Estreia
16 de Fevereiro de 1784 em Esterháza
Antecedentes
Quando se pensa em Haydn, pensa-se logo nas sinfonias, nos quartetos de cordas, nas missas e oratórios e até nas suas obras para piano. Raramente se pensa em Haydn como compositor de ópera e se fizermos uma breve pesquisa pelas várias edições dedicadas à ópera, são raras aquelas que dedicam um espaço relevante a Joseph Haydn. Mas a verdade é que a produção operática em Haydn ocupou-lhe uma parte importante da sua vida, em particular no período entre 1776 e 1790. O primeiro trabalho de Haydn neste campo leva-nos até aos anos 50 do século XVIII quando ainda vivia em Viena auferindo rendimentos de diversas fontes. Compôs dois singspiels, cujas partituras se perderam, para uma companhia residente no Kärntnertortheater. Uma série de Árias, presentes na colecção da Biblioteca Nacional de Viena, sugerem que Haydn tenha também composto números individuais a pedido das companhias residentes em Viena. Contudo, parece que, nessa altura, Haydn ainda não tinha tido nenhum contacto com Burgtheater, o mais importante teatro de ópera de Viena desse tempo, pois este dedicava grande parte da sua temporada à Ópera Cómica Francesa.
O primeiro emprego "a tempo inteiro" de Haydn surge então em 1759 quando é convidado para o lugar de Kapellmeister do Conde Morzin. Durante o ano em que esteve neste lugar Haydn só comporia musica instrumental deixando a ópera de lado. Assim, Haydn só volta a este género quando é convidado para trabalhar com os Esterházy de quem se torna Vizekapellmeister em 1761, assumindo em pleno a responsabilidade pela música desta família em 1766. A partir daí e até à sua morte, Haydn vai compor para quatro príncipes desta casa e todas as suas óperas, com excepção de uma, serão dedicadas a esta família. As primeiras óperas que compôs foram apresentados num teatro montado numa das alas do Castelo de Eisenstadt, a residência principal daquela família a sudeste de Viena, mas a partir de 1768 estas apresentação passam a ter lugar no Palácio de Esterháza construído com intuito de servir de residência de verão aos príncipes. Aí, o segundo e mais extravagante dos patrões de Haydn, o Príncipe Nicolau, mandou construir dois teatros: o maior tinha capacidade para 400 pessoas e contava com todos os requisitos necessários para se fazer ópera italiana; o segundo, mais pequeno, foi inaugurado em 1773 e dedicava-se sobretudo à apresentação de ópera com marionetas. Como Kapellmeister, Haydn era responsável pela direcção artística de ambos os espaços, e em 1775 consegue instalar em Esterháza uma companhia de ópera que passava a garantir uma temporada regular como companhia residente, cujas apresentações alternavam com peças de teatro apresentadas por grupos em digressão. Assim Haydn levava à corte dos Esterházy as obras dos principais compositores do seu tempo: Pasquale Afossi, Alessandro Guglielmi, Giuseppe Sarti, Cimarosa, Gluck, Paisiello, e Piccinni, entre outros.
Por toda esta actividade compreende-se bem a ligação de Haydn com a ópera, quer como compositor, quer como maestro. Só no ano de 1786 Haydn assegurou 125 récitas de 17 óperas diferentes, oito das quais estreadas pela primeira vez em Esterháza. Com a morte do Príncipe Nicolau, em 1790, a temporada era abruptamente interrompida, precisamente no momento em que se preparava uma apresentação das Bodas de Fígaro de Wolfgang Amadeus Mozart. Nenhum dos sucessores de Niicolau demonstrou um especial interesse por ópera e os dois teatros de Esterháza acabaram por ser abandonados.
No seu auge, Esterháza chegou a empregar cerca de 45 pessoas durante as temporadas de ópera (cantores, cenógrafos, administradores, copistas, artistas plásticos e uma orquestra com cerca de 25 instrumentistas). Como centro de Ópera Italiana, a norte dos Alpes, pode-se dizer de alguma maneira que nesse auge Estarháza chegava a competir com grandes centros como Londres e São Petersburgo. No entanto, algo fazia de Estarháza um centro peculiar: em primeiro lugar está o seu isolamento. Estarháza ficava a cerca de 45 Km de distância da grande cidade mais próxima, Viena e, consequentemente, a companhia via-se privada duma vida operática mais agressiva, característica das grandes cidades europeias; em segundo lugar, o compositor residente, Haydn, não era italiano, nem tão pouco dominava a ópera italiana quando começou a trabalhar para os Esterházy – o seu conhecimento da ópera italiana provém precisamente do trabalho em Estarháza; por fim, a corte nunca empregou um poeta residente com quem Haydn pudesse trabalhar em parceria como aconteceu com Galuppi, Gluck ou Mozart. Assim, os libretos das óperas de Haydn tinham muitas vezes mais 20 anos e eram já libretos testados com sucesso por outros compositores. Não se sabendo ao certo sobre quem escolhia os temas das óperas de Haydn, pode-se afirmar com alguma certeza de que a aprovação final era do príncipe. No entanto, Haydn contou sempre com a ajuda de dois elementos da companhia de Estarháza para fazer a adaptação dos libretos: o tenor Carl Friberth e o encenador Nunziato Porta.
Um dos melhores exemplos de ópera apresentada em Esterháza, e até da importante ajuda que Porta dava a Haydn na revisão dos libretos é Armida, ópera em três actos, baseada num episódio da epopeia "Jerusalém Libertada", de Torquato Tasso.
Resumo
A acção decorre durante as cruzadas cristãs ao Médio Oriente. Do lado cristão encontra-se Rinaldo, o mais temido dos seus cavaleiros. Vendo a cidade de Damasco completamente cercada pelos cristãos, Idreno, um rei sarraceno, aproveita-se da beleza da sua sobrinha Armida para seduzir Rinaldo. Os dois apaixonam-se e Rinaldo vê-se dividido entre o amor que sente por Armida e o sentido de lealdade á causa cristã. Idreno sabe que enquanto Armida e Rinaldo estiverem juntos, os cristãos não constituirão uma ameaça para Damasco. No entanto o jovem cavaleiro cristão acaba por se decidir pelo sentido do dever e volta a juntar-se às tropas cristãs. Esta decisão deixa Armida destroçada. Incentivada pelos seus, ela decide usar os seus dotes de feiticeira para mais uma vez tentar a sua sorte com Rinaldo. Quando é atraído para a floresta encantada de Armida, Rinaldo ameaça abater a Murta mágica, plantada por Armida como símbolo do amor entre os dois. Armida implora-lhe que poupe a planta e resigna-se a acompanhar Rinaldo de volta ao seu acampamento. Ele fará a guerra e ela nunca mais o deixará.