Libreto: Francesco Maria Piave sobre "O Pastor" de Émile Souvestre e Eugène Bourgeois"
Estreia: (Trieste) Teatro Grande, 16 Novembro 1850
PersonagensJorg
Stiffelio
Stankar
Raffaele
Dorotea
Federico
Lina
AntecedentesO período compreendido entre 1849 e 1853 é um dos mais fecundos da vida de Giuseppe Verdi, começando com "Luisa Miller", e terminando com a trilogia romântica de "Rigoletto", "Il Trovatore" e "La Traviata".
Foi durante esse período que Verdi conheceu a peça "O Pastor" de Eugène Bourgeois e Emile Souvestre, apresentada no Théâtre de la Porte de Saint-Martin em Fevereiro de 1849. Curiosamente, a tradução desta obra fora publicada em Itália um ano antes, e terá sido sobre esta tradução que Piave terá escrito o seu libreto. A par com "A Dama das Camélias" de Alexandre Dumas filho, "O Pastor" de Eugène Bourgeois e Emile Souvestre, foi a peça mais moderna posta em música por Verdi. Sob o título de "Stiffelio", foi levada pela primeira vez a cena em Trieste no dia 20 de Novembro de 1850.
A Censura maltratara seriamente o texto, e o público mostrara-se pouco entusiasmado. Talvez estes alguns dos motivos que levaram a que "Stiffelio" tivesse caído injustamente num quase absoluto esquecimento.
1.º ActoA acção inicia-se perto de Salzburgo no castelo do Conde Stankar. O seu genro, Stiffelio, é chefe duma seita protestante, perseguida em tempos, e é esperado com impaciência pela família e os amigos. O pastor Jorg, seu companheiro, exalta o seu zelo religioso, mas teme que esse zelo tenha sido abafado pelo amor que Stiffelio sente pela esposa, Lina.
Stiffelio chega por entre a alegria geral. Dorotea, prima de Lina, diz-lhe que um barqueiro o veio procurar diversas vezes. Stiffelio pensa que seja Walter que em tempos o consultara acerca dum incidente de que fora testemunha: ele vira, de madrugada, um jovem sair subrepticiamente do quarto duma dama e mergulhar no rio deixando cair uma carteira que o barqueiro apanhara. Walter entregara essa carteira a Stiffelio que tenciona destruí-la por não querer aprofundar aquilo que parece ser um caso de adultério. Todos louvam esta atitude de Stiffelio, exceptuando Lina e Raffaele que parecem extremamente alarmados, já que sabem ser os protagonistas dessa misteriosa aventura, o que deixa Stankar está desconfiado.
Quando fica a sós com a mulher, Stiffelio tenta acalmar a sua angústia. Repara depois que ela não traz a aliança, e começa a interroga-la, no que é interrompido por Stankar que o chama para se juntar aos convidados.
Depois deles saírem, Lina começa a rezar. Depois escreve uma carta ao marido onde confessa o seu erro. Stankar regressa silencioso, vê o que a filha está a escrever, e obriga-a a rasgar a carta, dizendo que o sua falta deve continuar secreta: se Stiffelio soubesse morreria.
Entretanto Raffaele tenta marcar um encontro com Lina. Para isso esconde um bilhete num livro, o "Messiade" de Klopstock que está sobre uma mesa, fechando à chave o volume. Lina possui um outro exemplar da chave. Federico, primo de Lina, chega, pega no livro, e leva-o consigo. Ao ver esta cena, Jorg convence-se que Federico é o misterioso sedutor – desconfiança que transmite a Stiffelio durante a festa. Assim, quando Federico pergunta a Stiffelio qual irá ser o tema do seu próximo sermão, Stiffelio responde, de forma sibilina: "será a denúncia daqueles que traem a Honra do lar que os acolheu". Depois arranca das mãos de Federico o livro, repara que está fechado à chave, e pede a Lina que o abra. Do livro cai uma carta que Stankar apanha subrepticiamente e destrói. Então, perante a consternação de todos, Stiffelio desafia o sogro. Lina implora-lhe que respeite a idade de Stankar, enquanto que, secretamente, o velho desafia Raffaele para um duelo.
