Libreto: Tomistocle Solera e Francesco Maria Piave sobre "Attila, Rei dos Hunos" de Zacharias Werner
Estreia: (Veneza) Teatro la Fenice, 17 Março 1846
PersonagensAttila
Ezio
Odabella
Foresto
Uldino
Leone
AntecedentesFoi em 1844, o mesmo ano da estreia de "Ernani", que Verdi terá conhecido um drama romântico de Zacharias Werner "Attila, Rei dos Hunos" pelo qual se interessou e sobre o qual pensou escrever uma nova ópera. O libretista escolhido foi Solera, que com ele já colaborara em "Oberto", "Nabucco",
"I Lombardi" e "Giovanna d’Arco". Isto passava-se, como dissemos, em 1844. Mas, contrariamente ao habitual, a elaboração da ópera iria levar cerca de 2 anos. Entre outras menores contrariedades, o compositor adoeceu gravemente, e o libretista foi viver para Madrid antes de terminar o libreto. Então Verdi decidiu optar por Piave – que com ele trabalhara em "Ernani", precisamente na sua primeira ópera destinada a Veneza. Enquanto Solera já possuía o seu próprio esquema para os seus libretos, Piave era mais flexível, mais aberto e atento às vontades do compositor. Solera já deixara o libreto quase pronto faltando apenas o 3º acto do qual deixara apenas um esboço. Verdi aconselhou Piave a ignorar esse esboço – o que Solera reprovaria.
Estamos a falar de "Attila" cuja estreia teve lugar no Teatro Fenice de Veneza no dia 17 de Março de 1846.
PrólogoA acção situa-se no ano 452 da Era Cristã, e a ópera inicia-se quando Attila, o flagelo divino, invadiu a Itália e saqueou Aquília. Entre as ruínas fumegantes da cidade os Hunos e os Ostrogodos saqueiam e cantam louvores a Votan e ao rei. Attila chega triunfante e felicita-os sendo aclamado como o enviado e o profeta de Votan. Desobedecendo a uma ordem de Attila para que não dessem quartel, Uldino, um escravo bretão, poupou a vida a um grupo de mulheres que tinham participado na batalha, e vem oferecê-las ao rei como presas de guerra. Quem lidera essas mulheres é Odabella, filha do Senhor de Aquília, morto às mãos do invasor. Attila manifesta a sua admiração pela coragem com que elas o enfrentaram, ao que Odabella responde dizendo que as mulheres da Itália estão sempre prontas a defender a sua pátria. Impressionado Attila dispõe-se a conceder-lhe o que ela pedir. E Odabella pede-lhe uma espada. Attila entrega-lhe então a sua própria arma que a mulher aceita com entusiasmo fazendo sobre ela de imediato um voto: o de usá-la na sua vingança. Depois da saída das mulheres Attila manda chamar o enviado de Roma, o general Ezio, a quem respeita como adversário e como soldado. Ezio pede que a audiência seja privada. Diz que o Imperador de Constantinopla está velho e enfraquecido. Valentiniano, que reina a Ocidente, é ainda um adolescente. É por isso que propõe um acordo secreto: Attila poderá conquistar o mundo inteiro desde que ele, Ezio, possa conservar a Itália. Attila recusa essa proposta desleal: um povo tão cobarde precisa ser castigado pelo representante de Votan. Ezio ainda tenta recuar para o seu papel de mensageiro de Roma, mas Attila diz que a cidade será arrasada, ao que Ezio responde desafiando-o.
De madrugada, sobre uma praia deserta do Adriático, desencadeia-se uma tempestade. Quando a tempestade se acalma os ermitas saem das suas cabanas e começam a rezar diante dum altar feito de pedras. O céu torna-se mais claro, e começam a chegar embarcações com refugiados da Aquília conduzidos por Foresto, saudado como o salvador. Mas Foresto está inquieto com o destino de Odabella, a sua noiva, dizendo preferir que ela tivesse morrido do que caído nas mãos dos Hunos. O sol começa a brilhar, e os fugitivos pedem a Foresto que interprete este sinal como uma promessa de esperança. Como resposta Foresto pede aos seus companheiros de infortúnio que construam uma nova cidade naquele preciso local, uma cidade renascida das cinzas, como Fénix.
1.º ActoO 1º acto inicia-se num bosque próximo do acampamento que Attila montou junto de Roma. Odabella chora o seu pai que julga ver nos desenhos das nuvens. Em seguida recorda Foresto, que também pensa ter morrido. Mas Foresto aparece diante da jovem disfarçado de Huno. Louca de alegria Odabella vai lançar-se nos seus braços, no que, para sua surpresa, é repelida. Foresto acusa-a de traição. Ele atravessou perigos inimagináveis para chegar até ela e vê-la sorridente diante do assassino do seu pai. Então Odabella recorda-lhe a história bíblica de Judite e de Holoferne, convencendo-o da sua inocência e da sua determinação em se vingar. Foresto pede-lhe perdão e os dois caem nos braços um do outro.
