"A morte é simplesmente deixar a sopa esfriar na mesa, cruzar a porta do jardim sem olhar para trás ao menos para dizer adeus a quem fica e tomar um caminho que não sabe por onde o leva e do qual nunca mais se retorna"*
"o significado deste dezembro no meu calendário secreto? (…) Sob os auspícios dos dias ilusórios, meu dezembro atrela-se à roda da fortuna e da sorte"*
Nélida Piñon (Rio de Janeiro, 3 Maio 1937 – Lisboa, 17 Dezembro 2022)
"Uma das grandes escritoras da América latina e a maior escritora brasileira viva."
Eduardo Lourenço
Herdeira de Sherazade, aprendiz de Homero, sucessora de Machado de Assis na direção da Academia Brasileira de Letras, Nélida Piñon é uma das mais amadas escritoras brasileiras do nosso tempo. Os seus livros trazem-nos o prazer da leitura e a aventura da escrita. Quer sejam romances, memórias, contos ou ensaios, revelam-nos a enorme erudição e profunda sensibilidade que esta vencedora do Prémio Príncipe das Astúrias alia a uma rara imaginação.
Durante toda a semana após a sua morte, Luís Caetano dedica-lhe as suas A Ronda da Noite, homenageando e celebrando a grande escritora brasileira, através da leitura de excertos dos seus livros e recuperando algumas das conversas gravadas com Nélida Piñon.
Para ouvir, aqui (19 Dez.), aqui (20 Dez.), aqui (21 Dez.) [a partir de 38’55”], aqui (22 (Dez.) e aqui (23 Dez.)
Um dia chegou a Sagres, que é como quem diz, a Portugal, tão próximo da sua genealogia galega, para viver uma temporada em Lisboa, para descobrir um pouco mais deste país – e este país a descobrir também -, refazendo o sentido da travessia.
Aqui escreveu grande parte do seu último romance, Um Dia Chegarei a Sagres, publicado em 2020.
Depois de já ter sido entrevistada a propósito da publicação em Portugal pela Temas e Debates do seu romance A República dos Sonhos por Luís Caetano em A Força das Coisas, emitida a 14 de fevereiro de 2015 (ouvir aqui), a escritora brasileira Nélida Piñon aceitou o convite da Antena 2 para uma série de conversas com Luís Caetano.
O programa A Força do Destino, título homónimo do seu romance, de 1977, foi emitido entre Outubro de 2018 e Março de 2019. São conversas de Nélida Piñon com Luís Caetano, entre memórias e ideias, de histórias e encontros de uma vida dedicada à língua portuguesa, sobre livros, música, lugares, e a vida à volta de tudo isto.
Para as escutar, clicar aqui.
"A Memória começa onde se nasceu."*
A de Nélida Piñon nasceu no célebre e típico barro carioca de Vila Isabel, cresceu entre a cultura brasileira e a galega, e desabrochou, como uma força do destino, num mundo inteiro, entre lugares de paixão e repúblicas de sonhos.
"E, a despeito das falências colectivas, esmero-me em ser fiel à gentileza, em atar e desatar elos que me fazem irmã do próximo"*
* Nélida Piñon – Coração Andarilho, Temas e Debates, 2011, p. 223, 188, 9, 36.
Nélida Piñon nasceu na Vila Isabel, no Rio de Janeiro, a 3 de Maio de 1937.
Descendente de Galegos, cresceu entre a cultura brasileira e galega. Ainda muito menina demonstrava paixão pelas palavras, escrevendo pequenas histórias que vendia ao pai e a familiares. Formou-se em Jornalismo, na Faculdade de Filosofia da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Lecionou em várias Universidades.
Foi eleita em 1989 para a Academia Brasileira de Letras, tendo sido a primeira mulher a assumir a presidência desta prestigiada instituição no ano do seu I Centenário, entre 1996 e 1997, e a primeira mulher a presidir uma Academia de Letras no mundo.
Professora catedrática da Universidade de Miami desde 1990 e doutor honoris causa das universidades de Santiago de Compostela, Rutgers e Montreal, entre outras. Desde 2004 é membro da Academia das Ciências de Lisboa.
