Libreto: Méry e DuLocle sobre poema de Schiller
Estreia: (Paris) Operá 11 de Março de 1867
Versão italiana revista por DuLocle
Tradução de Lauzières e Zanardini
Milão: Teatro alla Scala 10 de Janeiro de 1884
PersonagensDon Carlos
Tebaldo
Elisabetta de Valois
Conde de Lerma
Um Frade
Rodrigo, Marquês de Posa
Princesa d’Eboli
Filipe II
Um Arauto
Voz Celestial
O Grande Inquisidor
Antecedentes"Jerusalem" foi a primeira ópera que Verdi apresentou em Paris, a convite do Grande Teatro de Ópera da capital francesa. Isso aconteceu em 1847. Alguns anos mais tarde, a Academia Imperial de Música francesa encomendou-lhe uma nova ópera, para ser apresentada durante a Primeira Exposição Universal do Segundo Império. Assim nasceria "As Vésperas Sicilianas" que obteria um êxito extraordinário – apesar do tema que relatava o massacre dum Regimento francês às mãos dos patriotas sicilianos. O segundo convite da Academia Imperial surge 10 anos mais tarde, em 1865, altura em que Verdi se encontrava em Paris para assistir à apresentação de "MacBeth". Essa segunda encomenda destinava-se à Segunda Exposição Universal do Segundo Império – altura em que seriam apresentadas em Paris duas novas operetas de Offenbach, "La Vie Parisienne" e "La Grand-Duchesse de Gerolstein".
Este convite da Academia Francesa vinha acompanhado dum libreto de Joseph Méry e de Camille du Locle baseado no "Don Carlos" de Schiller – o que agradou ao compositor que se sentia próximo dos ideais românticos, patrióticos e liberais, do Poeta alemão, cujas obras já tinham servido de fonte de inspiração para algumas das suas óperas. Acontece que, curiosamente, iria ser precisamente o libreto que se revelaria o maior obstáculo para Verdi, quer pela sua complexidade, quer pelo seu carácter monumental.
A escrita da Música foi iniciada durante os primeiros meses de 1866, e os primeiros ensaios tiveram lugar em Setembro desse mesmo ano e marcariam os primeiros cortes na partitura.
"Don Carlos" estreou-se em Paris no dia 11 de 1867, sendo recebida com pouco entusiasmo – o que se deveu ao facto de ser considerada demasiado extensa e, sobretudo, pouco à maneira de Verdi. Houve até quem o acusasse de se ter convertido aos ideais estéticos de Wagner, sacrificando os tradicionais recitativos, árias e duetos, ao Sprechgesang, o falar cantando ou fala cantada.
"Don Carlos" marca, de facto, uma mudança importante na obra musical de Verdi – mudança que prosseguiria com "Aïda", o Requiem, "Otello" e "Falstaff", e que não escapa ao olhar atento de críticos como Théophile Gautier que dirá mesmo que "um novo Verdi acaba de nascer, sinfonista e melodista".
"Don Carlos" iria sofrer numerosos cortes ao longo das representações que se seguiram à estreia parisiense. Em Londres, três meses mais tarde, foi apresentada sem o 1º acto, sendo recebida com bastante entusiasmo.
O maior triunfo, no entanto, aguardaria Verdi em Bolonha quando da primeira apresentação da versão em italiano.
1.º ActoDurante o reinado de Filipe II de Espanha, fora selado um pacto entre este Monarca e Henrique II, Rei de França, segundo o qual o Infante Don Carlos, filho de Filipe, deveria casar com Elisabetta, filha de Henrique.
A ópera inicia-se quando os jovens se encontram pela primeira vez na floresta de Fontainebleau. Don Carlos aparecera sob um disfarce para conhecer, sem ser conhecido, a mulher que lhe destinavam. Don Carlos e Elisabetta apaixonam-se à primeira vista e o Infante revela a sua verdadeira identidade.
Quando tudo parece estar a correr pelo melhor no melhor dos mundos, chega o Embaixador Espanhol com uma notícia terrível: houve uma mudança de planos – assim, Elisabetta não deverá casar com Don Carlos mas sim com Filipe, seu pai.
2.º ActoO 2º acto inicia-se no claustro do Mosteiro de São Justo onde Carlos V, Rei de Espanha, avô de Don Carlos, passou os últimos dias da sua vida, e que agora o neto procura como refúgio para o seu infortúnio. O jovem Infante lamenta a sua sorte quando ouve a voz dum velho Monge que julga reconhecer como a do seu antepassado, morto naquele Mosteiro. Essa voz diz-lhe que a verdadeira Paz não pode ser encontrada neste mundo.
Os pensamentos de Don Carlos são interrompidos pelo aparecimento de Rodrigo, Marquês de Posa, um seu amigo acabado de regressar da Flandres onde assistira à repressão exercida pela Inquisição sobre os protestantes flamengos. Durante a conversa, Don Carlos confessa ao amigo o seu amaldiçoado amor por Elisabetta, mulher do seu pai, e pergunta a Rodrigo se ele o condena. O Marquês diz compreender a tragédia de Don Carlos, para a qual não vê solução, a não ser tentar sublimá-la entregando a vida a uma causa justa. E convida-o a partir com ele para a Flandres para combater pela Liberdade ao lado dos oprimidos.
O 2º Quadro passa-se junto aos muros do Convento onde Damas da Corte cantam à sombra das árvores. Chega a Rainha seguida por Rodrigo que lhe entrega uma carta da sua mãe, que trouxera de França, e à qual juntara uma outra carta de Don Carlos. Rodrigo pede à Rainha para aceitar encontrar-se com o amigo que diz estar desesperado. Elisabetta aceita.
