Estreia
Roma, Teatro Apollo – 17 fevereiro 1859
Libreto
A. Somma
Antecedentes
Viva VERDI!
Durante a sua carreira Giuseppe Verdi deparou-se algumas vezes com problemas relacionados com a censura. Numa Italia divida às postas os censores dos vários governos locais não lidavam muito bem com alguns aspectos da produção de Verdi – sobretudo quando esta podia ser associada a uma mensagem politica.
Nabucco, uma das primeiras óperas de Verdi fala-nos sobre judeus escravizados na Babilónia tendo-se tornado rapidamente num símbolo para uma Itália dividida e controlada por potências estrangeiras. Os austríacos controlavam o norte da Itália, os Bourbons governavam em Nápoles e o Papa detinha o poder em Roma e nos Estados Papais. O sentimento patriótico era grande e o movimento denominado por Risorgimento, adoptou Verdi como um símbolo e, em 1854, o compositor aliava-se aos monárquicos que depositavam a esperança de uma Itália unida em Vittorio Emmanuele, Rei do Piemonte e herdeiro da Casa de Sabóia.
É nesse ambiente, em 1856, que Verdi assinava um contratado com o Teatro de São Carlos de Nápoles para escrever "uma ópera com pelo menos 3 actos, a ser apresentada em Janeiro de 1858". Seduzido pelas obras do escritor inglês William Shakespeare, Verdi planeou uma ópera baseada no Rei Lear.
Como muitos outros compositores de ópera, Verdi escrevia frequentemente para um cantor específico e, para o Rei Lear, ele tinha pensado na soprano Maria Piccolomini, mas o Teatro não pode contratá-la. Então, Verdi foi forçado a abandonar estes planos e decide-se pelo libreto de Eugene Scribe, Gustave III. Deitou mão á obra e começou a trabalhar com o libretista Antonio Somma para fazerem a adaptação do texto de Scribe.
Nessa altura, os Bourbons ainda controlavam Nápoles, mas o receio de uma revolta era bastante evidente. O sentimento patriótico em torno de uma Itália unida crescera e os nacionalistas escreviam "Viva VERDI" em todos os lugares -sendo que "VERDI" não era mais do que a utilização do nome do compositor, associado ao movimento, como um acrónimo de "Vittorio Emmanuele Re D’Italia".
Entretanto, em Janeiro de 1858, Napoleão III sofria um atentado em Paris e o medo crescia no ceio dos Bourbons. Ora, tratando a ópera de um regicídio, era natural que a família que governava Nápoles tivesse medo que uma ópera assim pudesse inflamar as tensões e, portanto, rejeitaram o libreto que Verdi propusera.
Verdi e Somma já esperavam que o governo local ficasse insatisfeito, portanto, já tinham feito algumas alterações: o local foi alterado da Suécia para a cidade poloca de Settin; o título transformou-se em La Vendetta in Domino (Revolta Disfarçada) e a acção passava-se agora no século XVII. No entanto, os censores exigiam mais:
1º) mudar o papel masculino principal, transformando-o num homem comum, sem nenhuma indicação de realeza ou aristocracia;
2º) transformar a esposa em irmã;
3º) suavizar a cena de Ulrica, mudando-a para uma época anterior, quando as pessoas acreditavam em bruxas;
4º) eliminar o baile de máscaras;
5º) o assassinato deveria ocorrer fora do palco;
6º)cortar a cena onde tiram a sorte para ver quem seria o assassino
Verdi e Somma ficaram indignados – fazer todas essas alterações destruiria completamente o drama. A recusa era mais do que natural! Então, um dos empresários do Teatro de São Carlos, Luigi Alberti, processou Verdi por quebra de contrato. Ele produziu um novo libreto para Verdi usar, uma versão extremamente alterada, porém aceitável, da história de Gustavo III. Foi a vez de Verdi o processar. Alegava que Alberti o induziu em erro em relação às exigências do censor e que o libreto proposto não se adaptava à música que ele já havia feito.
