Libreto: Franceso Maria Piave sobre "Hernani" de Victor Hugo
Estreia: (Milão) Teatro alla Scala, 11 Fevereiro 1843
PersonagensErnani
Dona Elvira
Don Carlos, Rei de Espanha
Giovanna
Don Ruy Gomez de Silva
Don Jiago
Don Riccardo
As Origens"Nabucco" foi o 1º grande triunfo de Verdi no Scala; "Ernani" seria o seu primeiro grande triunfo em Veneza no famosíssimo teatro Fenice.
Verdi iniciou a sua carreira de compositor de óperas em 1839 com "Oberto Conde de São Bonifácio". Seguiu-se "Un Giorno di Regno" e, dada a fraca aceitação desta segunda ópera, iria ter de esperar 2 anos antes de lhe serem de novo abertas as portas do Scala. Isso aconteceria em 1842 com "Nabucco" que iria bater todos os recordes de presença em cena do teatro.
A "Nabucco" seguiu-se "I Lombardi", também no Scala em 1843.
Foi então que surgiu um convite de Veneza para escrevesse uma nova ópera para o prestigiadíssimo Teatro Fenice.
A maior dificuldade encontrada por Verdi foi o libreto. Pensou num poema de Byron, numa peça de Dumas, mas nenhum libretista se mostrou interessado. Pensou depois no "Rei Lear", em "Rienzi", no "Corsário", e, finalmente, no romance "Woodstock" de Walter Scott. Encontrou então um jovem libretista em começo de carreira que, segundo Verdi, "manifestava uma grande facilidade para as rimas". Esse jovem não era outro senão Francesco Maria Piave que iria revelar-se um dos mais importantes libretistas do seu tempo responsável por alguns dos maiores sucessos do compositor como "MacBeth", "Rigoletto", "La Traviata", "Simão Bocanegra" ou "A Força do Destino".
Começou então a trabalhar com Piave o texto de Walter Scott, cuja acção e personagens foram, como quase sempre, bastamente modificados.
Verdi estava cada vez menos satisfeito com a evolução do trabalho até que, durante uma conversa que teve com o Presidente do Fenice, surgiu a ideia de procurar uma outra fonte para o libreto – mais precisamente um drama célebre de Victor Hugo, "Ernani". Não se recusou a escrever a outra ópera baseada em "Woodstock" "desde que fossem autorizadas uma série de alterações substanciais". Só que, se "Ernani" fosse aceite, estava pronto para começar de imediato. Piave iria ter ainda bastante trabalho, mas Verdi dispunha-se a recompensá-lo na medida do mesmo. E foi isso que aconteceria: esqueceu-se "Woodstock" e optou-se por "Ernani".
A estreia teve lugar no Teatro Fenice de Veneza no dia 9 Março 1844.
O compositor tinha 30 anos.
A ópera está dividida em 4 actos que, tal como "Nabucco", têm títulos: "O Bandido", "O Convidado", "O Perdão" e "A Máscara".
1.º ActoO Bandido
A ópera inicia-se numa região isolada das montanhas de Aragão onde está acampado o bando de Ernani, um nobre proscrito que se tornou bandido (e cujo verdadeiro nome é Juan d’Aragon). Os homens estão a cantar quando são interrompidos pela chegada do chefe que fala do seu amor por Dona
Elvira dizendo ser impossível viver sem ela. Os homens oferecem-se para a raptar. A cena seguinte passa-se nos aposentos de Dona Elvira no castelo do seu tio, e seu pretenso noivo, Don Ruy Gomes da Silva, onde a jovem fala do seu desejo de fugir com Ernani. Entram alguns criados que trazem presentes de noivado de Don Ruy. Elvira olha-os com desdém, e sai.
Sob um disfarce chega Don Carlos, Rei de Espanha, seguido por uma criada que o não quer deixar entrar, e que, ao vê-lo tocar a bainha do punhal, chama a sua ama apavorada. Dona Elvira acorre e Don Carlos declara-lhe o seu amor. A jovem reage com violência recordando-lhe as suas origens, mas o Rei não se intimida e tenta agarrá-la pela força. Para se defender, Dona Elvira ameaça-o com o punhal, dizendo que se suicidará em seguida. Então Don Carlos chama os seus homens. Como resposta abre-se uma porta secreta e entra Ernani. Os dois homens enfrentam-se enraivecidos, e Elvira volta a ameaçar apunhalar-se. É então que chega Don Ruy. Ao ver os intrusos nos aposentos da sua pretensa noiva, que acreditava ser uma jovem sem mácula, o velho fidalgo pede uma espada para limpar a honra da família. O desenlace é interrompido por Don Jago, aio de Don Ruy, que vem anunciar a chegada de Don Riccardo, cavaleiro do Rei. Don Riccardo entra e inclina-se respeitosamente diante de Don Carlos, revelando com este gesto a sua verdadeira identidade. Ao compreender que está perante o Rei de Espanha Don Ruy pede-lhe perdão pela sua ousadia, ao que Don Carlos responde explicando que veio ali para obter o apoio do velho fidalgo para a eleição para Imperador do Sacro Império Romano sucedendo a Maximiliano, morto recentemente. Depois Don Carlos aceita passar a noite no castelo de Don Ruy, ao mesmo tempo que aponta Ernani dizendo que "este meu companheiro estava já de partida". Com uma expressão sombria Ernani murmura ser de facto companheiro do Rei – um companheiro que o seguirá até à morte.
