Joan Miró: Materialidade e Metamorfose
1 Outubro a 28 Janeiro / prolongamento até 4 Junho
Casa de Serralves, Porto
Curadoria: Robert Lubar Messeri
Projeto expositivo: Álvaro Siza Vieira
A matéria, o instrumento ditam-me a técnica, um meio para dar vida a uma coisa.
Joan Miró*
Joan Miró*
A exposição Joan Miró: Materialidade e Metamorfose apresenta-se em Serralves com 78 obras do artista catalão (do conjunto das 85 obras da Coleção à guarda do Estado português), muitas delas mostradas pela primeira vez, e por isso na sua maioria, desconhecidas do público, como é o caso de seis das suas pinturas sobre masonite, de 1936, assim como seis sobreteixims (tapeçarias) de 1973.
Abarcando um período de seis décadas da vida artística de Joan Miró, de 1924 a 1981, esta mostra pretende ser reveladora da forma particular como o artista atuou na transformação das linguagens pictóricas e da abordagem das suas metamorfoses artísticas no campo do desenho, pintura, colagem e tapeçaria. Através destas diferentes obras é possível aproximarmo-nos do pensamento visual de Miró, dos modos como conjuga plasticamente, sensações táteis e óticas, apercebendo-nos dos seus processos de criação e de elaboração das obras.
Nesta exposição, o seu comissário, Robert Lubar Messeri, propõe um percurso através destas quase oito dezenas de trabalhos, com sete ‘paragens’ [aceder a roteiro], revelando um dos mais notáveis artistas do século XX, no seu constante e invulgar experimentalismo.
Pois “Miró era, de muitas formas, uma figura quimérica cuja intensa criatividade não podia ser confinada a uma única tradição. Através da permanente reinvenção de uma linguagem visual que desenvolveu pela primeira vez nos anos 1920 — uma linguagem que se transforma e metamorfoseia ultrapassando as fronteiras de materiais e meios —, Miró redefiniu a prática artística do século XX. Os seus materiais eram o seu meio e, no mais lato dos termos, os protagonistas da sua arte“.*
Paragens de um percurso:
1 – Introdução – O princípio da colagem
Ponto de partida de uma exploração da materialidade, com a junção de elementos díspares e heterogéneos. No uso de objetos e materiais, a identidade original destes mantém-se, apesar das metamorfoses a que são sujeitos; as transformações matéricas são sobretudo mediadas entre o valor de uso das coisas e o seu valor de troca poético, como se uma prática alquímica se tratasse.
Sala 1
2 – O Campo do Signo
A reinvenção da linguagem pictórica, questão fulcral dos primeiros modernismos, passa, em Miró, a partir de 1924, pelo desenvolvimento de uma inovadora linguagem de signos que metamorfoseou a sua arte.
Em latus sensus, um signo é algo usado, referido ou tomado no lugar de outra coisa, de um objeto, de uma ideia ou de conceito. Numa necessidade de afastamento das convenções da linguagem pictórica e recorrendo a uma grande economia de meios, Miró vai explorando “homologias formais e rimas visuais entre os signos”*, numa progressiva depuração da linguagem às suas componentes, para deste modo reconfigurar o seu espaço plástico, e explorar as potencialidades do signo visual ou das figuras, mas sem nunca ultrapassar o limite da abstração.
A reinvenção da linguagem pictórica, questão fulcral dos primeiros modernismos, passa, em Miró, a partir de 1924, pelo desenvolvimento de uma inovadora linguagem de signos que metamorfoseou a sua arte.
Em latus sensus, um signo é algo usado, referido ou tomado no lugar de outra coisa, de um objeto, de uma ideia ou de conceito. Numa necessidade de afastamento das convenções da linguagem pictórica e recorrendo a uma grande economia de meios, Miró vai explorando “homologias formais e rimas visuais entre os signos”*, numa progressiva depuração da linguagem às suas componentes, para deste modo reconfigurar o seu espaço plástico, e explorar as potencialidades do signo visual ou das figuras, mas sem nunca ultrapassar o limite da abstração.
Sala 2 – Ao fundo: Painting, 1953, óleo sobre tela;
à direita, quadro de maior dimensão: Écriture sur fond rouge, 17 fev 1960, óleo sobre tela
3 – Metamorfoses
Na década de 30, o princípio da metamorfose torna-se, para Miró, numa condição do seu trabalho em série. Acompanhando os tempos monstruosos que se viviam, de tensão bélica e de extremismos, o artista cria “um mundo de figuras monstruosas cujos corpos contorcidos parecem em contínua metamorfose”*. A deformação constitui pois, um modo do artista lidar com essa realidade “trágica e aterradora”*, através de uma expressividade liberta do real formal.
