Nos 50 anos da estreia do filme de Stanley Kubrick, Banda Sonora de Mafalda Serrano convida, esta semana, à revisitação de um marco na história da sétima arte e da música no cinema.
14 dezembro | 16h00 || 15 dezembro | 13h00 (repetição)
Barry Lyndon (1975)
Realização: Stanley Kubrick
Música: Leonard Rosenman
Cinco décadas após a estreia, em 1975, Barry Lyndon surpreende pela inovação da relação entre composição visual, construção narrativa e música original para cinema, reafirmando-se como um filme cuja escuta é tão determinante quanto a contemplação das suas imagens.
O inconfundível realizador Stanley Kubrick envolve-nos na trajetória do protagonista, moldada pela oscilação entre o desejo de ascensão e uma imensa fragilidade interior. A narrativa desenrola-se através de uma estrutura episódica que conjuga a solenidade pictórica, a ironia subtil e o distanciamento crítico fulcral assegurado pela voz de um narrador que vincula a diegese na tradição literária e evidencia a sua natureza profundamente intimista e filosófica.
A integração musical revela o contributo singular de Leonard Rosenman, cuja intervenção autoral — frequentemente discreta na receção pública pela preponderância de composições clássicas pré-existentes — se manifesta na orquestração, nos arranjos e na organização expressiva das obras selecionadas. Rosenman confere unidade estética ao conjunto, transformando a música num instrumento interpretativo complementar. A coexistência entre repertório histórico e contemporâneo compõe uma trama sonora capaz de nos situar enquanto ouvintes, dentro e fora do tempo representado.
Num presente dominado pela aceleração tecnológica e pela fragmentação percetiva, Barry Lyndon abre um espaço auditivo e visual de resistência contemplativa, propondo-nos uma experiência fílmica e auditiva onde a imagem respira na sua relação com o mundo e a música participa como consciência narrativa.
A celebração dos seus cinquenta anos na Antena 2 torna-se, assim, um convite renovado à escuta crítica e ao reconhecimento da articulação exemplar entre literatura adaptada, rigor formal e composição sonora — uma síntese que continua a demonstrar por que razão este filme, dirigido por Stanley Kubrick, permanece entre as experiências cinematográficas mais significativas e inesgotáveis do nosso tempo.
Mafalda Serrano