Com uma vasta bibliografia, entre romances, contos, ensaios, discursos, crónicas e memórias, as suas obras foram traduzidas em mais de 30 países, e receberam inúmeros prémios nacionais e internacionais, entre os quais o Prémio Walmap (1969) pela novela Fundador, o Prémio Mário de Andrade (1972) por A Casa da Paixão, o Prémio Internacional Juan Rulfo de Literatura Latino-Americana e do Caribe (México, 1995), o Prémio da Associação Paulista dos Críticos de Arte e o Prémio Ficção Pen Clube, ambos em 1985, pelo romance A República dos Sonhos, o Prémio Iberoamericano de Narrativa Jorge Isaacs (Colômbia, 2001), o Prémio Rosalía de Castro (Espanha, 2002), o Prémio Internacional Menéndez Pelayo (Espanha, 2003), o Prémio Jabuti para o melhor romance (Brasil, 2005) por Vozes do Deserto, o Prémio Literário Casa de las Americas (Cuba, 2010) por Aprendiz de Homero; o Prémio El Ojo Crítico Iberoamericano (em 2015), o Prémio Príncipe de Astúrias das Letras pelo conjunto da sua obra (2015) – o primeiro escritor de língua portuguesa a consegui-lo -, e o Prémio Literário Vergílio Ferreira (2018).
Do percurso de Nélida Piñon, repleto de singulares conquistas, destacam-se:
– Membro da Academia Brasileira de Letras desde 1989, em 1996-1997 tornou-se a primeira mulher, em 100 anos, a presidir a Academia Brasileira de Letras, no ano do seu I Centenário, e a primeira mulher a presidir uma Academia de Letras no mundo;
– Primeiro autor de língua portuguesa e primeira mulher a receber o Prémio de Literatura Latinoamericana y del Caribe Juan Rulfo para conjunto de obra, em 1995.
– Primeiro autor de língua portuguesa e primeira mulher a receber o Prémio Ibero-Americano de Narrativa Jorge Isaacs para conjunto da obra, outorgado pelo Festival Internacional de Arte de Cali, Colômbia, em 2001;
– Primeiro autor de língua portuguesa e primeira mulher a receber o Prémio Internacional Menéndez Pelayo das mãos da Ministra de Educação e Cultura de Espanha, Pilar Del Castillo, em 2003.
– Prémio Puterbaugh Fellow, 2004, atribuído pela Universidade de Oklahoma e a revista The World Literature Today
– Primeiro escritor de língua portuguesa a receber o Prémio Príncipe de Astúrias, em 2005.
– Atribuição do título de Doutor Honoris Causa pela Universidade de Santiago de Compostela, Espanha, 1998. Foi a primeira mulher a recebê-lo em 503 anos. Foi-lhe atribuido por outras 6 universidades europeias e americanas, o mesmo grau.
– Primeiro autor de língua portuguesa e primeira mulher a receber o Prémio de Literatura Latinoamericana y del Caribe Juan Rulfo para conjunto de obra, em 1995.
– Primeiro autor de língua portuguesa e primeira mulher a receber o Prémio Ibero-Americano de Narrativa Jorge Isaacs para conjunto da obra, outorgado pelo Festival Internacional de Arte de Cali, Colômbia, em 2001;
– Primeiro autor de língua portuguesa e primeira mulher a receber o Prémio Internacional Menéndez Pelayo das mãos da Ministra de Educação e Cultura de Espanha, Pilar Del Castillo, em 2003.
– Prémio Puterbaugh Fellow, 2004, atribuído pela Universidade de Oklahoma e a revista The World Literature Today
– Primeiro escritor de língua portuguesa a receber o Prémio Príncipe de Astúrias, em 2005.
– Atribuição do título de Doutor Honoris Causa pela Universidade de Santiago de Compostela, Espanha, 1998. Foi a primeira mulher a recebê-lo em 503 anos. Foi-lhe atribuido por outras 6 universidades europeias e americanas, o mesmo grau.
Foi agraciada com mais de 40 condecorações nacionais e internacionais entre elas, a Ordem do Cruzeiro do Sul, a Comenda do Barão do Rio Branco, o Lazo de Dama, de Isabel La Católica, concedida pelo rei Juan Carlos, da Espanha; Grande Oficial da Ordem Infante D. Henriques, concedida pelo Presidente de Portugal; Medalha Aquila do México, Chevalier des Arts et des Lettres, etc.
Inúmeros estudos, dissertações de Mestrado e teses de Doutoramento, nacionais e estrangeiros, foram feitos sobre a sua obra. Integrou inúmeros Júris de Prémios Literários, como o Prémio Neustadt – World Literature Today, o Prémio Casa de las Américas, o Prémio Latino-Americano de Literatura, o Prémio Guimarães Rosa, o Prémio Camões, o Prémio Dom Quixote de La Mancha, entre outros.
Nélida Piñon faleceu em Lisboa, neste dia 17 de Dezembro, aos 85 anos.
Fotos Jorge Carmona / Antena 2 RTP
No Folio, Óbidos 2017 e nos Estúdios da Antena 2