Libreto: Tomestocle Solera de peça de A. Anicet-Bourgeois e F. Cornu e de bailado de A. Cortesi
Estreia: (Milão) Teatro alla Scala, 9 Março 1842
Personagens
Riccardo, Conde de Salinguerra
Cuniza
Ezzelino Romano
Oberto, Conde de São Bonifacio
Leonora
Imelda
Antecedentes
Milão, 1841, 1842. A temporada de ópera iniciara-se da forma mais auspiciosa com a estreia duma nova ópera de Donizetti, então no auge da sua carreira – Maria Padilla interpretada pelo famoso soprano alemão Sophie Loewe e pelo famosíssimo barítono Giorgio Ronconi, uma presença privilegiada no Scala.
Maria Padilla de Donizetti teve 23 representações.
Seguiu-se Saffo de Paccini – ópera que tivera a sua estreia em Nápoles havia um ano.
A terceira ópera da temporada no entanto foi um fiasco. Tratava-se de Odalisa de Alessandro Nisi – um compositor que acabaria por abandonar a carreira para ocupar um modesto lugar de mestre de capela numa aldeia remota da península italiana.
A temporada do Scala prosseguiu com uma outra ópera de Donizetti, Belisario, escrita havia 5 anos, e cantada também por Ronconi e pelo célebre soprano Giuseppina Strepponi – Ronconi e Strepponi que iriam estar presentes na última ópera da temporada, uma ópera que não fora sequer anunciada no cartellone (um calendário dos espectáculos que o Scala publicava todos os anos antes do início da temporada).
Essa ópera fora escrita propositadamente para o Scala por um jovem compositor de 28 anos que, três anos antes, obtivera algum sucesso com a apresentação da sua primeira ópera naquele teatro, à qual se seguira uma segunda de carácter jocoso, recebida com bastante frieza.
Foi pois com um sentimento misto de expectativa e de temor que os frequentadores do Scala se dirigiram para o teatro naquela remota noite de Carnaval de 1842, dia 9 de Março.
Seguiria aquele jovem compositor o destino brilhante de Donizetti?
ou iria tornar-se um mero fornecedor de óperas ao gosto da época como Paccini?
ou seria que o esperava o fiasco? o futuro de mestre de capela numa remota aldeia da província como iria acontecer com Alessandro Nisi?
A verdade é que aquela noite iria ser decisiva, e o autor da ópera apresentada pela primeira vez no Scala no Carnaval de 1842, dia 9 de Março, iria tornar-se um verdadeiro ídolo do povo italiano, e seria considerado universalmente como o maior compositor de óperas da Itália.
Passados 60 anos sobre essa estreia memorável toda a população de Milão saiu para a rua para acompanhar o cortejo que levaria os restos mortais desse compositor para a sua última morada. Durante esse cortejo impressionante, no qual se incorporaram o coro e a orquestra do Scala, a multidão entoaria um trecho dessa ópera estreada nesse longínquo Carnaval de 1842, e cujas palavras pareciam ganhar uma nova carga simbólica.
Estamos a falar do famoso coro dos escravos, e a ópera estreada no Scala há quase 160 anos era o Nabucco. O seu autor? Giuseppe Verdi. Antes de Nabucco Verdi escrevera outras duas óperas: Oberto Conde de São Bonifácio e Un Giorno di Regno, levadas a cena no Scala em Novembro de 1839 e em Setembro de 1840 – a primeira com algum sucesso e a segunda… não tanto.
Regressando a Nabucco recordamos que a sua estreia em Milão em 1842 ultrapassou todas as expectativas. O elenco era excelente com Ronconi no papel de Nabucco e com Giuseppina Streppone no de Abigaïl. À parte isso o teatro não tivera grandes preocupações com os cenários ou o guarda roupa que reciclara dum bailado sobre o mesmo tema. Mas o sucesso da ópera foi tão grande que não teria apenas as 8 representações previstas para essa temporada, entre o Carnaval e a Páscoa, mas regressaria no Outono acabando por bater todos os recordes do Scala com um total de 67 representações.
