Libreto: Solera de Grossi (Poema)
Estreia: (Milão) Teatro alla Scala, 11 de Fevereiro de 1843
PersonagensArvino
Pagano
Viclinda
Giselda
Pirro
Um Padre
Acciano
Oronte
Sofia
AntecedentesUm tema politico-religioso espectacular, muitos coros, uma pitada de exotismo e de sobrenatural, blasfémia, conversão, expiação, visões, prodígios divinos, amor do herói pela filha do seu inimigo, rivalidade entre irmãos, e um lamento pela Pátria distante – este o modelo de sucesso que Verdi seguiu baseando-se em "Nabucco" quando escreveu "I Lombardi". O libreto, tal como o de "Nabucco", era de Temistocle Solera, e até a divisão dos actos em episódios, com os títulos respectivos, aproxima as duas óperas. "Nabucco" está dividida em: Jerusalém, O Ímpio, A Profecia e O Ídolo Quebrado; "I Lombardi" divide-se em: A Vingança, O Homem da Gruta, A Conversão e O Santo Sepúlcro.
Verdi recorreria a este seu sucesso 4 anos mais tarde quando a Ópera de Paris lhe encomendou um novo trabalho escrito propositadamente para aquela sala. Verdi escolheu recorrer a "I Lombardi" que escreveu e rescreveu juntamente com os libretistas Alphonse Royer e Gustave Vaëz. Do libreto original pouco seria aproveitado, se exceptuarmos o facto de ambas as acções se desenrolarem durante uma das Cruzadas. Em vez de 4 actos dividiu-a em 3, dando-lhe o título de "Jerusalem" – ópera que transmitimos integrada neste ciclo no passado dia 22 de Março.
A primeira apresentação pública de "I Lombardi" teve lugar no Scala no dia 11 de Fevereiro de 1843, e o sucesso ultrapassou todas as expectativas.
1.º ActoO 1º acto ( ou seja, A Vingança) começa diante da Catedral de Milão onde uma multidão vem dar graças pela reconciliação entre os irmãos Arvino e Pagano, filhos do Senhor Folco. Pagano, ao ser rejeitado por Viclinda, tentara matar o seu rival, e irmão, Arvino, sendo, por isso, condenado ao exílio. Agora fora perdoado e regressara – se bem que muitos duvidem ainda da sinceridade do seu arrependimento. Apenas Viclinda, casada agora com Arvino, e a sua filha Giselda, parecem acreditar nele.
No meio das celebrações, um Padre anuncia mais uma cruzada à Terra Santa, designando Arvino como comandante das tropas lombardas. Enquanto se ouve ao longe um coro de Monges, Pagano confessa a Pirro, escudeiro do seu irmão, não estar arrependido dos seus crimes, bem pelo contrário: aquilo que mais deseja é possuir Viclinda, ao que Pirro responde dizendo estar disposto a ajudá-lo no seu pérfido intento.
Entretanto, no palácio, Viclinda e Giselda começam também a suspeitar das intenções de Pagano. Arvino pede-lhes para tomarem conta do pai, que está no seu quarto. Depois de rezarem uma Avé Maria, as mulheres saem. Entram então Pirro e Pagano, que empunha um punhal. Os seus cúmplices atearam fogo ao palácio, e eles procuram Arvino dirigindo-se para os seus aposentos. Quando regressam, arrastando com eles Viclinda, são confrontados com Arvino que, ao ver o punhal ensanguentado, compreende que Pagano acabou de matar o próprio pai. Entra uma multidão que cerca os dois criminosos, e o acto termina com Pagano sendo de novo condenado ao exílio.
2.º ActoO 2º acto, intitulado "O Homem da Gruta", passa-se na Antioquia, e inicia-se no palácio de Acciano, o tirano, que está reunido com os embaixadores dos países vizinhos para organizarem a resistência contra os Cruzados. Chega Sofia, mulher de Acciano, secretamente convertida ao Cristianismo. Com ela vem o seu filho Oronte que está apaixonado por Giselda, prisioneira no harém do tirano – um sentimento que é visto por Sofia como um meio para converter o filho à Fé Cristã.