3a – Retratos Imaginários
E é dessa mutação da realidade que advêm estes retratos, numa subversão da noção tradicional de retrato como similitude, pondo “à prova as fronteiras da mimese”*.
Na década de 30, o princípio da metamorfose torna-se, para Miró, numa condição do seu trabalho em série. Acompanhando os tempos monstruosos que se viviam, de tensão bélica e de extremismos, o artista cria “um mundo de figuras monstruosas cujos corpos contorcidos parecem em contínua metamorfose”*. A deformação constitui pois, um modo do artista lidar com essa realidade “trágica e aterradora”*, através de uma expressividade liberta do real formal.
3a – Retratos Imaginários
E é dessa mutação da realidade que advêm estes retratos, numa subversão da noção tradicional de retrato como similitude, pondo “à prova as fronteiras da mimese”*.
Sala 3 – Ao fundo: La Flornarina (D’après Raphaël), 1929, óleo sobre tela
4 – Materialidade Selvagem
Desses anos de violência e o terror, que são expressos nas monstruosas distorções anatómicas da figura humana dos anos 1934–37, resultam também experiências em colagem e no fabrico de objetos-esculturas em que a superfície pictórica é concebida como espaço de acumulação de materiais e de objetos, numa materialidade selvagem, em que quase Miró violenta a sua própria figuração, mas agredindo igualmente o olhar de quem as vê. Mas a violência e a desconstrução, “uma espécie de jogo final”*, podem ser também uma via para a renovação, trilhando logo em seguida um caminho mais lírico, num “desejo de evasão poética”*.
Desses anos de violência e o terror, que são expressos nas monstruosas distorções anatómicas da figura humana dos anos 1934–37, resultam também experiências em colagem e no fabrico de objetos-esculturas em que a superfície pictórica é concebida como espaço de acumulação de materiais e de objetos, numa materialidade selvagem, em que quase Miró violenta a sua própria figuração, mas agredindo igualmente o olhar de quem as vê. Mas a violência e a desconstrução, “uma espécie de jogo final”*, podem ser também uma via para a renovação, trilhando logo em seguida um caminho mais lírico, num “desejo de evasão poética”*.
Sala 4 – Obras em suportes não convencionais, como em masonite (aglomerado de fibras de madeira) e usando meios não habituais (caseína, alcatrão e areia)
5 – Sobreteixims
Entre 1972 e 1973 Miró cria trinta e três “sobreteixims”, conferindo à tapeçaria uma grande autonomia formal e expressiva, e aproximando-a, enquanto meio e experiência, à colagem e à prática escultórica, concebendo-os como objetos independentes. Trabalhos de evidente materialidade, imprime-lhes também decisivas metamorfoses que ganham nova identidade e funcionalidade.
Sala 5
5a – Toiles Brulées
As “Telas queimadas” derivam do anterior processo de desconstrução-construção, levado ao extremo, com o cortar e incendiar, controladamente, de telas novas como início de processo criativo; e cujo resultado final deveria ser exposto no teto para ter visibilidade e legibilidade de ambos os lados. Mas aquele ato incorpora também uma mais profunda significação estética: um questionamento atuante da própria arte e dos seus processos, das suas qualidades e funções decorativas, do seu estatuto e valor comercial de objeto de luxo, da inviolabilidade de um certo conceito de Arte.
As “Telas queimadas” derivam do anterior processo de desconstrução-construção, levado ao extremo, com o cortar e incendiar, controladamente, de telas novas como início de processo criativo; e cujo resultado final deveria ser exposto no teto para ter visibilidade e legibilidade de ambos os lados. Mas aquele ato incorpora também uma mais profunda significação estética: um questionamento atuante da própria arte e dos seus processos, das suas qualidades e funções decorativas, do seu estatuto e valor comercial de objeto de luxo, da inviolabilidade de um certo conceito de Arte.
