A Antena 2 estreia a 7 de Outubro uma nova série do programa Caleidoscópio, intitulada O Espelho de Cristina, da autoria de Ana Margarida Flor e João Chambers. Até ao final de Dezembro.
Sábados 22h00
Segundas-feiras 13h00
Quartas-feiras 5h00
O Espelho de Cristina
Impressa, em Portugal, no ano de 1518, a mando da Rainha D. Leonor, a obra “O Espelho de Cristina” corresponde à versão portuguesa do texto escrito, em 1405, por Cristina de Pisano sob o título original de “Livro das Três Virtudes”. Consiste numa espécie de manual educativo para o feminino, preconizando-se, deste modo, uma representação do ideal de mulher na transição da Idade Média para o Renascimento que granjeou enorme sucesso ainda em vida da autora.
Tendo por referência o título do mais famoso trabalho de Pisano legado para as gerações posteriores, o conceito do programa pretende abordar as várias vertentes do reflexo mulíebre patente em diferentes manuscritos literários desde o medievo até ao século XX, altura em que a mulher adquire um estatuto social, político e cultural mais vincado e se assume, abertamente, como entidade criadora de pleno direito.
Longe de qualquer tipo de conotação sexista, os temas pretendem traçar o seu múltiplo perfil, exibindo tanto uma faceta divinizante como o lado mais diabólico, afinal a dualidade que transformou as descendentes de Eva na maior fonte artística inspiradora da arte ocidental de tradição judaico-cristã.
Optando por uma lógica nem sempre diacrónica, as emissões são organizadas seguindo uma ordem que se prende com as várias etapas de uma existência – desde a infância até à velhice – considerada, à luz hodierna, nada fácil. Nesse sentido, não esquecendo escritores como William Shakespeare ou Eça de Queirós, passam, entre outras, pelas personagens de peças do dramaturgo Gil Vicente, pela “Carta de Guia de Casados” de Francisco Manuel de Melo, pelas jovens dos contos de encantar dos irmãos Grimm e pela figura da Rainha D. Leonor, exemplo do comportamento esperado na viuvez.
Tendo em conta a imagem do feminino ter sido, durante séculos, construída sob a perspectiva, quase única, do olhar do homem, os programas são acompanhados por uma criteriosa escolha musical, onde se privilegiam os compositores coevos, por forma a ilustrarem a dualidade de visões que subsistiu ao longo dos tempos.
Assim sendo, cada emissão propõe ser um pedaço reflector de uma realidade artística e literária que pretende cruzar a visão masculina – historicamente dominante – com a feminina – tradicionalmente mais fraca – porquanto bastante mais inspiradora.
Ana Margarida Flor/João Chambers
“O Espelho de Cristina”: uma visão do feminino no dealbar do Renascimento
Prog. 2 | 14 Outubro
Os contos maravilhosos e alguns modelos didácticos na construção da figura feminina
Música de François Couperin, Andrea Gabrieli, Marc-Antoine Charpentier, Johann Caspar Kerll, Félix Mendelssohn, Johann Nepomuk Hummel, Ludwig van Beethoven, Wolfgang Amadeus Mozart e Gioseffo Zarlino.
Prog. 3 | 21 Outubro
“Auto de Mofina Mendes” de Gil Vicente: singularidades de uma pastora nos antípodas da Virgem Maria
Música de Gil Vicente, Juan del Encina, Juan Urrede, Garcia Alves de Toledo, Antonio de Cabezón, Juan Pérez de Gijón e de autores anónimos.
Prog.4 | 28 Outubro
“Medida por Medida” de William Shakespeare ou um exemplo de persistência na defesa do valor da castidade
Natureza no feminino: a madrugada testemunha o encontro dos amantes
Para ouvir, clicar aqui.
| A mulher casada |
Prog. 6 | 11 Novembro
“Carta de Guia de Casados” de D. Francisco Manuel de Melo: um modelo de subalternidade matrimonial
Música de Manuel Cardoso, Duarte Lobo, Diogo Dias Melgás, Tomás Luis de Victoria, Estêvão Lopes Morago, Filipe de Magalhães, Estêvão de Brito, Fernando de Almeida e Pedro de Cristo, todos contemporâneos no Portugal e na Espanha do século XVII.
