O jornalista e escritor Baptista-Bastos faleceu hoje, aos 83 anos.
A Antena 2 presta-lhe homenagem, retransmitindo esta terça-feira, duas entrevistas que deu à radio pública :
– Programa Quinta Essência, de João Almeida, entrevista realizada em Fevereiro de 2008.
Emissão às 19h00 – Para ouvir, clicar aqui
– Programa A Ronda da Noite, de Luís Caetano, entrevista realizada em Julho de 2014.
Emissão às 23h00 – Para ouvir, clicar aqui.
Armando Baptista-Bastos nasceu no Bairro da Ajuda, em Lisboa, a 27 de Fevereiro de 1934. Ficou órfão de mãe precocemente, aos seis anos de idade. O pai, tipógrafo, fundador dos jornais Diário Popular e Diário Ilustrado e chefe de tipografia em O Século, incute-lhe desde cedo a atitude proletária do trabalho da escrita e do jornalismo, que o acompanhará pela vida fora.
Realizou os estudos secundários na Escola de Artes Decorativas António Arroio, por querer ser arquitecto, e no Liceu Francês Charles Lepierre, em Lisboa, onde recebeu as marcas da cultura e da língua francófonas.
Começou a escrever aos14 anos, na secção infantil do Diário Popular, contos com um certo peso social e crítico. Entrou para O Século aos 19 anos, instituição conhecida à época no meio da imprensa por “Universidade” ou como lhe chamava Mário Zambujal “A Catedral”. O chefe de redacção Acúrcio Pereira foi decisivo nos primeiros anos de Baptista-Bastos como jornalista, fazendo-o trabalhar em rotatividade em todas as secções do jornal.
Em 1953 tornou-se subchefe de redacção de O Século Ilustrado, assinando uma coluna de crítica, comentário de cinema, e iniciando, assim, um estilo jornalístico inovador, controverso e polémico.
Participou na Revolta da Sé em 1959, o que levou ao seu despedimento d’ O Século. Desempregado, viveu com dificuldades fazendo algumas traduções de livros e estando sob a mira da polícia política, chegou a pensar exilar-se em Paris.
Participou na Revolta da Sé em 1959, o que levou ao seu despedimento d’ O Século. Desempregado, viveu com dificuldades fazendo algumas traduções de livros e estando sob a mira da polícia política, chegou a pensar exilar-se em Paris.
É nessas circunstâncias que conheceu o realizador de cinema Fernando Lopes, que o acolheu em sua casa, vivendo numa semi-clandestinidade. Trabalhou com ele em vários projectos, nomeadamente escrevendo os diálogos do filme Belarmino (1964), considerado um dos clássicos do Cinema Novo português. Colaborou ainda com Rogério Ceitil e Fernando Matos Silva nos documentários Ribatejo e Alentejo.
Em Fevereiro de 1962, vai com Fernando Lopes durante um mês para a Ericeira para fazer a adaptação do Domingo à tarde de Fernando Namora. Foi lá que escreveu a primeira versão do seu primeiro livro de ficção O Secreto Adeus, uma crítica ao jornalismo que existia na altura.
Baptista-Bastos com Fernando Lopes, 1962
Sob pseudónimo de Manuel Trindade, trabalhou durante uns meses na RTP – Rádio e Televisão de Portugal fazendo textos para noticiários e documentários de Fernando Lopes (Cidade das Sete Colinas, Os Namorados de Lisboa, Este século em que vivemos) e de Baptista Rosa (O Forcado, com imagem de Augusto Cabrita e a música Scketchs of Spain de Miles Davies). Meses mais tarde foi despedido pelo secretário nacional de informação por ter sido considerado um “adversário do regime”.
Mais uma vez no desemprego, passou sazonalmente pela redacção da Agence France Press, em Lisboa. Pouco tempo depois, entrou para o jornal República. A convite de Raul Solnado que tinha sido contratado pela TV Rio, foi para o Brasil como secretário do actor. A chegada coincide com o golpe militar contra o presidente Goulart, e Baptista Bastos de imediato envia notícias para o jornal República que são censuradas.