Sala 5a – Duas telas queimadas (ainda por pendurar) e, ao fundo, Femmes et oiseaux, 3 jan 1968, óleo sobre tela
6 – O Signo Material e o Gesto Caligráfico
Combinando a sua linguagem sígnica, de grande pendor gráfico e o seu trabalho anterior na gravura, em particular na madeira (xilogravura) e no metal (calcogravura), Miró desenvolve trabalhos com novos diálogos formais. Mais uma vez a matéria e técnica são usados para novas metamorfoses, para novas experimentações em modificações formais. Incorporando os ventos do gestualismo que vingava nos EUA, que visitou, o artista aplica-o na sua linguagem gráfica, num processo ao mesmo tempo libertador de alguns condicionamentos que o uso do signo ainda lhe aporta, e respeitador do suporte, servindo-se das potencialidades do meio e da matéria, mas imprimindo-lhe um lirismo dado pelo gesto natural e espontâneo.
Combinando a sua linguagem sígnica, de grande pendor gráfico e o seu trabalho anterior na gravura, em particular na madeira (xilogravura) e no metal (calcogravura), Miró desenvolve trabalhos com novos diálogos formais. Mais uma vez a matéria e técnica são usados para novas metamorfoses, para novas experimentações em modificações formais. Incorporando os ventos do gestualismo que vingava nos EUA, que visitou, o artista aplica-o na sua linguagem gráfica, num processo ao mesmo tempo libertador de alguns condicionamentos que o uso do signo ainda lhe aporta, e respeitador do suporte, servindo-se das potencialidades do meio e da matéria, mas imprimindo-lhe um lirismo dado pelo gesto natural e espontâneo.
Sala 6 – Ao fundo: Femme et oiseau, 24 nov 1959, óleo sobre tela; à direita deste: Personnage, 27 jan 1960, óleo e lápis de cera sobre cartão. 1º à direita em baixo: Graphisme concret, 1951, tinta-da-china sobre papel
7 – Signo / Superfície / Suporte
Se a grelha teve sempre relevância, para Miró, nos anos 60, adquire um valor de princípio estruturante, como que uma ossatura donde parte para construir o corpo e criar formas. Mas tal como no orgânico, pele, carne e osso fazem parte de um todo, também, figura e fundo, ou signo, superfície e suporte, conciliam-se, sem contudo se fundirem, e definem-se mutuamente: a estrutura é um signo e um signo é estruturante do e no todo.
Se a grelha teve sempre relevância, para Miró, nos anos 60, adquire um valor de princípio estruturante, como que uma ossatura donde parte para construir o corpo e criar formas. Mas tal como no orgânico, pele, carne e osso fazem parte de um todo, também, figura e fundo, ou signo, superfície e suporte, conciliam-se, sem contudo se fundirem, e definem-se mutuamente: a estrutura é um signo e um signo é estruturante do e no todo.
Da esq. p/ a dta.: Sem título, 1981, guache, grafite, tinta-da-china e pastel sobre papel; Sem título, 1981, pastel e têmpera sobre papel. À direita, maior: Tête d’homme, 12 jan 1935, óleo e tinta de esmalte sobre cartão
* Citações extraídas do texto do curador
Texto de Luísa D. Santos
Fotos de Jorge Carmona (tiradas durante a montagem da exposição)
Do programa paralelo fazem parte:
Conferência
1 Out 18h00
Auditório de Serralves
Joan Miró: Pintura e Processo
Pelo curador Robert Lubar Messeri
Pelo curador Robert Lubar Messeri
Conversa
19 Nov 17h00
19 Nov 17h00
Obras Destacadas
Por Ana Paula Machado, Conservadora do Museu Nacional de Soares dos Reis, Porto
Por Ana Paula Machado, Conservadora do Museu Nacional de Soares dos Reis, Porto
Teatro
10 Dez, 17H00
Mira! Mira! Miró Mirando!
pelo Teatro Art’Imagem
10 Dez, 17H00
Mira! Mira! Miró Mirando!
pelo Teatro Art’Imagem
Viagem Turismo Cultural
16 a 19 Mar 2017
Barcelona
Viagem exclusiva com a presença e acompanhamento de um responsável do Museu de Arte Contemporânea de Serralves
Locais a visitar: Museu Nacional d’Art de Catalunya, Fundacion Miró, Park Güell, Artevistas Art Gallery, Parc de Joan MiróE ainda
Visitas Orientadas
16 a 19 Mar 2017
Barcelona
Viagem exclusiva com a presença e acompanhamento de um responsável do Museu de Arte Contemporânea de Serralves
Locais a visitar: Museu Nacional d’Art de Catalunya, Fundacion Miró, Park Güell, Artevistas Art Gallery, Parc de Joan MiróE ainda
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