Casos do Beco das Sardinheiras,
de Mário de Carvalho
Teatro dos Aloés
18 Fevereiro 21h30 | 19 Fevereiro 16h00
Cineteatro D. João V (Damaia)
16 a 27 Novembro
Quarta a Sábado às 21h30 | Domingo às 16h00
Recreios da Amadora
O espetáculo de 20 de Novembro conta com a presença de Mário de Carvalho para conversar com o público.
9 e 10 Dezembro
Forum Romeu Correia
Almada
O Beco das Sardinheiras é um beco como outro qualquer, encafuado na parte velha de Lisboa. Uns dizem que é de Alfama, outros que é já de Mouraria e sustentam as suas opiniões com sólidos argumentos topográficos, abonados pela doutrina de olissiponenses egrégios. Eu, por mim, não me pronuncio. Tenho ideia de que ali é mais Alfama, mas não ficaria muito escarmentado se me provassem que afinal é Mouraria. Creio que o nome lhe vem das sardinheiras que exibem um carmesim vistoso durante todo o ano, plantadas num canteiro, que rompe logo à esquina, não longe da drogaria que já fica na Rua dos Eléctricos.
A gente que habita o Beco é como a demais. Nem boa nem má. Tem sobre os outros lisboetas um apego ainda maior ao seu sítio e às suas coisas. Desde há muito tempo que não há memória de que algum dos do beco tenha emigrado de livre vontade.
A gente que habita o Beco é como a demais. Nem boa nem má. Tem sobre os outros lisboetas um apego ainda maior ao seu sítio e às suas coisas. Desde há muito tempo que não há memória de que algum dos do beco tenha emigrado de livre vontade.
A peça de teatro, Casos do Beco das Sardinheiras, tal como o livro de contos de Mário de Carvalho e a partir do qual é adaptada, começa com estas palavras do Intróito, lidas por um narrador que situa histórica, geográfica e socialmente, o Beco e os seus habitantes, ao mesmo tempo que, se vê uma projeção video na qual se vai construindo / desenhando / pintando o cenário do Beco que “…uns dizem que é Alfama, outros que já é Mouraria…”.
É neste beco que acontecem as coisas mais mirabolantes … desde o estranho e cómico caso de um homem, o andrade da mula, que engoliu uma lua cheia e redonda e que pôs a vizinhança do beco das sardinheiras em alvoroço; aos turistas que estando num bar do Cais do Sodré, sem saber como, vão parar ao marco do correio lá do Beco!
Olhou para o céu e bocejou um desses bocejos do tamanho de uma casa, escancarando muito a bocarra que era considerada uma das mais competitivas da zona oriental. e aconteceu aquilo da lua. deslocou-se um bocadinho, assim como quem se desequilibrou, entrou a descer devagar, ressaltou numa ponta de nuvem, que por ali pairava feito parva, e foi enfiar-se inteirinha na boca do andrade, que só fez ‘glup’ e esbugalhou muito os olhos.
Os pequenos contos de peculiar humor, muitas vezes rompendo com o senso comum, apresentam insólitos acontecimentos que contrastam com o realismo das personagens e com a tradicionalidade de um bairro tipicamente lisboeta onde convém sempre não confundir Género Humano com Manuel Germano.
É recriando estes contos que a Companhia Teatro dos Alóes leva à cena uma das mais conhecidas obras de Mário de Carvalho, Casos do Beco das Sardinheiras. Ao longo da representação, os quadros /contos vão-se sucedendo, frequentemente emoldurados pelos vários narradores-personagens que contextualizam a situação, assumindo como que o papel de cronista do bairro, simultaneamente exterior e entranhado em relação aos Casos do Beco.
Esta relação exterior-interior revela-se também cenograficamente com a escolha de uma cortina translúcida, qual teatro de sombras, dada por um estendal de roupa, elemento caraterístico do bairro popular, e que funciona igualmente como corpo flexível de separação entre os interiores das casas e a zona pública do beco.
Mário de Carvalho, um dos mais conceituados autores portugueses contemporâneos, é assim escolhido para ser representado pela quarta vez por este Teatro dos Aloés; a primeira foi “Haja Harmonia” estreada a 11 de Setembro de 1997 no Teatro da Malaposta, seguiu-se “Se Perguntarem Por Mim Não Estou” no mesmo teatro em Maio de 1999, e dois anos depois, levaram à cena “A Vida Tem Destas Coisas” no Teatro Municipal de Almada. Com a adaptação teatral de Casos do Beco das Sardinheiras, cumprem um dos seus objectivos enquanto companhia teatral, a aposta no Teatro escrito em português.
Ficha Artística
Texto: Mário de Carvalho
Encenação: Elsa Valentim
Interpretação: André Nunes, Elsa Valentim, Jorge Silva, José Peixoto, Estagiários ACT: Carolina Serrão; Carolina Campanela, Cláudia Alfaiate, Rui Ferreira Macedo; Estagiários Escola Secundária D. Pedro V: Beatriz Sirgado, Tânia Cruz
Participação Especial na Voz do Autor: Luís Caetano
Concepção Plástica: Ana Rocha de Sousa e João Rodrigues
Música: Miguel Tapadas
Assistência à Encenação: Rui Ferreira Macedo
Operação Técnica: Tasso Adamopoulos
Produção Executiva: Daniela Sampaio
Produção: Teatro dos Aloés
Espetáculo para maiores de 12 anosReservas:
916 648 204 ou teatrodosaloes@sapo.pt
Mais informações em:
Fotos de Jorge Carmona / Antena 2 RTP