No regresso a Portugal, oito meses depois, regressa ao República, mas uns tempos mais tarde é convidado para integrar a Redacção do vespertino Diário Popular, onde irá trabalhar durante vinte e três anos (1965-1988), desempenhando importantes funções, assinando reportagens, entrevistas e crónicas, nos quais deixa a sua marca “com um estilo inconfundível” – segundo Adelino Gomes. É oportunidade também para viajar e escrever sobre Portugal e muitos outros países europeus, americanos, africanos, onde contactou e entrevistou personalidades mundialmente conhecidas, mas também o povo anónimo.
Em 1965, casa com Isaura Rodrigues Calado, que será a companheira de toda a sua vida, com quem tem três filhos.
Mais uma vez no desemprego, passou sazonalmente pela redacção da Agence France Press, em Lisboa. Pouco tempo depois, entrou para o jornal República. A convite de Raul Solnado que tinha sido contratado pela TV Rio, foi para o Brasil como secretário do actor. A chegada coincide com o golpe militar contra o presidente Goulart, e Baptista Bastos de imediato envia notícias para o jornal República que são censuradas.
No regresso a Portugal, oito meses depois, regressa ao República, mas uns tempos mais tarde é convidado para integrar a Redacção do vespertino Diário Popular, onde irá trabalhar durante vinte e três anos (1965-1988), desempenhando importantes funções, assinando reportagens, entrevistas e crónicas, nos quais deixa a sua marca “com um estilo inconfundível” – segundo Adelino Gomes. É oportunidade também para viajar e escrever sobre Portugal e muitos outros países europeus, americanos, africanos, onde contactou e entrevistou personalidades mundialmente conhecidas, mas também o povo anónimo.
Em 1965, casa com Isaura Rodrigues Calado, que será a companheira de toda a sua vida, com quem tem três filhos.
No final da década de 50, publicou o seu primeiro livro de ensaio, O Cinema na Polémica do Tempo, e três anos mais tarde, O Filme e o Realismo, onde propõe análises mais amadurecidas e aprofundadas no incipiente panorama ensaístico cinematográfico português.
Em 1969, publicou As Palavras dos Outros, obra sobre jornalismo, considerada por Fernando Dacosta “uma referência obrigatória na profissão”, tendo sido recomendada no I Curso de Jornalismo organizado pelo sindicato da classe. A este livro referiu-se ainda Luiz Pacheco como “Jornalismo feito literatura. Isto é, ascendendo ao plano da literatura: na contenção irónica, na sua capacidade de denúncia e intervenção, obrigando-nos à exploração psicológica dos tipos, no humor dos circunlóquios, principalmente no poder de síntese”.
Em 1973 editou o disco O Sinal do Tempo (crónicas) com música de António Victorino de Almeida (Edições Zip).
No pós-25 de Abril (dia que o marcou profundamente), depois de sair do Diário Popular, trabalha durante seis meses para João Soares Louro, no jornal Europeu. Segue-se O Diário, onde passa uma experiência única de cinco meses.
No pós-25 de Abril (dia que o marcou profundamente), depois de sair do Diário Popular, trabalha durante seis meses para João Soares Louro, no jornal Europeu. Segue-se O Diário, onde passa uma experiência única de cinco meses.
Na redação do Diário popular, 1979
Aos 56 anos, vê-se novamente desempregado, e com família a seu cargo, vira-se novamente para a tradução, e para a escrita de discursos de empresários e políticos.
Ao longo da sua actividade jornalística pertenceu, também, aos quadros redactoriais de outros jornais e revistas: Almanaque, Seara Nova, Gazeta Musical e de Todas as Artes, Época e Sábado. Como cronista colaborou com o Jornal de Notícias, A Bola, o Tempo Livre e, como crítico, com o Jornal de Letras, Artes e Ideias, o Expresso, o Jornal do Fundão e o Correio do Minho, numa actividade jornalística sempre complementar da literária.
Fundou, ainda nos anos 80, o semanário O Ponto, periódico onde realizou uma série de oitenta e duas entrevistas, entre outros textos e reportagens, posteriormente editadas no livro O Homem em Ponto.
Colaborou na rádio, nomeadamente na Antena 1 e na Rádio Comercial, com crónicas suas que lia aos microfones. Foi o primeiro comentador de “Crónicas de Escárnio e Maldizer”, da TSF – Rádio Jornal. Presença frequente em debates televisivos, é convidado por Emídio Rangel e pela SIC a apresentar o programa Conversas Secretas, entre Novembro de 1996 e Janeiro de 1998. Em 2001, conduz na SIC-Notícias um programa de entrevistas intitulado Cara-a-Cara.