Prog. 7 | 18 Novembro
“Lady Godiva” de Alfred Tennyson: a esposa virtuosa sacrifica-se pelo seu povo
Repertório de Charles Hubert Hastings Parry e Charles Villiers Stanford, contemporâneos na Inglaterra do século XIX.
Para ouvir, clicar aqui.
Prog. 8 | 25 Novembro
“A Aia” de Eça de Queirós: um exemplo de sacrifício maternal
Repertório de José Viana da Mota, coevo no Portugal do século XIX.
Prog. 10 | 9 Dezembro
Prog. 11 | 16 Dezembro
“A Feira de S. Bartolomeu” de Ben Jonson e o “Auto da Feira” de Gil Vicente: mercados de luxúria e virtude
Prog. 12 | 23 Dezembro
“O Auto de Sibila Cassandra” de Gil Vicente: espelho do modelo vidual da Rainha D. Leonor 1
Para ouvir, clicar aqui.
Prog. 13 | 30 Dezembro
A “máquina” ou a substituição da mulher em dois textos de Álvaro de Campos 2
Breves biografias dos autores:
Licenciada em Línguas e Literaturas Modernas na variante de Português/Inglês e Mestre em Literatura Portuguesa com a dissertação "Mistérios da Virgem ao Espelho: (Des)graça, Presunção e Misericórdia em autos de Gil Vicente às Matinas do Natal", Ana Margarida Flor, colaboradora ocasional no programa Musica Aeterna de João Chambers, tem focado a sua atenção no estudo comparatista entre as literaturas inglesa e portuguesa, nomeadamente entre as obras dos dramaturgos Gil Vicente e William Shakespeare , com a publicação de diversos artigos neste âmbito.
A par da investigação literária, dedica a actividade profissional ao ensino, sendo docente há duas décadas e meia, e à formação de professores, área na qual tem trabalhado de forma amiúde nos últimos anos.
No projecto que agora se apresenta, pretende aliar estas duas valências curriculares, trilhando a reflexão literária feita à luz dos estudos de género e da didactização de leituras textuais que permitam compreender a figura da mulher como um espelho refletor do universo feminino.
João Chambers
Nascido no seio de uma família de melómanos lisboetas e portuenses, foi naturalmente muito cedo que a paixão pela arte dos sons despertou em João Chambers. Enquanto criança acompanhava os pais aos recitais e concertos promovidos pelo Círculo de Cultura Musical, os quais tinham lugar, sobretudo, no antigo cinema Tivoli e nos Teatros da Trindade e Nacional de São Carlos. Os ciclos e os festivais um pouco por todo o país, e, em particular, o programa radiofónico “Em Órbita”, formaram-lhe, anos volvidos, o gosto pelos repertórios pré-românticos mais esquecidos e pouco divulgados.
Em 1985 rumou a Bruxelas para ali exercer funções no Conselho de Ministros da CEE (atual União Europeia). Tal mudança levou a que a centralidade da cidade lhe permitisse, de perto, tomar contacto com novos agrupamentos estrangeiros que desenvolviam projectos inovadores no âmbito da música antiga segundo desempenhos cuidados pelo saber e informados pela pesquisa e, em consequência, fazer amizades com intérpretes de grande craveira internacional.
De regresso a Lisboa e ao serviço da Antena 2, o gosto pela História da Arte e os temas com ela relacionados proporcionaram que, entre 2007 e 2016, realizasse, como mentor e numa simbiose entre as artes plásticas e dos sons, quatro séries de emissões intituladas “Divina Proporção”, “A Herança de Atena”, “As Idades do Mundo” e “O Fio de Ariadne”.
Colabora no jornal Público em artigos dedicados ao património avito e tem vindo a proferir comunicações em colóquios e conferências, onde aborda temas relacionados com a História da Música Ocidental e com as práticas harmónicas que, todas as semanas, desde Julho de 2001, defende e divulga aos microfones do seu programa "Musica Aeterna".