2.º ActoO Convidado
No salão do castelo de Don Ruy diversos convidados celebram o noivado do velho fidalgo com Dona Elvira. Quando saem para uma outra sala, Don Jago anuncia que um peregrino está ao portão pedindo guarida. Don Ruy manda-o entrar e convida-o a juntar-se aos festejos. Mas o peregrino quando vê Dona Elvira vestida de noiva dirige-se a ela retirando o capuz que lhe cobria o rosto: é Ernani que oferece à jovem a sua vida como prenda de casamento. Diz ainda que os seus homens dispersaram e o Rei o persegue. Perante isto, Don Ruy, para quem as leis da hospitalidade são sagradas, sai para verificar se as defesas do castelo estão a postos. Então, quando fica a sós com Ernani, Dona Elvira mostra-lhe o punhal com que se pretende matar na noite de núpcias. Don Ruy regressa e enfurece-se ao encontrar os dois jovens nos braços um do outro, no que é interrompido por Don Jago que vem dizer que o Rei chegou e que pede que o deixem entrar. Então Ernani diz que se vai entregar para satisfazer o desejo de vingança de Don Ruy. Só que o velho fidalgo quer ter o prazer de se vingar pelas próprias mãos, e manda Ernani esconder-se para lá duma porta secreta que existe por trás de um dos numerosos retratos pendurados nas paredes. Depois de Ernani se esconder entra Don Carlos que quer saber o motivo que levou Don Ruy a recebê-lo como se recebesse um assaltante. O bandido Ernani foi visto a entrar no castelo, e o Rei intima Don Ruy a entregar-lho. O velho recusa, e os homens do Rei procedem a uma busca de resultados obviamente infrutíferos. O humor de Don Carlos, no entanto, suaviza-se ao ver Dona Elvira, e oferece-se para a levar consigo em vez de Ernani. Depois de muita resistência, Don Ruy acaba por ceder, e o Rei parte com os seus homens levando Dona Elvira. Então Don Ruy manda sair Ernani do seu esconderijo desafiando-o para um duelo. Mas muda de ideias quando Ernani lhe revela que Don Carlos também está apaixonado por Dona Elvira. Os dois então juram solenemente perseguir juntos o Rei até à morte. Como prova de confiança, Ernani entrega a Don Ruy a sua trompa de caça: bastará fazê-la soar para que Ernani o venha defender com a própria vida.
3.º ActoO Perdão
O 3º acto passa-se em Aix-la-Chapelle, na cripta onde se encontra o túmulo de Carlos Magno, mesmo por baixo do salão onde os Eleitores estão reunidos para proceder à eleição do novo Imperador do Sacro Império Romano.
Don Carlos sabe que é nessa cripta que irão reunir-se os conspiradores comandados por Don Ruy e Ernani, e decide surpreendê-los. É assim que manda o seu escudeiro, Don Riccardo, disparar três tiros de canhão se ele for eleito Imperador. Quando fica só, Don Carlos invoca o espírito de Carlos Magno, seu antepassado, de quem espera vir a ser um digno sucessor. Ao ouvir chegar os conspiradores, Don Carlos esconde-se. Os conspiradores tiram à sorte sobre qual deles se irá encarregar do crime. A sorte calha a Ernani. Desejoso de vingança, Don Ruy pede a Ernani que o deixe ir em seu lugar, oferecendo-lhe em troca a libertação da promessa que fizera quando lhe entregara a sua trompa. Mas o orgulho impede Ernani de aceitar. Quando os conspiradores entoam o seu canto de guerra, ouvem-se três tiros de canhão, e Don Carlos sai do esconderijo. Ao som duma fanfarra entram então na cripta Don Riccardo, os Eleitores e os seus acompanhantes, entre os quais Dona Elvira. Don Carlos ordena a prisão dos conspiradores: os nobres serão executados, e os outros morrerão nos calabouços. Revelando ser um nobre no exílio, Ernani reclama ter o mesmo destino dos seus iguais. Mas Dona Elvira intercede apaixonadamente em seu favor, e Don Carlos, depois duma curta reflexão, decide não apenas perdoar a todos os conspiradores mas abençoar também a união de Dona Elvira e de Ernani, que tomará de novo posse dos seus bens.
4.º ActoA Máscara
O último acto passa-se no castelo de Ernani, aliás Don Juan d’Aragon, perto de Saragossa, no dia em que se celebram as núpcias de Ernani e Elvira. Entre os convidados está uma personagem sinistra escondida por um dominó negro que deixam apenas ver brilhar, na escuridão do capuz, dois olhos animados pelo fogo do inferno.
Depois dos convidados partirem, Ernani e Elvira vão até ao terraço para contemplar o céu coberto de estrelas. É então que se ouve o som duma trompa que Ernani reconhece de imediato: Don Ruy chama-o para dar a vida por ele. Don Ruy, aliás o dominó negro, dá a escolher a Ernani entre o punhal e o veneno, ficando insensível aos rogos de clemência dos dois jovens.
Ernani apunhala-se, Elvira cai sem sentidos sobre o seu corpo, e Don Ruy saboreia com prazer a vingança.
RDP – Transmissões em "Noite de Ópera" desde 1996
2001 – 11 de Janeiro
Enredo resumido da autoria de Margarida Lisboa.