Letra Original:
Poemas de Arthur Rimbaud
I FanfareJ’ai seul la clef de cette parade sauvage.
II VillesCe sont des villes! C’est un peuple pour qui se sont montés ces Alleghanys et ces Libans de rêve! Des chalets de cristal et de bois se meuvent sur des rails et des poulies invisibles. Les vieux cratères ceints de colosses et de palmiers de cuivre rugissent mélodieusement dans les feux… Des cortèges de Mabs en robes rousses, opalines montent des ravines. Là-haut, les pieds dans la cascade et les ronces, les cerfs tettent Diane. Les Bacchantes des banlieues sanglotent et la lune brûle et hurle. Vénus entre dans les cavernes des forgerons et des ermites. Des groupes de beffrois chantent les idées des peuples. Des châteaux bâtis en os sort la musique inconnue… Le paradis des orages s’effondre… Les sauvages dansent sans cesse la fête de la nuit…
Quels bons bras, quelle belle heure me rendront cette région d’où viennnent mes sommeils et mes moindres mouvements?
IIIa PhraseJ’ai tendu des cordes de clocher à clocher, des guirlandes de fenêtre à fenêtre; des chaînes d’or d’étoile à étoile, et je danse.
IIIb AntiqueGracieux fils de Pan! Autour de ton front couronné de fleurettes et de baies, tes yeux, des bloues précieuses, remuent. Tachées de lies brunes, tes joues se creusent.
Tes crocs luisent. Ta poitrine ressemble à une cithare, des tintements circulent dans tes bras blonds. Ton coeur bat dans ce ventre où dort le double sexe.
Promène-toi, la nuit, en mouvant doucement cette cuisse, cette seconde cuisse et cette jambe de gauche.
IV RoyautéUn beau matin, chez un peuple fort doux, un homme et une femme superbes criaient sur la place publique: "Mes amis, je veux qu’elle soit reine!" "Je veux être reine!" Elle riait et tremblait. Il parlait aux amis de révélation, d’épreuve terminée. Ils se pâmaient l’un contre l’autre.
En effet ils furent rois toute une matinée où les tentures carminées se relevèrent sur les maisons, et toute l’après-midi, où ils s’avancèrent du côté des jardins de palmes.
V MarineLes chars d’argent et de cuivre –
Les proues d’acier et d’argent –
Battent l’écume, –
Soulèvent les souches des ronces.
Les courants de la lande,
Et les ornières immenses du reflux,
Filent circulairement vers l’est,
Vers les piliers de la forêt,
Vers les fûts de la jetée,
Dont l’angle est heurté par des tourbillons de lumière.
VI InterludeJ’ai seul la clef de cette parade sauvage.
VII Being BeauteousDevant une neige un Etre de Beauté de haute taille.
Des sifflements de mort et des cercles de musique sourde font monter, s’élargir et trembler comme un spectre ce corps adoré: des blessures écarlates et noires
éclatent dans les chaires superbes. Les couleurs propres de la vie se foncent, dansent, et se dégagent autour de la Vision, sur le chantier. Et les frissons s’élèvent et grondent, et la saveur forcenée de ces effets se chargeant avec les sifflements mortels et les rauques musiques que le monde, loin derrière nous, lance sur notre mère de beauté, – elle recule, elle se dresse. Oh! nos os sont revêtus d’un nouveau corps amoureux.
Oh la face cendrée, l’écussion de crin, les bras de cristal! Le canon sur lequel je dois m’abattre à travers la mêlée des arbres et de l’air léger!
VIII ParadeDes drôles très solides. Plusieurs ont exploité vos mondes. Sans besoins, et peu pressés de mettre en oeuvre leurs brillantes facultés et leur expérience de vos consciences. Quels hommes mûrs! Des yeux hébétés à la façon de la nuit d’été, rouges et noirs, tricolorés, d’acier piqué d’étoiles d’or; des facies déformés, plombés, blêmis, incendiés; des enrouements folâtres! La démarche cruelle des oripeaux! Il y a quelque jeunes…
O le plus violent Paradis de la grimace enragée!…
Chinois, Hottentots, bohémiens, niais, hyènes, Molochs, vieilles démences, démons sinistres, ils mêlent les tours populaires, maternels, avec les poses et les tendresses bestiales. Ils interpréteraient des pièces nouvelles et des chansons "bonnes filles".
Maîtres jongleurs, ils transforment le lieu et les personnes et usent de la comédie magnétique…
J’ai seul la clef de cette parade sauvage.
IX DépartAssez vu. La vision s’est rencontrée à tous les airs.
Assez eu. Rumeurs de villes, le soir, et au soleil, et toujours.
Assez connu. Les arrêts de la vie. O Rumeurs et Visions!
Départ dans l’affection et le bruit neufs!
