Libreto: Andrea Maffei sobre "Die Räuber" de Schiller
Estreia: (Londres) Teatro Her Majesty, 22 de Julho de 1847
PersonagensConde Massimiliano Moor
Carlo
Francesco
Amalia
Arminio
Moser
Rolla
AntecedentesEm 1846, aos 33 anos, como resultado dum período intensíssimo de actividade, Verdi adoece com um esgotamento mais ou menos pela mesma altura em que surgira a primeira oportunidade de apresentar a sua música fora das fronteiras italianas.
O convite vem de Londres, e o interesse do compositor é tal que, durante a convalescença, procura obstinadamente um bom tema para a nova ópera. Começa por pensar no "Rei Lear", depois pensa em "Macbeth", e, finalmente, nos "Ladrões" de Schiller ( em italiano "I Masnadieri") – que acabará por ter a sua preferência.
O libretista é um amigo de Verdi, Andrea Maffei, um escritor bem mais reputado que Piave ou Soler mas que não possui praticamente qualquer experiência de Teatro. Quanto ao elenco proposto é excelente salientando-se a participação da cantora Jenny Lind conhecida como o rouxinol sueco, que exige, aliás, que as cadências sejam de sua própria autoria.
Isto explica as referências ad libitum deixadas por Verdi na partitura.
A estreia teve lugar no Teatro Her Majesty no dia 22 de Julho de 1847 sob a direcção do próprio compositor.
1.º ActoA acção passa-se na Alemanha no início do século XVIII e tem como personagens centrais o Conde Massimiliano Moor e os seus dois filhos, Carlo e Francesco, de naturezas diametralmente opostas: Carlo é um espírito apaixonado e aventuroso – Francesco é calculista e ambicioso.
Carlo deixou a casa paterna – Francesco ficou.
A ópera começa numa taberna onde Carlo está absorvido com a leitura de Plutarco que fala dos grandes homens da Antiguidade. Carlo lamenta a diferença que encontra entre a heróica nobreza das personagens do livro e o temperamento inconsequente e libertino dos seus companheiros, que caiem de bêbados do lado de fora da taberna. Carlo sente saudades da terra natal e da sua prima Amalia, a quem ama desde a mais tenra infância.
Os seus pensamentos são interrompidos pela chegada duma carta. Carlo abre-a precipitadamente julgando tratar-se da benção e do perdão do seu pai, mas, em vez disso, reconhece a caligrafia do irmão, Francesco, que fala em nome do Conde, dizendo que o espera um duro castigo se pensar em regressar a casa. Carlo revolta-se e reage impulsivamente. Assim, quando os seus companheiros o procuram para formar um bando de ladrões, ele aceita assumir o comando.
O 2º Quadro passa-se no castelo do Conde onde Francesco se revolta contra o lugar secundário que ocupa. Pretendendo que o irmão se mantenha afastado destruíra a carta que ele escrevera para o pai substituindo-a por uma carta falsa de sua autoria. Agora espera impaciente a morte do Conde planeando mesmo antecipá-la. É assim que chama Arminio, o intendente, a quem ordena que se disfarce e que vá anunciar ao Conde a morte do filho mais velho. Quando fica só festeja alegremente o poder que em breve irá herdar e com o qual pretende dominar pelo terror.
O último Quadro do 1º acto passa-se numa outra divisão do castelo onde o Conde está adormecido sob o olhar vigilante da sua sobrinha Amalia.
A jovem lamenta a esperança perdida com a condenação de Carlo pelo pai, mas não guarda qualquer rancor do Conde, por respeito para com a sua idade e autoridade. Mas Carlo não sai dos seus pensamentos.
Massimiliano agita-se no seu sono e murmura o nome do filho. Amalia acorda-o e, juntos, choram a ausência de Carlo e bem-dizem a morte que os libertará das desgraças terrestres. Chega então Francesco que apresenta Arminio, que vem sob um disfarce, e que narra ao Conde a morte do filho ausente – uma mentira contada com todos os pormenores convenientes às pretensões de Francesco: antes de morrer, Carlo teria deixada escrita uma mensagem (com o seu próprio sangue) na lâmina da sua espada, libertando Amalia de todos os compromissos para com ele e aconselhando-a a casar com Francesco. Com esta falsa notícia, trazida pelo falso mensageiro, Amalia fica desesperada e Massimiliano sente-se culpado pela morte do filho. O desgosto do velho Conde é tão grande que cai fulminado, sendo dado como morto – o que deixa Francesco exultante por poder assumir finalmente a sucessão.
