Libreto: Piave de Saavedra e Schiller
Estreia: São Petersburgo, Teatro Imperial, 10 Novembro 1862
PersonagensMarquês de Calatrava
Leonora de Vargas
Curra
Don Alvaro
Um Alcaide
Don Carlos de Vargas
Mestre Trabuco
Preziosilla
Superior do Covento
Frei Melitone
Médico
AntecedentesDas 28 óperas escritas por Verdi apenas 6 foram estreadas fora da Itália. Dessas 6, 3 subiram pela 1ª vez a cena em Paris, na Opéra. As estreias das outras 3 tiveram lugar em Londres, no Cairo e em São Petersburgo.
É esta última, estreada na capital do império do Czar Alexandre, que vamos apresentar aqui esta noite. Trata-se da "Força do Destino" escrita por Verdi em 1861 entre "Um Baile de Máscaras" e "Dom Carlos".
Quando recebeu o convite para escrever uma ópera para São Petersburgo, Verdi começou por propor como tema "Ruy Blas" de Victor Hugo – que não terá agradado à censura de Alexandre II que o considerou pouco respeitoso para com a monarquia. O compositor virou-se então, de novo, para a literatura espanhola, que já lhe fornecera algumas lendárias absurdidades como "O Trovador", e foi buscar um melodrama de 1835 de Angelo Perez de Saavedra que obtivera algum sucesso quando da estreia em Teatro. A qualidade do enredo era igualmente medíocre, mas estava, talvez por isso mesmo, recheada de situações dramáticas – o que terá agradado ao compositor. Aliás, em 1861, Verdi era já um homem com grande experiência do ofício, e sabia que nem sempre as melhores peças de teatro davam uma boa ópera, já que, em princípio, as grandes obras teatrais se bastam a si próprias, e que o elemento "música" se revela frequentemente como um elemento redutor. Saavedra iria funcionar. Piave escreveu o libreto, e, entre Junho e Novembro, Verdi escreveu a música. A estreia teve lugar um ano mais tarde, no dia 10 de Novembro, no Teatro Imperial de São Petersburgo.
1.º ActoA acção desenrola-se em Espanha e em Itália durante o século XVIII, e a ópera inicia-se num castelo perto de Sevilha onde o Marquês de Calatrava vem visitar a sua filha Leonora, Condessa de Vargas. O que o velho Marquês ignora é que ela se prepara para fugir precisamente essa noite com Don Alvaro, um peruviano desprezado pela fidalguia. Quando ele sai, Leonora confessa à sua aia, Curra, os remorsos que sente por ir romper com a família. Aparece Don Alvaro a quem a jovem propõe adiar a fuga para a noite seguinte para poder voltar a ver o pai uma última vez. Mas Don Alvaro pensa que esta atitude mais não é do que uma desculpa, acreditando que Leonora já não o ama. Ela diz que isso não é verdade, que está disposta a segui-lo até ao fim do mundo. Alertado pelo barulho das vozes, o Marquês que regressa e surpreende os dois apaixonados. Acusa então Don Alvaro de ter seduzido a filha, ao mesmo tempo que o insulta chamando-o mestiço. Don Alvaro defende-se, afirma que as suas intenções são as mais puras, e, em sinal de submissão, entrega as armas. Só que, infortunadamente, uma das pistolas, ao cair no chão, dispara e atinge mortalmente o Marquês. Antes de morrer, o velho Calatrava tem ainda fôlego para lançar uma maldição sobre a filha. Assim termina o 1º acto.
2.º ActoO 2º acto inicia-se numa estalagem onde Leonora, disfarçada de homem, está na companhia de Trabuco, um negociante de mulas. A jovem reconhece entre os visitantes o seu irmão, Don Carlos de Vargas, que ali se encontra também sob um disfarce de estudante.
Leonora aproveitara a confusão gerada pela morte do pai para fugir, não com Don Alvaro, que nunca mais vira, mas para procurar um convento onde pretende terminar os seus dias. Por seu lado Don Carlos assumiu como sua a missão de procurar o assassino e vingar a morte do Marquês.
Leonora esconde-se para não ser reconhecida, e Don Carlos e os seus companheiros escutam as propostas de Preziosilla, uma boémia que se dedica ao negócio de recrutar jovens para o exército. Depois de pintar a guerra, que acaba de eclodir em Itália com as cores mais apetecíveis, lê as mãos de Don Carlos nelas descobrindo que ele não é um estudante, e que o seu Destino não é dos mais invejáveis. Passa então um grupo de peregrinos aos quais todos os presentes se juntam nas orações. Todos menos Don Carlos que nada faz desviar a atenção do seu único objectivo: a vingança.
Perturbado pela presença de Leonora, que acaba de avistar sem a reconhecer, Don Carlos interroga Trabuco acerca dela. Mas Trabuco responde apenas com evasivas, iniciando por sua vez a sua própria investigação. É assim que fica a saber os planos do falso estudante, transmitindo-os a Leonora, que, pelo que o seu companheiro lhe revela, compreende que Alvaro ainda vive, e que a abandonou à sua sorte.