2.º ActoO 2º acto passa-se na mesma noite da conturbada chegada de Stiffelio.
No antigo cemitério do castelo, Lina procura conforto junto da campa da mãe. Raffaele aparece, não ouve os avisos de Lina que lhe diz que corre perigo de vida, e renova as juras de amor recusando-se a devolver-lhe a aliança. Lina ameaça revelar tudo ao marido, mas Stankar volta a intervir proibindo-a de o fazer. Depois entrega uma espada a Raffaele conseguindo vencer a repugnância que o jovem sente em se bater com um velho dizendo-lhe que ele não passa duma criança mimada.
O barulho do duelo chama a atenção de Stiffelio que ordena aos dois homens que, em nome da Fé, embainhem as espadas. Como o mais jovem, diz, deverá ser Raffaele a dar o exemplo. Depois pega-lhe na mão numa tentativa de reconciliação. Stankar indigna-se e revela o motivo da briga. Estupefacto, Siffelio começa por incentivar Lina a defender-se, mas a mulher responde com o silêncio. Então Stiffelio arranca a espada a Stankar desafia Raffaele.
É então que se ouve, à distância, o salmo da penitência entoado pela congregação. Jorg aparece e convida Stiffelio a juntar-se aos fiéis no interior da igreja. Destroçado por sentimentos contraditórios, Stiffelio cai sobre a efígie duma Cruz.
3.º ActoO 3º acto inicia-se no salão do castelo onde Stankar é informado de que Raffaele fugira deixando uma mensagem onde pede a Lina que venha ter com ele. Ferido na sua Honra, Stankar decide acabar com a vida. No instante em que se prepara para desferir o gesto fatal, aparece Jorg que lhe diz que Raffaele vai regressar ao castelo a pedido de Stiffelio. A possibilidade da vingança anima o velho que deixa a sala com um sorriso.
Chega Stiffelio. Depois Raffaele é trazido à sua presença. Stiffelio pergunta-lhe o que faria se Lina fosse livre para se casar com ele. Mas Raffaele recusa pensar numa tal hipótese. Então Stiffelio diz-lhe que passe para a sala ao lado: aí irá poder escutar a conversa que Stiffelio irá ter com a mulher. Lina chega, e Stiffelio diz-lhe que se casou com ela com o falso nome de Müller, e que, por isso mesmo, o casamento não existe perante a lei. Em seguida estende-lhe uma acta de divórcio, pedindo-lhe que assine. Lavada em lágrimas, Lina começa por recusar. Depois, instigada pelas amargas críticas que escuta, acaba por assinar. Agora já não pode pedir ao seu esposo que lhe perdoe, mas tem ainda o direito de ser ouvida pelo confessor. Então declara que foi a traição do sedutor que a levou ao adultério, mas que, no seu coração, permaneceu sempre fiel ao marido. Surpreendido, Stiffelio pergunta-se se terá o direito de tirar a vida a Raffaele. Nesse instante Stankar sai da sala vizinha empunhando uma espada coberta de sangue. Stiffelio compreende que é demasiado tarde, e, horrorizado, segue apoiado em Jorg para a igreja.
A última cena passa-se no interior do templo onde a congregação entoa um salmo de penitência. Entre os fiéis está Stankar que lança a Lina um pedido de misericórdia. Stiffelio está com Jorg à frente da congregação. Ao notar a sua palidez, o pastor aconselha-o a procurar inspiração na Bíblia. Então Stiffelio abre o livro na página que fala da mulher adúltera. Lê o texto em voz alta proclamando assim, publicamente, o seu perdão a Lina.
RDP – Transmissões em "Noite de Ópera" desde 1996
2001 – 17 de Maio
Enredo resumido da autoria de Margarida Lisboa.