Arthur Rimbaud (1854 – 1891)
Tradução para Português:
Poemas de Arthur Rimbaud
I FanfarraEu, só eu, tenho a chave desta parada selvagem
II CidadesEstas são as cidades! Este é um povo para quem se ergueram Alleghanys e Líbanos de sonho!
Chalets de cristal e de madeira movem-se em invísiveis trilhos e roldanas. As velhas crateras cercadas de colossos e palmeiras acobreadas rugem melodiosamente nos fogos… Cortejos de Mabs vestidas de arruivado e de opalino sobem das ravinas. Lá em cima, com os pés na cascata e nos espinheiros, os cervos amamentam Diana. As bacantes dos subúrbios soluçam e a lua arde e grita. Vénus entra nas cavernas dos ferreiros e dos eremitas. Grupos de sinos de rebate cantam as ideias dos povos.
Dos castelos construídos de osso sai a música desconhecida… O paraíso das tempestades desmorona-se… Os selvagens dançam sem cessar a festa da noite…
Que amáveis braços, que bela hora me devolverão esta região de onde vêm os meus sonos e os meus mais pequenos movimentos?
IIIa FraseEu estendi cordas de campanário a campanário; grinaldas de janela a janela; cadeias de ouro de estrela a estrela e eu danço.
IIIb AntiguidadeGracioso filho de Pan! À volta da tua fonte coroada de pequenas flores e de bagas, movem-se os teus olhos, preciosas esferas. Manchadas de sedimentos castanhos as tuas faces se escavam. Os teus dentes brilham. O teu peito assemelha-se a uma cítara, as badaladas circulam nos teus braços louros. O teu coração bate no ventre onde dorme o duplo sexo.
Passeia, à noite, movendo suavemente esta coxa, esta segunda coxa e esta perna esquerda.
IV RealezaUma bela manhã, entre um povo muito sereno, um homem e uma mulher arrogantes gritavam na praça pública: "Meus amigos, eu quero que ela seja rainha!" "Eu quero ser rainha!" Ela ria e tremia. Ele falava aos amigos de revelação, de prova terminada. Eles extasiavam-se agarrados.
Com efeito eles foram reis durante uma manhã inteira quando as tapeçarias de carmim realçavam sobre as casas e toda a tarde quando caminharam em direcção aos jardins de palmeiras.
V MarinhaOs carros de prata e cobre –
As proas de aço e prata –
Batem a espuma, –
Levantam as cepas dos espinheiros.
As correntes da charneca
E os sulcos imensos do refluxo
Correm em círculos para leste,
Para os pilares da floresta,
Para as colunas do molhe
Cujo ângulo é batido por turbilhões de luz.
InterlúdioEu, só eu, tenho a chave desta paragem selvagem
Ser de BelezaPerante uma queda de neve um Ser de Beleza de alta estatura.
Assobios de morte e círculos de música surda fazem elevar-se, alargar-se e tremer como um espectro este corpo adorado; feridas escarlates e negras irrompem na carne magnífica. As cores próprias da vida tornam-se mais escuras, dançam e evaporam-se à volta da Visão sobre o local. E os calafrios elevam-se e bramem, e o sabor arrebatado destes efeitos carregando-se com os assobios mortais e as roucas músicas que o mundo, longe, atrás de nós, lança sobre a nossa mãe de beleza – ela recua, ela veste-se. Oh! os nossos ossos são revestidos por um novo corpo amoroso.
Oh! a face cinzenta, o escudo de cabelos, os braços de cristal! O canhão sobe o qual eu devo abater-me através da confusão das árvores e do ar ligeiro!
VIII ParadaPatifes muito seguros. Vários exploraram os vossos mundos. Sem necessidades e pouco apressados em pôr em acção as suas brilhantes faculdades e a sua experiência das vossas consciências.
Que homens maduros! Olhos embotados como uma noite de verão, vermelhos e negros, tricoloridos, como aço picado com estrelas de ouro; faces deformadas, de chumbo, empalidecidas, incendiadas; rouquidões divertidas! A marcha cruel do ouropel! Há alguns jovens…
Oh! o mais violento Paraíso da carranca enraivecida!… Chineses, hotentotes, boémios, néscios, hienas, Molochs, velhas loucuras, demónios sinistros, eles misturam as voltas populares, maternais com poses e carícias bestiais. Eles interpretariam novas peças e "respeitáveis" canções. Senhores charlatães, eles transformam o lugar e as pessoas e usam a comédia magnética.
Eu, só eu, tenho a chave desta parada selvagem.
IX PartidaBastante visto. A visão encontra-se em qualquer parte.
Bastante vivido. Sons da cidade, à noite, ao sol, e sempre.
Bastante conhecido. As paragens da vida. Rumores e visões
Partida entre novos afectos e ruído!
Arthur Rimbaud (1854 – 1891)
Tradução – RDP – Maria de Nazaré Fonseca