O Marquês faz então com que as outras Damas se afastem, e Don Carlos aparece. Elisabetta recebe-o com afecto e delicadeza, mas mostra-se determinada a não ceder ao amor que ambos sentem um pelo outro, dizendo que agora ela é mulher do seu pai, o Rei. No auge do desespero, Don Carlos cai sem sentidos. Elisabetta procura ajudá-lo, e ele abraça-a, delirante. É nesse preciso instante que chega o Rei. Ao encontrar a esposa sozinha, enraivece-se contra a sua Dama de Companhia, a quem condena ao exílio.
Depois de todos saírem, o Rei fica sozinho com o Marquês que o acusa de crueldade pela forma como tem tratado os rebeldes na Flandres. Filipe fica impressionado pela forma aberta e franca com que Rodrigo se lhe dirigira, mas adverte-o dizendo para ter cuidado com o Inquisidor. E confidencia-lhe as suas suspeitas em relação a Don Carlos e Elisabetta.
3.º ActoO 3º acto inicia-se nos Jardins da Rainha em Madrid onde chega Don Carlos atraído por uma carta que julga ser de Elisabetta mas que fora, de facto, escrita por uma sua Dama, a Princesa d’Eboli, que está apaixonada por ele. Numa conversa que tivera com o Marquês de Posa, a Princesa julgara entender que Don Carlos também a amava. Agora o equívoco desfaz-se e Princesa d’Eboli enfurece-se ao compreender que Don Carlos ama a Rainha, prometendo vingar-se do Infante e do Marquês. Rodrigo chega e compreende o perigo. Pede então a Don Carlos que lhe entregue todos os documentos importantes que tenha em seu poder e que podem condená-lo como traidor. Passamos, em seguida, para a Praça de Nossa Senhora de Atocha onde está a decorrer a cerimónia de coroação de Filipe II, que irá ser celebrada com a execução dum grupo de infiéis em mais um Auto de Fé.
Mas as celebrações são interrompidas pela chegada dum grupo de Deputados
Flamengos, que vêm acompanhados do Infante, e que imploram misericórdia para os condenados. A resposta do Monarca é uma ordem de prisão. Então Don Carlos desembainha a espada contra Filipe, mas Rodrigo intervém e aconselha-o a entregar-se. O Auto de Fé já se iniciara iluminando a Praça com os clarões das fogueiras, ao mesmo tempo que se ouve uma Voz Celestial chamando as almas dos hereges.
4.º ActoO 1º Quadro do 4º Acto passa-se nos aposentos do Rei em Madrid. Filipe pensa na sua vida sem amor, e no seu filho, Don Carlos. Surge o Grande Inquisidor a quem o Rei pergunta se um Cristão pode condenar à morte o próprio filho, ao que o Grande Inquisidor responde que sim, dando-lhe o exemplo de Deus que entregou à morte o seu filho para remissão dos pecados da Humanidade. Mas diz querer mais do que isso: ele quer que Filipe lhe entregue também o Marquês de Posa para ser interrogado – o que, depois de alguma resistência, o Rei acaba por lhe conceder.
O Grande Inquisidor sai e chega Elisabetta dizendo que lhe roubaram o cofre das jóias. O Rei diz que é ele quem o tem. Encontra lá dentro o retracto de Don Carlos e acusa a mulher de adultério. Elisabetta desmaia. Aos gritos do Rei acodem a Princesa d’Eboli e Rodrigo, que tenta acalmar Filipe. Quando fica só com a Rainha, Princesa confessa a sua culpa: foi ela quem a denunciou, levada pelo ciúme. Ama Don Carlos… e espera o perdão da Rainha. Elisabetta mostra-se disposta a perdoar. Mas a Princesa revela-lhe um pecado ainda mais grave: ela fora amante do Rei. A Rainha, então, diz-lhe que lhe restam apenas dois caminhos: o exílio ou o convento. A Princesa escolhe o convento, mas promete também que irá fazer tudo para salvar Don Carlos.
O 2º Quadro passa-se na prisão onde está o Infante. Rodrigo vem visitá-lo e diz-lhe que encontraram os documentos comprometedores que tinha em sua posse e que foi condenado. Mas Don Carlos pode partir. Livre poderá continuar a luta pela libertação da Flandres. Ouve-se um disparo e o Marquês cai mortalmente ferido. Antes de morrer, diz a Don Carlos que Elisabetta estará à sua espera no Mosteiro de São Justo no dia seguinte. Filipe chega para devolver a espada e a liberdade ao filho, mas Don Carlos revolta-se e acusa o pai pela morte do amigo. Nesse instante a multidão irrompe pela prisão reclamando a libertação do Infante, mas acaba por cair de joelhos perante o Grande Inquisidor.
5.º ActoO último acto passa-se nos claustros do Mosteiro onde Elisabetta vem rezar junto do túmulo de Carlos V, que encontrou a Paz naquele lugar.
A jovem Rainha recorda o tempo feliz passado em Fontainebleau, mas é interrompida pela chegada de Don Carlos que vem despedir-se pois vai partir para a Flandres para se juntar aos revoltosos – só voltarão a encontrar-se no outro Mundo.
Chega o Rei acompanhado pelo Grande Inquisidor e pelos Oficiais da Inquisição. Vêm prender Don Carlos. Mas o Infante é salvo por uma intervenção sobrenatural: o túmulo de Carlos V abre-se de par em par e o Imperador morto leva Don Carlos consigo.
RDP – Transmissões em "Noite de Ópera" desde 1996
1997 – 30 de Janeiro
1999 – 18 de Fevereiro
2001 – 6 de Setembro
Enredo resumido da autoria de Margarida Lisboa.