Uma menina desaparece da sua aldeia e aparece morta. Lobos, dizem.
Uma anciã é violada por um jovem, depois de ter alertado a polícia de que o rapaz andava a rondá-la, sem que ninguém a acreditasse.
Um actor e um futebolista, amantes sucessivos da mesma jovem, atriz do teatro de revista, tornam-se amigos e organizam-se para a espancar e torturar selvaticamente.
Um rapaz português aparece morto numa cadeia de Espanha.
Uma menina de três anos é morta a pontapé pelo companheiro da mãe.
Uma mulher mata o filho recém-nascido.
Um pensionato onde se amontoam e maltratam crianças e jovens.
O suicídio de um rapaz de dezoito anos, escravizado pela família.
Um juiz do Tribunal de Família que reconhece a um homem o direito de gastar em vinho o dinheiro que devia entregar aos filhos.
Uma mulher que, cansada de maus-tratos, envenena o marido.
A união e a luta das juvenilíssimas operárias de uma fábrica têxtil por melhores condições de vida, em plena revolução de Abril.
O julgamento de uma jovem, por crime de aborto, em 1979.
A condenação súbita de uma mulher à solidão de um lar de idosos, quando deixa de fazer falta à família que criou.
A vitória sobre a violação e a fome de uma cabo-verdiana emigrada em Portugal.
Maria Antónia Assis dos Santos nasceu, em casa dos avós paternos no Seixal, em 1933.
Frequentou o Liceu Francês em Lisboa. Licenciou-se pela Faculdade de Letras em Ciências Histórico-Filosóficas.
Iniciou a sua carreira no Diário Popular. Seguiu-se O Século Ilustrado, onde chegou a chefe de redacção ainda antes do 25 de Abril, a Vida Mundial, a ANOP e a Capital. Foi cronista do Diário de Notícias, grande repórter da RTP e chefe de redacção da revista Máxima.
Jornalista emblemática, foi a primeira mulher inscrita no Sindicato dos Jornalistas, a cuja direcção ascendeu depois do 25 de Abril. Foi membro eleito do Conselho de Imprensa; Presidente da Liga dos Direitos das Mulheres e dirigente do Fórum Português para a Paz e Democracia em Angola. Foi fundadora e presidente da Liga dos Direitos das Mulheres, Presidente da Caixa de Previdência dos Jornalistas (1997-2007) e a primeira mulher a exercer esse cargo.
Em 1976, foi uma das pioneiras na luta pela despenalização do aborto em Portugal com a reportagem na televisão: “Aborto, o crime está na lei”.
É uma das fundadoras da Biblioteca Feminista Ana de Castro Osório, núcleo especializado da biblioteca municipal de Belém.
Casou-se três vezes, primeiro com o poeta e escritor Orlando da Costa, com quem teve o filho António Costa (Primeiro-Ministro de Portugal, 2015-) depois com o arquitecto, fotógrafo e pintor, Victor Palla, com cujo sobrenome acabou por ficar, e em 1974 com o coronel Manuel Pedroso Marques.
Autora de vários livros dos quais se destaca Revolução, meu amor e Só acontece aos outros. Publicou em 2014, em co-autoria com Patrícia Reis, o livro Maria Antónia Palla — Viver pela Liberdade.
Em 2005 foi agraciada pelo Presidente Jorge Sampaio com a Ordem da Liberdade.