Libreto: Franceso Maria Piave sobre "The Corsair" de Byron
Estreia: (Roma) Teatro Argentina, 27 de Janeiro de 1849
PersonagensArrigo
Rolando
Lida
Marcovaldo
Imelda
Aralto
Podestà
Federico
1º Consul
2º Consul
Antecedentes1848 foi o ano em que a Europa assistiu ao levantamento em favor duma reforma liberal. Em Itália, no entanto, essas barricadas ergueram-se simultaneamente contra o jugo austríaco e o domínio papal. Milão foi a primeira cidade a revoltar-se, logo seguida por Parma, Modena e a Toscania, enquanto Veneza se declarava de novo uma república independente.
Francesco Maria Piave, libretista de Verdi, alistou-se como soldado na nova guarda veneziana – atitude que, numa carta, o compositor, então em Paris, lamentava não poder imitar já que era um simples tribuno, "um mau tribuno", acrescentava, "que era eloquente apenas por repentes".
Esse levantamento de 48 iria ser derrotado, mas essa esperança de independência duraria o tempo suficiente para Verdi escrever uma nova ópera em seu louvor. Não se sentindo muito atraído pelo convite do São Carlos de Nápoles, o compositor decidiu propor à sua editora, a Ricordi, que fosse ela a decidir o destino que teria essa nova ópera. O libretista escolhido foi Salvatore Cammarano, tendo Verdi começado por pensar em "Rienzi, ou O Último Tribuno" de Bulwer Lytton. Só que Cammarano achou que faltava ao enredo um conflito amoroso, propondo, em sua vez, uma peça de Joseph Méry,
"La Bataille de Toulouse". Verdi aceitou.
A acção sofreria algumas alterações: em vez de situar-se durante as guerras anglo-napoleónicas, passou a situar-se na guerra que a Liga Lombarda travou contra o imperador alemão.
Assim nasceu "La Battaglia di Legnano".
A estreia teve lugar no Teatro Argentina, em Roma, no dia 27 de Janeiro de 1849.
1.º ActoOs regimentos da Liga Lombarda reúnem-se numa praça de Milão sob o aplauso entusiástico da multidão. Eles vão partir em campanha contra Frederico Barbarossa, o imperador alemão. Entre as tropas vindas de Verona está o jovem Arrigo, que fora ferido durante o cerco de Suse e dado como morto. Mas ele conseguira regressar à sua terra onde fora curado pela mãe. Agora, em Milão, Arrigo espera encontrar a sua noiva Lida, ignorando que ela se casara. O jovem é reconhecido por um antigo companheiro de armas, Rolando, capitão da armada milanesa, que o recebe com emoção. Depois aparecem então dois cônsules da cidade que saúdam os soldados da Liga. Segue-se o juramento solene das tropas que se comprometem a libertar a Itália do jugo estrangeiro.
A cena seguinte passa-se em casa de Rolando nos arredores da cidade.
A sua mulher, Lida, está entregue a saudosas recordações entre as suas damas de companhia que não compreendem porque é que ela não partilha a alegria geral. Lida responde que odeia a guerra que já lhe roubou os pais e o irmão. Desejou muitas vezes morrer, mas os deveres de esposa e de mãe exigem que continue viva. Marcovaldo, um prisioneiro de guerra a quem Rolando, imprudentemente, acolheu no seu castelo, aproxima-se de Lida e declara-lhe o seu amor. Lida repele-o indignada. Então a sua serva Imelda vem dizer-lhe que Arrigo está vivo e que se encontra em Milão. Lida não consegue esconder um gesto de alegria, que não passa despercebido ao ciumento Marcovaldo. Rolando chega na companhia de Arrigo que empalidece ao ver Lida. Marcovaldo e as damas saem, seguidos por Rolando que fora chamado à presença dos cônsules. Arrigo fica a sós com Lida que, em resposta às suas críticas amargas, explica que ele fora dado como morto, e que apenas casara com Rolando para fazer a vontade do pai expressa no seu leito da morte. Arrigo não aceita as explicações de Lida e parte enfurecido.
2.º ActoO 2º acto passa-se na Câmara de Como onde os notáveis estão reunidos na presença do Presidente. Eles foram informados que Milão teve de ceder ao invasor, e rejubilam com o infortúnio da cidade rival. Apresentam-se Arrigo e Rolando, mensageiros da Liga, e anunciam que uma nova armada invadiu o país pelo Norte. Ela irá juntar-se ao grosso das tropas de Barbarossa em Pádua se as gentes de Como não a interceptarem. Mas o Presidente da Câmara diz que Como assinou um tratado com Barbarossa.
