Libreto: Franceso Maria Piave sobre "La Dame aux Camélias" de A. Dumas (filho)
Estreia: (Veneza) Teatro La Fenice, 6 de Março de 1853
PersonagensVioleta Valéry
Alfredo Germont
Flore Bervoix
Gastone
Barão Douphol
Marquês d’Obigny
Dottore Grenvil
Giorgio Germont
Um Comissário
AntecedentesMarguerite Gautier foi o nome que Alexandre Dumas filho escolheu para a personagem central de um dos seus romances mais famosos que narra os amores trágicos de uma mulher mundana parisiense com o jovem Armand Duval. Essa personagem do romance baseava-se numa personagem real, Marie Duplessis, que viveu e morreu em Paris no tempo do jovem escritor, e que está sepultada, tal como no romance, no cemitério de Pére Lachaise. Curiosamente, nesse mesmo cemitério, não muito longe da campa de Marie Duplessis, está também sepultada uma tal Marguerite Gautier – o que nos leva a pensar que Dumas filho tenha tomado de empréstimo esse nome para a personagem do seu romance, talvez, quem sabe?, durante uma sua visita ao cemitério. Não deixa também de ser curiosa a semelhança entre o nome do jovem do romance, Armand Duval, e o nome do próprio escritor, Alexandre Dumas. A história que ele narra talvez não tenha sido inteiramente verdadeira, mas a intensidade da narrativa, a sua densidade sentimental, e a profusão de pormenores, sobretudo na parte inicial, em que o jovem Duval descreve o leilão dos bens da sua amada, levam-nos a pensar que Dumas terá, pelo menos, conhecido Marie Duplessis, pertencendo, talvez, ao grupo dos seus jovens admiradores. Nesse leilão, com que o romance se inicia, tem especial destaque o livro de cabeceira da malograda Marie, e que não é outro senão o 7º volume das "Memórias e Aventuras dum Cavalheiro", onde o Abade Prevost narra os desventurados amores de Des Grieux e de Manon Lescaut – a mesma narrativa que serviu de inspiração para as óperas de Puccini e de Massenet.
Manon Lescaut… Marie Duplessis… Marguerite Gautier…
Ou ainda Violeta Valery – o nome que Francesco Maria Piave, o libretista, deu à famosa personagem da ópera de Verdi que antecedeu em 30 e 40 anos as óperas de Massenet e de Puccini.
Piave e Verdi começaram por intitular essa nova ópera "Amore e Morte" – título que teve de ser modificado por imposição da Censura veneziana. Uma imposição que se estenderia à época retratada que Verdi pretendia fosse a do seu Tempo, e que a Censura impôs recuasse pelo menos até ao início do século XVIII.
A estreia teve lugar no Teatro La Fenice de Veneza no dia 6 de Março de 1853… e foi um fiasco. O romance de Dumas filho era um estudo sobre a vida do seu tempo, ambiente a que Piave se manteve fiel no seu libreto, o que terá chocado o público, habituado a óperas cuja acção se situava no passado, quase sempre um passado muito distante. Para esse fiasco terá também contribuído a actuação dos cantores: o tenor que assumiu a personagem de Alfredo estava rouco; Violeta, o soprano Salvini-Donatelli, era demasiado corpulenta, e a cena da morte, tuberculosa, foi recebida com risos; quanto a Giorgio Germont, pai de Alfredo, o barítono Vatesi, não se terá empenhado especialmente num papel que considerava não estar à altura da sua reputação.
O próprio Verdi refere, numa carta, o fraco nível dos intervenientes nessa primeira apresentação de "La Traviata" – ópera de cujo valor estava perfeitamente consciente. A verdade é que, passado um ano, essa mesma ópera seria recebida nessa mesma cidade de Veneza perante esse mesmo público, duma forma diametralmente oposta constituindo um triunfo memorável, tornando-se rapidamente uma das mais populares óperas de Verdi, se bem que o papel da protagonista seja um dos mais temidos pelas intérpretes até aos dias de hoje.
1.º ActoA acção do 1º acto passa-se no salão da casa de Violeta Valery durante uma festa. É Agosto, e a anfitriã recebe alegremente os seus convidados. Entre eles está o jovem Alfredo Germont que tem uma paixão secreta pela cortesã há já algum tempo. É servido o jantar e Violeta propõe um brinde. Alfredo ergue a sua taça e brinda. Uma orquestra começa a tocar num outro salão.