No quadro seguinte vemos Leonora chegar à porta do convento ao alvorecer. Vem cansada da caminhada, e faz uma breve oração à Virgem antes de bater. Ao postigo aparece Frei Melitone que, achando imprópria a hora, a manda voltar mais tarde. Acaba, no entanto, por ceder, e leva Leonora até ao Superior do Covento. Este assusta-se ao compreender tratar-se não apenas duma mulher mas de Leonora de Vargas, mas a jovem implora-lhe que a veja apenas como uma penitente cujo único desejo é o de viver enclausurada numa cela isolada, contígua ao mosteiro. Então o Superior do Convento convoca toda a congregação fazendo jurar a todos nunca se aproximarem do eremitério de Leonora. Em caso extremo, a reclusa poderá fazer soar um sino para alertar o Superior.
O acto termina com uma oração dominada pela voz de Leonora.
3.º ActoNo 3º acto vamos encontrar Don Alvaro que, sob um nome falso, se tornou capitão dos exércitos espanhóis que combatem em Itália. No acampamento de Velletri, caminhando dum lado para o outro entre as tendas, Don Alvaro lamenta o seu miserável destino: o seu pai, um espanhol, casou com uma princesa inca, e tentou fundar um estado independente no Perú, e ele nasceu na prisão pouco tempo antes da execução dos pais. Agora a desgraça persegue-o no seu malogrado amor por Leonora, que julga morta.
É tirado das suas reflexões um grito, e precipita-se para salvar a vida a um oficial envolvido numa rixa. Esse oficial não podia ser outro se não Don Carlos de Vargas, aquele que o jurou de morte. Os dois homens nunca se tinham visto, e juram amizade eterna. A confusão do combate põe termo a esta cena comovente, e ambos correm para a frente de batalha.
No quadro seguinte vemos Don Alvaro ser transportado gravemente ferido para a tenda de Don Carlos, que o felicita pela sua bravura e lhe promete a Ordem de Calatrava. Ao ouvir pronunciar aquele nome, Don Alvaro estremece. Presa dum terrível pressentimento, entrega ao amigo a chave dum pequeno cofre, fazendo-o jurar que o destruirá se alguma coisa lhe acontecer. Don Carlos jura. Os enfermeiros levam Don Alvaro, e Don Carlos fica só. Examina com curiosidade o cofre que lhe foi confiado, e, sentindo uma estranha premunição, decide abri-lo. A sua intuição não o enganara: dentro do cofre está um retrato de Leonora. O seu companheiro de armas é mesmo o Inca maldito que procura há tanto tempo. Se sobreviver aos ferimentos, morrerá à suas mãos. O médico está optimista, e Don Carlos dá largas à alegria.
Passados dois meses, numa praça de Velletri, junta-se uma multidão: soldados espanhóis, soldados italianos, monges e gente do povo. É aí que Don Alvaro encontra Don Carlos que lhe pergunta se já se sente com forças para se bater em duelo. "Com quem?" – pergunta Don Alvaro. Quando Don Carlos lhe revela a sua verdadeira identidade, e o informa que Leonor ainda vive, Don Alvaro começa por recusar desembainhar a espada. Apenas alguns insultos o fazem tomar essa decisão. Mas os dois adversários são separados por outros combatentes, e Don Alvaro compreende que não lhe resta outro destino que não seja o convento. O acto termina com algumas cenas pitorescas onde intervêm Frei Melitone, Preziosilla e Trabuco.
4.º ActoO último acto passa-se 5 anos mais tarde, e inicia-se nos claustros do mosteiro onde se juntou uma multidão de mendigos que esperam as esmolas. É Frei Melitone quem está encarregue de as distribuir. Fá-lo como quem faz um frete, e os mendigos lamentam a ausência do bom Frei Rafael, que tão bem os tratava. Frei Melitone enfurece-se, o que lhe vale uma reprimenda do Superior do Convento.
Ouve-se o sino. Aparece Don Carlos que pergunta por Frei Rafael. Com a resmunguice da praxe, Frei Melitone vai chamá-lo. Frei Rafael não é outro se não Don Alvaro, e Don Carlos rejubila. O mestiço escondeu-se em vão! Mas Don Alvaro recusa a espada que o outro lhe estende, pede clemência, e Don Carlos esbofeteia-o dizendo que "os sangues misturados só geram cobardes".
Então Don Alvaro vê-se obrigado a aceitar o desafio, e os dois saem para se confrontar fora do convento.
Á porta da sua ermida, Leonora reza pela Paz. Um barulho confuso fá-la regressar precipitadamente ao seu refúgio. Esse barulho é o do duelo. Don Carlos cai ferido mortalmente, e reclama a presença dum padre. Enquanto Don Alvaro se desespera por ter voltado a matar contra sua vontade, Leonora toca o sino para chamar a presença do Superior do Convento. É então que reconhece Don Alvaro, que, em breves palavras, a põe ao corrente do que se passou. Leonora corre para junto do ferido e, horrorizada, reconhece o irmão, que, num último esforço, a apunhala. Desesperado, Don Alvaro acusa os Céus por lhe trazerem tanta desgraça, o Superior do Convento tenta acalmá-lo, e a ópera termina com Leonora, moribunda, clamando por amor e resignação.
RDP – Transmissões em "Noite de Ópera" desde 1996
2001 – 23 de Agosto
Enredo resumido da autoria de Margarida Lisboa.