Especial | No 80º aniversário de Yvette Centeno
13h00 – Perto da Terra [excertos]
Para ouvir, clicar aqui.
15h00 – Canções do Rio Profundo (As Mães) [excertos]
17h00 – Irreflexões [excertos]
19h00 – Amores Secretos [excertos]
21h00 – Do Longe e do Perto [excertos]
Acompanhando e complementando a leitura dos seis excertos, Fernando Ribeiro, professor na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, propõe um olhar em três momentos, pela vida e obra de
Yvette Kace Centeno
mulher
Mulher-académica
Foi cofundadora do CITAC da Universidade de Coimbra onde começou por levar à cena O Dia Seguinte de Luís Francisco Rebelo e O Mar de Miguel Torga e que começou por ter António Pedro como encenador.
Agraciada em julho de 1987 com grau Chevalier dans L’Ordre des Palmes Académiques pelo então primeiro ministro francês (e futuro presidente da república) Jacques Chirac, num ato de reconhecimento do seu magistério universitário. Doutorou-se em Letras (Literatura Alemã) pela Universidade Nova de Lisboa, onde se jubilou, tendo fundado o Departamento de Estudos Alemães e o Gabinete de Estudos de Simbologia e desbravado caminhos, singrados por vários discípulos, da Literatura Alemã à Literatura Comparada, às Histórias da Ideias, aos Estudos de Tradução, tendo sido cofundadora da Associação Portuguesa de Tradutores.
O Presidente da República Federal da Alemanha Richard von Weizsäcker agraciou-a com a Verdienstkreuz 1. Klasse em 1994, reconhecendo também o seu mérito nas artes e nas letras. Entre 1995 e 2004 foi diretora do ACARTE da Fundação Gulbenkian onde colaborou também como consultora para a Educação e Cultura.
Mulher-escritora
De ascendência materna polaca, Kace, com raízes na França da Liberdade, Igualdade e Fraternidade, viveu temporadas em Paris enquanto jovem, havendo aprendido com a arte literária de Jacques Prévert e outros, a forma pela palavra certa, pelo ritmo depurado e subtil, em demanda da criação literária.
Traduziu e cultivou formas literárias na poesia, na narrativa, no teatro, ao abrigo de um português maior cuja obra, de feição especialmente hermética, investigou e publicou: Fernando Pessoa.
O jazz desde sempre interpretado pelo Moreiras Jazztet, cuja formação inicial apresentava João Moreira (trompete), Pedro Moreira (saxofone), Miguel Moreira (piano) e Bernardo Moreira, este último herdeiro da arte do contrabaixo legada por seu pai, Bernardo Moreira, também exímio no trombone de varas e marido de Yvette Centeno Moreira, sempre colheu da poesia de Yvette os melhores frutos, também por si acarinhados na arte da narrativa.
Os escritos escolhidos
Poder-se-ia ter começado por oferecer o haiku nº 6 publicado em A Oriente (1998):
Vozes ao longe
Risos de Criança
Cai a noite
No poema cuja declamação oferecemos aos ouvintes, a palavra grácil não perde em enigma.
Sempre o diálogo entre o tomado-como-certo e o tomado-como-incerto que nos coloca desconcertados perante a perplexidade com que Yvette Centeno nos desvenda a poesia em Perto da Terra (1989).
E sempre o humor vertido na escrita das Irreflexões (1974) por «linhas que nos cosem e descosem» (p.27) e nos levam a repor a verdade ao revés de todas as verdades pré-formadas: a feminilidade da divindade.
A poesia de Yvette Centeno é escrita natural no feminino: de mãe, de guarda, de garra, da-chegada e da-partida, por isso destacamos as palavras de As Mães em Canções do Rio Profundo (2002) .
Deixamo-nos levar pela prosa dita, respigada de Do Longe e do Perto Quase-diário (2011) e Amores Secretos (2006) para nos aproximarmos da fonte da escrita, jorrando sem que fiquemos a saber de onde brota, mas entendermos como, em ondas dúcteis, se manifesta.
[estas algumas obras, de entre a vasta criação de Yvette Centeno, que percorrem chancelas várias: Guimarães, Portugália, Asa, Salamandra, Presença, Estampa, Plátano, Glaciar, Sextante e Bertrand.]
Lisboa, Stª Cruz de Benfica, 4 Fev. 2020
Fernando Ribeiro