Os convidados vão se dirigindo para lá, mas Violeta fica. Sentiu um mal-estar, sintoma da doença que a aflige. Alfredo fica também e diz a Violeta aquilo que pensa: o género de vida que ela leva irá acabar por matá-la. E oferece-se para a proteger revelando-lhe ao mesmo tempo o seu amor. Violeta começa por deixar-se envolver pelo amor do jovem. Depois reage: diz que é certamente um amor passageiro, que em breve a irá esquecer. E oferece-lhe uma flor dizendo-lhe para regressar quando a flor tiver perdido o viço.
Os convidados regressam do salão de dança. O sol começou a despontar – sinal de que devem partir.
Quando fica só, Violeta recorda o que se passou naquela noite. E sorri à ideia de ser amada por aquele jovem que mal conhece, que lhe propusera deixar aquela vida e recuperar a saúde ameaçada. Como resposta ouve, vinda do jardim, a voz de Alfredo repetindo as suas juras de amor.
2.º ActoA acção do 2º acto inicia-se numa casa de campo, nos arredores de Paris, onde Violeta e Alfredo vivem juntos há 3 meses. Alfredo está feliz, o seu sonho tornou-se realidade. Mas a ilusão desfaz-se com a entrada de Annina, a criada de Violeta. Ela diz-lhe que Violeta tem estado a vender pouco a pouco todos os seus bens para poder manter aquela casa no campo. Surpreendido e preocupado, o jovem decide partir de imediato para Paris para arranjar dinheiro.
Durante a sua ausência Violeta recebe uma visita inesperada. É Giorgio Germont, pai de Alfredo, que vem tentar convencê-la a romper a ligação com o filho para que ele possa casar-se com alguém do seu meio. Violeta acaba por ceder. Ela ama demasiado Alfredo, e sempre soube que aquele era um amor sem futuro. Além disso, está tuberculosa e pouco mais tempo lhe restará de vida. Sempre com a intenção de lhe poupar um maior sofrimento, depois da saída de Germont, escreve uma carta a Alfredo onde diz desejar regressar à vida que levava anteriormente, bastante mais interessante do que a vida que têm levado juntos.
O 2º Quadro passa-se em casa de Flora, amiga de Violeta, durante uma animada recepção. Entre os convidados está Violeta com o seu novo amante, o Barão Douphol. Alfredo aparece. Vem desesperado e começa a jogar, fingindo ignorar a presença de Violeta. O Barão senta-se na mesma mesa, tornando-se as jogadas num conflito pessoal entre os dois homens.
Quando os convidados são chamados para a ceia, Violeta consegue ficar a sós com Alfredo. Em resposta às acusações do jovem, Violeta diz amar o Barão. Então Alfredo chama em alta voz todos os convidados, e, em presença de todos, numa fúria crescente, denuncia Violeta acabando por lhe atirar à cara o dinheiro do jogo dizendo ser o pagamento dos favores recebidos.
É então que chega Giorgio Germont que, para surpresa de Alfredo, toma a defesa da cortesã, e tenta chama-lo à razão. Mas o velho Germont não consegue impedir que Alfredo e o Barão marquem a data para um duelo.
3.º ActoO último acto passa-se em Paris, no quarto de Violeta que está agonizante.
O médico tenta animá-la, mas, ao sair, diz à criada que o seu fim está próximo. Violeta relê a carta do Senhor Germont em que este a informa que Alfredo feriu o Barão no duelo, sem gravidade, e que, ao saber a verdade, ao conhecer o seu sacrifício, decidiu ir visitá-la e implorar o seu perdão.
Alfredo chega nos últimos instantes da agonia de Violeta. Ela está feliz, quer mesmo sair, ir até à igreja agradecer a Deus o seu regresso, mas as forças faltam-lhe, e acaba por morrer nos braços do jovem.
RDP – Transmissões em "Noite de Ópera" desde 1996
1997 – 13 de Fevereiro
1997 – 25 de Setembro
2001 – 14 de Junho
Enredo resumido da autoria de Margarida Lisboa.