O processo ganhou proporções tais que resultaram na rescisão do contrato de Verdi, ficando acordado que o compositor apresentaria uma das suas óperas anteriores em Nápoles no ano seguinte. Verdi levou então a sua ópera sobre Gustavo III para Roma, onde o censor papal pediu, somente, algumas pequenas mudanças. Verdi alterou o cenário para a Boston do século XVII e Un Ballo in Maschera estreou no Teatro Apollo de Roma, a 17 de Fevereiro de 1859.
A Itália, finalmente, tornou-se uma nação unificada nesse Inverno e tanto os Austríacos como os Bourbons foram expulsos. Os estados juraram fidelidade a Vittorio Emmanuele II, e com o novo Primeiro Ministro, Camillo Cavour, depois da estreia de Un Ballo in Maschera, Verdi concorria e era eleito para o primeiro Parlamento em Fevereiro de 1861.
Resumo
I Acto: Suécia, final do século XVII.
Na sala do trono, amigos e cortesãos esperam pela audiência da manhã com Gustav III, o rei. Entre eles estão o Conde de Horn e o Conde Ribbing, conspiradores que guardam rancor contra o rei por alegadas injustiças. Precedido pelo seu pajem, Oscar, o governante cumprimenta os visitantes, assegurando-lhes que as suas petições vão ser avaliadas com justiça. Quando Oscar lhe entrega uma lista de convidados para o próximo baile de máscaras, ele contempla o nome de Amélia, que ama em segredo.
Quando os requerentes partem, Gustavo III recebe o Conde Renato Anckarström, o seu leal e amigo secretário, marido de Amélia. Renato avisa Gustavo III sobre a conspiração e diz-lhe para tomar cuidado, tanto pelo bem da Suécia, como para seu próprio bem. Entra Oscar que anuncia a presença de um Juiz. Este quer a autorização do rei para banir uma feiticeira chamada Ulrica Arvidson. Pondo de lado o conselho prudente de Renato, Gustavo III decide que deve ser interessante visitar a feiticeira disfarçado para colocá-la à prova. Gustavo III reúne a corte e convida-os a juntarem-se com ele na cabana da feiticeira naquela tarde.
Na cabana de Ulrica, os seus clientes assistem curiosos à sua invocação dos poderes de Satã, para a ajudar nas adivinhações. Gustavo III entra, disfarçado de pescador e ouve Christiano, um marinheiro, pedir uma consulta. Quando Ulrica prevê uma promoção, Gustavo III escreve uma nota e coloca-a no bolso do marinheiro que a encontra quando vai pagar a Ulrica. Entretatnto aparece um criado de Amélia e Ulrica dispensa toda a assistencia. Gustavo III esconde-se e ouve a conversa.
Amélia entra através de uma entrada secreta e pede a Ulrica ajuda para superar o amor proibido que sente pelo rei. A feiticeira prescreve-lhe uma erva mágica que só existe num campo de enforcamento fora da cidade. Quando Amélia parte, Gustavo III promete que também estará lá naquela noite.
Ulrica volta chamar os outros clientes e o rei que, disfarçado, aproveita para perguntar sobre a sua sorte. Pela palma da mão, Ulrica reconhece que ele é alguém importante e, então, abruptamente, diz-lhe para não fazer mais perguntas. Quando ele a pressiona, ela diz que ele irá morrer muito em breve – não pela mão de um inimigo, mas pela de um amigo. Gustavo III recusa-se a aceitar o que foi dito por Ulrica e ri da superstição dos outros. Ele insiste em ouvir o resto da profecia. Ulrica diz que o assassino será o próximo a apertar sua mão. Então Gustavo III oferece a sua mão a todos, mas ninguém a aceita. Apenas Renato, que acaba de chegar e ignora a profecia, aperta a mão do monarca. Gustavo ri, pois como poderia ele ser assassinado por seu mais leal e confiável amigo?
Quando os conspiradores suspiram aliviados porque Ulrica não os implicou, Christiano aparece e lidera as pessoas num hino de louvor ao líder que todos eles agora reconhecem.
II Acto: Num campo desolado nos arredores da cidade, perto da meia-noite.