"Um pacto vergonhoso!" – exclama Arrigo: "A vergonha cairá sobre os vossos netos!"
Os dois amigos estão prestes a conseguir convencer a assembleia a aliar-se à sua causa quando Frederico Barbarossa aparece. O imperador ordena que os dois enviados da Liga levem uma mensagem a Milão: ele destruirá novamente a cidade se ela não se render. O acto termina com Arrigo e Rolando exprimindo o seu ódio pelo inimigo enquanto os notáveis de Como se colocam mais uma vez ao lado de Barbarossa.
3.º ActoO 3º acto começa na cripta da igreja de Santo Ambrósio em Milão onde estão reunidos os Cavaleiros da Morte – uma confraria de valorosos patriotas que preferem morrer pelo seu país do que aceitar a derrota ou a prisão. Arrigo veio juntar-se a eles. O Chefe diz para ele se ajoelhar, e coloca sobre os seus ombros um manto negro onde está bordado um crânio. Antes de dispersarem os Cavaleiros juram solenemente por um fim às desgraças que assolam a Itália.
Entretanto, em casa de Rolando, Lida está à beira do desespero. Ela sabe que Arrigo pretende juntar-se aos Cavaleiros da Morte, e escrevera-lhe uma carta suplicando-lhe um último encontro. Rolando chega e despede-se comovido da mulher e do filho. Quando eles saem aparece Arrigo. Rolando mandara chamá-lo. Ele ignorava a intenção do amigo de se juntar aos Cavaleiros da Morte, e vem pedir-lhe para que fique a guardar a sua família durante a sua ausência, e, se tal acontecer, depois da sua morte. Arrigo parte transtornado, e entra Marcovaldo. Ele interceptara a carta de Lida, e vem mostrá-la a Rolando. Louco de raiva, julgando-se traído pela mulher e pelo amigo, Rolando jura vingar-se cruelmente de ambos.
Nessa mesma noite, no seu quarto na torre do castelo de Rolando, Arrigo escreve uma carta para a mãe. Lida entra furtivamente, e tenta persuadi-lo a esquecer a intenção de ir ao encontro da morte, mesmo que o faça em nome da pátria. Mas Arrigo responde que a vida se tornou um fardo desde que ela deixou de amá-lo. Lida diz que ainda o ama, mas que devem viver separados – ele por causa da mãe; ela pelo marido e o filho. Rolando bate à porta, e Lida esconde-se na varanda. Arrigo deixa entrar o amigo que lhe diz ter sabido que ele se juntou aos Cavaleiros da Morte convidando-o a partir de imediato. Arrigo diz que ainda é noite. "Enganas-te" – diz Rolando: "Já começou a alvorecer".
Ao dizer isto abre as portas da varanda onde descobre a mulher. Lida e Arrigo balbuciam débeis desculpas que Rolando rejeita violentamente. Arrigo implora que o amigo o mate, mas Rolando diz ter-lhe reservado um castigo ainda pior: a desonra, já que irá impedi-lo de se juntar aos exércitos. Rolando sai rapidamente trancando a porta na altura em que se ouvem os primeiros sons das tropas que se dirigem para o campo de batalha. Arrigo tenta arrombar a porta, mas não consegue. Então salta pela janela caindo sobre as arribas do castelo. Lida desmaia.
3.º ActoO último acto passa-se numa praça de Milão onde uma multidão espera ansiosa notícias da batalha. Entre a multidão estão Lida e a sua criada Imelda que a informa de que alguém viu Arrigo levantar-se ileso da ravina e partir para juntar-se às tropas. Nesse momento ouvem-se gritos de triunfo que se aproximam: eles dizem que a Liga Lombarda saiu vitoriosa, e que Barbarossa foi morto. Entra então um triste cortejo trazendo, numa maca, um cavaleiro ferido mortalmente: é Arrigo, responsável pela morte do chefe inimigo. Atrás da maca vem Rolando, silencioso e com uma expressão sombria. O moribundo pede que Rolando e Lida se aproximem. Depois jura nada ter feito que pudesse ferir a honra do amigo, acrescentando: "Quem morre pela pátria não pode ter alma de criminoso." Estas palavras são repetidas pela multidão.
Lida e Rolando reconciliam-se, e Arrigo morre abraçado à bandeira da causa.
RDP – Transmissões em "Noite de Ópera" desde 1996
2001 – 19 de Abril
Enredo resumido da autoria de Margarida Lisboa.