O segundo quadro passa-se junto duma gruta no deserto onde um Eremita espera impaciente a chegada dos Cruzados. Aproxima-se dele um homem que lhe pede humildemente o perdão dos pecados. Esse homem é Pirro, o escudeiro de Arvino, que renegou a Fé, e que é actualmente responsável pela segurança dos muros de Antioquia. O Eremita diz-lhe que os seus pecados serão perdoados se ele abrir as portas da cidade aos Cruzados que se aproximam. Esses Cruzados são as tropas da Lombardia. Ao saber isto, o Eremita veste os seus trajes de combatente, e vai ao encontro das tropas de viseira baixa. A verdade é que o Eremita é de facto Pagano que tenta remir-se da sua culpa através do sacrifício. Pagano dirige-se a Arvino, seu irmão, que não o reconhece, e que lhe pede para rezar pelo sucesso da causa, dizendo que a sua filha Giselda foi feita prisioneira pelos infiéis. O Eremita prediz ao chefe das tropas lombardas que irá encontrar afilha, e que, essa mesma noite, armarão as suas tendas no interior de Antioquia.
O quadro seguinte passa-se no harém do palácio onde as mulheres cantam louvores ao amor de Oronte e Giselda, que está entregue à oração. Ouvem-se gritos, os turcos fogem e os cristãos avançam. Entra então Sofia que anuncia que o marido e o filho foram mortos em combate. É assim que, quando chega Arvino, Sofia o aponta como sendo o assassino. O Cruzado aproxima-se de Giselda para a abraçar, mas ela afasta-o horrorizada, declarando, num fervor que toca as raias da loucura, que Deus nunca quis aquela carnificina. Arvino enfurece-se, desembainha o punhal, mas é agarrado antes de desferir o golpe.
3.º Acto"A Conversão"
"A Conversão", o 3º acto de "I Lombardi", inicia-se no vale de Josaph onde os cruzados e os peregrinos louvam as belezas de Jerusalém e choram as desgraças que dominam a Terra Santa. Giselda chega sozinha. Ela deixou o acampamento do pai e queixa-se de que, mesmo naquele lugar, os seus pensamentos continuem dominados pelo amor a Oronte, que julga ter morrido. Mas Oronte não morreu, está apenas gravemente ferido, e aparece agora na sua frente. Ele deixou tudo por Giselda, e fica feliz ao saber que ela está disposta a enfrentar todos os perigos ao seu lado. Ao ouvirem gritos de soldados, fogem.
Arvino continua dominado pela fúria contra a filha, e mais furioso fica quando é informado de que Pagano foi visto no acampamento dos cruzados. Deve ser um sinal do descontentamento divino. E Arvino conclui que Pagano deve morrer.
Entretanto Giselda ajudou Oronte a refugiar-se numa gruta de onde se pode
ver o rio Jordão. Oronte está ferido de morte, e, no seu desespero, a jovem recrimina Deus amargamente. Aparece então o Eremita, aliás Pagano, perguntando quem ousa recriminar os Céus, e diz a Giselda que o seu amor é pecaminoso. Mas se Oronte aceitar receber o baptismo, poderão ter uma nova vida juntos. O Eremita parte para ir buscar ao rio a água para o baptismo. Quando ficam sós, Oronte diz a Giselda que irá esperá-la no Céu. E morre.
4.º Acto"O Santo Sepúlcro"
O 4º acto de "I Lombardi" intitula-se "O Santo Sepúlcro", e inicia-se com um sonho de Giselda onde vê Oronte que lhe diz que Deus escutou a sua oração, e que os cruzados recuperarão as forças com a água de Siloam. Quando acorda Giselda está certa da vitória.
No acampamento dos Lombardos cruzados e peregrinos recriminam Deus por tê-los conduzido até àquele deserto árido. Depois um grito anuncia a descoberta duma fonte. Giselda aparece e diz que os Céus escutaram as suas orações: eles podem refrescar-se naquela fonte. Feliz, Arvino afirma aos seus homens que em breve poderão escalar as muralhas de Jerusalém.
Ouvem-se ruídos de batalha. Arvino e Giselda trazem o Eremita, mortalmente ferido, para o interior da tenda. Então o moribundo revela a sua verdadeira identidade: ele é Pagano, o parricida, que, sem intervenção do Destino, teria também morto o próprio irmão. Nos últimos instantes de vida, pede a Arvino que não amaldiçoe a sua alma penitente. Arvino abraça-o. Depois Pagano pede para ver uma última vez a Cidade Santa. Jerusalém aparece iluminada pelo alvorecer. Pagano morre, e a ópera termina com os cruzados entoando um hino de vitória.
RDP – Transmissões em "Noite de Ópera" desde 1996
2001 – 6 de Dezembro
Enredo resumido da autoria de Margarida Lisboa.