4 Fevereiro | 19h00
Especial | 60 anos Guerra Colonial
A 4 de Fevereiro de 1961 começou a guerra em Angola. Colonial para a administração portuguesa, de libertação para os nacionalistas.Naquele dia, em Luanda, há 60 anos, um grupo de cerca de 200 angolanos, alegadamente simpatizantes do MPLA, atacou uma cadeia na capital angolana e a principal estação de rádio do país, levando o regime de Salazar a enviar tropas para defender o território e os portugueses que ali viviam. Primeiro em Angola, e depois em Moçambique, Guiné Bissau, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe.
“Rapidamente e em força” foram as palavras proferidas pelo então Presidente do Conselho, que passaram para a história dos dois povos, no início de uma luta que durou 13 anos e que só viria a terminar após o eclodir a Revolução do 25 de Abril e a independência dos então territórios ultramarinos, em 1975.
A Antena 2, num trabalho de Germano Campos, recorda esses momentos, com base em sons dos arquivos históricos da RTP e da RDP, intercalados com canções produzidas em Angola e Portugal nos anos 60 e alusivas quer à guerra, quer às tradições e ritmos angolanos, como Nambuangongo, meu amor, poema de Manuel Alegre, cantado por Paulo de Carvalho, Monangambé por Ruy Mingas, Ronda do Soldadinho, com letra e interpretação de José Mário Branco, Manazinha, por N´Gola Ritmos, Soldado Conhecido, por Paco Bandeira, e Menina dos Olhos Tristes, um poema de Reinaldo Ferreira e música de José Afonso, cantado por Adriano Correia de Oliveira.
Clara Menéres – Jaz morto e arrefece o menino de sua mãe [escultura], 1973
AindaAs nossas frases estão cheias de picadas
de minas a explodir nos substantivos
por dentro do silêncio há emboscadas
não sabemos sequer se estamos vivos.
Os helicópteros passam nas imagens
a meio de uma vírgula morre alguém
e os jipes destruídos estão nas margens
do papel onde talvez para ninguém
se vão escrevendo estas mensagens.
Manuel Alegre, Nambuangongo, meu amor: os poemas da guerra.
Lisboa: Dom Quixote, 2008, p. 54.
Tropa d’África
Eu, soldado raso, me confesso.
Não morri ainda, quase vivo.
Uns querem que eu morra.
Outros que eu viva.A quem me afirmo, sendo morto-vivo?
Com que expressão
posso nomear-me?
Ninguém quis saber da minha vida
nem do que eu sentia.
Eu, soldado raso, digo:
não trapaceiem comigo.
Sou homem,
não sou palha.
Sou homem
dentro da farda.
27/10/69
Ruy Cinatti, Obra poética.
Lisboa: Imprensa Nacional Cada da Moeda, 1992, p. 239.