LibretoRichard Wagner
EstreiaWeimar, Alemanha em 28 de agostode 1850 sob a direção de Franz Liszt
AntecedentesA curiosidade de Wagner em relação à lenda de Lohengrin nasce no inverno de 1841-1842. O compositor contacta pela primeira vez com esta história, através do prólogo e dos comentários presentes no método da Sociedade Germânica de Königsberg. Entretanto, no verão de 1845, o compositor vê-se completamente mergulhado nas lendas ligadas ao Santo Graal. Lê os poemas "Perceval" e "Titurel" de Wolfram Eschenbach, e o épico anónimo "Lohengrin", numa edição de Johann Görres.
A 3 de Agosto desse mesmo ano é-lhe proposta uma nova produção. Lohengrin parece a história ideal e a 27 de Novembro o libreto está pronto. No verão seguinte Wagner tem já um primeiro esboço completo e inicia a orquestração pouco tempo depois, tendo finalizado a partitura no dia 28 de Abril de 1848, após algumas revisões. A estreia de Lohengrin dá-se a 28 de Agosto de 1850 no teatro da corte em Weimar sob a direcção de Franz Liszt, no entanto Richard Wagner, que estava exilado na Suiça só pode assistir à sua ópera 11 anos mais tarde, quando esta estreou em Viena.
Rei Henrique I, o Passarinheiro
A personagem do Rei Heinrich em Lohengrin basea-se no fundador histórico da dinastia de reis e imperadores da Saxónia, o Rei Henrique I. Nascido por volta de 876 D.C., Henrique tornou-se Duque da Saxónia após a morte de seu pai em 912 e foi proclamado rei da Germânia em 919. Ele uniu partes do antigo Franco Reino do Leste para fundar o Império Alemão da Idade Média, do qual foi soberano até sua morte em 936.
Henrique não era um imperador omnipotente, mas um "primus inter parres" (primeiro entre pares), o líder de uma confederação de poderosos ducados tribais. A sua relação com os próprios nobres era confusa – ele foi eleito rei pelos nobres de dois ducados, mas precisou de invadir outros territórios, forçando-os a aceitá-lo como rei. Os governantes de cada ducado juraram lealdade e apoio a Henrique, mas mantiveram o controlo das suas terras.
Na cena de abertura de Lohengrin, o Rei Henrique está a preparar-se para defender seu reino dos invasores húngaros, uma passagem baseada em eventos históricos. Os magiares (húngaros) foram uma ameaça para a Alemanha durante bastante tempo. Em 924, Henrique começou a pagar-lhes um tributo anual para impedi-los de invadir o seu reino. Ele usou a paz que o tributo lhe comprou para recrutar um exército maior e treinar os seus homens nas técnicas de guerra mais modernas. Quando Henrique se negou a pagar o imposto em 933, seu exército era forte o suficiente para derrotar os magiares. Numa grande batalha, salvou seu império da invasão.
Depois de assegurar aquela fronteira, o Rei Henrique voltou suas as atenções para o Ocidente, estendendo o seu domínio aos territórios em redor e além da foz do Rio Elba. Todas as tribos germânicas estavam unidas quando Henrique morreu no dia 2 de Julho de 936. Por isso Henrique I é considerado o primeiro dos reis alemães. O seu filho e sucessor Otto foi o primeiro imperador oficial do Sacro Império Romano.
A lenda de Lohengrin
Wagner baseou-se para a sua ópera no épico medieval anónimo Lohengrin, mas o conto do Cavaleiro do Cisne tem raízes mais profundas. A lenda de Lohengrin funde dois temas folclóricos comuns: a curiosidade feminina que não consegue resistir a questionar os mistérios marido, e o cisne que se transforma num ser humano. O tema da curiosidade feminina é encontrado em histórias que vão desde o velho mito de Cupido e Psique ao conto do Barba Azul. Cisnes que se transformam em pessoas são vistos nos contos de Hans Christian Anderson e dos Irmãos Grimm.
A própria lenda de Lohengrin remonta à Idade Média, e existem diversas versões tanto na Alemanha, como na França e na Inglaterra. O Lohengrin alemão apareceu pela primeira vez nas estrofes do "Parzival" de Wolfram von Eschenbach. Parsifal, o Rei do Graal, envia seu filho Lohengrin para ajudar a jovem duquesa de Brabante. Guiado por um cisne gracioso, ele viaja até Antuérpia e casa-se com a duquesa sobre uma condição: ela nunca poderá perguntar quem ele é ou de onde veio. Quando ela quebra a sua promessa, Lohengrin deixa-a para sempre.
Entre 1283 e 1290, um anónimo discípulo bávaro von Eschenbach adaptou a história, criando o poema épico Lohengrin. O poema incluía episódios sobre as proezas de Lohengrin como um guerreiro em torneios e na batalha contra os húngaros.
Descobrindo Lohengrin
Wagner interessou-se pelo tema de Lohengrin pela primeira vez durante a sua estadia em Paris, depois de ler um artigo sobre o épico escrito pelo Professor Lucas, um dos académicos na Universidade de Königsberg. Tempos mais tarde recordaria "todo um mundo novo se abriu diante de mim, e apesar de não encontrar naquele momento a inspiração necessária para trabalhar este Lohengrin, sua imagem persistiu inapagável dentro de mim".
