9 Novembro | 19h00
Biblioteca da Imprensa Nacional Casa da Moeda
em Lisboa
Entrada gratuita
Solistas Melleo Harmonia
Concerto comemorativo do 100º aniversário
da Biblioteca da Imprensa Nacional Casa da Moeda
Quinteto de Sopros
Anabela Malarranha, flauta
Luís Pérez, oboé
Joaquim Ribeiro, clarinete
Carolino Carreira, fagote
Luís Vieira, trompa
Jenny Silvestre, apresentação
Maria Ana Ramos, oradora
Programa
Impressionismos e outros ismos
Joly Braga Santos (1924-1988)
Adagio
Scherzino
Jacques Ibert (1890-1962)
(3 Breves peças)
Allegro
Andante
(Assez Lent, Allegro Scherzando, Vivo)
Frederico de Freitas (1902- 1980)
Allegro con Spririto
Andante
Modinha
Fuga
O Concerto é antecedido, às 18h00, pela conferência por Maria Ana Ramos, sobre Carolina Michaelis de Vasconcelos.
As primeiras décadas do século XX constituem, por ventura, um dos momentos mais ricos e complexos da História nacional e europeia. No rescaldo do liberalismo que havia ocupado a quase totalidade do século anterior, a eclosão do primeiro conflito bélico à escala global, que confrontou o homem perante a possibilidade da sua destruição, aliado ao desenvolvimento de uma nova vaga tecnológica e industrial, a implementação do modelo comunista na Rússia e a implantação da República em Estados como Portugal, espoletou uma explosão de correntes e tendências reflexivas nos mais diversos domínios de atividade humana. Na cultura, assiste-se a uma procura quase frenética de novas formas de expressão.
Estamos na época do modernismo, um modernismo que congrega um conjunto alargado de correntes de vanguarda, como o Cubismo, o Dadaísmo, o Futurismo, o Surrealismo e o Expressionismo, entre outros. A tendência de definição identitária nacionalista ou patriótica que, pese embora se tratasse de uma preocupação que remontava às primeiras décadas de oitocentos, assume agora contornos totalmente inovadores.
Em Portugal, jovens criadores, como Fernando Pessoa, Mário de Sá Carneiro, Santa Rita Pintor, Amadeu de Souza Cardoso e Almada Negreiros, defendem a ruptura como elemento essencial ao desenvolvimento de uma linguagem patriótica. Introduzem a Sinestesia e o Sensacionismo na literatura e na pintura como meio de concretização do seu objetivo. Se a Sinestesia se assume como um jogo de transferência entre os diferentes sentidos do Homem, o Sensacionismo representa uma verdadeira corrente. Mais do que a intersecção de emoções e sensações para o domínio literário e pictórico, assume-se como síntese de todas as correntes que lhe antecederam, síntese da própria História. Fernando Pessoa afirmaria que
a base de toda a arte é a sensação e esclareceria: o Sensacionismo é a arte que espontaneamente surgiu em Portugal, entre um grupo de poetas e literatos a quem eu pertenço de ha mais tempo do que o grupo existe. Chamo Sensacionismo a esta nossa arte, que me parece a única própria da nossa epocha. É uma arte completa no tempo, e num espaço, e também dentro de si própria; uma arte synthese de nações e de epochas e de artes.
A criação musical não foi, naturalmente, imune ao seu próprio tempo. Em Portugal assistimos à experimentação de harmonias e técnicas que apelam às sensações, muito embora mais como um sucedâneo impressionista do que propriamente sensacionista. Foi o caso de António Fragoso, falecido prematuramente. Foi também o caso de Luís de Freitas Branco, nomeadamente, na sua fase de juventude, onde se vislumbra a procura das raízes portuguesas como fonte de inspiração e de aproximação ao indivíduo, rasgo que deixaria aos seus discípulos, nomeadamente Joly Braga Santos, o grande Joly cujo centenário celebramos já em 2024.
O presente programa presta homenagem a esta herança.
Jenny Silvestre
Melleo Harmonia é a orquestra residente da Academia Portuguesa de Artes Musicais. Assumindo uma geometria flexível, desde a formação clássica à sinfónica, congrega alguns dos mais reconhecidos solistas da atualidade, bem como jovens talentos. Empenhando-se na promoção e dignificação do valor individual, Melleo Harmonia desenvolve, paralelamente à programação orquestral, uma programação regular de matriz camerística, especificamente pensada para os Solistas Melleo Harmonia.
