Libreto: Scribe e Duveyrier (seu "Duc d’Albe")
Estreia: (Paris) Operá, 13 de Junho de 1855
PersonagensTebaldo
Roberto
Senhor de Bethune
Conde de Vaudemont
Duquesa Elena
Monforte, o Governador
Arrigo
Ninetta
Danieli
Giovanni da Procida
AntecedentesA primeira encomenda que Verdi recebeu da Ópèra de Paris foi a de uma nova ópera para ser apresentada durante a Exposição Universal prevista para 1855. Nessa época Verdi era já um artista em plena maturidade, senhor de numerosos sucessos como "Rigoletto", "O Trovador", "La Traviata", "Simão Bocanegra" ou "Um Baile de Máscaras". No entanto, esta sua primeira ópera parisiense, a vigésima da longa lista que nos deixou, iria exigir do compositor um esforço considerável. A Ópèra iniciara os contactos com Verdi em 1850, tendo com ele assinado um contrato em 1851, portanto antes da criação quer d’"O Trovador" quer da "Traviata", nomeando como libretista o prolífero Eugène Scribe, que tinha no seu activo cerca de 130 libretos de óperas e 300 de operetas. Ora os problemas iriam iniciar-se precisamente com o libreto.
Scribe começou por propor alguns enredos concebidos para Meyerbeer, e que este tinha dispensado. Em resposta a um deles, "Les Circassiens", Verdi explicou que pretendia um enredo grandioso, original, e guiado pelas paixões. Scribe sugeriu então "Les Amazones de Bohême", que Verdi recusou por considerar o tema das mulheres-soldados demasiado bizarro. E Scribe apresentou um terceiro libreto, "Le Duc d’Albe" – escrito havia alguns anos para Donizetti mas que este nunca terminara. Verdi aceitou.
De notar que, passados 30 anos sobre a estreia parisiense da ópera de Verdi, quando "Le Duc d’Albe" de Donizetti, terminado por outro, foi levada a cena, Verdi negou saber que o enredo da sua ópera se baseara no mesmo libreto da ópera de Donizetti. Durante muito tempo as culpas desta duplicação foram, portanto, atribuídas a Scribe que teria pensado que a ópera que Donizetti deixara inacabada iria ficar para sempre esquecida. Só que, por volta de 1970, foram descobertas nos arquivos da Ópèra algumas cartas de Verdi referentes a este assunto que provam o seu conhecimento quanto à origem do libreto. Nelas o compositor sugere a mudança do título, e a transferência da acção para um clima mais quente. Propõe Nápoles, que Scribe recusa dizendo que iria ficar demasiado semelhante a "La Muette de Portici" de Auber. Acabam por escolher a Sicília. A Sicília, o episódio histórico do massacre, proposto a Verdi, alguns anos antes, por Salvatore Cammarano, e que tanto o entusiasmara.
A 31 de Dezembro de 1853, com a feitura definitiva do libreto, estava finalmente lançada a semente duma nova ópera: "Les Vêpres Siciliènes", que se tornariam, mais tarde, "I Vespri Siciliani".
Mas os trabalhos e as complicações não se ficaram por aqui. Verdi exigiu um quinto acto, ao estilo grandioso de Meyerbeer. Satisfeito com a correcção, iniciou a escrita da música que iria prolongar-se por todo o ano de 1854, tendo os ensaios começado em Outubro. Aí acontece o episódio caricato do desaparecimento do soprano que trocou os ensaios da ópera pelos ensaios duma lua-de-mel com o Barão Vigier, seu futuro esposo. Seguiu-se uma tardia tomada de consciência de Verdi acerca do tema que narra o massacre de franceses por sicilianos, e que, segundo ele, deixava mal visto o povo italiano.
Chegou mesmo a pensar romper o contrato. Mas a Ópèra recusou. E Verdi
Não teve outra escolha que não fosse… cumprir o contrato até ao fim.
A estreia teve lugar no dia 13 de Junho de 1855. O sucesso foi tão grande que o número de apresentações previstas foi largamente ultrapassado.
