se baseou para escrever o libreto para uma ópera de Valentino Fioravante. Só que, senhor certamente de grande sentido de humor, todo aquele drama pareceu a Tottola duma comicidade irresistível, por tal forma que decidiu acentuar o ridículo da situação tornando o seu libreto numa farsa – onde nem sequer falta a tradicional personagem napolitana, que na ópera é Bonifacio, o criado de Salvini.
Quando recebeu o convite de Zingarelli, entre a história de terror, o drama ou a farsa, Bellini escolheu a farsa sobre a qual escreveria a única ópera cómica da sua carreira.
1º ActoA acção passa-se na Irlanda no século VII.
No jardim da propriedade de Lord Adelson, Fanny, a sua pupila, confessa estar secretamente apaixonada pelo professor de pintura, Salvini, que Adelson considera o seu melhor amigo. Os pensamentos da jovem são interrompidos pela chegada da tia, a Senhora Rivers, governanta da casa, que anuncia o regresso para breve de Adelson depois de prolongada ausência. Enquanto vassalos e aldeões preparam as boas-vindas do patrão, aparece Geronio, um servo, com o boato de que a chegada de Adelson teve de ser adiada por afazeres em Londres. Rivers não acredita, diz que o senhor está certamente desejoso de regressar ao castelo onde a nobre Nelly, sua noiva, o espera ansiosa.
O quadro seguinte passa-se num bosque perto do castelo onde o Coronel Strudley, um aristocrata proscrito, espera Geronio, seu cúmplice e confidente, que se insinuara na casa de Adelson como espião para o ajudar a levar avante os seus planos de vingança, já que fora o pai de Adelson quem proscrevera a sua família. Geronio chega, e Strudley revela-lhe que pretende voltar a raptar a jovem Nelly, sua sobrinha. Desta vez o golpe não vai falhar, já que irá ter acesso ao quarto da jovem. Geronio mostra-se receoso, mas o pérfido Coronel ameaça denunciá-lo como desertor.
Próximo dali está Bonifacio, o criado napolitano de Salvini. Tal como o patrão ele está feliz com a vida despreocupada que leva na Irlanda, em contraste com a miséria que ambos passaram em Itália. Mas, mesmo tão longe, os credores continuam a persegui-lo. Irá pedir ajuda a Adelson – já que é ele quem paga os seus ordenados, mesmo sem ser o seu patrão. Aliás a confiança que Adelson deposita em Salvini preocupa-o: ele conhece o temperamento apaixonado do jovem, e teme que lhe venha a trazer grandes problemas. Salvini aparece mergulhado em profunda melancolia. A sua tristeza é tão grande que até já pensou em se matar. Ele ama secretamente Nelly, a noiva do seu amigo, e a ideia de traição apavora-o. Bonifacio tenta afasta-lo desses funestos pensamentos: porquê morrer tão novo? e por quem? por uma mulher? Nelly não é a única mulher à face da terra: outras existem que poderão certamente despertar igual paixão! Mas nada parece convencer o malogrado professor que amaldiçoa o dia em que pôs os pés na Irlanda para acabar perdendo a estima do seu benfeitor. Bonifacio aproveita essa deixa e recorda a Salvini as obrigações de lealdade e de gratidão para com Lord Adelson. Aquele amor é uma loucura, e só pode levá-lo à desgraça. A desgraça talvez até já se tenha insinuado: Salvini recebeu uma carta do amigo para que ele a entregasse a Nelly. Mas ele… guardou-a. É nesse instante que Nelly aparece. Ela está triste com o silêncio do seu noivo: Adelson partiu há já tanto tempo e não lhe mandou ainda notícias. A tristeza da jovem comove o pintor. Toma coragem, pega na carta e começa lê-la. Mas as primeiras frases têm o efeito contrário ao pretendido: Adelson diz que o seu tio, de quem é o único herdeiro, quer que ele se case com a filha dum Par do Rei. Ao ouvir isto Nelly convence-se que Adelson já não quer casar com ela, que a traiu, e cai sem sentidos nos braços do pintor. Ao vê-la desmaiada nos seus braços, Salvini não resiste e beija a jovem. Nelly acorda nessa instante e acusa-o de cobardia e de traição. Bonifacio aparece, e os dois jovens tentam disfarçar o embaraço. Bonifacio traz uma boa-nova: Adelson já foi visto nos bosques vizinhos, não tarda chega ao castelo. Nelly inquieta-se: será que Adelson traz consigo a nova noiva? Bonifacio sossega-a: Adelson enviou um mensageiro para dizer a Nelly que corra a abraçar o seu noivo. Todos rejubilam – à excepção de Salvini, entregue a um sofrimento que não consegue afastar.
O último quadro passa-se no interior do castelo em ambiente festivo, onde Bonifacio é convidado a fazer um discurso de boas-vindas. Adelson aparece e sossega os temores de Nelly: como é que ela pode duvidar do seu amor? No meio das emoções e dos risos, provocados pelo improviso de Bonifacio, Adelson nota a ausência de Salvini. A sua alegria só será completa quando puder abraçar o amigo. Bonifacio, Nelly e Fanny tentam desculpar a ausência do pintor, e o acto termina no meio da alegria geral.
