Letra Original:
Romance de Santa Iria
‘Stando eu a coser
Na minha almofada,
Minha agulha d’ouro,
Meu dedal de prata,
Passou um passageiro,
Pedindo pousada,
Meu pai tão bom era,
Que tudo lhe dava.
Lá p’rá meia noite.
Me achei roubada.
Três léguas andadas
Sem me darem fala.
Indo para as quatro
Que me perguntaram:
– Tu na tua terra
Como te chamavas?
– Eu na minha terra
Iria estimada;
– Por estas montanhas
Vou ser desgraçada.
– Palavra que deste,
Vais ser degolada,
Entre dois penedos
Vais ser degolada.
Bela pastorinha,
Que gado guardais,
Que ermida é aquela
Que além avistais?
É Santa Iria
Bem aventurada.
Matou-a o tirano,
Morreu degolada.
– Iria, Iria
Meu amor primeiro,
Perdoa-me tudo,
Serei teu romeiro.
– Como hei-de perdoar-te,
Ladrão carniceiro,
Se de minha garganta
Fizeste um carneiro?
Veste-te de luto,
Sobe ao deserto,
Se Deus te perdoar,
Perdoar-te quero.