Libreto: Richard Wagner baseado em Heinrich Heiner
Estreia: (Dresden) Teatro Real, 2 de Janeiro de 1843
PersonagensDaland
Senta
Erik
Maria
O Piloto
O Holandês
Antecedentes"As Fadas", "Proibição de Amar", "Rienzi" – as três primeiras óperas de Richard Wagner: uma estreada apenas depois da sua morte, uma outra que foi um fiasco, e que o levaria a demitir-se dum importante cargo que então ocupava, e, finalmente, o seu primeiro grande sucesso, "Rienzi", do qual o maior crítico acabaria por ser o próprio Richard Wagner.
Alguns anos depois da estreia, recebida com entusiasmo pelo público de Dresden, Wagner escreve a Liszt uma carta na qual se refere a "Rienzi" em termos pouco elogiosos: "Como artista e como homem, não me sinto suficientemente motivado para reestruturar esta obra antiquada que, pelas suas proporções exageradas, fui obrigado a remodelar mais de uma vez.
Falta-me ânimo para a ela me dedicar. Desejo sim, de alma e coração, fazer qualquer coisa de novo."
Para Wagner, "Rienzi" fora um erro de juventude, o último, já que a ópera seguinte, escrita praticamente na mesma altura e nas mesmas condições, marca um avanço importantíssimo, como se Wagner tivesse finalmente encontrado a sua forma de expressão por excelência, aquela que faria a síntese do Dramaturgo e do Músico, abrindo o caminho que o levaria da Ópera ao Drama Musical.
Estamos a falar de "O Navio Fantasma", levada a cena pela primeira vez em Dresden no dia 2 de Janeiro de 1843… 3 meses depois de "Rienzi" – "O Navio Fantasma", que iremos apresentar aqui esta noite numa gravação cedida pela BBC dum espectáculo que teve lugar no "Covent Garden" no dia 13 de Maio deste ano.
"O Navio Fantasma", ou seja "Der Fliegende Holländer" em tradução literal "O Holandês Voador".
Segundo aquilo que Wagner nos relata na sua autobiografia, foi no Verão de 1839, durante uma viagem de barco em que teve de defrontar uma violenta tempestade, que lhe surgiu pela primeira vez a ideia de escrever uma ópera baseada numa Lenda que fala dum navio assombrado que apareceria periodicamente aos navegantes.
O facto de a única documentação conhecida relacionada com "O Navio Fantasma" datar a penas de Maio de 1840, ou seja um ano depois da data referida por Wagner, não deverá surpreender-nos se tivermos em conta a forma como funcionava o seu génio criativo, uma forma para a qual o Tempo parecia não existir.
A 3 de Maio de 1840 compôs a Balada de Senta, a 26 de Julho, o Coro dos Marinheiros, escreveu o Poema em Maio de 1841 e a ópera estava terminada apenas em Novembro desse ano.
Para "O Navio Fantasma", Wagner baseou-se essencialmente numa narrativa de Heine, à qual acrescentou o tema da Redenção através do Amor. O Poema foi escrito, como dissemos, em Maio de 1841, numa altura em que Wagner estava em Paris, tentando em vão conquistar a capital francesa. Em Julho Léon Pillet, então Director da Operá, tem acesso a esse libreto, pelo qual, aparentemente, se entusiasma. Só que, em vez de encomendar a ópera ao jovem compositor alemão, encomenda-a a Pierre-Henry Dietsch. Os libretistas da ópera de Dietsch, Paul Foucher e Bénedict-Henry Révoil, inspiraram-se apenas parcialmente no libreto de Wagner, baseando-se essencialmente em outros textos, como uma novela dum tal Capitão Marryat, o romance "O Pirata" de Walter Scott, e em contos de Heine, Fenimore Cooper e Wilhelm Hauff. A estreia da ópera de Dietsch teve lugar em Novembro de 1842, mês em que se iniciaram, em Dresden, os ensaios da ópera de Wagner – o que levou Wagner a fazer substanciais mudanças no enredo. Poucas semanas antes da estreia, a acção da ópera decorria na Escócia, Daland chamava-se Donald e Erik chamava-se George. Depois foi tudo transferido para a Noruega.
Talvez como reacção ao gigantismo de "Rienzi", que tanto o importunara, Wagner começou por imaginar a sua nova ópera num único acto, destinado a ser representado antes dum bailado – o que a poderia tornar mais aceitável em Paris. Depois da rejeição da Operá, libertado dessa necessidade de ser aceite, Wagner estruturou a sua nova ópera em três actos que deveriam, no entanto, ser representados sem interrupção. Essa não iria ser, no entanto, a versão apresentada em Dresden, quando da estreia, para a qual Wagner escolheu uma fórmula mais discreta e tradicional, com intervalos.