1.º ActoA acção situa-se em Palermo e arredores no ano de 1282, e narra a luta do povo da Sicília para se libertar do jugo francês. O ponto culminante é a insurreição e o massacre históricos das vésperas sicilianas, paralelamente com a descoberta de que o Governador francês e o mentor dos patriotas são, de facto, pai e filho – isto nada histórico, claro.
A ópera inicia-se na praça central da cidade diante do palácio do Governador e do quartel militar francês. Alguns soldados, entre os quais se encontram Roberto e Tebaldo, bebem e cantam louvores à sua pátria, enquanto os sicilianos os observam ressentidos, invocando a vingança que se aproxima.
O Senhor de Béthune e o Conde de Vaudemont, dois oficiais franceses, saem do quartel. Ao notarem os excessos dos soldados chamam a atenção de Roberto para a provocação que representam – não apenas os louvores à França, mas as insinuações amorosas referentes a mulheres de alguns presentes.
Aparece então a Duquesa Elena, vestida de luto pelo seu irmão, Frederico da Áustria, um refém executado pelos franceses, e que vem de assistir a uma missa. A sua beleza suscita a admiração de todos. Roberto, bêbado, pede-lhe que cante com os vencedores. Para sua surpresa, Elena aceita o convite. Só que, depois de cantar sobre a heroicidade no mar, prossegue implorando ao povo que tome o Destino nas suas próprias mãos. Essas palavras provocam um vento de revolta que apenas o aparecimento de Monforte, o governador, consegue amainar. A multidão dispersa-se, e na praça ficam apenas, por alguns instantes, apenas Elena, a sua aia Ninetta, Danieli (um siciliano) e o Governador. Chega depois Arrigo, que acaba de se ver inocentado da acusação de traição – facto que se apressa a narrar a Elena, por quem está apaixonado. Monforte surpreende a conversa de ambos, e diz a Arrigo que foi libertado graças à sua intervenção. O Governador manda sair todos os outros, e, a sós com Arrigo, questiona-o sobre a sua verdadeira identidade. Mas Arrigo esquiva-se a responder, enfurece-se, revelando a Monforte todo o ódio que sente por ele. Mas o Governador não desiste. Bem pelo contrário: propõe a Arrigo que passe a trabalhar com os franceses. Indignado por aquilo que considera uma afronta, Arrigo recusa. O acto termina com Monforte lançando um aviso a Arrigo: ai dele se se aliar à Duquesa! Depois, num desafio, sai em busca de Elena.
2.º ActoO 2º acto inicia-se numa praia perto de Palermo onde Giovanni da Procida chega do exílio com a intenção de retomar a liderança dos patriotas sicilianos. Saúda a terra-natal, exorta os companheiros a libertarem-na do jugo, e depois manda-os dispersar no momento em que vê aproximarem-se Elena e Arrigo, com quem marcara um encontro. Aí combinam que a rebelião terá início essa mesma noite numa capela perto de Santa Rosalia durante uma festa de noivado. Arrigo propõe-se, de imediato, liderar essa rebelião.
Depois de Procida partir, Arrigo declara a Elena o seu amor, dizendo estar determinado a vingar a morte do seu irmão. Chega então Béthune que traz a Arrigo um convite do Governador para um baile. Arrigo responde com desdém e é preso, para desespero de Elena.
Procida regressa e sabe por Elena o que aconteceu, enquanto que alguns grupos de noivos se vão reunindo para a festa. Começam a dançar uma tarantela. Alguns soldados franceses aparecem, entre eles Roberto e Tebaldo, que provocam o grupo elogiando em voz alta a beleza das mulheres. De forma deliberada, Procida encoraja-os a prosseguir, até que eles agarram algumas das jovens. Julgando que Procida é seu aliado, Roberto confia-lhe Elena. Quando os franceses saem, levando as jovens com eles, Elena e Procida recriminam os jovens sicilianos por não terem reagido à provocação. E o sentimento de revolta é atiçado à vista dum barco cheio de oficiais franceses e das suas damas que se dirigem para Palermo para o baile. Os sicilianos gritam a sua revolta, a sua sede de vingança. E o acto termina com Procida revelando os seus planos para assassinar Monforte durante o baile provocando uma insurreição.