É durante esse período que a ópera adquire o seu título definitivo abreviado, Nabucco, oficializado em 1844, já que o título original era Nabuccodonosor.
Contrariamente ao habitual Nabucco não está dividida em actos mas em partes, cada uma sob um título específico, e apresentando determinada situação: Jerusalém, O Ímpio, A Profecia e O Ídolo Quebrado.
A acção desenrola-se durante o reinado de Nabuccodonosor II Rei da Babilónia que subiu ao poder 605 anos antes de Cristo, e que foi o responsável pela reconstrução da cidade considerada uma das 7 Maravilhas do Mundo. Cerca de 20 anos depois de ter sido coroado Nabuccodonosor parte à conquista das terras de Judá destruindo o Templo de Salomão e fazendo numerosos prisioneiros que leva consigo para a Babilónia na condição de escravos.
A 1ª parte da ópera relata precisamente a invasão de Jerusalém e a destruição do Templo de Salomão – lugar onde a acção se desenrola.
Durante a sua estadia na Babilónia, onde fora embaixador, Ismael, filho do Rei dos Hebreus, apaixonara-se por Fenena, filha de Nabuccodonosor. Fenena tem uma irmã, Abigaïl, que também ama Ismael sem ser correspondida.
1.º Acto
Quando a acção se inicia as tropas babilónicas já estão às portas da cidade. Os primeiros a chegar ao Templo são um grupo de Soldados disfarçados de hebreus e comandados por Abigaïl que, ao desejo de conquista junta o desejo de vingança. Ao ver Ismael lança-lhe um desafio dizendo que poupará o povo de Judá se ele aceitar o seu amor – o que Ismael recusa reafirmando o seu amor por Fenena. Nabuccodonosor entra a cavalo no Templo, e, ao vê-lo, o Sumo Sacerdote Zacarias ameaça matar Fenena, filha do Rei da Babilónia, se ele não desistir dos seus intentos. Nabuccodonosor desce do cavalo numa atitude aparentemente conciliatória, mas acaba por ordenar a destruição do Templo.
2.º Acto
A 2ª parte da ópera tem o título de O Ímpio que simboliza a intenção blasfema de Nabuccodonosor se auto-proclamar deus.
A acção desenrola-se na Babilónia para onde numerosos hebreus foram levados na condição de escravos. Nabuccodonosor deixou a cidade entregando o governo à sua filha Fenena. Ruída de inveja Abigaïl põe a saque o palácio acabando por descobrir um documento que prova que ela não é filha do Rei mas sim uma escrava que ele adoptara. O Sumo Sacerdote de Baal vem procurá-la para a informar que Fenena começou a libertar os escravos hebreus. Com o apoio do Sumo Sacerdote, Abigaïl planeia então tomar o Poder.
Durante a noite Zacarias, Sumo Sacerdote Hebreu, procura Fenena nos seus aposentos para a converter ao judaísmo. No palácio reúnem-se os levitas na mesma altura em que Ismael se apresenta em busca de perdão: fora ele que impedira Zacarias de matar Fenena quando da invasão do Templo. Zacarias surge com a sua irmã Anna e com Fenena anunciando a conversão da princesa na mesma altura em que chega um mensageiro com a notícia da morte de Nabuccodonosor dizendo que o povo apoia Abigaïl como sua sucessora. Só que a morte do soberano é falsa, e Nabuccodonosor aparece no momento em que Abigaïl se preparava para assumir o Poder. Então o Rei anuncia renunciar ao deus Baal proclamando a sua própria condição divina. Quando Nabuccodonosor ordena que todos se inclinem para o adorar ouve-se um trovão terrível que lhe arranca misteriosamente a coroa. Zacarias exclama que os céus puniram o blasfemo, e diz que o Rei está louco. Aproveitando a confusão Abigaïl apodera-se da coroa dizendo que o povo de Baal não irá perder a sua grandeza.
RDP – Transmissões em “Noite de Ópera” desde 1996
1997 – 2 de Janeiro
2001 – 4 de Janeiro
Enredo resumido da autoria de Margarida Lisboa.