Próximo dali Attila acorda na sua tenda e conta ao escravo Uldino o sonho aterrador que tivera. Ele vira, diante das portas de Roma, um velho enorme que lhe barrava o caminho gritando: "Até agora a tua missão era castigar os mortais. Retira-te! Este solo é Reino dos Deuses!" Recuperando a calma, e envergonhado dos seus medos, Attila ordena a imediata reunião dos exércitos, e, ao som de trombetas, avançam sobre Roma entoando cantos de louvor a Votan. Esses cantos acabam por se misturar com outros cantos muito diferentes: é uma procissão cristã, jovens e crianças vestidas de branco que transportam ramos, guiadas pelo Bispo Romano Leone que Attila reconhece como o velho do seu sonho. Aterrado o Rei dos Hunos julga ver diante de si São Pedro e São Paulo empunhando espadas de fogo, e cai prostrado no chão. Os soldados olham-no estupefactos, e os cristãos saúdam o Poder do Deus Eterno.
2.º ActoO 2º acto começa no acampamento romano onde Ezio lê uma ordem do Imperador que o informa de que foi estabelecida uma trégua com os Hunos, e que deve regressar a Roma. Humilhado por ser tratado assim por uma criança mais assustada pelas próprias tropas do que pelos exércitos dos Hunos, Ezio medita amargamente sobre o contraste que existe entre a glória passada e a actual decadência de Roma. Chegam uns escravos de Attila que o vêm convidar para um banquete onde deverão também estar presentes os seus capitães. Um deles, Foresto, deixa-se ficar para trás e pede a Ezio que os seus homens estejam a postos para atacar os Hunos durante a festa mal virem brilhar uma luz sobre as montanhas. Esta notícia deixa Ezio empolgado perante a perspectiva de poder vingar a pátria. Talvez morra durante a batalha mas pelo menos o seu nome ficará para a posteridade como o último dos Romanos.
Segue-se a cena do banquete no acampamento de Attila onde os Hunos aclamam o seu rei. Ouvem-se as trompas que anunciam a chegada dos convidados, e Attila levanta-se para os receber. É então que os druidas lhe segredam que Votan os advertiu para que não se sente à mesma mesa com os seus antigos inimigos. Mas Attila afasta-os com impaciência, e ordena às sacerdotisas que cantem e dancem. Mal elas terminam os seus cantos uma violenta rajada de vento apaga a maior parte dos archotes que iluminavam a mesa do banquete. Na confusão que se segue Ezio volta a apresentar a Attila a sua proposta que é novamente recusada pelo Huno com desprezo. Foresto revela a Odabella que Uldino irá em breve oferecer a Attila uma taça de vinho envenenado. Isso roubará a Odabella a sua vingança. Assim, quando as tochas voltam a brilhar, e que Attila se prepara para beber em honra de Votan, a jovem interrompe-o avisando-o de que o vinho está envenenado. Furioso Attila quer saber o nome do responsável. Foresto aproxima-se rindo das ameaças de morte, e Odabella pede como recompensa de ter salvo a vida ao rei, que lhe seja entregue a ela o poder sobre a vida de Foresto. Attila aceita, e, como testemunho da sua gratidão, compromete-se a tornar Odabella a sua rainha. Odabella diz a Foresto que fuja, e Foresto jura vingar-se daquele gesto da jovem que interpretou como traição. O acto termina com os Hunos pedindo a Attila que retome o combate contra os pérfidos romanos.
3.º ActoO último acto começa num bosque, de madrugada. Foresto está só à espera que Uldino lhe traga notícia da hora em que terá lugar o casamento de Attila com Odabella. É informado de que o cortejo está já muito próximo, e revolta-se com a ideia de que uma jovem tão bela e tão pura o tenha traído daquela forma. Chega então Ezio dizendo que os seus homens esperam apenas um sinal para atacar os Hunos. Ao longe ouve-se o hino nupcial. Odabella aparece, lavada em lágrimas, implorando ao pai que lhe perdoe por ir casar-se com o seu assassino. Foresto diz-lhe que é tarde de mais para se arrepender, ao que Odabella responde dizendo que foi sempre a ele que ela amou.
Aparece então Attila em busca da sua futura esposa, que encontra com Ezio e Foresto, acusando os três de ingratidão e de traição. Enquanto se ouve o clamor dos romanos no seu ataque aos Hunos, Odabella apunhala Attila. "Até tu, Odabella?" – diz ele. Mas estas últimas palavras do rei são apagadas pelos gritos de triunfo dos romanos que encontraram finalmente a vingança.
RDP – Transmissões em "Noite de Ópera" desde 1996
2001 – 8 de Fevereiro
Enredo resumido da autoria de Margarida Lisboa.