2.º ActoO 2º Acto inicia-se junto do túmulo de Massimiliano onde Amalia veio procurar refúgio durante o banquete dado por Francesco para celebrar a sua subida ao Poder. Ela imagina o velho Conde junto de Carlo e lamenta o deserto de tristeza e solidão em que a morte de ambos a deixou. Chega Arminio. Dominado pelos remorsos do papel desprezível que Francesco o obrigara a desempenhar, o homem revela a Amalia que Carlo e Massimiliano estão ainda vivos. A jovem exulta de felicidade com a notícia de que Carlo está vivo, mas ficamos sem saber se ela compreendeu que o Conde também não morreu, já que continua a referir-se a ele no passado.
Chega então Francesco que a pede em casamento, o que ela recusa, acusando-o de ser o instigador da morte do irmão. Furioso, Francesco revela-se tal como realmente é, dizendo que ela será sua, quer queira quer não, como escrava ou como amante. Fingindo-se assustada, Amalia implora o perdão de Francesco, apenas para, num momento de distracção, lhe arrancar a espada. Os dois enfrentam-se, furiosos.
O último Quadro do 2º Acto passa-se nos bosques próximos de Praga onde os bandidos estão reunidos. É aí que se espalha a notícia de que Rolla, o braço direito de Carlo, fora preso e condenado à forca. Como forma de vingança, Carlo decidira saquear a cidade. Chega Rolla, a quem Carlo libertara. Depois chega Carlo, que acaba por ficar só, exprimindo então o horror que sente por aquela vida, bem como o desejo de rever Amalia.
Os outros regressam com a notícia de que estão cercados, e todos se preparam para o combate.
3.º ActoO 3º Acto inicia-se na floresta onde Amalia se escondeu para fugir à perseguição de Francesco. É aí que encontra Carlo. Surpreendidos, os dois apaixonados reconhecem-se caindo nos braços um do outro e prometendo nunca mais se separar. Mas, quando Amalia o interroga, Carlo não lhe revela ter-se tornado um bandido.
De regresso ao acampamento, Carlo fica de vigia durante o sono dos seus homens. É assim que vê chegar Arminio que, de forma furtiva, entra numa velha torre em ruínas. Quando ele sai, Carlo barra-lhe o caminho e pergunta-lhe o que foi fazer ali. Mas Arminio nada responde, e acaba por conseguir escapar-se. Então Carlo entra na torre e, para sua surpresa, encontra, num dos calaboiços, um velho esquelético que ele reconhece ser o seu pai. Sem reconhecer o filho, mas grato para com aquele homem que o veio libertar, Massimiliano conta aquilo que se passou: ao receber a notícia da morte do seu filho mais velho, perdera os sentidos; quando acordara, vira-se fechado num caixão; depois, Francesco, o seu filho mais novo, que ficara furioso ao compreender que ele não morrera, mandara-o aprisionar naquela torre onde deveria acabar por morrer de fome. Surpreendido e indignado, Carlo dispara para o ar para chamar os seus homens, a quem faz jurar vingança.
4.º ActoO 4º Acto inicia-se no castelo onde Francesco sucumbe aos remorsos. Por tal forma que manda chamar um Padre, a quem pergunta qual o maior pecado aos olhos de Deus. Para seu horror, o Padre responde:
"O parricídio e o fratricídio".
É então que Arminio traz a notícia de que um grupo de cavaleiros se aproxima do castelo. Apavorado, Francesco pede a todos para rezar, e ordena ao Padre que o absolva. Mas o Padre responde que apenas Deus pode perdoar. Desesperado, Francesco foge.
O último quadro passa-se, de novo, na floresta onde, sem revelar a sua identidade, Carlo pede que Massimiliano o abençoe como se ele fosse seu filho. Os bandidos regressam do assalto ao castelo. Não encontraram Francesco, e, em seu lugar, decidiram trazer Amalia, que encontraram perdida nas matas. Ao ver Carlo, ela corre para ele em busca de protecção, revelando assim ao velho Conde estar na presença do filho que julgava morto, ao mesmo tempo que deixa a descoberto a sua actividade como chefe do bando de malfeitores. Massimiliano e Amalia ficam horrorizados, mas, mesmo assim, a jovem mostra-se disposta a ficar com Carlo.
Ao compreenderem aquilo que se passa, os bandidos lembram ao seu chefe o seu juramento de fidelidade – um juramento de que Carlo sabe nunca se poder libertar. Assim, quando Amalia lhe suplica que a mate, dizendo preferir morrer do que ser abandonada por ele, Carlo aceita e apunhala-a. Depois quebra todos os laços que o unem aos seus companheiros e entrega-se à Justiça.
RDP – Transmissões em "Noite de Ópera" desde 1996
1999 – 4 de Fevereiro
2001 – 8 de Março
Enredo resumido da autoria de Margarida Lisboa.