4ª feira 17h00 | 6ª feira 13h00 | Sábado 04h00
Desde Janeiro de 2017
Um programa de João Pereira Bastos
Da iluminação da boca de cena…
… aos palcos das nossas vidas
Partimos do princípio de que Ribalta é muito mais do que um setor de iluminação, situado na parte da frente do palco. Ribalta concentra-se e expande-se de acordo com a memória do individuo e na dimensão que este lhe queira atribuir. Ribalta generaliza-se comumente como local de um espetáculo.
Da proposta inicial solicitada pelo Diretor da Antena 2, em finais de 2016, nasceu um programa em várias frentes, baseadas nas experiências do signatário como melómano, radialista, diretor teatral e mesmo encenador de alguns espetáculos muito específicos, ligados à sua longa atividade de produtor.
O visitar um passado de cerca de 70 anos, só acontece pelo desejo de um dia poder-se viajar no tempo. Um calcorrear auditivo do passado, pleno de defeitos e linhas estéticas hoje obsoletas, que nos confronta também com qualidades a preservar e como proposta para um amanhã, a reinventar.
O homem de mente sã tem uma visão real de um acontecimento que se realizou, por exemplo, há 30 anos; lembra-se enquanto a memória não o atraiçoa e pelo simples facto de o acontecimento ter sido vivido. Contudo é incapaz de entender um desejo de 30 anos no seu futuro. Imaginar um hiato de 30 anos a caminho do futuro é impossível, por ser um facto que ainda não aconteceu e, portanto, não passou pelo crivo da vida.
A vida de Ecos da Ribalta pertence ao passado, mas prevendo-se a divulgação para um futuro próximo. O programa divide-se em diversos ramos multidirecionais, desde que a palavra Ribalta se encaixe sem esforço na planificação.
A Ribalta do teatro musicado, é maioritariamente europeia ou americana.
A Ribalta do teatro de ópera é universal.
A Ribalta dos espaços para concertos é basicamente recolhida no arquivo nacional áudio da RTP. Reserva-se ainda um espaço de realizações históricas, preservadas não importa onde, mas sempre com a exigência de se tratarem de exibições ao vivo, sem montagens e verdadeiramente excecionais.
A Ribalta do teatro de prosa, é alimentada por textos importantes que viram a sua exibição confiada, durante décadas, ao universo hertziano, a partir do palco imaginário do teatro radiofónico.
A Ribalta dos espaços exteriores onde se exibem “espetáculos” perenes e não só, de escultores e demais artistas plásticos representativos de séculos de arte e das influências musicais da época em que viveram
A Ribalta, talvez no mais atrativo de todos os palcos, para o grande público, que não dispensa as ilusões em movimento, propostas por Thomas Edison e pelos irmãos Lumière, com acompanhamento musical criado para complementaridade da ação. Desde sempre, os filmes mantiveram uma união de facto com a música, mais ou menos elaborada e executada, durante as projeções do tempo do mudo. De há muitos anos a esta parte percorremos uma gigantesca autoestrada que nos encaminhou, ao correr dos tempos, para a melhor fidelidade de som que se possa imaginar. Como se sabe a dramaturgia do teatro de prosa, raramente comporta música de debitar constante. Em contrapartida o cinema quase nunca sobreviveu sem música de fundo. Só a partir da invenção da banda sonora ótica é que o cinema se tornou autónomo, do ponto de vista sonoro, sem os defeitos e interrupções que os grandes discos do sistema Vitaphone (não) proporcionavam, até serem postos de lado. Hoje o Dolby Atmos debita uma qualidade sonora sem defeitos, como nunca se ouviu, nem neste século, nem antes.
Ecos da Ribalta mantém ciclicamente reflexão sobre todos os temas referidos; é uma paixão alimentada pela consulta permanente dos arquivos e pelo aproveitamento e divulgação do que de relevante nos venha parar às mãos.
Partilhe connosco o que alguma memória já tinha esquecido.
Antena 2 onde quer que esteja, sempre!
João Pereira Bastos [Setembro de 2023]
Diretor da Antena 2 (1996-2005)