22 Janeiro | 21h00
Grande Auditório
Realização e Apresentação: Reinaldo Francisco
Produção: Susana Valente
Gravação pela RTP / Antena 2
no Grande Auditório da Fundação Gulbenkian, em Lisboa
a 25 de Maio de 2024
Temporada de Música Gulbenkian
60 Anos do Coro Gulbenkian
Coro Gulbenkian
Inês Tavares Lopes, Martina Batic e Jorge Matta, direção
Ricardo Martins, piano
Sérgio Silva, órgão
Programa
Diogo Dias Melgás – Salve Regina
Francisco António de Almeida – O quam suavis
Sergei Rachmaninov – Bogoróditse Djévo (Ave Maria)
Josef Rheinberger – Abendlied (Canção da Noite), op. 60 n.º 3
Eurico Carrapatoso – Psalm CL
Anton Bruckner – Ave Maria
Felix Mendelssohn-Bartholdy – Elias: “Denn er hat seinen Engeln“ (Ele ordenou aos seus anjos)
Georg Friedrich Händel – Messias: “Hallelujah”
Em finais de 1963 a Fundação Calouste Gulbenkian decidiu criar um “coral de câmara” com o intuito de contribuir “para o desenvolvimento do gosto e do cultivo do canto em coro em Portugal”. A direção artística foi entregue a Olga Violante, assistida por Pierre Salzmann, José Aquino e Victor Diniz. O primeiro ensaio realizou-se a 14 de fevereiro de 1964 e a estreia a 27 de maio, na igreja de São Vicente de Fora, em Lisboa, num concerto inserido no VIII Festival Gulbenkian de Música. O Coro de Câmara Gulbenkian e a Orquestra Sinfónica da Emissora Nacional, dirigidos por Urs Voegelin, interpretaram, em primeira audição em Portugal, a Paixão segundo São Marcos de Georg-Philipp Telemann (1681-1767).
Em 1969, no seguimento da morte de Olga Violante, Madalena de Azeredo Perdigão, à época Diretora do Serviço de Música da Fundação Gulbenkian, convidaria Michel Corboz a assumir as funções de Maestro Titular, posição que manteve ao longo de 50 anos. Fernando Eldoro e Jorge Matta seriam nomeados, respetivamente, maestro-adjunto (1971-2011) e maestro assistente (1976-2011), assistidos por Artur Carneiro e João Valeriano.
Maestro adjunto entre 2011 e 2023, Jorge Matta seria assistido, em anos recentes, pelos maestros Paulo Lourenço e Dominique Tille, com a colaboração de Clara Coelho, Fátima Nunes, Inês Lopes, Joana Nascimento, João Branco, Pedro Teixeira e Sérgio Fontão. Nomeada maestra assistente em 2021, Inês Lopes é, desde 2024, maestra adjunta.
Neste concerto comemorativo dos 60 anos do Coro Gulbenkian (1964-2024) – ao longo dos quais contou com a colaboração de 471 coralistas, provenientes dos mais diversos quadrantes da sociedade portuguesa – passado e futuro cruzam-se através de uma série de obras musicais que pontuaram as últimas décadas.
É, igualmente, o primeiro concerto em que Martina Batič se apresenta como a nova Maestra Titular do Coro Gulbenkian.
A antífona mariana Salve Regina de Diogo Dias Melgás (1638-1700), mestre de capela da Sé de Évora, é uma das obras mais fascinantes do repertório musical português da segunda metade do século XVII. À simplicidade contrapontística inicial sucede-se uma gradação constante das linhas melódicas, rica em cromatismos e de paleta variada de harmonias expressivas, barroca na forma como retrata, musicalmente, o pathos contido no texto. Este motete foi gravado pelo Coro Gulbenkian, em world première recording (1988), dirigido por Jorge Matta, para a coleção PortugalSom.
