A 17 de outubro de 2024 cumprem-se 100 anos do nascimento de António Ramos Rosa. A Antena 2 assinala o centenário deste grande poeta do século XX com a transmissão de um recital poético por Raquel Marinho e Filipe Raposo, realizado e gravado para esta efeméride.
Temporada de Concertos Antena 2
17 outubro | 19h00
Gravação pela Antena 2 / RTP
no Auditório do Museu do Oriente
a 9 de setembro de 2024
Centenário António Ramos Rosa
Recital Poético
por Raquel Marinho (voz / leitura) e Filipe Raposo (piano)
Poemas de António Ramos Rosa
com música improvisada
Programa
A construção do poema é a construção do mundo
1 – Diante da folha branca. A tentação de escrever.
2 – Escrevo, talvez, para manter a nascente aberta.
3 – Um Caminho de Palavras
4 – A Construção do Poema
5 – Sim
(sarabande 1)
6 – O Funcionário Cansado
7 – No Ar
8 – Oiço através da distância uma cidade
9 – O Jardim
10 – As Raízes
11 – Eu gostaria de estar num ouvido de ervas
12 – Estou Vivo e Escrevo Sol
13 – Ex-Voto
(sarabande 2)
14 – Para um amigo tenho sempre
15 – Não Dissemos as Palavras Mais Simples
16 – Para a Agripina
17 – Um Sopro Transparente
18 – O amor cerra os olhos
19 – Passagem
20 – Uma Voz
21 – Não posso adiar o amor
(sarabande 3)
António Ramos Rosa, poeta e crítico português, nasceu há quase 100 anos, no dia 17 de Outubro de 1924, em Faro. Foi militante do MUD (Movimento de União Democrática) e conheceu a prisão política durante 3 meses. Trabalhou como tradutor e professor, tendo sido um dos diretores de revistas literárias como Árvore e Cassiopeia. Antes de se dedicar inteiramente à palavra, foi funcionário de um escritório comercial. Nas suas palavras, conhecidas no documentário da RTP Estou Vivo e Escrevo Sol, essa experiência revelou-se uma “escravatura” e “uma experiência do absurdo”. Escreveu sobre ela no poema O Funcionário Cansado.
António Ramos Rosa disse num poema “escrevo tentando ouvir o rumor do desconhecido”. Neste recital, a Antena 2 procura dar voz a esse rumor que o poeta procurou, homenageando assim a sua vasta obra que se iniciou quando tinha 34 anos e conseguiu ver-se livre do espartilho do quotidiano de funcionário, com a publicação do livro O Grito Claro.
Neste recital, Raquel Marinho e Filipe Raposo dão voz às palavras do poeta: alguns dos poemas mais conhecidos de Ramos Rosa, alguns já aqui citados como Estou Vivo e Escrevo Sol ou O Funcionário Cansado, mas também o poema que começa com o verso “não posso adiar o amor para outro século” ou ainda o poema que escreve sobre os amigos e que começa com estas palavras “para um amigo tenho sempre um relógio”.
Raquel Marinho
António Ramos Rosa | Nasceu em Faro em 1924, onde frequentou os estudos secundários, que não concluiu por motivos de saúde. Trabalhou como empregado de escritório, desenvolvendo simultaneamente o gosto pela leitura dos principais escritores portugueses e estrangeiros, com especial preferência pelos poetas. Com o fim da II Guerra Mundial, rumou a Lisboa, onde viveu intensamente a vitória dos Aliados. Regressa ao Algarve passados dois anos, participando ativamente no MUD (Movimento de União Democrática) Juvenil e foi detido pela polícia política durante três meses.
Regressado a Lisboa, foi professor de Português, Francês e Inglês, ao mesmo tempo que estava empregado numa firma comercial, e começou a fazer traduções para a Europa-América, trabalho que nunca mais abandonaria e no qual veio a atingir notável qualidade.
Inicialmente a sua poesia era de expressão mais lírica, poemas empenhados nas questões políticas e sociais, próximos de uma estética neorrealista, e alguns com traços próprios do surrealismo. Estreia-se como poeta, em 1958 no jornal A Voz de Loulé com o poema Os dias, sem matéria e publica o livro O Grito Claro, e em 1960 o volume Viagem Através de Uma Nebulosa o qual granjeia um 2º lugar ex-aequo do Prémio Fernando Pessoa atribuído pela Editora Ática. Depois, António Ramos Rosa entrou numa segunda consciência poética, de uma Voz Inicial (1961), de descoberta e contemplação da natureza, refletindo o mundo, desenhando-o nas palavras que amava e trabalhava em apurado rigor e ardor. Estava assim criado o movimento da moderna poesia portuguesa onde o autor se movimentava.
A crescente importância que a atividade literária foi tomando na sua vida levou-o a abandonar o emprego no escritório em que trabalhava, para se entregar totalmente à poesia. Tal decisão traduziu-se numa imensa obra, com mais de cinquenta de volumes de poesia, publicados ao longo de mais de 50 anos.
Nos anos cinquenta torna-se um dos diretores das revistas Árvore (1951-1953), Cassiopeia (1956) e Cadernos do Meio-Dia (1958-1960), tendo também colaborado com textos poéticos e de crítica literária nas revistas Seara Nova, Vértice, O Tempo e o Modo, Raiz & Utopia, Colóquio Letras, entre outras publicações periódicas. É ainda autor de ensaios, entre os quais se salienta A Poesia Moderna e a Interrogação do Real (1979-1980).
