Jordi Savall em entrevista
a Luís Caetano
O maestro catalão Jordi Savall esteve uma vez mais em Portugal, na Fundação Calouste Gulbenkian, para dirigir a sua orquestra Le Concert des Nations, interpretando um programa dedicado a duas emblemáticas obras sinfónicas de Beethoven: a 6ª, a Pastoral, e a 7ª.
Com o seu cunho muito próprio, Savall tem, ao longo dos anos, realizado cuidadas investigações a partir de fontes históricas, aproximando as interpretações dos seus contextos originais. Nesse sentido, Savall reduz o número de músicos da orquestra e recorre aos instrumentos tal como existiam e soavam nesse período vienense.
Esta é mais uma notável viagem ao passado que nos transporta para o tempo de Beethoven.
Raras são também as entrevistas que Jordi Savall tem dado a meios de comunicação portugueses.
Antes do seu Concerto na Gulbenkian, que foi gravado para posterior transmissão na Antena 2, o maestro esteve à conversa com Luís Caetano, numa entrevista que pode ser escutada, aqui.
Um dos mais respeitados e admirados músicos do nosso tempo, Jordi Savall, atualmente com 80 anos, afirma, nesta conversa que olha para os instrumentos como seres viventes, sensíveis às condições ambientais em que estão e são tocados.
Ao longo de décadas procurou recuperar a riqueza e diversidade musical de diferentes épocas e lugares, fazendo-nos sentir a sonoridade pretendida pelos compositores, recorrendo também a instrumentos coevos. Essa distinta qualidade sonora, instrumental e interpretativa, pode despertar descobertas a partir de novos elementos, mesmo em composições já muito conhecidas de todos nós.
Embora na partitura esteja a anotação escrita, notas, ritmos e respirações, é no decurso da interpretação, na escuta e na regência de uma composição, que se sente ser a própria música a pedir algo, que vai além do necessariamente escrito.
Nestes estudos importa também conhecer e compreender a vida, a personalidade, o ‘mundo único’ do compositor, a beleza, a força, a alegria que colocou e nos transmite nas suas composições, como é o caso de Beethoven e das suas sinfonias que traz à Gulbenkian.
Jordi Savall faz também uma analogia entre a relação do intérprete com a partitura, e a relação entre duas pessoas que se amam. Assim, só pode haver relação se, entre eles, há um relacionamento com uma escuta ativa, das suas necessidades, dos seus desejos e anseios, se em ambos se pode encontrar, ou se comungam, do mesmo espírito.
Este regresso a época musical mais recente, depois de anos dedicados à sua paixão da viola da gamba e da música antiga, foi impulsionado pela celebração dos 250 anos de Beethoven, mas também pela possibilidade de o concretizar materialmente, agora com uma orquestra fundada por si, capaz de executar o repertório orquestral e sinfónico do barroco ao romantismo.
Este projeto da integral sinfónica de Beethoven, completa-se, depois de uma série de concertos em várias cidades europeias, com o lançamento em álbum das gravações das quatro últimas sinfonias, em Novembro.
Dentro de dias, celebra os 30 anos do filme Tous les matins du Monde, que o divulgou, e à viola da gamba, a um público mais vasto.
@ JC / Gulbenkian
Fotos Jorge Carmona / Antena 2