Melleo Harmonia opera sob a direção musical de Joaquim Ribeiro.
Anabela Malarranha | Natural de Évora, licenciou-se na Academia Nacional Superior de Orquestra em 1998, tendo concluído posteriormente o Mestrado no Conservatório Real de Haia (Holanda). Venceu o 1º Prémio no Concurso da Juventude Musical Portuguesa em 1990 e 1992. Foi 1º flauta na Orquestra Metropolitana de Lisboa entre 2000 e 2005, ano a partir do qual passou a integrar a Orquestra Sinfónica Portuguesa. É atualmente 1º flauta nesta orquestra.
Luis Pérez | Nasceu em Valencia (Espanha), tendo-se licenciado no Conservatório de Música Joaquín Rodrigo, onde obteve o Prémio Especial “Fin de Carrera” em oboé. Integrou a JONDE – Joven Orchesta Nacional de España. Como profissional, colabora regularmente com a Orquestra Sinfónica de Tenerife (Espanha), a Orquestra Nacional de Espanha e a Orquestra Gulbenkian. Em 2013 venceu o concurso para solista B da Orquestra Metropolitana de Lisboa. Em 2015, Luis Pérez ganhou o 1º Prémio na primeira edição do Concurso Nacional de Oboé de Espanha e o concurso para solista A da Orquestra Sinfónica Portuguesa, cargo que ainda ocupa.
Joaquim Ribeiro | Venceu, em 1988, o 1º Prémio Jovens Músicos, na categoria de clarinete, da história do certame, momento que marcou o início de uma carreira não só repleta de prémios, como enriquecida por um conjunto notável de apresentações na qualidade de solista, com as mais diferenciadas orquestras. Joaquim Ribeiro ocupa, desde a sua criação, o lugar de primeiro clarinete solista da Orquestra Sinfónica Portuguesa. Durante mais de duas décadas acumulou ainda funções como clarinetista da Banda Sinfónica da GNR, tendo culminado o seu percurso nessa instituição na categoria de Sargento Mor, Sub Chefe da Banda. Paralelamente, licenciou-se em clarinete na Escola Superior de Música de Lisboa e formou-se em direção de orquestra no Conservatório de Música J. Ph. Rameau de Dijon (França), sob orientação de Jean-Sébastien Béreau. Concluiu posteriormente o Mestrado no Instituto Piaget. Joaquim Ribeiro é o diretor musical da orquestra Melleo Harmonia.
Carolino Carreira | Iniciou os seus estudos musicais no Conservatório Nacional de Música de Lisboa, tendo-se licenciado na ESART-IPCB. Concluiu uma pós-graduação no Royal Northern College of Music em Manchester (Inglaterra), como bolseiro da Fundação Gulbenkian. Carolino Carreira integrou a Orquestra Sinfónica do Teatro Nacional de São Carlos, sendo fagote solista da Orquestra Sinfónica Portuguesa desde 1993. Paralelamente, desenvolve uma atividade pedagógica, sendo professor de fagote na ESART-IPCB, Academia de Música de Santa Cecília e Conservatório Regional de Artes do Montijo.
Luís Vieira | É trompa solista da Orquestra Sinfónica Portuguesa desde 2015, tendo sido convidado a integrar orquestras tão variadas como a Berliner Philharmoniker, Orchestre de la Suisse Romande, Orchestra della Svizzera Italiana, Orquesta Nacional de España, Orquestra Sinfónica do Porto Casa da Música, entre outras. Obteve a sua Licenciatura na Escola Superior das Artes Aplicadas de Castelo Branco, com o Professor Paulo Guerreiro em 2009, continuando os seus estudos com Abel Pereira, Eric Terwilliger e Sarah Willis. Entre 2011 e 2013 estudou na Escuela Superior de Música Reina Sofía, com Radovan Vlatkovic recebendo, das mãos da Rainha Sofia de Espanha, o prémio para o melhor aluno da cátedra de Trompa.
Obteve o seu Mestrado na Zurcher Hochschule der Kunste, com o conceituado professor Radovan Vlatkovic, em 2015. Em 2011 ganhou o Prémio Jovens Músicos e em 2013 foi finalista na Città di Porcia Music Competition.
Fotos Jorge Carmona / Antena 2