O motete O quam suavis serve de antífona ao hino Magnificat para as Vésperas da Festividade do Corpo-de-Cristo. A versão hoje em concerto é de Francisco António de Almeida (c.1703-1754), Mestre de Música da Real Câmara, considerado o melhor compositor português da primeira metade do século XVIII. Devedor do estilo híbrido que então pontificava no gosto musical português, um meio-termo entre o stile pieno (segundo o idioma contrapontístico de Palestrina) e o stile concertato (devedor do virtuosismo vocal da música dramática italiana), o motete está dividido em quatro partes contrastantes, de que se destacam o trio Pane Suavissimo, de um lirismo galante e o Alelluia final. Foi gravado, em world première recording (1970), para a prestigiada editora Archiv Produktion, a primeira das 37 gravações do Coro Gulbenkian dirigidas por Michel Corboz.
O hino de invocação mariana Bogoróditse Djévo é o 6.º andamento das Vésperas, op. 37, compostas em 1915, em plena I Guerra Mundial, por Sergei Rachmaninov (1873-1943). O murmúrio inicial floresce numa poderosa afirmação de transcendência, num registo musical evocativo do canto litúrgico primitivo ortodoxo. A primeira audição das Vésperas em Portugal foi em 2000, pelo Coro Gulbenkian, dirigido pelo maestro Fernando Eldoro.
Composto por Josef Rheinberger (1839-1901), a poucos dias de completar 16 anos, Abendlied é a sua obra coral mais conhecida. Pleno de um discurso musical serenamente emotivo, Abendlied viria a ser publicado em 1873, com as peças Morgenlied e Hymne, sob o título Três Canções Espirituais, op. 69.
Pintor de matizes sonoros brilhantes, Eurico Carrapatoso (n. 1962) compôs o Psalm CL em 2016, para duplo coro e piano. Dividido em três momentos, o primeiro pauta-se por um vigoroso ostinato melódico-rítmico, seguido por um labirinto harmónico de forte pendor impressionista, concluindo com o ambiente inicial.
Exemplar do idioma coral do Romantismo tardio, o motete Ave Maria foi composto em Linz, em 1861, por Anton Bruckner (1824-1896), revelando a sensibilidade e o apurado sentido dramático do compositor, numa gradação fulgurante de dinâmicas e harmonias.
O motete Denn er hat seinen Engeln, para duplo coro a cappella, foi escrito em 1844 por Felix Mendelssohn (1809-1847), à época Diretor Geral de Música Religiosa e Sacra da Corte da Prússia, para o coro da catedral de Berlim. Em 1845-46, viria a adaptar este gracioso diálogo entre vozes femininas e masculinas como sétimo andamento da oratória Elias, op. 70, obra gravada em 1985, para a editora Erato, pelo Coro e Orquestra Gulbenkian, dirigidos por Michel Corboz.
Marco impactante da memória musical coletiva da cultura ocidental, Hallelujah é o coro conclusivo da 2.ª parte da oratória Messiah, HWV 56. Escrita em 1741, por Georg Friedrich Händel (1685-1759), com libreto de Charles Jennens (1700-1773), viria a estrear no Music Hall de Dublin, a 13 de abril de 1742, com estrondoso sucesso. A estreia, em Portugal seria dada pelo Coro e Orquestra Gulbenkian, dirigidos por Trajan Popesco, em 1965.
José Bruto da Costa
Ver Programa de Sala
Martina Batič | Vencedora do Concurso Eric Ericson em 2006, a maestrina eslovena é reconhecida pela sua versatilidade na direção de um vasto repertório, desde obras a cappella até corais-sinfónicas. Foi recentemente nomeada Maestra Titular do Coro Gulbenkian. Anteriormente foi Maestra Principal do Coro da Rádio France, Diretora Artística do Coro Filarmónico Esloveno e Diretora Artística do Coro da Ópera Nacional Eslovena, em Liubliana. No início da temporada 2023-24, assumiu as funções de Maestra Principal do Ensemble Vocal Nacional da Dinamarca, em Copenhaga.
Como maestra convidada, Martina Batič dirige regularmente prestigiados agrupamentos corais, incluindo o RIAS Kammerchor, o Coro da Rádio de Berlim, o Coro da Rádio da Baviera, o Coro da Rádio MDR, o SWR Vokalensemble, o Chorwerk Ruhr, o Coro de Câmara Eric Ericson, o Coro da Rádio Sueca, o Coro de Solistas da Noruega, o Coro da Rádio dos Países Baixos ou o Coro da Rádio da Flandres.