2º ActoO 2º acto inicia-se nos jardins do castelo em ambiente festivo que anuncia o casamento de Adelson e Nelly, marcado para o dia seguinte. Aparecem Struley e Geronio que ultimam os pormenores do rapto da jovem. Struley avistara Salvini nos bosques falando sozinho, e dizendo estar disposto a tudo para conquistar a noiva do amigo. Essa visão sugeriu um plano ao malvado Coronel: através de algumas mentiras irá convencer Salvini a colaborar. Geronio continua a tentar opor-se ao plano, continuando também a ceder à chantagem. No castelo a ausência de Salvini faz-se cada vez mais notar. O único que não parece preocupado é Bonifacio. Quanto a Nelly, está apenas nervosa. A primeira a partir em busca de Salvini é a jovem Nelly. Depois Adelson também decide ir procurar o amigo. Nelly quer ir com ele por medo do que possa acontecer. Mas Adelson não deixa. Então Nelly pede a Bonifacio que faça alguma coisa, que vá procurar o seu patrão, e que evite o pior. Bonifacio aproveita a ocasião para chamar a atenção da jovem para a culpa que tem em tudo o que está a acontecer. Ela não devia ter convivido tão placidamente com o pintor durante a ausência do noivo. Estava-se mesmo a ver que ele ia apaixonar-se por ela. Salvini era um homem, os homens são assim. Este discurso ofende Nelly, apesar de admitir que, de certa forma, Bonifacio está certo.
Entretanto Adelson encontra Salvini no preciso instante em que este se dispunha a por fim à vida. Adelson pergunta se fez alguma coisa para ele tomar uma atitude tão radical, mas Salvini diz que a culpa é só sua, de mais ninguém. Então Adelson pergunta se se trata duma mulher, só pode ser uma mulher, uma paixão. E aí nasce o quiproquó: Salvini julga que Adelson fala de Nelly; Adelson julga que a paixão do amigo é Fanny. É assim que Adelson se dispõe a tudo fazer para que o amigo encontre a felicidade, e Salvini julga que Adelson lhe está a oferecer a própria noiva – o que não o incomoda nem um pouco. Sem compreender que estão a falar de mulheres diferentes, voltam a jurar amizade eterna.
Depois Adelson parte. E aparece Struley que vem tentar aliciar o pintor. Quando este lhe conta a conversa que acabou de ter com o amigo, o maléfico coronel não se atrapalha. Ele estava mesmo à espera disso: Adelson não tem intenção de se casar com Nelly, ele não pode, o tio não deixa. E Struley mostra uma carta desse tio referindo um compromisso de casamento com uma outra jovem da nobreza – um compromisso monetariamente muito vantajoso. Aquela cerimónia que se prepara é de faz de conta. Adelson fingirá casar com Nelly… depois entrega-la-á ao seu amigo. Salvini fica escandalizado, e dispõe-se a colaborar com o coronel. Bonifacio aparece, troca algumas palavras com o coronel, que toma por um mensageiro dos seus credores, e, depois do coronel partir, avista Salvini. Quando o amo lhe conta a conversa que teve com Adelson, Bonifacio fica atónito, e compreende que deve ser um mal-entendido. E mais desconfiado fica quando Salvini fala em coisas extraordinárias que estão para acontecer. Salvini parte, e Bonifacio lamenta-se, diz estar cansado de tanta confusão, que é bom ter uma mulher em casa à sua espera, mas não àquele preço. Apetece-lhe mandar tudo pelos ares: Adelson, Salvini e Nelly, o eterno triângulo amoroso.
Entretanto Adelson chegou ao palácio com um ar muito satisfeito. Diz ter descoberto o segredo de Salvini, e de ter achado a solução perfeita. Nelly assusta-se: será que o noivo sabe de tudo? e que solução é essa? Mas os seus temores atenuam-se com a chegada de Salvini. Sempre com um ar muito feliz, Adelson chama Fanny e apresenta ao amigo a sua noiva. Salvini empalidece. Todos notam essa palidez, próxima do desmaio, e Adelson estranha a reacção do amigo. Mas não tem muito tempo para pensar nisso, já que gritam "fogo!" no jardim. O plano do maléfico Struley foi posto em execução: Geronio pegou fogo ao pavilhão para desviar as atenções. Adelson parte com os outros homens e deixa Nelly entregue à protecção de Salvini.
Quando ficam a sós, Salvini conta a Nelly aquilo que Struley lhe contara.
E, claro, Struley aparece. Ao vê-lo, Nelly desfaz-se em lágrimas, e, ao ver a sua amada num tal pranto, Salvini compreende finalmente a situação em que se metera: ele fora usado por Struley para levar a cabo os seus diabólicos planos. Quanto tenta enfrentar Struley, Geronio aparece e agarra-o, enquanto o velho coronel arrasta atrás de si a sobrinha. O pintor liberta-se de Geronio, e, num gesto de heroísmo, corre atrás do malfeitor para salvar a jovem.
O fogo foi dominado, e Adelson regressa para ver que nem Nelly nem Salvini se encontram mais onde os deixara. Ouve-se um tiro. Adelson assusta-se, teme o pior. Mas Bonifacio aparece com todos os esclarecimentos, mais ou menos verídicos: Struley ateara o fogo para poder entrar no palácio, e, ajudado por Geronio, raptara a sobrinha. Salvini correra atrás deles, dera conta de Geronio, depois dera conta do Coronel… e uma pistola dispara-se. Salvini regressa com Nelly, e é recebido como um herói. Para alívio de Bonifacio, confirma a sua história, omitindo todos os pormenores que pudessem magoar o amigo e macular a sua amizade. Salvini terá aprendido a lição. Diz que vai de viagem até Itália ver a mãe. Mas que regressará dentro de alguns meses para se casar com Fanny. A ópera termina com quase todos muito felizes quando despontam os primeiros raios do dia das núpcias de Lord Adelson com Lady Nelly.
RDP – Transmissões em "Noite de Ópera" desde 1996
2001 – 13 de Dezembro
Enredo resumido da autoria de Margarida Lisboa.