3.º ActoO 3º acto inicia-se no gabinete de trabalho do Governador que recorda a mãe de Arrigo, a quem abandonou, e aquela carta, escrita no leito de morte, em que ela revela que o seu filho é mesmo filho de Monforte. Béthune chega com a notícia da prisão de Arrigo, e o Governador manda que o tragam de imediato à sua presença. Arrigo chega, confuso com aquele que é, aparentemente, um tratamento de favor – e mais confuso e perturbado fica quando Monforte lhe revela ser o pai que ele nunca conheceu. Inquieto com as consequências que esta revelação lhe pode trazer, entre elas a perda do amor de Elena, Arrigo recusa a afeição do pai, e foge precipitadamente invocando a protecção da mãe e dos céus.
O segundo quadro passa-se no salão do palácio onde alguns dos convidados para o baile vêm mascarados – entre eles Elena, Porcida e Arrigo. Monforte aparece, senta-se no lugar de honra, e ordena o início dos festejos. Depois dum bailado, que fala das estações do ano, Arrigo encontra-se a sós com Elena e Procida, que, além das mascarilhas, trazem atada uma fita que os identifica como conspiradores. Enquanto Elena lhe coloca uma fita igual, Arrigo é informado, numa consternação crescente, que o assassinato de Monforte está marcado para daí a instantes. Monforte aproxima-se, e Arrigo tenta afastá-lo do perigo eminente. Quando Elena se prepara para desferir o primeiro golpe, Arrigo interpõe-se. Monforte chama os guardas, e ordena a prisão de todos os que trouxerem uma fita igual à de Elena. O acto termina com Monforte tentando uma vez mais a reconciliação com Arrigo que é acusado de traidor pelos conjurados.
4.º ActoO 4º acto inicia-se no corredor duma prisão onde Arrigo se apresenta com um salvo-conduto para ver os seus antigos companheiros. Mal aparece, Elena acusa-o de os ter traído. Arrigo defende-se, e, quando explica a revelação de parentesco que lhe fora feita, os sentimentos de Elena transformam-se em piedade, e os dois acabam repetindo juras de amor e de arrependimento. Procida chega sob escolta, e fica surpreendido por Arrigo se oferecer para morrer com eles. Monforte recorda ao jovem que é seu filho, e Procida então compreende o que se passou no baile, temendo que essa relação de parentesco possa deitar a perder todos os planos. Arrigo implora a piedade do pai, ao que Monforte responde que perdoará aos prisioneiros se ele reconhecer que é seu filho. Arrigo hesita, enquanto Elena e Procida afirmam preferir a morte à desonra. Uma porta entreabre-se e deixa ver o local das execuções. Quando Elena e Procida são levados para o cadafalso, Monforte impede Arrigo de os seguir. A sua determinação desfaz-se, e grita por três vezes "pai". Cumprindo a palavra dada, Monforte ordena uma amnistia ao mesmo tempo que marca para essa mesma noite o casamento de Arrigo e de Elena. O acto termina no meio da alegria geral, enquanto Procida decide usar a situação em favor da sua causa.
5.º Acto
O 5º acto inicia-se nos jardins do palácio do Governador próximo da capela onde os convivas celebram o feliz evento. Elena chega vestida de noiva. Depois chega Arrigo que a abraça, e sai em busca do pai. Finalmente chega Procida que revela a Elena o seu plano: o repique dos sinos será o sinal para o levantamento e o massacre dos franceses. Elena fica horrorizada. Quando Arrigo regressa ela diz que recusa casar-se com ele. Aparece então Monforte e toda a corte. Ao saber da súbita decisão da jovem, Monforte não aceita, e une as mãos de Elena e de Arrigo, ordenando que os sinos assinalem a sua união. É o sinal para os rebeldes que aparecem de todos os lados gritando vingança.
RDP – Transmissões em "Noite de Ópera" desde 1996
2001 – 12 de Julho
Enredo resumido da autoria de Margarida Lisboa.