Contudo foi no verão de 1845 que Wagner iria ficar completamente vidrado no tema. Ele estava exausto por causa do seu trabalho como regente em Dresden e o seu médico recomendou-lhe repouso. Wagner decidiu seguir para as termas de Marienbad. Como leitura de verão, levou consigo os poemas "Parzival" e "Titurel" de Wolfram von Eschenbach, e o épico alemão anónimo Lohengrin. "Ali repentinamente apareceu ante os meus olhos um Lohengrin completo em todo o seu contexto dramático; particularmente a saga do cisne – tão simbólico e com tanto significado naquele conjunto de mitos com os quais me familiarizei através dos meus estudos – exerceu uma enorme fascinação na minha imaginação".
Tentando relaxar e determinado a evitar qualquer composição, Wagner lutou contra o seu deslumbramento. Ele tentou tirar Lohengrin de sua mente brincando com a idéia de uma nova comédia sobre o tema de Os Mestres Cantores de Nuremberga. Já que era um tema cómico, Wagner imaginava realizar esboços sem muito empenho, acabando por escrever todo um rascunho daquilo que viria a ser Os Mestres Cantores de Nuremberga.
Mas nem mesmo os Mestres Cantores conseguiram impedir que Wagner pensasse em Lohengrin. Wagner escreveu que certa vez, ao entrar numa banheira em Marienbad, "fui subitamente tomado por um poderoso desejo de transcrever Lohengrin para o papel; Em vez de passar o tempo a auto-disciplinar-me na minha banheira, pulei para fora, impaciente, e depois de alguns minutos, ainda mal vestido, corri como um louco para meu alojamento para escrever aquilo que estava na minha cabeça". Vários dias depois, Wagner completou um detalhado esboço de Lohengrin. O seu médico considerou Wagner um caso perdido. Wagner ficava tão excitado com as suas ideias que, muitas vezes era visto à noite a andar de um lado para o outro em vez de dormir.
Wagner era obcecado por um conjunto de ideias básicas que desenvolveu, adaptou e combinou durante sua carreira. Ideias musicais, filosóficas, místicas e mitológicas formavam uma complexa teia de conceitos afins à sua imaginação. À medida que os seus conceitos filosóficos e políticos evoluíam, o compositor mudava muitas vezes de opinião sobre o significado de uma imagem ou história favorita. O tema central de Lohengrin está um tanto relacionado ao de Tanhäuser, ópera anterior. O autor do Lohengrin medieval alegava que o seu poema foi inventado por Wolfram von Eschenbach, o qual Wagner tornou personagem no seu Tannhäuser, na famosa competição que inspirou o segundo acto dessa ópera. Com Lohengrin, Wagner começou a trabalhar com algo que o fascinaria para o resto de sua vida: o Santo Graal. De tal maneira que a sua última ópera, Parsifal, centra-se no pai de Lohengrin, o misterioso Rei do Graal.
Resumo
Antes de falecer, o duque de Brabante confiara os seus filhos, Elsa e Godofredo, ao cuidado do conde Frederico de Telramund, tendo-lhe prometido a mão de Elsa, assim que esta tivesse idade para se casar. No entanto, o conde Frederico acabara por se casar com Ortrud, membro da família do príncipe frísio Radbod, que foi o soberano do país até à altura em que se dá a cristianização. É nesse período que o irmão de Elsa, Godofredo, desaparece sem deixar rasto.
Entretanto a situação politica tornou-se muito instável. O rei alemão, "Enrique o Passarinheiro", chega a Brabante na esperança de obter a ajuda necessária para travar a ameaça húngara, a leste. Acontece que Brabante, nesse momento, ficou sem soberano.
I. Acto
E assim começa o 1º Acto desta ópera: estamos num prado junto á margem do rio Escalda, nos arredores de Amberes. Telramund acusa Elsa de ser responsável pela morte de seu irmão. Esta é forçada a nomear um cavaleiro para a representar num combate contra o seu acusador. Assustada, enquanto reza, Elsa tem a visão do homem que virá em seu socorro e defrontará Telramund. Visão que se transforma rapidamente em realidade com a chegada de um estranho que aceita o desafio de representar Elsa. Este vence Telramund. O cavaleiro, que é Lohengrin, deverá ficar em Brabante como novo soberano e esposo de Elsa, na condição dela não fazer perguntas acerca do seu nome ou da sua origem.
II. Acto
Castelo de Amberes
Telramund e Ortrund anseiam o poder, então, Ortrund levanta suspeitas sobre a origem nobre do misterioso cavaleiro que aparecera em Brabante. Prepara-se então a cerimonia para as núpcias de Lohengrin com Elsa. Durante a cerimónia Ortrund e Telramund tentam, sem grande sucesso, desacreditar o jovem Lohengrin – o casamento acaba mesmo por se realizar.
III Acto
O 3º Acto de Lohengrin começa nos aposentos da noiva, onde Lohengrin e Elsa descansam. Então Elsa formula a questão proibida. Lohengrin vê-se obrigado a responder e a revelação cai que nem uma bomba: O seu nome é Lohengrin e ele é um cavaleiro do Graal. Ele é o filho de Perceval.
Voltamos á pradaria do primeiro acto, nas margens do rio Escalda. Segundo as regras do Graal, agora que o segredo foi desvendado, Lohengrin tem que voltar para Montsalvat. Surge então um cisne branco, que à medida que Lohengrin se afasta, se transforma no desaparecido Godofredo. Elsa cai inanimada no chão.