A presente e as próximas temporadas incluem colaborações com o Coro da Rádio dos Países Baixos, o Coro da Rádio da Flandres, o SWR Vokalensemble, o Coro da Rádio de Berlim, a Züricher Singakademie, o Coro de Câmara de Helsínquia e o Bachchor Salzburg.
Dirige regularmente concertos a cappella em eventos como o Festival do Mar Báltico (Estocolmo), o Ultima Oslo, o Choregies d’Orange, o Festival Présences, em Paris, ou os festivais de Montpellier e Saint-Denis. Martina Batič estudou na Academia de Música da Universidade de Liubliana e na Universidade de Música e Teatro de Munique.
Obteve o grau de mestre em direção coral, com distinção, em 2004. Em 2019 recebeu o prémio nacional esloveno Prešeren Fund Awards, pelas suas realizações artísticas no domínio da direção coral.
Ricardo Martins | Iniciou os seus estudos no Instituto Gregoriano de Lisboa, com Manuel Fernandes. Concluiu o Mestrado em Ensino da Música na Escola Superior de Música de Lisboa, com supervisão de Jorge Moyano e Miguel Henriques e com Leitura à primeira vista ao piano como tema de dissertação. Com o apoio da Fundação Gulbenkian, participou em workshops para correpetidores, recitativo acompanhado e direção, com João Paulo Santos, Claudio Desderi, Jory Vinikour, e Paul McCreesh (inserido nos cursos da European Network of Opera Academies).
Como acompanhador e correpetidor, participou em várias produções de ópera, destacando-se Ohneama, de João Guilherme Ripper, com o Coro do Teatro Nacional de São Carlos, para o festival Terras sem Sombra, e A flauta mágica e Don Giovanni, de Mozart, para o Atelier de Ópera da Orquestra Metropolitana de Lisboa, com direção de Pedro Amaral. Trabalhou também com o Teatro Nacional de São Carlos em Alceste de Gluck, com direção de Graeme Jenkins. Colabora frequentemente com o Coro Gulbenkian como pianista acompanhador.
Como convidado, participou em vários concertos com a Orquestra Gulbenkian, a Orquestra Metropolitana de Lisboa e a Orquestra Sinfónica Portuguesa. Patrocinado por várias instituições de renome, teve a oportunidade de participar em masterclasses de, entre outros, Galina Eguiazarova, Sequeira Costa, Miklos Spaniy, Fausto Neves, Roberto Turin, Artur Pizarro, Mikhail Markov, António Rosado e Arcadi Volodos.
É professor e acompanhador na Escola de Música Nossa Senhora do Cabo, mantendo em paralelo a sua atividade como acompanhador e correpetidor freelancer.
Como solista, apresentou-se em recitais em várias salas, como o Museu Nacional da Música e o Auditório CGD do Instituto Superior de Economia e Gestão.
Sérgio Silva | Mestre em Música, ramo de interpretação em órgão, pela Universidade de Évora. Começou por estudar órgão no Instituto Gregoriano de Lisboa, sob a orientação de João Vaz na disciplina de órgão e de António Esteireiro em acompanhamento e improvisação. Para além dos seus estudos regulares, teve oportunidade de contactar com organistas de renome internacional, tais como José Luiz González Uriol, Luigi Ferdinando Tagliavini, Jan Willem Jansen, Michel Bouvard, Kristian Olesen e Hans Ola Ericsson.
Com uma agenda artística intensa, apresenta-se a solo e integrado em agrupamentos de prestígio nacionais, tendo atuado em diversos países europeus e em Macau.
Participou em várias edições discográficas, destacando-se a gravação do primeiro volume de Flores de Música de Manuel Rodrigues Coelho. Paralelamente, tem-se dedicado ao estudo e transcrição de música antiga portuguesa, tendo colaborado em edições nacionais (obras de Fr. Fernando de Almeida – IPL) e internacionais (Flores de Música de Manuel Rodrigues Coelho – ECHO).
É professor de Órgão na Escola Artística do Instituto Gregoriano de Lisboa e organista titular da Basílica da Estrela e da Igreja de São Nicolau, em Lisboa.
Fotos Jorge Carmona / Antena 2
Reportagem | 60 anos Coro Gulbenkian | 27 maio 2024
SABER MAIS