A convite do jornal Público, no qual era cronista, realizou uma série de dezasseis entrevistas sob a designação “Onde é que você estava no 25 de Abril?”, posteriormente publicadas em CD-ROM. Foi ainda colunista do Diário de Notícias e do Jornal de Negócios.
Colaborou como docente na Universidade Independente (2003-2004), leccionando a disciplina de Língua e Cultura Portuguesas.
Colaborou na rádio, nomeadamente na Antena 1 e na Rádio Comercial, com crónicas suas que lia aos microfones. Foi o primeiro comentador de “Crónicas de Escárnio e Maldizer”, da TSF – Rádio Jornal. Presença frequente em debates televisivos, é convidado por Emídio Rangel e pela SIC a apresentar o programa Conversas Secretas, entre Novembro de 1996 e Janeiro de 1998. Em 2001, conduz na SIC-Notícias um programa de entrevistas intitulado Cara-a-Cara.
A convite do jornal Público, no qual era cronista, realizou uma série de dezasseis entrevistas sob a designação “Onde é que você estava no 25 de Abril?”, posteriormente publicadas em CD-ROM. Foi ainda colunista do Diário de Notícias e do Jornal de Negócios.
Colaborou como docente na Universidade Independente (2003-2004), leccionando a disciplina de Língua e Cultura Portuguesas.
Os livros de Baptista-Bastos (romances, crónicas, entrevistas, reportagens, ensaio cinematográfico) estão traduzidos em várias línguas – em checo, búlgaro, russo, alemão, castelhano e francês –, tendo sido igualmente objecto de estudos e teses de licenciatura em universidades portuguesas e estrangeiras e à sua obra – jornalística e literária – já foram atribuídos numerosos e prestigiados prémios: Prémio Feira do Livro (1966), Prémio Artur Portela / Casa da Imprensa (1978), Prémio O Melhor Jornalista do Ano (1980 e 1983), Prémio Nacional de Reportagem / Prémio Gazeta (1985) atribuído pelo Clube de Jornalistas, Prémio Casa da Imprensa (1986), Prémio Pen Clube (1987) e Prémio Literário Município de Lisboa (Prémio de Prosa de Ficção) (1987) para o livro “A Colina de Cristal”, Prémio Porto de Lisboa de 1988, Prémio da Crítica do Centro Português da Associação Internacional de Críticos Literários (2002) atribuído, em 2003, ao romance “No Interior da Tua Ausência” e como consagração de uma obra literária, o Grande Prémio da Crónica da Associação Portuguesa de Escritores, atribuído em 2003, ao livro “Lisboa Contada pelos Dedos”, publicado em 2001, Prémio Gazeta de Mérito (2004) atribuído por unanimidade pelo Clube de Jornalistas, Prémio de Crónica João Carreira Bom/Sociedade da Língua Portuguesa (2005) e Prémio Alberto Pimentel do Clube Literário do Porto, pelo conjunto da obra (2006).
Na Feira do Livro, 1985
Algumas obras de Baptista-Bastos:Poesia: Caminho e outros poemas (1951);
Ensaios: O Cinema na Polémica do Tempo (1959), O Filme e o Realismo (1962;1979);
Ficção: O Secreto Adeus (1963), O Passo da Serpente (1965), Cão Velho entre Flores (1974), Viagem de um pai e de um Filho pelas Ruas da Amargura (1981), Elegia para um Caixão Vazio (1984), A Colina de Cristal (1987 – Prémio Pen Clube e Prémio Cidade de Lisboa), Um Homem Parado no Inverno (1991), O Cavalo a Tinta-da-China (1995), No Interior da Tua Ausência (2002), As Bicicletas em Setembro (2007), A Bolsa da Avó Palhaça (2007);
Jornalismo: As Palavras dos Outros (1969), Cidade Diária (1972), Capitão de Médio Curso (1979), O Homem em Ponto (1984), O Nome das Ruas (1993, com António Borges Coelho), José Saramago: Aproximação a um Retrato (1996), Fado Falado (1999), Lisboa Contada pelos Dedos (2001), A Cara da Gente (2008), Tempo de Combate (2014).
Edição de L. D. Santos