Amélia chega sozinha, apavorada por estar num lugar tão desolado. Ela procura a erva mágica. Quando ouve o bater da meia-noite, ela pensa ver o fantasma dum criminoso executado e pede a Deus misericórdia. Eis que aparece Gustavo III. Ele tenta acalmá-la com declarações de amor, no entanto, Amélia afasta-se lembrando o rei que é casada com o seu melhor amigo e insiste que ele parta. Gustavo III continua com as suas declarações ardentes e Amélia é assim obrigada a admitir que também o ama. Os dois são interrompidos por Renato, que seguiu o rei para o avisar de que os conspiradores tramam contra ele. Na escuridão, Renato não reconhece sua esposa, coberta por um véu e que se junta a ele insistindo que Gustavo III fuja para salvar sua vida. O rei recusa-se a partir até que Renato prometa que acompanhará a mulher até a casa sem perguntar a sua identidade.
Após Gustavo partir, Renato é confrontado pelos conspiradores, desapontados por não encontrarem o rei. Quando eles ameaçam Renato, Amélia remove seu véu para salvá-lo do perigo. Ele fica estupefacto ao reconhecer sua própria esposa. Claro que os condes acham a tudo isto uma grande piada: eles esperavam surpreender amantes secretos e encontraram um homem e sua mulher durante um passeio nocturno. Renato ordena-lhes que vão ter consigo à sua casa na manhã seguinte.
III Acto: Quando a noite dá lugar à madrugada.
Já em sua casa, Renato confronta-se com Amélia na privacidade de seu escritório. Ele está cego de raiva e ameaça matá-la. Ela suplica por uma oportunidade de abraçar pela ultima vez o seu único filho e ele deixa-a ir. Então, quando vê o retrato do rei, Renato decide que é Gustavo III quem deve morrer por ter traído sua amizade e arruinado a alegria de seu casamento.
Os condes aparecem. Pensam que Renato os vai processar; em vez disso, ele quer juntar-se à conspiração. Quando os três discutem quem será o assassino, Renato diz que será o destino a decidir: eles preparam-se para tirar à sorte quando volta a entra Amélia. Ela anuncia-lhes que Oscar chegou com uma mensagem do rei. Renato aproveita a entrada da mulher e faz com que ela retire um nome do vaso. Para seu gáudio é o seu próprio nome que é retirado. Entra Oscar. O pajem vem convidar Renato e Amélia para o baile de máscaras daquela noite e os conspiradores percebem que esta é a oportunidade que esperavam. Amélia espera conseguir avisar Gustavo III.
A segunda cena deste ultimo acto começa então no gabinete do rei. Indagando se Amélia havia chegado a casa em segurança, Gustavo III decide que deve terminar o romance e planeia fazer com que Renato e Amélia vão para Inglaterra. Oscar chega com um bilhete de uma dama desconhecida. Trata-se de um aviso acerca de um atentado contra a sua vida. Nesse bilhete é pedido ao rei que não vá ao baile.
No baile de máscaras, enquanto os convidados mascarados se misturam, Renato diz aos seus amigos conspiradores que ele tem medo que Gustavo III não venha. Ele é reconhecido por Oscar, que lhe diz que o rei, de facto está lá, mas que se recusa a descrever sua máscara. Quando Renato insiste, dizendo que tem assuntos importantes para discutir com o monarca, Oscar diz-lhe que o rei enverga uma capa preta com uma fita cor de rosa. Gustavo III aparece e é levado para um canto do salão de baile por uma mulher mascarada, que repete o aviso da carta. Ele reconhece Amélia e goza com a ideia da fuga, especialmente podendo ele ficar uma vez mais e, se calhar pela ultima vez, junto da mulher que ama. Enquanto os músicos tocam uma mazurca, ela acaba por admitir o seu amor e implora-lhe que se salve. Gustavo decide então contar a Amélia da sua decisão em mandá-la juntamente com Renato para a Inglaterra. Quando o rei lhe dá um último adeus, Renato sai da multidão e dá-lhe seu próprio adeus – um golpe fatal. A multidão fica ao redor de Renato, mas Gustavo III, ferido, ordena que o deixem em paz e, em seguida, diz que Amélia é inocente: embora ele a ame, o rei sempre respeitou a sua virtude e a honra do seu marido. Renato arrepende-se desta vingança precipitada e quando Oscar e a multidão ainda tentam assimilar o que acaba de acontecer, o moribundo perdoa os seus inimigos e despede-se uma ultima vez.