Coro da Suggia
Ana Rosa Santos direção do coro
Inês Mesquita piano
Alexandre Delgado direção musical
Captação de Som: Hugo Guimarães / Antena 2
Realização do vídeo: Paulo Porfírio
Baila, Bailarino
Ciclo de Canções sobre Poemas de José Régio
1. Baila, bailarino
Cinge-te ao destino
de investir os ritmos
do teu corpo nu.A dor é baixeza
se por demais pesa
sobre a ligeireza
que afinal és tu.
O teu corpo é alma,
teu delírio, calma,
quando te abres, solto,
à imensidão aberta.
E se a chama se alteia
no fervor da ideia,
que tem que a plateia
pareça deserta?
Baila, acende a chama
que de ti se inflama
quando no teu corpo
se desfraldam asas.
Reduz-se a passado
tudo o que é pesado
se presente a alado
todo em ti te abrasas.
Bem que valha amor
que abrase sem dor
só no para além
a que livre te alteias.
Com asas no dorso
já não há remorso,
acaba-se o esforço
sem dores nem peias.
Baila, bailarino!
Cumpre o teu destino
de investir os ritmos
do teu corpo nu.
E talvez no fundo
qualquer vagabundo,
perdido no mundo,
seja afinal tu.
2. Lágrima, pérola
Lágrima, pérola,
que internamente
corres oculta,
dádiva cérula
viva e sepulta…
Corre e que a gente
da multidão
se agite, infrene,
baile simiesca,
roje no chão,
surda ao teu canto,
fonte perene!
Lágrima, pérola,
dádiva cérula,
queima e refresca
meu coração!
Corre e que a gente
da multidão
se agite, infrene,
baile simiesca,
roje no chão,
surda ao teu canto,
fonte perene!
Lágrima, pérola,
dádiva cérula,
queima e refresca
meu coração!
Fonte perene
desta canção!
3. Sob ortigas, heras
Sob ortigas, heras,
vem o teu cicio,
fonte que puderas
ser torrente, rio…
Nesse ninho oculto
sonhas, cantas, choras.
Cumpres teu destino
longe do tumulto
do mundo que ignoras.
A tua existência
mal chega até nós,
e só pela sua tímida insistência,
tua interminável, pequenina voz.
Como se no esconso
desse teu retiro
um cristal caindo
se partisse e se erguesse
num suspiro musical…
De tempos a tempos,
porque se afastara
por alguns momentos
do tumulto fútil,
passa alguém que pára
e sem querer repara
no teu canto inútil.
E logo regressa,
ébrio de novo,
ao seu mundo
enquanto recomeça
teu choro ou teu canto.
Sob ortigas, heras,
vem o teu cicio,
fonte que puderas
ser torrente, rio…
Nesse ninho oculto
sonhas, cantas, choras.
Cumpres teu destino
longe do tumulto
do mundo que ignoras.
Na sombra e no ermo,
lágrimas em fio,
fonte que puderas
ser torrente, rio!