1.ºActoConta a Lenda que, depois duma tempestade terrível, o Capitão dum navio Holandês jurara dobrar o Cabo da Boa Esperança, nem que para isso tivesse que navegar eternamente. O Diabo, que escutou esse juramento, condenou-o então a viajar pelos mares até ao Juízo Final sem esperança de redenção, a menos que encontrasse uma mulher capaz de amá-lo até à morte. Apenas de sete em sete anos esse Capitão é autorizado a ir a terra para tentar encontrar essa mulher que o redimirá.
A ópera inicia-se numa praia rochosa das costas da Noruega onde o barco de Daland vem procurar abrigo durante a tempestade. Quando a tempestade acalma, os marinheiros descem para o porão e Daland recolhe-se na sua cabine, deixando a guarda do convés ao Timoneiro, que acaba por adormecer. É então que o céu escurece subitamente, precedendo a chegada do Navio Fantasma, com os seus mastros negros e as suas velas vermelhas, que a tripulação recolhe sem fazer o menor ruído.
O Holandês desembarca falando do seu trágico Destino e dizendo que "outros sete anos se passaram". Ao vê-lo, Daland enche-o de perguntas, a que o Holandês responde narrando as suas desventuras. Depois pede-lhe abrigo em sua casa e a permissão de cortejar a sua filha, prometendo, em troca, numerosos tesouros, uma proposta que Daland aceita sem hesitações, e o 1º acto termina com a partida dos dois barcos rumo ao porto onde Daland mora.
2.ºActoO 2º acto passa-se em casa de Daland onde está Senta, a sua filha, com algumas amigas, a fiar, enquanto contempla, sonhadora, o retrato dum homem muito pálido com uma barba negra. As amigas brincam com esse seu devaneio, essa sua secreta paixão, e pedem-lhe para cantar a Balada do lendário Holandês Errante. Senta canta a Balada que fala da Lenda da Maldição e da Redenção pelo Amor, depois diz que ela irá ser essa mulher que irá salvar aquele homem amaldiçoado, sendo-lhe fiel. Chega então o jovem Erik, um apaixonado de Senta que vem informá-la da chegada do barco do seu pai, e as raparigas correm para o cais ao encontro dos Marinheiros. Senta faz tenção de seguí-las, mas Erik detem-na declarando-lhe o seu amor. Como a jovem nada responda, Erik fala então dum sonho que teve no qual viu saírem dum navio dois homens: Daland e um estranho de aspecto sombrio ao qual Senta se dirigia suplicante. Ao ouvir isto, a jovem exclama: "Ele está à minha procura e eu vou ao seu encontro!" Desesperado e horrorizado, Erik parte, e à porta aparecem Daland e o Holandês, pelo qual a jovem fica fascinada.
Depois de transmitir à filha o pedido feito pelo visitante, Daland sai deixando-os a sós. Então Senta revela ao Holandês a sua longa e secreta paixão, e o acto termina com o regresso de Daland que os cumprimenta pelo noivado.
3.ºActoO 3º acto passa-se no porto perto da casa de Daland onde os Marinheiros cantam e dançam com as jovens da terra. Por entre gritos convidam a tripulação do navio visitante a juntar-se às celebrações, mas não obtém resposta nenhuma. Depois, subitamente, o mar agita-se e um vento de tempestade silva pelo cordame, até que, envolta numa estranha luminosidade azulada, a tripulação do navio aparece e entoa uma canção que aterroriza as jovens, pondo-as em debandada, enquanto os marinheiros noruegueses fazem o sinal da Cruz. Tendo conseguido o efeito que pretendia, a tripulação do navio visitante desaparece por entre risos estridentes. De casa de Daland sai Senta seguida de Erik que continua a declarar-lhe o seu amor recordando-lhe o encorajamento que outrora nela encontrara. O Holandês, que chegara sem que eles o vissem, ouve a conversa e julga que Senta o traíra preferindo o amor de outro. Decide então partir, sem escutar os apelos da jovem. Mas Senta ama-o fielmente até à morte, e, ao ver o navio partir, depois do Holandês revelar a sua verdadeira identidade, sobe a um penhasco de onde se lança para o mar gritando o seu amor eterno.
RDP – Transmissões em "Noite de Ópera" desde 1996
1998 – 12 de Novembro
1999 – 28 de Outubro
2000 – 2 de Novembro
Enredo resumido da autoria de Margarida Lisboa.