Foi distinguido com numerosos prémios nacionais e estrangeiros, entre os quais o Prémio Pessoa, em 1988, o Prémio APE/CTT em 1989, pela recolha Acordes e, em 1990, o Grande Prémio Internacional de Poesia, no âmbito dos Encontros Internacionais de Poesia de Liège. É considerado um dos grandes poetas portugueses da atualidade. Foi agraciado pelo estado português com a comenda de Grande Oficial da Ordem de Sant’iago da Espada (a 10 de junho de 1992) e com a Grande Cruz da Ordem do Infante D. Henrique ( a 9 de junho de 1997).O seu nome foi dado à Biblioteca Municipal de Faro. Em 2003, a Universidade do Algarve, atribui-lhe o grau de Doutor Honoris Causa.
Faleceu a 23 de setembro de 2013, em Lisboa.
Raquel Marinho | Podcaster, storyteller, divulgadora de poesia e autora do projeto O Poema Ensina a Cair.
Nasceu em Luanda, em 1974. Estudou comunicação social na Universidade Católica Portuguesa e ingressou na profissão de jornalista através da rádio TSF. Passou pela TVI ao longo de 2 anos, começando depois a trabalhar na SIC onde esteve por 22 anos e até 2018.
Nos seus mais de 25 anos como repórter venceu importantes prémios de jornalismo como o Prémio “Direitos Humanos, Tolerância e Luta Contra a Discriminação na Comunicação Social” atribuído pela Unesco em 2007, ou o Prémio Medalha de Ouro Prémio Direitos Humanos atribuído pela Assembleia da República, em 2006.
Desde 2010, leva a cabo várias atividades relacionadas com a poesia portuguesa. Organizou tertúlias para divulgação de poetas portugueses contemporâneos (Poesia em Vinyl, Avenida de Poemas), e foi autora de várias rubricas digitais de divulgação de poesia, uma delas no Expresso Diário denominada “O Poema Ensina a Cair” onde, ao longo dos anos de 2014 e 2015, entrevistou mais de 40 poetas portugueses.
O nome dessa rubrica mantém-se activo no Facebook, Instagram, Youtube e X, onde divulga poesia regularmente e onde conta com um significativo número de seguidores.
Em fevereiro de 2020, iniciou um podcast de entrevistas a figuras públicas e poetas sobre os poemas das suas vidas também com o nome O Poema Ensina a Cair. Em 2021, esse podcast venceu o Prémio de Melhor Podcast Português de Arte e Cultura no PODES, Festival de Podcasts Portugueses.
Em 2021 iniciou um programa semanal na rádio Antena 2 de leitura de textos escritos em português chamado Ambos na Mesma Página.
Em 2022 e 2023 assumiu a autoria de uma série de vídeos com poetas portugueses contemporâneos portugueses de visita à Casa Fernando Pessoa denominada “Museu infinito”. É regularmente convidada para moderar conversas em eventos literários.
Filipe Raposo | É pianista, compositor e orquestrador.
Iniciou os seus estudos pianísticos no Conservatório Nacional de Lisboa. Tem o mestrado em Piano Jazz Performance pelo Royal College of Music (Estocolmo) e foi bolseiro da Royal Music Academy of Stockholm. É licenciado em Composição pela Escola Superior de Música de Lisboa.
Enquanto compositor, orquestrador e pianista tem colaborado com inúmeras orquestras europeias, apresentando-se a solo ou com diferentes formações em festivais internacionais.
Como orquestrador tem colaborado com alguns dos principais nomes da música portuguesa (Sérgio Godinho, José Mário Branco, Camané, Vitorino, Jorge Palma ou Rita Maria).
Desde 2004 que colabora com a Cinemateca Portuguesa como pianista residente no acompanhamento de filmes mudos. A convite da Cinemateca Portuguesa compôs e gravou a banda sonora para as edições em DVD de filmes portugueses do Cinema Mudo: Lisboa, Crónica Anedótica de Leitão de Barros, tendo ganho uma Menção Honrosa no Festival Il Cinema Ritrovato em Bolonha, O Táxi nº 9297 de Reinaldo Ferreira, Frei Bonifácio e Barbanegra de Georges Pallu, Nazaré, Praia de Pescadores de Leitão de Barros.
Colabora regularmente como compositor em Cinema e Teatro.
Autor da música original do documentário Um corpo que dança – Ballet Gulbenkian 1965-2005, de Marco Martins. Em 2022 realizou em parceria com António Jorge Gonçalves o documentário O Nascimento da Arte. Em 2022 escreveu a ópera As Cortes de Júpiter de Gil Vicente com encenação de Ricardo Neves Neves.
Em nome próprio editou os discos: First Falls (2011) – Prémio artista revelação Fundação Amália, A Hundred Silent Ways (2013), Inquietude (2015), Rita Maria & Filipe Raposo Live in Oslo (2018), Øcre vol.1 (2019), Art of Song: When Baroque Meets Jazz (2020) e Øbsidiana vol.2 (2022).
Fotos Jorge Carmona / Antena 2